Na Magical Mystery Tour (1967). Parlophone Music Sweden / Wikicommons |
Foi o ano em que o rock, sintonizado com as revoluções políticas e comportamentais que vinham em curso desde a década anterior, deixou, de uma vez por todas, de ser apenas música (e rotulada como vulgar), para se firmar como grande arte, comportamento, política, estética, comentário social, revolução de costumes.
Nesse contexto, em 1967 foram lançados álbuns que até hoje são considerados fundadores do gênero “rock” – em oposição ao primordial rock ‘n’ roll dos anos 1950, que até então só servia para balançar as ancas, promover quebra-quebra em cinemas e reafirmar o racismo norte-americano, que elegeu Elvis Presley como “Rei” do ritmo, em detrimento dos negros que realmente o criaram, como Chuck Berry e Little Richard.
Foi em 1967 que vieram à luz obras-primas que ajudaram a modificar a própria cultura ocidental, como Are You Experienced? (estreia de Jimi Hendrix), The Piper at the Gates of Dawn (estreia do Pink Floyd), Their Satanic Majesties Request (Rolling Stones), The Velvet Underground and Nico (estreia da banda que revelou Lou Reed), The Doors (primeiro da banda de Jim Morrison) e outros.
Mas o que melhor cristalizou o momento foi mesmo Sargeant Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.
Outras vibrações
O Studer J37 4 pistas usado nas sessions. Josephenus P. Riley, Wikicommons |
Consta que a ideia inicial partiu de Paul McCartney, que sugeriu ao produtor George Martin que o próximo álbum dos Beatles não seria “dos Beatles”, mas sim da Banda do Sargento Pimenta, uma filarmônica de coreto fictícia, mas parecida com muitas que ainda se apresentavam nas praças do countryside inglês.
A sugestão de Paul se explica: em 1966, os Beatles estavam fartos de ser os Beatles. A banda havia desistido de fazer shows devido, entre outros fatores, à histeria das fãs, que berravam do início ao fim das apresentações, impedindo até os próprios músicos de ouvir o que estavam tocando.
Em outra vibração desde que conheceram Bob Dylan, a maconha, o LSD e o guru indiano Maharishi, os Fab Four queriam que sua música fosse de fato ouvida – e queriam ser respeitados como artistas e não mais como ídolos teen.
Não a toa, os dois álbuns anteriores dos Beatles, Rubber Soul (1965) e Revolver (1966) já apontavam para uma virada criativa na música da banda, que se tornava mais reflexiva, psicodélica e elaborada.
Sargeant Pepper’s radicalizou essa tendência.
Nele, o quarteto, brilhantemente auxiliado por Martin e o engenheiro de som Geoff Emerick, incorporou diversos elementos até então estranhos à produção de um disco de rock, como instrumentos indianos (Within You Without You), cravos renascentistas (Fixing A Hole), fitas em reverso (Being For The Benefit Of Mr. Kite!), sons de animais (Good Morning Good Morning) e música erudita moderna (A Day In The Life).
Nas letras, Lennon & McCartney surgiam inspirados como nunca, fazendo a crônica de uma Inglaterra que vivia entre o provincianismo secular (Lovely Rita) e a modernidade do pós-guerra, com uma juventude que começava a despertar para a revolução de costumes (She's Leaving Home).
Depois de Sargeant Pepper’s, nada foi como antes – a começar pela dupla Lennon / McCartney, que teve no álbum sua última parceria de fato.
O pacotão comemorativo dos 50 anos lançado pela Apple / EMI |
Sargento na Bahia
Como esperado, a indústria marca a ocasião com seu habitual pacote de luxo, contendo o álbum original remasterizado, versões demo, livro, poster e outros badulaques.
Vale registrar também que, através de uma conjunção astral que só ocorre a cada mil anos, o cinquentenário coincidiu com a vinda de Paul McCartney à Salvador para um show em outubro.
Macca, como se sabe, está homenageando o Sargeant Pepper’s tocando algumas canções do álbum nos shows desta turnê, como a faixa-título, A Day in The Life e Being For The Benefit of Mister Kite!.
Quem diria que a Bahia faria parte da festa do Sargento Pimenta...
Tinha jurado a mim mesmo que ia passar batido por essa. Até por que já tinha feito a matéria dos 40 anos, uma década atrás:
ResponderExcluirhttp://rockloco.blogspot.com.br/2007/04/faz-40-anos-que-o-sargento-pimenta.html
Mas a chefia solicitou a pauta, então não tive alternativa senão remastigar esse prato de ontem....
e que vc faça pelo menos até os 80 do disco...
ResponderExcluirfique chamando o rock de racista...a galera já num gosta-ehheeeheh
deixe a deixa-ehheehhhe
o pleasures of the harbor do phil ochs é desse ano...discaço que eu descobri há uns anos...
O Fresh cream é de 66 , por isso sempre fica fora da lista! È onde a semente do Heavy Metal se apresenta, assim como um disco psicodélico do caralho....!@!!
ResponderExcluirSputter, eu nunca disse que o rock é racista. O rock É NEGRO. Portanto, não é racista. Racista são as pessoas e as sociedades. Acho que está bem claro no texto.
ResponderExcluirNei Bahia, que prazer ve-lo por aqui! Volte mais vezes!
Chico, tava gastando contigo...sobre as polêmicas que vimos os últimos tempos...dizedo q rock morreu...q igor kannário é a coisa mais rock da bahia...seu jorge dizer que o rock é racista...foi só uma brincadeira pra reacender a "polêmica", tirei desse trecho:
ResponderExcluir" em oposição ao primordial rock ‘n’ roll dos anos 1950, que até então só servia para balançar as ancas, promover quebra-quebra em cinemas e reafirmar o racismo norte-americano, que elegeu Elvis Presley como “Rei” do ritmo, em detrimento dos negros que realmente o criaram, como Chuck Berry e Little Richard."
tirei um pouco do contexto e brinquei contigo...
desculpe se não ficou claro a ironia no meu primeiro comentário...foi só pra brincar mesmo...com essas idiotices que as pessoas falam...tiama!
http://www.allmusic.com/album/kickin-child-lost-columbia-album-1965-mw0003035149
ResponderExcluirDisco perdido de Dion...mas eu conhecia muitas dessas...inclusive fiz cover de uma com The Wild shames...discaço por sinal esse, embora tenha muitas que eu já conhecesse, tem cada uma fodona...vale a pena baixar...demais!!!