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quarta-feira, novembro 30, 2016

A ARTE DE FAZER FESTIVAL DE ROCK SEM GRANA VIVE NA BAHIA

O Festival Bigbands chega à oitava edição – sem grana, mas com 17 bandas 

Nervochaos, death metal de SP. Foto: Divulgação
A Bahia tem muitos festivais de música. Nenhum muito grande. Alguns são relevantes, outros são nulos nesse quesito.

Mas nenhum é tão independente quanto o Bigbands, que  chega a sua oitava edição.

Idealizado e realizado pelo icônico produtor local Rogério Big Bross Brito e seus muitos parceiros, o Bigbands não conta com absolutamente nenhum apoio governamental ou privado.

“Apenas parceiros sinceros”, ri o produtor.

Este ano, Big recorreu a dois recursos clássicos para driblar a falta de dinheiro: criatividade e união.

Atento a  nova safra de produtores da cena underground, Big se aliou a eles, convidando-os para trazerem seus próprios eventos para dentro do festival.

Ronco, blues rock contemporâneo na foto de Davi Caramelo
“Propus um Bigbands colaborativo. Então, ofereci o primeiro dia para o pessoal do Instinto Coletivo, o segundo para o NHL,  Rockambo e Soterorock e o terceiro para o Metal Union”, conta.

A estratégia deu certo – e ainda atraiu produtores de outras cidades, interessados em se aliar à marca Bigbands. Resultado: o festival acontece também em Feira de Santana e Alagoinhas.

Com isso, o festival conseguiu mobilizar um total de 17 bandas em três espaços de shows.

Entre as bandas, há uma pernambucana (Kalouv), uma paraibana (Hazamat), duas paulistas (Nervochaos e MX) e até uma sul-africana (Boargazm), além das locais.

“Este ano, o festival foi 70 % feito pelos colaboradores. Eu só fui o agregador. Aglutinei, juntei a galera”, afirma.

Hazamat, da Paraíba. Foto divulgação
Haverá ainda duas palestras e uma exposição. "Teremos palestras workshop antes do show do dia 2, com Serginho da Adão Negro (O profissional de música além dos palcos) e Wendel Fernandes do coletivo de Feira de Santana (Redes sociais e o profissional de música)", conta Big.

No dia 11, do Boargazm, Nervochaos etc, haverá a abertura da exposição do artista pernambucano Guga Burkhardt, "especializado em rock 'n' roll.

"Ele desenha capas de metal e tem um fanzine clássico e roda o Brasil com essa expo, que abre dia 11 e fica em cartaz no Dubliner's até o dia 17, quando rola um show com Drearylands e Malefactor. Abre em show de metal encerra em show de metal", detalha Big.

Em Salvador, serão três dias no Dubliner’s Irish Pub. A programação está disponível no site www.bigbands.com.br.

O "aporcalipse" do Boargazm

Heine e uma performer convidada
Atração internacional do Bigbands, a banda sul-africana de heavy metal Boargazm é de longe sua atração mais curiosa. Não apenas por vir de um país tão distante, mas também por méritos próprios.

Meio banda conceitual, meio projeto multimídia, a Boargazm conta uma história bem louca de invasão alienígena à Terra por meio de seus discos (nos quais pratica um metal pesadão e groovado) e de uma revista em quadrinhos. Há planos para  vídeos em curta-metragem.

“Por enquanto, somos mais uma banda do que um projeto multimídia”, conta por email o vocalista e guitarrista Heine van der Walt.

“No momento, trabalhamos em mais duas HQs e um álbum (o terceiro), mas estamos procurando expandir para outros campos, como videogames e curtas live action e de animação. Espero que um dia possamos dizer que somos banda e projeto multi em igual proporção”, acrescenta.

"A banda toda é uma profecia daquilo que é conhecido como 'O Aporcalipse'. No futuro, um bando rebelde de 'encantadores de porcos' são escravizados pela raça alienígena das pessoas porco. Esses rebeldes escapam e dão um jeito de voltar no tempo para avisar a raça humana da invasão iminente. Como eles conseguem, quem eles são – é parte do show. Há metáforas, claro, mas não é intencional. É uma ficção mesmo", detalha Heine.

Apesar de ser a primeira vez da banda no Brasil, não é a primeira visita deles na América do Sul. Há alguns anos, eles se apresentaram em algumas cidades do Equador.

