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quinta-feira, agosto 03, 2017

UM FILME DE CINEMA

Bruna Linzmeyer é Luna Madeira, interesse romântico do protagonista
Baseado no livro Um Pai de Cinema (Ed. Record), do chileno Antonio Skármeta, O Filme da Minha Vida, que estreia hoje em todo o Brasil, é o terceiro e melhor filme dirigido por Selton Mello.

Não que seja uma obra-prima da sétima arte ou que traga grandes inovações. Nada disso.

Assim como outra película baseado em obra skarmetiana, O Carteiro e o Poeta (1994), O Filme da Minha Vida seduz pela via do coração, ao combinar um texto lírico com uma fotografia deslumbrante e atuações sensíveis – e felizmente, sem exageros.

A trama, de simplicidade espartana, combina dois temas clássicos: o rito de passagem para a vida adulta e a busca do filho pelo pai.

Ambientada em uma cidade não definida na serra gaúcha no início dos anos 1960, tudo começa com o retorno do jovem Tony Terranova (Johnny Massaro) ao lar, após concluir os estudos na cidade grande.

Ao saltar do trem, descobre que seu pai (o ator francês Vincent Cassel) vai embora naquele mesmo instante, de volta para seu país, a França.

Daí em diante, acompanhamos Tony restabelecendo seus contatos com a mãe (Ondina Clais), Paco (Selton Mello), o melhor amigo do seu pai e com as beldades locais, as irmãs Madeira: Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Beatriz Arantes), entre outras figuras.

Singeleza e metalinguagem

A medida que Tony vai se desenvolvendo na tela, vamos descobrindo mais sobre sua vida, seus relacionamentos e, claro, seu pai. Contar mais estragaria o espetáculo de quem vai assistir.

O que é importante dizer é que, de forma muito singela, sem apelar para qualquer tipo de cinismo, vulgaridade, violência ou efeito especial ostensivo, Selton Mello consegue plasmar na tela (recebam, rebanho de sacanas, um 'plasmar na tela' direto na caixa dos catarros!) um senso de maravilhamento pouco visto no cinema hoje em dia.

De quebra, ainda faz um belo exercício de metalinguagem ao levar o protagonista ao cinema – literalmente, na pele do seu próprio personagem – para assistir um filme clássico e utiliza-lo para espelhar seu próprio filme.

O Filme da Minha Vida / Dir.: Selton Mello / Com Johnny Massaro, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Beatriz Arantes, Ondina Clais, Rolando Boldrim / 14 anos

ENTREVISTA: SELTON MELLO

Entrevista feita em dupla com o jornalista e crítico de cinema João Paulo Barreto, que aliás, teve a paciência de transcrever tudo e a gentileza de me enviar o texto todo. Agradecido.

Selton e e o escritor Antonio Skármeta, que faz uma ponta no filme
Apesar de ser um filme de rito de passagem, ele também aborda muito a relação pai e filho. O tema lhe é caro?

Selton Mello: Eu tenho uma relação com meus pais muito boa. Eu e meu irmão. Eu cresci em um núcleo afetivo bem fechado e muito carinhoso. Então, esse é um assunto que eu gosto. E se você quer saber, é claro que é uma história de pai e filho, mas é também um filme muito sobre a mãe. E essa mãe... Eu gosto dessa coisa, já misturando os assuntos de elenco, pô, eu tinha o Johnny Massaro que é um expoente, um talento absurdo da geração dele, um menino realmente diferenciado, eu tinha o Vincent Cassel, um astro internacional, por que diabos eu ia botar uma atriz conhecida fazendo a mãe, entendeu? Aí eu puxei a Ondina Clais, que é uma atriz desconhecida do grande público, mas ela tem uma formação muito sólida no teatro. Ela trabalhou anos com o Antunes Filho, e também com o Bob Wilson, depois. Teatro, assim, na veia! E ela fez uma participaçãozinha no Sessão de Terapia. E eu gostei demais dela. E é uma idade que não tem muito assim, digamos... (pausa). É difícil você lançar alguém com quarenta e poucos anos. Aí eu pensei: ‘Poxa, eu quero botar a Ondina nessa. Fechar minha família com um rosto desconhecido’. Então, acho que é sobre esse trio

Já que você falou nela, sendo atriz de teatro, você teve que fazer algum ajuste de registro na voz? Porque no teatro, você emposta a voz. O cinema é algo mais intimo. Você teve que fazer esses  ajustes?

