Luedji Luna, foto Alile Dara Onawale |
Luedji Luna, que lança seu primeiro álbum hoje na Sala Principal do Teatro castro Alves, é uma prova viva desta afirmação.
Sua estreia em disco, Um Corpo no Mundo (Natura Musical), a colocou direto no seleto grupo de artistas contemporâneos que tem angariado um rápido reconhecimento de crítica e da parcela pensante do público.
Nos fones, a voz aveludada de Luedji afaga os ouvidos com uma música sutil, elegante e carregada de silêncios e significados – de forma muito similar a outro grande artista baiano de agora, Tiganá Santana, que, não por acaso, participa do show de hoje.
Além de uma estética semelhante, Luedji e Tiganá compartilham o mesmo produtor: o sueco baiano Sebastian Notini, que também assinou o premiado Mama Kalunga (2015), de Virgínia Rodrigues, entre outros discos.
“Tiganá é um grande querido e ele é uma grande inspiração pra mim”, afirma Luedji, por telefone.
“E me apresentar no TCA é um é um grande sonho realizado. É um dos maiores palcos do Brasil, não só em tamanho, é o palco co dos grandes nomes da MPB. Isso consolida essa minha trajetória, é como uma confirmação de que estou apta a me apresentar ali e fazer parte desse rol de grandes artistas que passaram por lá”, observa.
Suavidade dura
Mas se Luedji é suave na voz e na sonoridade, é dura na mensagem: seu disco é um manifesto, como ela mesma diz, de um não-lugar: o lugar do negro na sociedade.
Cabô, por exemplo, se refere ao extermínio de jovens negros nas periferias: “Cabô, vinte anos de idade / quase vinte e um / pai de um, quase dois / e depois das 20 horas / menino, volte pra casa”.
Já Iodo é um inventário de tragédias cotidianas e históricas: “nem a solidão / nem o capataz / estupro corretivo contra sapatão / a loucura da solidão / capataz / queimarem a herança de minhas ancestrais / arrastarem Cláudia / pelo camburão / caveirão / 111 tiros contra 5 corpos / 111 corpos mortos na prisão”.
“Achei (o disco pronto) um resultado muito coerente com a proposta. O som é completamente dissociado do tempo e do espaço. Estou falando de um não-pertencimento, de um não-lugar. Essa é a narrativa do disco: não é música brasileira, nem africana, nem baiana”, afirma Luedji.
Turnê e eleições
Ô! Já vai? Foto Alile Dara Onawale |
Até o dia 31 próximo, quando fecha esse ciclo de shows no Circo Voador (Rio de Janeiro), Luedji e banda terão passado por Aracaju (amanhã), Maceió (domingo), Belo Horizonte (dia 21) e São Paulo (dia 25).
“Minha banda são os mesmos músicos que tocaram no disco: queniano Kato Change (guitarras), o paulista criado na Bahia e filho de congoleses François Muleka (violão), o cubano Aniel Somellian (baixo elétrico e acústico), o baiano Rudson Daniel (percussão) e o sueco radicado na Bahia Sebastian Notini (percussão). Mais as convidadas sopros Mayara Almeida (sax) e Stephanie Sousa (trumpete)”, conta Luedji.
Com uma obra tão combativa em um momento de tanto retrocesso político, econômico e social, com a sociedade brasileira rachada em bandas que se odeiam mutuamente e prestes a encarar eleições gerais, Luedji se diz, assim mesmo, esperançosa.
“Sempre. Sou uma mulher de fé. Sei que o cenário não é favorável à um projeto político democrático de fato. Mas tenho esperança de que o jogo possa virar. E ainda que pior aconteça, há males que vem para o bem”, afirma.
“Não devemos temer políticos. Quem tem que ter medo são eles, pois nós somos a nação. Nós temos que ter as rédeas desse país, não esse grupo de privilegiados que manda em tudo. Nós somos a maioria. Acho que o brasileiro ainda não tomou consciência de que o povo é o verdadeiro dono do poder”, conclui.
Luedji Luna: Um Corpo no Mundo / Hoje, 20 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves / filas A a P: R$ 60 e R$ 30 / filas Q a Z: R$ 40 e R$ 20 / filas Z1 a Z11: R$ 30 e R$ 15
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