"Conhecemos o pessoal da banda brasileira de death metal Nervochaos quando fizemos alguns shows com eles no leste europeu e na Rússia. Grande banda, galera muito gente fina. Nós os convidamos para tocar conosco na África do Sul pouco tempo depois e foi uma das melhores turnês que já fizemos no país. Agora eles nos convidaram para viajar pelo Brasil e nós não poderíamos estar mais animados para subir no palco com eles e conhecer esta parte do mundo. Esperamos voltar ao Equador novamente ano que vem, além de tocar em outros países da América do Sul", conta.

Representante da desconhecida por aqui cena metálica sul-africana, Heine também conta que as coisas anda bem agitadas por lá hoje em dia.

"(A cena) Está bem vibrante e viva hoje. 25 anos atrás não havia tantas bandas de metal. Hoje há centenas, de todos os estilos que você imaginar e múltiplos shows em diferentes locais e cidades, todos os fins de semana. Agora recebemos muito mais bandas internacionais e nossas próprias bandas estão fazendo barulho por aí, como Vulvodynia, Wildernessking, Zombies Ate My Girlfriend (primeiro lugar no Wacken Metal Battle) e muitas outras. A brodagem também é bem forte quase sempre. É uma ótima comunidade, que encontrou seu lugar ao sol", detalha.

Com dois bons álbuns lançados (The Baconing, de 2014 e The Aporkalypse, de 2011), a Boargazm fez seu nome na cena sul-africana, com um som bem influenciado pelo Sepultura e bandas nu-metal.

“Sim, nós crescemos ouvindo Sepultura. Mas também curtimos elementos nu-metal e thrash, além de rock progressivo e música muito doida (‘out there’, no original). Mas acima de tudo, amamos tudo com um groove da pesada. Tudo isso, aliado ao nosso amor por ficção científica e fantasia, cultura popular, contracultura, videogames e lances pós-apocalípticos”, conclui Heine.

Festival Bigbands / Dias 2 (Salvador e Feira de Santana), 3, 4 (Alagoinhas) e 11 / Dubliner’s Irish Pub, Let's Go Pub (Alagoinhas)  e Offsina Music Lounge (Feira) / www.bigbands.com.br

terça-feira, novembro 29, 2016

ELOGIADA CANTORA MARANHENSE, FLÁVIA BITTENCOURT FAZ SEU PRIMEIRO SHOW EM SALVADOR

Flávia Bittencourt, foto Marcos Moreno
A gloriosa tradição de grandes cantoras intérpretes no Brasil não parece arrefecer tão cedo. Nesse sentido, a maranhense Flávia Bitencourt, dez anos de carreira, surge como combustível para o fogo.

O caro leitor duvida? Vale então conferir o primeiro show da moça em Salvador, segunda-feira que vem (dia 5), no Teatro Sesi Rio Vermelho.

Flávia vem lançar seu primeiro DVD, Leve, gravado em São Luís, no Teatro Arthur Azevedo, um bem produzido show que contou com participações de Alcione e Bloco Tradicional Os Feras (O Surdo), Luiz Melodia (Congênito), as coreiras Josélia Santos e Ivone Barros (Franqueza) e a bailarina Ana Botafogo (Rèconfort)​.

Em Salvador, ela recebe o xodó local Marcela Bellas no palco do Sesi. “O repertório é composto por músicas autorais e releituras como Pavão Misterioso (Ednardo), Praieira (Chico Science) e Hoje Eu Quero Sair Só (Lenine). Além de dois singles que farão parte do próximo trabalho: Táxi Lunar (Azevedo, Ramalho e  Valença) e Na Asa do Vento (João do Vale)”, conta Flávia.

Sem busca de modismo

Com quatro álbuns no currículo, incluindo um tributo a Dominguinhos (Todo Domingos, 2009), música em trilha de novela da Globo (Terra de Noel, em América, 2005) e indicações ao Grammy Latino, ela já poderia ser mais conhecida dos baianos.

Mas não é isso que a tira de tempo.

“Faço meu trabalho com muito respeito ao meu público e a mim mesma como artista, no sentido de fazer um trabalho sem busca de modismo e sim, com intuito de expressar canções e arranjos que me emocionem e consequentemente às pessoas que saíram de suas casas pra dividir aquele momento comigo”, afirma.