Ondina Clais, uma mãe de cinema maturada no teatro
SM: Meu trabalho é muito meticuloso como diretor. E, então esse trabalho não foi só com ela. Foi com o (Rolando) Boldrin, com o próprio Johnny. Eu trabalho de forma muito minuciosa. Às vezes é algo assim: ‘meio sorriso a menos’. ‘Sorrindo’! ‘Sem dente’! É nesse nível. ‘Não, não é sorriso aberto’ (faz uma cara alegre). ‘É um’ (faz uma cara amistosa). ‘É só uma onda boa. Deixa eu ver no teu olho’. É assim, milimétrico. Então, ela rapidamente se adaptou ali. Acho que porque ela tinha uma disciplina muito grande lá com o Antunes, no método dele. O meu era outro, mas é, tinha disciplina.

O filme remete muito a um sentimento nostálgico. Tem um vídeo seu se despedindo do Boldrin, no último dia de gravação dele. É perceptível sua voz embargada. Você falou da relação  com teu pai, que vocês assistiam ao programa do Boldrin juntos. Essa atmosfera nostálgica do filme foi sempre sua intenção?

SM: Foi. E isso, na verdade, de onde vem esse tom, é do próprio livro. O livro, quando eu li, eu falei: ‘puxa, tá ai o que eu gosto’. É um tom nostálgico, lírico, onde tem espaço para imaginação. É também divertido, com passagens divertidas. Uma história simples, clássica: início, meio e fim. Para todos os públicos, mas com viradas interessantes, com espaço para uma engenharia estética e emocional grande. Eu me cerquei de profissionais incríveis. Walter Carvalho (diretor de fotografia)! Foi um retorno depois do (filme) Lavoura Arcaica. Também emocional, também de pai e filho. Também é uma espécie de ‘pai de cinema’, o Waltinho. Então,  assim, retomar com ele, depois de tanto tempo. E o som, e a luz do sul. Tudo era material. O trem, a moto, a bicicleta, a casa da luz vermelha...

E no final, inclusive, você o dedica aos seus pais.

SM: Na verdade, tudo eu dedico aos meus pais. Eles foram fundamentais na minha vida. Eles fizeram movimentos muito grandes por minha causa. E eu te digo o principal deles. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu já era ator. E estava na minha segunda novela da Bandeirantes. E a Globo me chamou. Era a chance de ir pra Globo. Para a gente era assim, que nem hoje se alguém me chamar para trabalhar com o De Niro. Aí eles disseram: ‘você quer?’ E eu falei: ‘Claro!’ Aí, meus pais, a gente morava em São Paulo,  se mudaram pro Rio, com toda família. Pô, deixando amigos para trás, costumes para trás, tudo para trás, por causa de um menino de 11 anos. É muito bonito o que eles fizeram por mim. Eu fico imaginando eu pai, se eu faria isso pelo meu filho. Cada vez mais eu acho muito impressionante o que eles fizeram. Foi uma aposta que deu certo. Então, tudo eu retribuo a eles. E nesse filme eu quis deixar claro.

Selton, esta é sua terceira parceria com o Marcelo Vindicato no roteiro. Como essa dupla cresceu? Escrever em parceria é melhor para você?

