Ancestral e futurista, Dandê lança primeiro (e belo) trabalho sábado, na Casa Preta
Daniel Dandê, foto Flora Rodriguez |
Nada contra quem só quer fazer sua musiquinha lá no seu canto, sem querer dizer nada de muito relevante.
Mas é de coragem e relevância que se fazem as grandes obras – ou pelo menos se começa a construi-las.
O nativo de Itapuã Daniel Dandê, pelo que se pode ouvir em seu primeiro trabalho – o EP Dandê, com seis faixas –, faz parte do pessoal da segunda turma, aquela que tá a fim, sim, de dizer algo consistente, de investigar uma estética, de criar um som próprio, de ser verdadeiro consigo mesmo.
E isso não tem preço.
Produzido pelo grande Enio Nogueira, Dandê leva adiante experimentações contemporâneas que botam a música de raiz afrobaiana em confronto com sonoridades várias, de violinos e trombones a ruídos eletrônicos, passando pela poesia falada – um lance caleidoscópico, que dispensa refrões (e fórmulas) fáceis.
“Nós brasileiros, em essência somos muito raizeiros, e por mais vanguardistas que os nossos timbres aparentem ser, a busca pela identidade de algo 'novo' perpassa naturalmente pelo cotidiano do povo, ou seja, passa pela nossa ancestralidade. Uma das premissas que uso na construção conceitual da minha obra é ter a consciência do lugar de onde venho”, afirma Dandê.
“Salvador é uma espécie de aldeia global, que traz em si uma fonte infinita de inquietações e interações artísticas, um espaço de convergência onde não cabem mais os mesmismos que somente rotulam a nossa criatividade enquanto artistas baianos. Essa miscigenação nutre nosso trabalho e ajuda a repensar os clichês dos estilos”, acrescenta.
"Meu interesse por musica surgiu na infância. Sempre fui uma criança que se manifestou através da pintura, musica e do corpo. Aos poucos fui desenvolvendo intimidade com a percussão, canto, até chegar ao violão - aos 10 anos - que é o principal instrumento para o desenvolvimento da minha musicalidade, e base para composições. A dedicação aos estudos musicais foi incentivada por diversos mestres e mestras da arte, como Edu Nascimento, Luciano Chaves e muitos outros compositores, musicistas, poetas e atores que expandiram minha visão do que é possível fazer com a criatividade", relata.
Do método UPB
Dandê, um adepto das tardes em Itapuã. Foto Flora Rodriguez |
“(Ali) Encontrei um valor humano na relação com a musica, algo que foi muito aprendizado técnico. Esta experiencia foi um gatilho para o EP, pois os assuntos das aulas foram imediatamente refletidos nas levadas das minhas canções autorais. A minha proposta artística em termos de forma e conteúdo sempre esteve se redesenhando, no entanto, foi durante a experiencia com o método UPB que encontrei o principal incentivo que precisava para perceber as qualidades da musica que quero fazer. Foi no processo de troca durante as praticas com claves na roda bantu que descobri a possibilidade de externalizar para o coletivo as levadas que tocam em minha cabeça”, detalha.
No sábado, Dandê faz o show de lançamento do seu trabalho na Casa Preta, a partir das 19 horas. No palco, se faz acompanhar por Ricardo Flocos (bateria), Letícia Argolo (poesia) e Anderson Capacete (percussão). Experimente.
"Sinto muita coragem com todo apoio e positividade que vem sendo transmitido a mim por parceiros e amigos da cena Soteropolitana. Hoje, aos meus 28 anos, a minha maior ambição é circular o mundo com minha arte e derramar por ai o tempero e o suingue da Bahia. Estou muito feliz com as escolhas, as oportunidades e os resultados que nesse momento têm me acolhido, confio que a verdade do meu trabalho possa acessar cada vez mais pessoas e que elas estejam dispostas a embarcar nessa viagem comigo. Eu sei que os trabalhos estão apenas começando, e após esse processo de produção do EP buscarei ocupar os espaços de cultura e arte com meu live set em diversos formatos. Esta circulação se inicia em Salvador, visando vivências que respaldem a conexão do projeto com sua terra natal. Contudo, sinto que um dos objetivo do Dandê é trocar e aprender com projetos de outros locais, E em maio inciaremos a turnê pelo sudeste, começando por Minas Gerais", conclui.
Dandê: Show de lançamento / Sábado, 19 horas / Casa Preta (R. Areal de Cima, 40, Dois de Julho) / R$ 10 / Vendas: sympla.com.br /
NUETAS
BIKE Bagum Monos
A psicodelia da banda paulista BIKE faz sua quarta(!) incursão em solo soteropolitano quinta-feira, com as locais Bagum (indie instrumental) e Monoslocos (garage rock). Club Bahnhof SSA, 20 horas, R$ 15.
Freddie na Avenida
O Jazz na Avenida estreia quinta-feira o projeto educacional L(eg)endas do Blues. Na estreia, Márcio Pereira (guitarra), Mauro YBarros (baixo) e Laurent Rivemales (bateria), com canja de Luiz Rocha (gaita) dão uma aula sobre o lendário Freddie King. 18 horas, na Boca do Rio, gratuito.
Flerte Astral Tangolo
Flerte Flamingo, Astralplane e Tangolo Mangos se reúnem sexta-feira, 22 horas, no Portela Café. R$ 15 (nome da lista) ou R$ 20 (na porta).
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