Flávia Bittencourt, foto Marcos Moreno
“Acredito que, desta forma, faço meu papel como artista da forma que eu acredito que tem que ser. E quem quiser e sentir vontade, está mais do que convidado a dividir com a gente esse som”, acrescenta.

Em seu trabalho, a cantora promove um diálogo entre as tradições da MPB e da música regional nordestina com a música pop.

"Na verdade, dos quatro trabalhos que fizemos (Sentido, Todo Domingos, No Movimento e Leve), os dois últimos possuem essa pegada mais pop, com mais push na sonoridade, mas essa mistura de elementos nordestinos, ritmos maranhenses mesclados às guitarras e sons eletrônicos fazem mesmo parte dos arranjos desde sempre, mesmo que de forma mais tímida, como na faixa Vazio, do primeiro trabalho (Sentido, Som Livre 2005). Isso acontece porque essa influência da música brasileira, principalmente maranhense, é muito forte e essa percussão mais 'pesada', dialoga de forma natural com efeitos eletrônicos e guitarras", analisa Flávia.

Apesar de ser seu primeiro show solo em Salvador, Flávia já cantou no Pelourinho, como convidada de seu ídolo.

"É o primeiro show em Salvador, mas já participei de um show do Dominguinhos que aconteceu no São João em 2012, lá no Pelourinho. Foi lindo! Sim, a Bahia é uma terra muito fértil e respirar a energia desta terra é bom demais. Estou muito feliz em poder apresentar meu trabalho na terra de artistas que tanto me influenciaram. Quem quiser saber mais e conhecer mais meu trabalho, pode acessar a página do Facebook flaviabittencourtoficial, no Deezer, Spotify e Youtube: Flávia Bittencourt”, conclui a artista.

Flávia Bittencourt - Com Marcela Bellas / segunda-feira (5), 20 horas / Teatro Sesi Rio Vermelho / R$ 30, R$ 15



NUETAS

Órgão, Macabéa

Organoclorados e Projeto Macabea são as atrações do Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s, 19 horas. E esta semana começa o Festival Big Bands, com boas bandas no mesmo local.

Indominous sexta

Boa novidade do metal baiano, a Indominous faz show de estreia do novo guitarrista, Álvaro Moinhos, com a banda Vernal. Sexta, 20 horas, The Other Place, R$ 5.

Carlini sábado, B-23

Um dos maiores guitarristas do rock brasileiro, Luiz Carlini (Rita Lee & Tutti Frutti) faz show único em Salvador neste sábado. O monstro sagrado se apresenta acompanhado da banda Água Suja e da cantora Sol Ribeiro. 22 horas, no B-23 Lounge Music Bar, R$ 30.

Punks véios no Pelô

O Buk Porão abriga o 11º  Reencontro dos Punks Véios. Sexta tem Vende-$e e Alvo do Sistema (19 horas). Sábado tem Gas Fire, Pesadelo e Rancor (18 horas). E domingo, Modus Operandi, Pandemônio, Gredlocklocore e Carburados Rock Motor (15 horas). Vá pogar!

segunda-feira, novembro 28, 2016

UMA NOITE INFERNAL

Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Gauguin, Klimt e Goya são as estrelas da excelente Uma Noite em L’Enfer, de Davi Calil

Em Uma Noite na Taverna, o escritor paulista Álvares de Azevedo (1831-1852) imagina uma reunião de cinco amigos, na qual cada um deles tem de contar uma história.

Em Uma Noite em L’Enfer (Mino), o quadrinista Davi Calil parte dessa premissa e coloca cinco gênios das artes visuais na mesa, fazendo a mesma coisa.

Tudo começa quando Vincent van Gogh (1853 - 1890), após sobreviver a uma tentativa de suicídio (a que o levou à morte na vida real), vai a Paris em busca de Sien, prostituta pela qual tinha paixão.

Após aporrinhar a tal moça, ele se bate com Paul Gauguin (1848 - 1903), que o convida para se encontrar com “um baixinho que desenha muito bem e vive bêbado”, chamado Toulouse-Lautrec (1864 - 1901).

Lautrec aguardava Gauguin em um cabaré que  de fato existiu no bairro de Montmartre, L’Enfer (O Inferno), cuja fachada era adornada pela cara de um demônio de bocarra aberta, por onde as pessoas entravam.

Seu interior era todo decorado como se fosse o reduto de Satã, com esculturas de demônios e corpos se contorcendo em agonia.