Selton como Paco e Johnny Massaro como Tony Terranova
SM: Foi muito legal porque a gente foi aprendendo juntos como é que faz isso. O Marcelo era um amigo de teatro. Começamos, quer dizer, eu já estava na estrada, mas a gente se conheceu no tablado. Atores, juntos. Na mesma turma de teatro. Fã de cinema. A gente era os nerds do cinema ali. Sabia tudo de cinema e adorava os atores e tudo, os diretores. E aí o tempo passou e ele sempre foi um cara muito brilhante, muito inteligente. Aí eu o incentivei a escrever. E ele começou a escrever curtas, um programa que eu tinha, o Tarja Preta, a gente experimentava uma coisas, aí veio meu primeiro longa, Feliz Natal, depois O Palhaço. E ele foi ficando bom nisso. Foi ficando estudioso disso. Então, é muito legal que nesse terceiro, primeiro porque foi nova a coisa de a gente adaptar algo. Porque os dois primeiros foram originais. Isso foi interessante. E é legal identificar que ele virou um roteirista, um técnico, um cara estudioso. Um cara que, assim: “aqui é um ponto de virada. Aqui é a hora de fechar um ato. Aqui tem abrir o segundo e descortinar o terceiro.” Sabe, um cara que olha na estrutura do roteiro? E isso para mim é muito bom. Porque eu sou o lírico da dupla. Eu sou o que escreve uma cena, até porque eu vou dirigir, então, às vezes, sei lá, uma das cenas que eu amo nesse filme é quando o Tony literalmente voa. Viajando naquelas duas irmãs e ele está enxergando um troço que não está acontecendo. A rubrica daquela cena é: “Tony em transe olhando as irmãs.” Mas eu sabia como eu ia filmar aquilo. Então, esse espaço para a imaginação e para a sensibilidade, na filmagem, é muito legal na parceria com o Marcelo porque ele me ajuda a dar uma cama bem estruturada para poder ter a arroubos de lirismo ao longo das coisas.

Outra coisa  interessante é a relação do filme com o próprio cinema, com cenas do (filme) Rio Vermelho (1948). As falas do John Wayne era para refletir o estado de espírito do personagem?

SM: No livro, o filme é outro. É outro Rio. É o Rio Bravo (Onde Começa o Inferno, 1959), com Dean Martin. Tentamos os direitos para esse, falaram que não tinha chance. Aí eu fui pesquisar outros filmes e achei Rio Vermelho. Porra, que filmaço. Melhor que o outro. Mais cinema. Aí fui atrás e rolou de liberarem os direitos. E, curiosamente, que eu acho que nada na vida é à toa, era pai e filho, mas ali o (ator) Montgomery Clift era um filho bastardo. Um menino que ele cria e depois trai o pai e tal. Então eu fiquei vendo o filme como louco para tentar achar ecos deles e usar no meu, ficava tentando achar rimas visuais. Por exemplo, o Montgomery Clift sobe em um cavalo, o Cassel sobe no trem. Algo espelhando. Fiquei esmiuçando aquele filme.

Eu ia te perguntar sobre essa cena, especificamente. Você falou agora a pouco do modo de direção exemplificando os sorrisos e ela é um enquadramento perfeito do que você quis dizer. Do Johnny tendo aquele sorriso. E ela se confunde com o lúdico, porque toca Carmen, e o som é diegético, ela está dentro daquela cena do filme.

SM: É verdade.

Então, você brinca com isso. Quando ele flutua, é o carimbo de que o filme é lúdico.

SM: Exatamente.

Então, você pode se deixar levar por isso. Houve essa intenção?

SM: Totalmente. Essa cena eu tinha um expectativa grande de filmar. Inclusive, ela demorou. Porque pela ordem de nosso cronograma, ela era, sei lá, quinta semana. Mas eu falava muito com o Waltinho que essa cena era um guia para o filme todo. Porque é como se fosse um filme que não tocasse o solo. Como se fosse um filme em suspensão. Como se fosse um grande sonho. O filme é filmado como um grande sonho. Poderia ser um grande sonho desse protagonista. Aliás, de repente pode ser que nada disso realmente aconteceu. A figura do Boldrin é uma figura mítica. Se bobear, vai que não tem um maquinista. Se bobear aquilo ele ta imaginando. Mas, assim, (pensativo). Nisso, quando tinha ali o neorealismo, e o Fellini falava assim: “Deus me livre da realidade, eu quero mais é sonho”, aí eu estou de braços dados com ele. Porque, assim, de realidade, a gente já está cheio. Inclusive, tempos duríssimos. Abre o jornal, e tudo que a gente vê são desgraças. Desigualdade, roubalheiras. Eu pensei: “não, sonhe! Pelo amor de Deus.” Uma das capacidades do cinema é fazer sonhar. Assim, você entrar no cinema e aquilo é um templo dos sonhadores. Você entrar ali é como sonhar acordado. Você está diante de uma tela e você esquece por um período o que está acontecendo ali fora, ou pelo menos espera-se que aquela obra tenha a capacidade de fazer você esquecer do que está do lado de fora. E entra em um mundo. Então, filmar é criar um mundo. É criar uma atmosfera. Então, os personagens possuem uma linguagem própria. Assim, a Luna fala coisas que uma menina da idade dela não falaria. Não importa. Eu não estou filmando a realidade. Eu estou filmando uma representação emocional de uma realidade que eu criei. De uma cidade fictícia ao sul do Brasil, mais ou menos nos anos 1960. Eu acho que essa foi a beleza de fazer esse trabalho. E é bonito. Porque quando você faz algo com essa força emocional, pula da tela e vai par ao público. O público recebe pela via afetiva, assim. É muito bonito, cara.

