Ayam Ubrais em foto de Lis dos Anjos |
Sucessor do surpreendente ¡Partir O Mar Em Banda! (2013), Na Peleja é na verdade continuação deste primeiro álbum em uma trilogia planejada por Ayam. Como se pode notar, o artista parte do mar como metáfora para contar sua história.
“O mar é a metáfora que abarca tudo. É a vida em sua plenitude. É a morada das canções da trilogia prevista. Onde o ¡Partir O Mar Em Banda! termina é onde começa o Na Peleja da Navegança, que é o segundo disco dessa trilogia. Ela se alicerça em uma concepção da História às avessas. São 3 discos, três continentes: América, África e Europa, numa contranarrativa. Ao invés das caravelas chegarem aqui no Brasil com os europeus, acontece o inverso.
“Forma-se uma confederação de nações indígenas cujos pajés têm uma visão coletiva da invasão europeia e de todas as desgraças que isso traria (¡Partir O Mar Em Banda!) e lançam-se ao mar em direção ao continente africano, onde os orixás haviam também previsto a invasão, no intuito de forjarem uma confederação com as nações africanas (Na Peleja) e partirem pra Europa, a fim de evitarem que o seu modelo de sociedade se espalhasse mundo afora”, explica o músico.
O fim dessa história se dará no último álbum da trilogia, quando os ameríndios e os africanos se encontrarão com os europeus.
“O terceiro disco é a chegada dessa imensa confederação (Nhemongaba de Abaetetubas*) na Europa e o encontro com os chamados ‘rachadores de lenha e tiradores de águas’, ou seja, os marginalizados e despossuídos de lá, que de imediato se unem à confederação, no intento de cambiar as bases dessas sociedades fundadas na desigualdade e exploração”, adianta Ayam.
Ao mesmo tempo em que conta sua própria história, Na Peleja também fala muito do Brasil e do mundo agora, quando vemos uma onda de ignorância e ódio conservador se avolumando no horizonte.
"O Na Peleja da Navegança, assim como a trilogia, podem sim, ser entendidos como um manifesto estético, filosófico e político. E também existencial. Assim venho os concebendo. O amor e a luta são os temas essenciais de todas as canções e que refletem os universos da classe trabalhadora, não apenas brasileira, mas mundial", afirma Ayam.
De mãos dadas, sempre
Ayam, foto Lis dos Anjos |
“O amor e a luta são inseparáveis nas canções porque se encaminham para a liberdade. E não se alcança liberdade alguma sem amor e luta. Essas são as armas para as consciências dos que não acatam nem aceitam uma organização social que permite que a natureza e as pessoas tenham preço posto por imbecis que saboreiam a própria indigestão por almoçarem e jantarem dinheiro depois de matarem milhares numa operação financeira”, afirma.
“Não é a toa que o lema do Na Peleja da Navegança seja o refrão da canção A Topada & As Mãos: ‘Não esqueçam de dar as mãos’”, resume Ayam.
"Há pensadores que me influenciaram brabamente. Eram trabalhadores da terra, cantadores populares como Ojerferson, os pobres, marginalizados e mendigos de sempre, os doidos e as putas e suas histórias incríveis, operários em luta e militantes revolucionários, rezadeiras, lavadeiras e adoradores de Jesus, caroneiros que encontrei nas rodovias, as mulheres que amei, amigos de peleja e os filhos dos amigos de peleja. É o pensamento que abrange os pensamentos destes todos que me faz forjar canções e ter esperança no amor, na luta e na liberdade sempre de mãos dadas. Logo, os pensadores que escreveram teorias sobre essa gente e que eu li, me são referências também", conta.
Muito bem acompanhado, Ayam contou com grandes parceiros na criação e na gravação do álbum a começar pelo Bando do Mar e seu guitarrista / produtor do álbu, Ismera Rock, um verdadeiro guitar hero do Sul da Bahia.
"O Bando do Mar (Mateus Albuquerque, da Kerberus, Ismera Rock, do Calibre Dobrado e Edmilson Sussa, da Soda Pop) somos os que deram vida às canções do Na Peleja da Navegança. Decidimos juntos que, diferentemente do ¡Partir O Mar Em Banda!, que foi gravado com umas 20 pessoas, esse disco seria um reflexo do Bando, mais até que de mim mesmo. Daí, Mateus com o rock e sonoridades indígenas, Sussa com o soul e jazz, Ismera invocado com a guitarra de Heraldo do Monte e eu ouvindo muito IFÁ, demos a liga pro Na Peleja labutando com a antropofagia. Tivemos em seguida as participações de músicos incrivelmente gentis que captaram e exerceram a ideia fundamental que era ter no álbum a atmosfera das cantorias das manifestações populares, da musicalidade mundial do proletariado atlântico. Coro: Laísa Eça (Manzuá), Geisa Pena (Mulheres em Domínio Público), Solange Reis, Edson Bastos, Raoni Ribeiro, Ismera Rock e Fernando Guimarães. Percussão: Dieqs Meoberimbau (OQuadro), Teclas: Dérik Correia (Serviço Público) e Adilson Vieira, Sopro: Zezo Maltez, Betão Bone, Gabriel do Ouro. (A Trinca do Sopro das Terras do Sem Fim) e Triângulo: ZédiBeró", enumera Ayam.
Lançado o álbum (virtualmente), a questão agora é: como faze-lo circular? Ayam ainda busca soluções para isto.