Um exótico parque temático para adultos na Paris da Belle Epoque, muito frequentado por artistas e intelectuais. Demolido em 1950, o local é hoje ocupado por um supermercado.

Voltando à HQ, Van Gogh e Gauguin encontram Toulouse -Lautrec (retratado por Calil praticamente como um gnomo alucinado) já na companhia do austríaco Gustav Klimt (1862 -1918) e de um sujeito bem idoso: o espanhol Francisco Goya (1746 - 1828).

Ainda chegam a se bater com Paul Cézanne (1839 - 1906), mas este logo se retira, o olhar perdido e murmurando coisas sem sentido, sob o protesto de Lautrec: “Que foi, bateu uma bad?”, pergunta.

Reunidos em uma mesa redonda , eles iniciam uma competição para ver quem conta a melhor história envolvendo os temas morte, amor e sexo, valendo um crânio oferecido por Goya, que garante ter sido do poeta italiano Dante  Alighieri (1265 - 1321).

Licença poética

Apaixonado pela obra do quinteto, Calil, que já tinha homenageado o inesquecível Adoniran Barbosa (1910-1982) na premiada Quaisqualigundum (2014, em parceria com Roger Cruz), faz de Uma Noite em L’Enfer um dos melhores lançamentos de HQ do ano.

De narrativa ágil e arte dinâmica e detalhada, a obra ainda se dá ao luxo de dialogar com a estética de cada artista em seu respectivo conto, reproduzindo suas paletas de cores e deixando muitas referências às suas obras pelo caminho, um atrativo a mais para leitores de olhar ávido.

Sinistros, cruéis, sexual e criminalmente explícitos, os contos oferecidos por cada artista refletem um pouco da personalidade de cada um deles, com suas personalidades sombrias e desvios de caráter.

No material de divulgação, Calil explica que, apesar de admirá-los como artistas (e quem não?), percebeu que, como pessoas, eram “irresponsáveis, sempre fizeram escolhas erradas”.

Na HQ, o autor eleva essa irresponsabilidade ao nível do fantástico, levando-os a confessar adultérios, sequestros, assassinatos, canibalismo – cada conto é mais chocante e moralmente questionável do que o outro.

Não indicada para crianças, Uma Noite em L’Enfer é uma deliciosa licença poética e uma divertida homenagem aos gênios que lançaram as bases da moderna arte visual.

Uma Noite em L’Enfer / Davi Calil / Mino/ 192 páginas / R$ 59,90 / www.facebook.com/editoramino

sexta-feira, novembro 25, 2016

A NOBREZA DO SAMBA EM PROL DE UMA CAUSA NOBRE

Paulinho da Viola faz show hoje na Concha, com renda revertida para o Muncab – Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira

Paulinho, foto Carol Beiriz
Show de Paulinho da Viola é um negócio que por si só já justifica o esforço de pagar ingresso e se dirigir ao local. Sendo na Concha Acústica e mais, em benefício de uma causa nobre, é até covardia.

Hoje, o Príncipe do Samba se apresenta neste show, que terá toda a renda revertida em prol do Muncab – Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, instituição localizada no  Centro Histórico e dirigida por José Carlos Capinam.

Criado em 2002, o Museu não teve suas obras civis concluídas até hoje, assim como seu projeto museológico e sua criação como entidade jurídica. Com o show de Paulinho, espera-se que sejam levantados recursos que ajudem o Museu.

“Esse é um trabalho que deveria ter a concordância e a adesão de outros artistas. E não só para o Muncab, tem várias instituições precisando de uma força”, afirma Paulinho, por telefone.

Feliz pela adesão do parceiro e amigo, Capinam lembra que, “nesse ano de muita dificuldade, é importante terminar o ano demonstrando capacidade expansiva”.

“Para nós, é muito importante a presença dele. Nesse momento, o que o museu quer é demonstrar vitalidade, demonstrar que faz parte dos interesses da cultura baiana”, afirma o poeta.

Clássicos e surpresas

Paulinho, foto Carol Beiriz
Antes (ou depois) de conhecer o Muncab, contudo, o que liga é apreciar o show, a voz, a presença,  a nobreza de Paulinho da Viola no palco da Concha. Como não poderia deixar de ser, é um show com tudo o que os baianos tem direito.

Banda completa, repertório cheio de clássicos, homenagens. “Tem alguns sambas bem conhecidos, como Sei Lá Mangueira, Onde A Dor Não Tem Razão, Para um Amor no Recife, Um Rio que Passou em Minha Vida, Coração Leviano, Sinal Fechado”, enumera Paulinho.