Eu queria te perguntar algo nessa linha. Tirando Feliz Natal, que é algo um pouco mais acido, O Palhaço, e esse filme agora, você parece rejeitar um certo cinismo que está meio que estabelecido hoje em dia. Você não gosta dessa linguagem? Não te interessa essa linguagem mais cínica, mais (estalando o dedo) fugaz?

SM: Eu acho que podem ser fases da vida, também. Assim, aí a vantagem de ser ator. Então, como ator, eu faço de tudo, inclusive muitas coisas cínicas. Mas como realizador, que aí é uma representação do meu espírito, do que eu penso da vida. Que garrafa é essa que eu estou jogando ao mar? Eu quero que o público sonhe. Que o público saia bem do cinema. Que pense nos seus pais. Eu já comecei ter depoimentos do tipo: “noss, esse filme é muito lindo. Lembrei de meu pai que morreu. E assistir esse filme foi uma loucura porque eu lembrei de coisas que eu gostaria de ter falado.” Isso mexe em lugares, assim, muito... E em uma estrutura clássica. Não é um filme cabeça. É um filme para todo mundo. É um filme com um potencial de comunicação. Que é outra coisa que me interessa. Essa via do meio. Ele não é um filme cabeça e não é claramente um blockbuster. É um filme que tenta ser um filme comercial refinado. Um filme com um apelo popular, sendo um biscoito fino. Sendo bem cuidado. É você oferecer ao público o melhor. Fotografia, trilha edição de arte, acabamento, é um presente bem embalado.

As arrebatadoras irmãs Madeira: Petra (Bia Arantes) e Luna (Bruna L.)
Uma outra coisa que me chamou atenção é a forma como as irmãs Madeira são fotografadas. A Bia Arantes surge parecendo uma diva dos anos 1940. Foi intencional, então?

SM: Foi. Eu filmei a Bia como se filma a Liz Taylor, a Rita Hayworth, Ava Gardner. O semblante dela é bem clássico. Ela tem mesmo a aura de estrela antiga. A Bruna já é mais a Shirley MacLaine. Os olhos dela chamam atenção na tela.

Sim. Ela tem um conjunto bem arrebatador.

SM: Exatamente. E aí... Eu acho (pensativo) que é filmar com... O protagonista, é ele quem conduz a história. Então, o diretor ele anda com os braços dados com o protagonista. Então, é como se eu filmasse esses personagens pelo ponto de vista dele. Sabe, aquilo é como ele vê as irmãs. Assim, a mãe e a falta que a mãe sente, é como provavelmente o Tony imagina que a mãe está se sentindo com a ausência do pai. Então, eu acho que isso.

O filme possui algo que é bem atraente que são os anos 1960. A gente não tem uma linha do tempo definida para essa década, mas algumas pistas são dadas, como a luta do Jofre, o rádio. E Do livro, vocês captaram muita coisa disso ou se foi mais algo seu?

SM: Veio muito do livro e tem muito de mim, também. Foi ótimo, pois o Skarmeta me deu total carta branca. Vocês não leram o livro, certo?

Não, não li.

Johnny Massaro é Tony Terranova, um jovem em busca do pai
SM: Então, eu te digo várias coisas que são do filme e não do livro. Por exemplo, no livro ele resolve o final todo junto com o Augusto Madeira. Eu falei: “não, não. Eu resolvo esse menino antes e o final é da família. Só.” Bicicleta e moto: é uma metáfora que eu criei. O maquinista. Tem uma cena que eu parei e pensei: “deixa eu pegar esse maquinista e colocar ele como uma figura mítica que costura o filme, que tudo viu, que sabe tudo”.

