Stalker, Andrei Tarkovsky, 1979 |
Poucas porém, tão originais quanto Piquenique na Estrada, um clássico da FC soviética.
Lançado em 1972, Piquenique foi escrito pelos irmãos Boris (1933 - 2012) e Arkádi Strugátski (1925 - 1991). Em 1979 o livro foi adaptado ao cinema pelo diretor Andrei Tarkovsky, que o converteu em outra de suas explorações psicológicas em câmera lenta e ares cult, o premiado Stalker (1979).
Voltando ao livro, sua originalidade reside não na forma como é escrito – uma forma quase ortodoxa, na verdade – mas na abordagem do tema dos visitantes aliens.
Tudo se desenvolve na fictícia cidade canadense de Harmont, em cujos arredores os alienígenas pousaram e, depois de algum tempo, simplesmente foram embora.
Não houve comunicação – ou tentativa de – dos ETs para com a humanidade. A área que os visitantes ocuparam e, depois de algum tempo, abandonaram, logo foi isolada pelas autoridades, já que lá foram deixados objetos, radiações e substâncias completamente desconhecidas – muitas tóxicas – para humanos.
30 anos depois, ninguém sabe ainda quem eram os aliens, de onde vieram, para onde foram ou que fizeram.
A chamada “zona de visitação” – uma das seis que receberam aliens simultaneamente na Terra – ainda está isolada e somente alguns aventureiros destemidos (ou malucos mesmo) se arriscam a entrar lá.
Conhecidos como stalkers, esses soldados da fortuna penetram na zona em busca dos tais objetos e substâncias deixados pelos aliens, alguns deles extremamente valiosos.
Estudados pelos cientistas, algumas tecnologias aliens já são utilizadas como fontes de energia. Outras permanecem uma incógnita.
Nesse cenário, a narrativa acompanha um stalker, Reddrick Schuhart, em suas idas e vindas à zona ao longo de alguns anos, bem como as implicações políticas e econômicas em Harmont, a vida dura dos stalkers e as consequências para a saúde do contato direto com as bugingangas aliens.
Stalker, 1979 |
Até aí, uma premissa e tanto para qualquer obra. Pena que a narrativa, apesar de recheada de conceitos tão interessantes, seja tão arrastada.
A ideia de que os aliens, aparentemente, não tinham qualquer interesse nos terráqueos e simplesmente fizeram uma parada no meio da viagem – daí o título do livro – é muito instigante e nos confronta com a insignificância da humanidade perante o universo.
O conceito da zona de visitação é também uma baita metáfora, pronta para múltiplas interpretações – além de soar muito como uma previsão da tragédia soviética que foi o desastre de Chernobyl, ocorrido meros 14 anos depois do lançamento do livro.
Ainda assim, os irmãos Strugátski pareceram patinar em uma narrativa desfocada, mais preocupada em desvendar o dia a dia mais ou menos banal de Schuhart – sua filha pequena sofreu deformações horríveis pela radiação alien – do que em enfiar o pé na lama negra – substância alienígena, capaz de transformar ossos humanos em macarrão.
Há de fato sequências muito boas, mas chegar lá vai exigir certo esforço do leitor.
Em tempo: a edição primorosa da Aleph traz um prefácio da cultuada escritora Ursula K. Le Guin (A Mão Direita da Escuridão) e posfácio do próprio Boris Strugátski, no qual narra as dificuldades de se escrever e publicar um romance tão simbólico nos tempos do totalitarismo soviético.
Piquenique na estrada / Boris e Arkádi Strugátski / Aleph/ Trad.: Isadora Prospero e Tatiana Larkina/ 320 p./ R$ 59,90
RIP Rolling Stone Brasil
ResponderExcluirhttps://portal.comunique-se.com.br/apos-12-anos-versao-mensal-impressa-da-revista-rolling-stone-brasil-e-encerrada/?face
Foi bom enquanto durou. Quer dizer, mais ou menos. Mas era bom ver uma marca tão forte e tradicional nas bancas, de qualquer jeito.
Agora só dá a Roadie Crew nas bancas. Por enquanto...