“Mas também estou pensando em cantar um samba que ainda não é conhecido, foi feito para homenagear um compositor muito conhecido aqui no Rio, o Walter Alfaiate (1930-2010), e que fala do Botafogo, que é o  meu bairro”, diz.

Intitulada Botafogo Chão de Estrelas, a música de Paulinho tem letra de Aldir Blanc. “A música fala das pessoas do bairro, compositores famosos. Era um bairro muito popular no Rio, no carnaval ficava assim de  bloco”, conta Paulinho.

“Aí, quando o Walter, que conhecia toda a história dos blocos do bairro, gravou seu primeiro álbum (Olha Aí, 1998) fizemos essa homenagem e ele gravou. Foi feita para ele. Quero canta-la por que gosto muito, é diferente, tem letra do Aldir, é uma pequena crônica”, relata.

No palco, outras surpresas podem acontecer, além desta já anunciada. “As vezes puxo um samba que não estava no roteiro. Às vezes acontece”, avisa, com um riso discreto.

Possível fim de hiato

Sem lançar um álbum de inéditas há exatos 20 anos (desde Bebadosamba, 1996), o músico sinaliza que este longo hiato pode terminar em breve.

“Estive conversando com o pessoal da Sony Music para resolver uma questão relativa ao Acústico MTV (2007), que já está resolvida. Então, provavelmente, farei um disco de músicas novas, mas meu trabalho é muito do momento”, afirma Paulinho.

“Sempre foi assim. Era um momento em que eu sentia necessidade de gravar, aí eu gravava. Até 1983, eu gravava disco todo ano. Cheguei a gravar dois em um ano, como em 1976 (Memórias Chorando e Memórias Cantando). Isso foi se espaçando a partir de 1983, quando as coisas foram mudando no país e na indústria do disco”, conta.

 A redemocratização, o estouro do rock Brasil e até a transição do analógico para o digital (com a chegada do CD) levaram Paulinho a um período de silêncio, que ele só quebrou em 1989.

“Não senti necessidade de gravar mais tanto. Foi uma mudança muito grande, até na forma de divulgação”, nota.

Discreto também nas preferências eleitorais, Paulinho apoiou abertamente Marcelo Freixo para a prefeitura do Rio de Janeiro este ano.

“Olha, eu nem gosto de falar disso, acho que o fato de um artista votar em alguém não muda o voto das pessoas”, diz.

“Mas vejo muitos criticando os artistas, como se todos tivessem a mesma opinião. Temos que voltar a discutir é questões objetivas, avançar na reforma agrária e distribuição de renda”, conclui.

Paulinho da Viola / Hoje, 19 horas / Concha Acústica do TCA / R$ 90,  R$ 45 / Camarote: R$ 180, R$ 90

terça-feira, novembro 22, 2016

DE RECIFE, A KALOUV TRAZ SEU POST ROCK DE PRIMEIRA PARA O FESTIVAL BIG BANDS

Kalouv, foto de Hannah Carvalho
O caro leitor conhece a  banda escocesa Mogwai? E Explosions in The Sky? Tortoise, talvez?

Essas e muitas outras bandas, mais conhecidas pelos iniciados em indie rock, são associadas ao estilo denominado post rock (pós-rock), que é quase sempre instrumental e mais ligado às texturas e timbres.

No Brasil, ainda há poucas bandas abertamente post rock. No dia 3, uma das principais, a pernambucana Kalouv, se apresenta na programação do Festival Big Bands, ao lado da paraibana Hazamat e das locais Game Over Riverside, Soft Porn e  Ronco.

Uma boa oportunidade para conferir ao vivo o som que o quinteto apresenta em seus álbuns (baixe no site deles), uma linda trilha sonora de sonhos e delírios em technicolor, cheia de climas viajandões.

"Acho que, desde o começo da banda, o que nos move de forma inicial é a busca por melodias. As texturas acabam sendo um complemento natural ao longo do processo de composição, um resultado das ideias que vão surgindo e se somando. Nas músicas mais recentes, tanto as do EP Planar Sobre o Invisível (2016), como as novas que temos apresentado nos últimos shows e que estarão no terceiro álbum, estamos muito atentos às questões de dinâmica. Percebemos que isso ajuda muito na comunicação com o público, especialmente ao vivo. É nesses momentos de subida e descida de intensidade que quem está assistindo normalmente se conecta mais com a gente. E julgamos isso fundamental, pois nossa intenção nunca é fazer algo só pra nós. Acreditamos que a música instrumental pode dizer muito e queremos cada vez mais dividir isso com quem nos ouve", diz Túlio Albuquerque (guitarra).