É o velho sábio.

SM: Ele viu tudo. Porque a gente não pode dar spoiler. Mas, fora dos gravadores, a gente pode dizer. Ele viu a Petra indo grávida, ele viu que foi a Paco que levou, ele viu eu e o Cassel voltando e pensando no que a gente ia fazer agora. “Vai ficar lá que eu me escondo aqui.” Ele sabia de tudo o tempo todo. Ele sabia de tudo, mas também sabia que tudo tem hora de acontecer. Então, ele estava só filmando, literalmente, o Tony. E tem um plano no filme que é um plano do Walter Carvalho. Ele falou: “Esse aí eu vou ter que fazer”. Eu falei: “Waltinho, ok. Você merece. A nossa parceria foi tão boa que eu te dou esse plano de presente.” Ele falava que, na Paraíba, na meninice dele, ele lembra muito claramente que as latas de filmes eram levadas pelos maquinistas. E iam de trem. Ele lembra disso, com o Vladimir Carvalho. E ele queria fazer esse plano. Eu falei: “Waltinho, vamos fazer esse plano”. Porque, afinal de contas, ta lá. A gente revela isso, tem ali as latas. Ou seja, o cara levava o filme para o cinema. Ele sabia tudo, mesmo. E sabe que a vida tem seu ritmo. Ele não pode se intrometer. Então, é linda a participação do Boldrin.

Em 2012 eu conversei com o Walter quando ele esteve aqui divulgando o documentário sobre Raul Seixas. E nós falamos  sobre a qualidade do profissional atento, que está na hora certa e no momento certo. Eu lembrei disso hoje, fazendo a pauta, pois eu acho que ele se encontrou fazendo esse filme.

SM: Que legal.

Quando você me fala acerca disso, desse plano dele das latas de cinema, é algo meio que confirma isso.

Pois é. Ele lembrou da infância dele na Paraíba. Que os filmes eram levados pelo trem. Muito bonito, cara. Muito bonito. Então, assim, a essência do livro está toda no filme e eu precisava ir além das páginas. Porque eu precisava de um conflito. Meu personagem é totalmente diferente no livro. No livro, ele é um amigão. Ponto. Aí eu pensei: “peraê, deixa eu pegar esse amigão que é engraçado e dar um outro contorno pra ele para que ele tenha uma virada e seja o cara que talvez seja o pivô de tudo.” E ficou um personagem interessantíssimo. Porque boa parte do filme você fala assim: “ah, o Selton pegou esse aí pra se divertir.” Aí no final você fala: “Caramba! Olha o que esse Paco é.” Então ficou um personagem bem rico e diferente do livro, também.

Um acerto que eu achei sensacional é como eles são parecidos. O Johnny Massaro e o Vincent Cassel.

SM: Um dos melhores castings do cinema brasileiro nos últimos tempos.

O nariz do Massaro. Ele tem aquele perfil francês.

SM: Exato. E o encontro dos dois, assim, o Cassel ficou encantado com o Johnny. Imediatamente ele viu que era um menino diferente, especial, e o Johnny não se intimidou com o Cassel. Poderia, né? “Puxa , é o Vincent Cassel!” Mas, não ele ficou ali seguro. Eles ficaram super amigos e foi muito bonito o encontro dos dois. Casting ideal. Grande acerto.

O astro francês Vincent Cassel, o pai: mais brasileiro do que eu ou você
E ele vem crescendo no Brasil. Trabalhou com o Heitor Dhalia no À Deriva, agora contigo...

SM: Ele trabalhou com o Cacá Diegues, também. Vai ser lançado em breve.

Olha só. Fala português já fluente.

SM: Ele já é um carioca. Joga capoeira.

É, ele aparece jogando capoeira na terceira parte de 11 Homens e um Segredo.

SM: O Cassel? Não lembrava disso. Ah, ele ta um brasileiro. Ele é um pai mítico no filme. Um pai que permeia o filme. Exatamente de um ponto de vista... assim, é o sentimento do filho . O pai é quase um sentimento. Então, você tem o Cassel, ele é um ator, assim, é um bicho cinematográfico. Aquele cara que você põe a câmera assim e acontece muita coisa. Forte a figura dele.