"Essa é uma pergunta difícil de responder por aqui, devido a problemática que ela traz em si. Questões de logística, por exemplo. São muitas bandas pra poucos festivais. Há certa solidariedade entre bandas, mas não o suficiente pra que possibilite uma circulação mais abrangente de todas pelas cidades onde tem alguma cena. Há reconhecidamente a peleja de ativistas culturais pra estruturar profissionalmente a cena. Há burocratas culturais, vaidades, picuinhas e panelagens também. Há editais, mas que não dão conta dessa imensidão de bandas por que estão subordinados a uma desumana política de cortes de gastos sociais, nesse caso, da cultura, em detrimento do enriquecimento de crápulas do sistema financeiro através da dívida pública. Ou seja, é muita questão a ser pensada, debatida, decidida. Circular pela Bahia, Brasil, mundo? Queremos todos. Como faremos? Cada qual isoladamente? É uma alternativa. Agora, é uma alternativa também irmos além da estupidez de bairrismos bestas e lambeções de botas e nos darmos às mãos todos em solidariedade a uma causa que mais nos desafia a estarmos unificados que separados? O SEIVA, em Valença, é um exemplo impressionante. O Rockambo e o BigBands em SSA também. Pra citar os que conheço e que devido ao respeito e consideração envolvidos, fizeram com que os perrengues parecessem porra nenhuma. Um graveto é quebrado facilmente. Um feixe de gravetos, não. Disse Jesus. Deter uma rosa até podem. Deter a primavera, não. Disse Che. Escolhamos", reflete o artista.
Para 2017, além de divulgar o disco, Ayam tem alguns outros planos.
"Ao alcance: Seguir com os lançamentos do livro de poesia que escrevi, O Caos Agradecido (Ed. Mondrongo). Gravar um epê, intitulado Remaê e já em andamento, concebido por meu parceiro Ismera Rock e por mim. Continuar pintando as telas por que é através delas que financio as gravações do terceiro disco, finalizando a trilogia. E queremos muito fazer shows", lista.
"Esse (2016) foi um ano extremamente difícil, de muitas perdas importantes. Meu pai, por exemplo, partiu e queria que ele pudesse ter ouvido o disco por causa dos sopros. Ele amava saxofone. Mas não foi possível. Precisamos romper com o estúdio lá de Ipiaú por conta de canalhices com a gente. Aqui entra a gratidão. Eu estava já extenuado. Gostaria que, de algum modo, Ismera Rock fosse citado como produtor do disco porque sem ele, o Na Peleja não teria sido lançado esse ano. Foi o remo fundamental dessa navegança. Junto a ele, o Estúdio 878 (Fernando Guimarães e Adilson Vieira) que nos acolheu quando parecíamos estar à deriva. Ismera Rock e o 878. Ainda gravamos nos estúdios Canoa Sonora (Ilhéus), Prisco Sax (Ipiaú) e no Caverna do Som (Irmão Carlos - SSA)", conclui Ayam.
* Assembleia cheia de gente boa
www.facebook.com/ayamubrais
NUETAS
Duda e Rubatosis
Duda Spínola e Rubatosis são as atrações do primeiro Quanto Vale o Show? de 2017. Hoje, 19 horas, Dubliner’s Irish Pub, pague quanto quiser.
Carlini & Água Suja
Pelo visto, a parceria entre a lenda da guitarra Luiz Carlini e a banda local Água Suja foi boa. Depois de um show mês passado, o mestre paulista retorna à cidade para mais uma dose neste sábado, com os convidados Fábio Bandini & Mauro YBarros. 23 horas, Dubliner’s, R$ 20.
Verão NiHiLista já
Diablo Angel (PE), Casco (SE), Os Jonsóns, Cartel Strip Club e Macumba Love agitam o NHL de Verão 2017. Destaque para a Diablo, rock sujo com uma menina no vocal. Sábado, 20 horas, no Buk Porão , R$ 10.
Ovo da serpente chocando, parte 1:
ResponderExcluirhttp://www.timesofisrael.com/hitlers-mein-kampf-is-german-bestseller-again-publisher/
Ovo da serpente chocando, parte 2:
ResponderExcluirhttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/bolsonaro-negocia-com-malafaia-alianca-para-2018/
Ovo da serpente chocando, parte 3:
ResponderExcluirhttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/joao-victor-8-anos-a-tragedia-de-um-filho-do-odio-por-paulo-nogueira/
Porque me ufano da minha Bahia:
ResponderExcluirhttp://www.brasilpost.com.br/2017/01/03/prefeito-chaves-deus_n_13937842.html?utm_hp_ref=brazil
Nosso brother Glauco Neves divulga seu novo clipe, Modo Hard, para a banda Circo de Marvin.
ResponderExcluirhttps://youtu.be/uvfxS82RsNo
GTA em Salvador.
Para um véio de 45 anos como eu, talvez seja um pouco bobo, mas ficou muito bem feito, a produção é caprichada!
Chico, vamos levar esse lance do bigodin como se a galera tivesse lendo pra saber mais sobre o sacana e num repetir a merda...pq pra criticar tem que saber...quanto mais se conhece, mas se pode criticar...vamos pensar positivo...
ResponderExcluirtou avisando de bolsonazi e ninguém me avisa...o ego é demais...se ele for esperto, fica só falando as sandices dele...fica no senado, ganhando pacas...metendo o pau em quer for presidente...mas, sacumé...o olho é maior do que a barriga...
mas vamos ver as coisas "boas" da net, "piadas":
http://www.brasilpost.com.br/2016/12/30/cover-de-claudia-leitte-vira-piada-the-voice_n_13897032.html
http://www.brasilpost.com.br/2017/01/02/homem-foge-cadeia-manaus-posta-foto-meme_n_13930092.html