“É um nicho pequeno ainda, mas acredito que, nos últimos anos, a música instrumental e o post-rock têm tido mais atenção de público e mídia e participado mais de line-ups dos festivais independentes. E, de certa forma, penso que não estamos mais divididos numa “prateleira” alternativa. Quem curte música instrumental escuta várias outras coisas, não há porque existir uma divisão”, observa.

"Não saberia especificar o que define post-rock, mas bandas estrangeiras como Mogwai, Explosions in the Sky, Tortoise e brasileiras como ruído/mm, Constantina e Labirinto serão sempre referências. Nossas influências são diversas. Nós cinco escutamos literalmente de tudo. De Tom Zé a Snarky Puppy, de Bee Gees a Alcest. Atualmente temos ouvido muito Badbadnotgood, M83, Bon Iver, Radiohead, Jaga Jazzist, além do último trabalho de Rodrigo Amarante, Cavalo, e Levaguiã Terê, o disco recém-lançado do conterrâneo Vitor Araújo. Temos também muita influência de trilhas de jogos de videogame. Tanto os mais recentes, conceituais e independentes (Journey, To The Moon, Braid), como os clássicos (Chrono Trigger, Final Fantasy, Shenmue, etc.). Basicamente toda música que emociona a gente de alguma forma serve como referência", enumera Túlio.

Túlio, Basílio Queiroz (baixo), Bruno Saraiva (teclado), Rennar Pires (bateria) e Saulo Mesquita (guitarra) formam um grupo heterogêneo, de influências diversas.

“No começo foi difícil alinhar as ideias, pois os meninos tinham uma formação mais ligada ao metal e a bandas de rock progressivo, enquanto eu e Basílio tínhamos raízes mais ligadas à música brasileira”, conta.

“Ao longo do processo de criação do  primeiro álbum, Sky Swimmer (2011) , começamos a entender e respeitar cada vez mais essas formas de raciocinar a música, tentando extrair o máximo dessas diferenças”, relata Túlio.

Ah, agora sim, olha eles aí. Kalouv, foto de Hannah Carvalho
Eruditos e autodidatas

Complexa porém encantadora, a música do Kalouv se insinua lentamente, ganhando o ouvinte camada por camada, como peças eruditas costumam fazer.

A impressão que dá é que as músicas são escritas em partitura e só depois, executadas. Ledo engano.

“Dos cinco, os que estudaram de maneira mais formal foram Bruno e Basílio. O primeiro teve formação erudita por cinco anos no conservatório. O segundo passou por várias escolas de música na adolescência. Eu, Saulo e Rennar somos autodidatas, mas procuramos exercitar diariamente a criatividade”, conta.

"As músicas normalmente surgem das guitarras e do teclado. Na maioria das vezes compomos em casa, gravamos uma guia com as ideias que tivemos e levamos para trabalhar em grupo. A partir daí tudo pode acontecer. Já tivemos músicas que ficaram exatamente iguais às ideias propostas inicialmente, como outras que sofreram mudanças completas. Mas nunca escrevemos nada em partitura", acrescenta.

Apesar de ser a primeira vez da banda aqui, os meninos já rodaram bastante pelo Brasil. “O fato de ser no Bigbands nos deixa ainda mais ansiosos. Que seja o primeiro contato de uma relação duradoura”, diz.

Festival Big Bands / kalouv, Game Over Riverside, Hazamat (PB), Soft Porn e  Ronco / Dia 3, 22 horas / Dubliner’s Irish Pub / R$ 20

Ouça / baixe: www.kalouv.com.br



NUETAS

Pajeh com Plano

Pajeh e Segundo Plano são as bandas do Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto quiser.

Theatro, Pancreas, suRRmenage
A Theatro de Seraphin faz show com Pancreas e suRRmenage para lançar seu álbum Décadas. 22 horas, no 30 Segundos Bar, R$ 35 (rapazes), R$ 30 (moças).

Skanibais na baile

Skanibais celebram o Baile do Ska na Commons. Sexta, 22 horas, R$ 15 (lista), R$ 20.

