Joyce, foto Leo Aversa |
Mais lembrada pelo público graças ao grande sucesso de canções como Clareana, Feminina e Monsieur Binot, Joyce é um daqueles talentos que vem em um pacote completo: belíssima cantora, violonista muito habilidosa e compositora de mão cheia.
No show 50 ela mesclará as canções do seu primeiro álbum, Joyce (1968), regravado por ela mesma tim tim por tim tim agora em 2018, com os sucessos de público.
No palco, apenas ela e o baterista - percussionista Tutty Moreno, seu marido. “É uma formação estranha, mas funciona às mil maravilhas. Temos uma afinidade musical muito grande”, conta Joyce por telefone, do Rio.
Além de todas as qualidades acima citadas, Joyce é figura de importância vital na MPB por outras razões. Vamos dar três delas.
Primeira: sempre foi de uma independência artística a toda prova. “Acredito que minha maior conquista nesses 50 anos foi essa, não ficar presa em esquema comercial. Sempre fiz a música que amo e acredito”, afirma.
Segunda: foi uma pioneira compositora de música popular em uma época em que isso ainda não era nada bem visto: “Quando comecei fui muito criticada por compor na primeira pessoa do feminino. Isso quase não existia, a não ser feitas por homens, como Ary Barroso, Assis Valente e Chico Buarque”.
“Não era correto, era considerado vulgar ser uma mulher compositora. Mas passados dez anos de minha estreia, teve um movimento fortíssimo de compositoras. Isso provou que eu estava certa desde o começo. E grandes interpretes começaram a gravar minhas músicas”, diz.
Disciplina curricular
Com o instrumento de trabalho, foto Leo Aversa |
“A linguagem musical feminina é a maior marca das minhas composições”, afirma a artista.
O resultado de tamanho talento não poderia ser outro: Joyce é admirada nos quatro cantos do planeta.
Como a maioria dos grandes artistas da MPB, Joyce tem um xodó especial pela Bahia: "Amigos baianos, sempre tive. Sou casada com um baiano. Tutty tocou com Gil, Caetano e Bethania, tem uma longa historia com a música da Bahia, embora tenha saído daí muito jovem. Nos conhecemos em Nova York e criamos uma linguagem musical entre nós muito próxima. Temos as mesmas origens, e embora ele tenha ficado conhecido como o baterista do Tropicalismo, era muito ligado ao samba jazz. Eu também venho dessa mesma origem e seguimos em frente fazendo uma música que é derivada disso e recebe essa influências todas. Isso fortalece muito esse laço Rio-Bahia. Até gravei um álbum com esse nome com Dori Caymmi. Nos meus shows sempre tem um momento Dorival. Já gravei um disco só com músicas dele e vamos tocar algumas nesse show também", diz.
Em 1976, no álbum Passarinho Urbano, Joyce gravou o clássico anti-ditadura Pesadelo, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós. A canção voltou à baila após ter sua letra citada pelo jornalista Chico Pinheiro na ocasião da prisão de Lula, em abril último.
Um trecho para relembrar: "Quando o muro separa uma ponte une / Se a vingança encara o remorso pune / Você vem me agarra, alguém vem me solta / Você vai na marra, ela um dia volta /
E se a força é tua ela um dia é nossa / Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando / Que medo você tem de nós, olha aí / Você corta um verso, eu escrevo outro / Você me prende vivo, eu escapo morto / De repente olha eu de novo / Perturbando a paz, exigindo troco / Vamos por aí eu e meu cachorro / Olha um verso, olha o outro / Olha o velho, olha o moço chegando / Que medo você tem de nós, olha aí".
"Como ela segue atual. Eu vejo esse momento com muita apreensão. Acho que falhamos em ensinar a historia do Brasil às novas gerações. É uma falha imperdoável. Nesse momento, temos que ficar muito apreensivos mesmo. Mas também acho que vivemos um momento muito forte da identidade feminina, uma coisa que aliás nasceu aí na Bahia, com Gal, Bethania e bem antes delas Maria Quitéria, Joana Angélica. Temos estátuas delas aqui no Rio de Janeiro. Mais do que qualquer partidarismo, a questão feminina está mais atual do que nunca", afirma Joyce.
Além de frequentar rotineiramente os palcos dos grandes festivais de jazz, foi “descoberta” pelos DJs, que adotaram e remixaram canções como Feminina, Baracumbara e Aldeia de Ogum.
“Semana passada voltei de um curso na Califórnia sobre minha música. É, depois de uma certa idade a gente vira disciplina. E isso já aconteceu em outras universidades, em Berkeley e na Europa. Nossa música é a coisa mais forte da cultura brasileira. E o mundo ama. Dá um orgulho danado”, conclui.
Joyce Moreno: 50 / Hoje e amanhã, 20h30 / Café-Teatro Rubi / R$ 100 e R$ 50 / Vendas: Bilheteria C.T. Rubi ou www.compreingressos.com
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