Cresce.

SM: Algo assim, Marlon Brando. Vai, exagerando, mas Marlon Brando. Essas grandes figuras do cinema. O Cassel tem esse peso. Quando eu botei a câmera nele a primeira vez, eu olhei assim...

E ele é bem galã francês. O feio bonito.

SM: O feio bonito, mas, assim, com uma presença em cena muito forte. Então, quando eu volto, de vez em quando tenho aquelas lembranças, e é o Cassel ali sendo pai, tem uma força muito grande.

Ele fez um filme magnífico a pouco tempo, chamado Meu Rei.

SM: Pois é. Dizem que é bonito, né? Eu não vi. Mas ele gosta bastante desse filme.

Eu gostei bastante desse filme.

SM: Ele tem orgulho desse filme.

Trazendo o papo para o atual, assim, o que você acha, se você quiser dar sua opinião, claro, o que você achou do Sergio Sá Leitão para ministro da cultura?

SM: Cara, eu conheço o Sérgio já há algum tempo e eu acho ele um cara bem preparado. Acho que o audiovisual pode estar bem amparado. Eu acho que ele pode ser uma boa escolha. Pode ir bem.

Você falou agora a pouco acerca das fases de seu trabalho, que pode trazer um caminho mais cínico ou áspero, ou algo mais doce e lúdico. Como foi a experiência de viver o Chris, em Soundtrack? Foi a segunda parceira com a dupla de diretores 300ml.

SM: Isso. Cara, eu achei um roteiro bem inventivo. Toda a ideia dos cara, foi algo bem peculiar, assim. E um personagem denso, mas bonito, porque é um artista. Então, com suas questões que eu me identifico. Eu sei os dilemas daquele personagem. Então, foi ótimo. Assim, eu fiquei muito tempo dirigindo o Sessão de Terapia. Foram três anos. Então, eu sai de la´seco para atuar. Fazia tempo que eu não atuava tanto. Você vê que eu voltei agora com fé. O Ligações Perigosas, o Soundtrack, O Filme da Minha Vida, onde eu tenho um papel pequeno, mas importante, um coadjuvante de peso. E vem aí o Treze Dias Longe do Sol, que é uma minissérieque eu fiz para a Globo e que estreia em janeiro. Estou filmando agora com o José Padilha para o Netflix. Estou bem ator.

É a série sobre a Lava Jato?

SM: Sim. Chama-se O Mecanismo. É uma série sobre a corrupção no Brasil.

Tem planos de voltar com o Sessão de Terapia?

Tony e a poética casa da luz vermelha do filme
SM: Olha, cara, planos tem. Vontade, tem. Mas tem que achar um momento para isso. Porque exige um mergulho grande ali. Na escrita,. Foi um trabalho denso. Fiquei três anos fazendo.
Dentro de uma sala. Então, era bonito, mas era forte demais. Então, precisava dar uma pausa dali.

Já sabe qual será o seu próximo projeto como diretor?

SM: Em cinema, não. Mas estou adaptando para a Globo, em minissérie em dez capítulos, um sonho de vinte anos, que é O Alienista, do Machado de Assis. Amo esse conto. Já pensei em fazer em cinema várias vezes e é caro. Aí resolvi fazer ali em minissérie porque eles têm aquela estrutura, cidade cenográfica. Só não sei quando pois ainda, mas será a minha estreia na Globo  como diretor e ator. Eu vou fazer o Simão Bacamarte, esse médico que estuda o limite entre a razão e a loucura, machadianamente. E, pô, Machado de Assis para a massa, né? Botar Machado para o grande o público é sempre um prazer. Mas não sei quando eu devo fazer isso. A gente entra em uma fila ali de muitos projetos. Mas estamos trabalhando nisso.

3 comentários:

  1. Eu que agradeço a parceria, Chico!

    Keep on rockin´ in the free world, brother!! A cidade do terror precisa de heróis da resistência como você.

    Abraço!

    Jp

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  2. Tamos aí, JP! Abraço!

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  3. Perigando ser o melhor disco de rock baiano do ano:

    https://rosaidiota.bandcamp.com/releases

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