VdV, Limbo, Indigo, Bagum

Limbo, Índigo, Van der Vous e Bagum fazem o Festival Mantra Sounds. Este será o segundo show da Van der Vous com seu novo integrante, Rod Reis, no saxofone e sintetizadores.  Sábado, Casa Antuak (2 de Julho), 15 horas.

sábado, novembro 19, 2016

MICRO-RESENHAS PARA QUEM PRECISA PARA QUEM PRECISA DE MICRO-RESENHAS

A Bahia já teve ferrovias

Professor de História do Brasil na Uneb, Robério Souza relata a construção da primeira estrada de ferro baiana, a Bahia and San Francisco Railway, no século 19. O autor analisa as relações dos trabalhadores (escravos, brasileiros e estrangeiros) e como estas  forjaram identidades sociais e políticas. Trabalhadores dos trilhos / Robério S. Souza / Editora Unicamp / 272 p. / R$ 46






Crônica dos excluídos

Lançada  em 2013, esta HQ revelou o talento de Marcelo D'Salete, que no seguinte lançou Cumbe, obra internacionalmente premiada. Relançada pela Veneta, esta nova edição traz uma HQ curta de bônus e é uma nova oportunidade para os leitores conferirem sua narrativa realista sobre os excluídos das ruas de São Paulo. Encruzilhada / Marcelo D'Salete / Veneta / 160 p. / R$ 44,90






Uma garota versátil

Versátil, a sorocabana Paula Cavalciuk demonstra personalidade –além de uma bela voz – em sua estreia, trafegando pelo carimbó (Pará), rock (Jezebel), tango (O Poderoso Café) etc. Arranjos delicados. Paula Cavalciuk / Morte & Vida / Independente - Tratore / Baixe: paulacavalciuk.com.br






Emulando mestres

Líder da banda gaúcha Ultramen, Tonho Crocco emula diversos artistas em seu segundo CD solo: Tim Maia (Zerado o Placar), Moreira da Silva (Bonde da História) e Zeca Pagodinho (É com Jabá). Legal, só falta originalidade. Tonho Crocco / Das Galáxias / Natura Musical/ Baixe: naturamusical.com.br







Boa de violão

Violonista e cantora, Crikka Amorim vai do samba jazzy (Intimidade, de Zélia Duncan) ao samba rock (Barato Total, de Gil) com naturalidade. Boa performance de Norton Daiello (baixo) em Ou Bola ou Búlica (Bosco / Blanc). Crikka Amorim / Corações Plugados / Independente / Preço não divulgado







Alma sulista

Em dez canções inéditas de diversos compositores, a curitibana Juliana Cortes, de voz delicada, abre sua alma sulista em milongas, tangos e toadas. Tem Paulo Leminski, Carlos Careqa, Dante Ozzetti  e outros. Bonito. Juliana Cortes / Gris / Independente - Tratore / R$ 29,90







Tributo para um gênio

Lindo registro ao vivo para as obras-primas de Pixinguinha pela cantora Vania Bastos e o Marcos Paiva Quarteto. Há espaço para os cavalos de batalha (Carinhoso, Rosa) e para números instrumentais (Seu Lourenço no Vinho). Bravo. Vânia Bastos e Marcos Paiva / Concerto para Pixinguinha / conexão Musical / R$ 25






DD de 2ª

Elogiado pela crítica no exterior, o segundo álbum da banda inglesa The 1975 é até agradávelzinho, em seu simulacro pop oitentista linha Duran Duran / INXS. Mas diante disso, sempre fica a pergunta: por que não ir logo aos originais? The 1975 / I like it when you sleep... / Universal / R$ 29,90







A sacerdotisa da Paraíba

Meio blueswoman, meio sacerdotisa pagã, já gravada por grandes da MPB, a paraibana Cátia de França se inspirou na bíblia hippie A Vida nos Bosques (1847), de Thoreau, para seu novo álbum. Mágico. Cátia de França / Hóspede da natureza / Natura Musical / Baixe, ouça: naturamusical.com.br






Repertório erudito, execução idem

Belo álbum de composições dos brasileiros Millan e Zwarg, executadas com brilhantismo por Michel Freidenson (piano) e Teco Cardoso (sopros). Anna Setton bota sua voz afinada em Janeiro de 76. Erudito bonito. Luiz Millan, Moacyr Zwarg / Dois por Dois / Independente - Tratore / R$ 29,90







