João Francisco Benedan. Foto Rui Mendes |
Ditado pelo vocalista da clássica banda punk Ratos de Porão ao jornalista André Barcinski, o livro é a cara do seu personagem: sem papas na língua, nem rodeios.
“Pô, tem história pra caramba pra contar, e depois que gente tá morto, o povo escreve o que quer. Então, resolvi fazer logo, contar da minha vida até agora. Antes que alguém fizesse o errado, eu fiz o certo”, afirma João, por telefone.
Amigo de André Barcinski, João não teve dúvidas ao convocar o autor da biografia de Zé do Caixão (Maldito, relançada em 2016 pela mesma DarkSide) para ajuda-lo a contar sua própria história.
“Sou amigo dele há muitos anos, desde um show do Ratos no Circo Voador. Depois ele me chamou para trabalhar freelance no (jornal) Notícias Populares. Teve também a entrevista para o livro Barulho (Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano, 1993)”, lembra.
“Desde essa época, conto minhas histórias pro André, e ele dava muita risada. Para o livro, ele foi me entrevistando por quase dois anos. Aí ele decupava, fazia um capitulo, me mandava, eu olhava. Ele ainda entrevistou minha mãe e alguns amigos“, conta.
Narrado em primeira pessoa, o livro aproxima o leitor da pessoa João Gordo / João Francisco Benedan de forma mais eficaz do que qualquer disco do Ratos ou programa de TV que ele tenha feito.
A impressão é de ouvi-lo falar diretamente para quem lê, como se estivesse em uma mesa de bar.
E o mais incrível, para quem só conhece o Gordo como um punk boca-suja, é que, ao final do livro, o que fica é um sentimento de ternura – sim, ternura. Por este sujeito aí ao lado de dedo médio estendido.
1982, chefe de bateria do Bloco Maracatu em Angatuba (acreditem!) |
Amasso na coroa
Há pelo menos duas razões para tanta emoção despertada pela autobiografia de João Gordo.
A primeira é sua relação dificílima com o pai, que costumava surra-lo de tirar sangue, quando o menino João Francisco aprontava.
E João Francisco, um garoto de imaginação fértil e cheio de energia, aprontava muito. João chega a atribuir a uma dessas surras, especialmente brutal, sua gagueira.
"Foi natural (o processo de superar os traumas paternos). Tive uns problemas psicológicos por causa disso. Mas fico feliz de saber que não sou meu pai. Era outra época, outro jeito de falar e criar os filhos. Hoje é tudo muito diferente, a gente não tem que repetir os erros dos pais", observa.
A outra razão é o(s) drible(s) na morte que ele deu. Após décadas bebendo, se drogando, comendo e fumando como se não houvesse amanhã, o corpo começou a cobrar o preço.
O Ratos de Porão em Berlim, na época do muro |
“O (André) Forastieri (do portal R7) disse que o livro é uma história de amor. Amor do pai pelo filho, amor pelo rock, amor pela minha esposa e meus filhos. Tem contestação, mas não tem muita raiva. Não tem mágoa”, diz.
Uma coisa engraçada é que, quase ao mesmo tempo que saiu o livro do João Gordo com André Barcinski, outra figura fundamental do punk no Brasil, Clemente Nascimento (Inocentes) lançou um livro em parceria com Marcelo Rubens Paiva, Meninos em Fúria, pela Companhia das Letras.
João garante que teve a ideia primeiro.
"Quando o Clemente veio no Panelaço (programa on line do Gordo no YouTube) falei do meu livro pra ele. Aí ele falou que tava com inveja – e o dele acabou saindo primeiro, filho da puta! (risos) Mas são livros bem diferentes, o dele tem a visão do Marcelo também, tem um teor mais político", considera o Gordo.
Com o filho Pietro, de chapeuzinhos do Devo |
Sobre a situação atual do Brasil, o Gordo é pessimista. "2017 eu acho que vai ser pior do que 2016. Os políticos ficaram loucos de vez, ninguém entende ninguém, esse bando de ladrão tomou o país de assalto, tá liberada a putaria. A esquerda fez um monte de bosta e a direita, que só tem corrupto, botou um monte de fdp de asa de fora. Nego não tem mais vergonha de nada. Enquanto não houver uma represália mais foda vai continuar assim, os milionários rindo na nossa cara", afirma.
Mais história de vida do que radiografia do movimento de que fez parte (o punk no Brasil), Viva La Vida Tosca não é só a parte edificante, claro.
Há causos hilariantes e escandalosos envolvendo diversas figuras do rock e da TV.
Uma das revelações mais engraçadas é quando ele conta que numa bebedeira, beijou a mãe dos irmãos Max e Ígor Cavallera, do Sepultura – e que depois, passou a evita-la, por que começou a achar que ela era uma espécie de bruxa.
“Não falo mal de ninguém. Só contei as histórias, falar que fiquei com a mulher lá não tem nada demais. O que eu achei que podia ter problema, mudei os nomes. Antes de tudo, é um livro de superação, de como vim parar aqui”, conclui João Francisco.
João Gordo: Viva La Vida Tosca / João Gordo e André Barcinski / DarkSide Books/ 320 páginas/ R$ 59,90/ www.darksidebooks.com.br
RIP jornalismo brasileiro
ResponderExcluirhttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/capa-da-exame-com-mick-jagger-falando-em-trabalhar-para-sempre-vira-piada-nas-redes/
SO.COR.RO!!!!!
ResponderExcluirhttps://omelete.uol.com.br/musica/noticia/google-lista-20-artistas-que-devem-estourar-no-brasil-em-2017/
Ou melhor, só corro! Pra bem longe!
RIP William Peter Blatty
ResponderExcluirhttps://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/morre-william-peter-blatty-o-autor-de-o-exorcista/
Autor de um dos melhores livros de terror de todos os tempos. E se vc o ler ainda adolescente, ele jamais te deixará...