Quero ser muçulmana

A jornalista Karla Lima investigou a religião islâmica no País, entrevistando muçulmanos estrangeiros residentes e brasileiros convertidos, sacerdortes e estudiosos do tema. Também usou véu e frequentou mesquitas, para contar como é ser uma mulher muçulmana em São Paulo. Descobrindo o Islã no Brasil / Karla Lima / Hedra/ 190 p./ R$ 34,90







Parece, mas não é o James Bond

Ex-jornalista de guerra, o norte-americano Daniel Silva tornou-se um autor best-seller com sua série de livros protagonizados pelo espião inglês Gabriel Allon. Aqui, ele investiga o suspeito acidente que vitimou uma princesa, muito querida pela população. No caminho, um traficante de armas. O Espião Inglês / Daniel Silva / Harper Collins/ 368 p./ R$ 36,90







O baixista e os cantores

Contrabaixista do primeiro time da música instrumental brasileira, Zéli Silva fez um álbum “cantado” por vários intérpretes  e músicos de igual gabarito. MPB jazz  de entortar o cangote em Sabe Lá e Receita de Samba (Jacob do Bandolim). Zéli Silva / Agora É Sempre / Independente - Tratore /  R$ 24







AOR do Recife

O pernambucano Tito Marcelo namora com a estética AOR carioca de Lincoln Olivetti em um álbum de produção límpida e composições próprias, porém desiguais. Participações de Jessé Sadoc e Marcos Suzano. Tito Marcelo / O futuro ligeiro da demora / Independente / R$ 15







Boa de repertório

Filha do compositor  Jean Garfunkel, Joana estreia botando sua bela voz a serviço de composições de Milton & Brant (Fruta Boa), Edu Lobo & Chico (Cantiga de Acordar) e outros, na produção sofisticada de Swami Jr. Joana Garfunkel / Curruíra / Independente - Tratore / R$ 25






Franco paulista

Radicado em São Paulo, o francês Nicola Són lança seu terceiro álbum gravado em solo paulista – daí o título. Meio MPB, meio chansón, tem seu destaque em Os corações ternos, versão para Les coeurs tendres (Jacques Brel), com participações de Edgard Scandurra e Zeca Baleiro. Nicola Són / Sampathique / Independente / Preço não informado





Vem pro pau

Hardcore baiano old school: rápido (mas com variações de tempo), puto da vida e chamando pro pau. Pelos títulos, já se sabe o que vem por aí: Batalha de Classes, Intolerância Burguesa, Reação. Vem, neném. Choque Frontal / Ser Humano Falido / Brechó Discos / Preço não informado







Olhar pra frente é preciso

A reciclagem de embalagens plásticas e material orgânico é de grande importância para o futuro do planeta. Já sobre a reciclagem da MPB dos anos 1970 e 80, não se pode dizer o mesmo. Este álbum é prova disto. Graveola / Camaleão Borboleta / Natura Musical / Preço não informado






Trolls trollados

Primeiro volume de HQ europeia de fantasia e aventura. Tudo acontece em Troy, um mundo onde todos possuem algum  poder e a magia é parte do cotidiano. Na trama, acompanhamos o troll Tetram e sua filha adotiva humana, Waha, em fuga dos homens que querem exterminar a raça de Tetram. Trolls de Troy Volume 1 / Christophe Arleston e Jean-Louis Mourier / Jupati / 96 p. / R$ 42






Clássico da chapação

Um dos livros mais emblemáticos da geração beatnik, Almoço Nu (1959) sai em “edição definitiva”, incluindo nota dos editores norte-americanos, cartas do autor e sobras que não entraram na versão final. Delírios de um junky em technicolor.  Almoço Nu / William S. Burroughs / Companhia das Letras/ 368 p./ R$ 49,90 / E-Book: R$ 34,90







Filha de peixe

Afinadinha que só, Carol Saboya desfia repertório MPB / pop em sofisticada chave jazzística, cortesia do pai da moça, o pianista autoridade da bossa nova Antonio Adolfo. 1 X 0 (Pixinguinha), Passarim e A Felicidade (Tom Jobim) são os destaques. Já Fragile (Sting) é bem dispensável. Carol Saboya / Carolina / AAM Music / R$ 23,50





Blues rock do Baixo Sul

Ex-guitarrista da banda itabunense Mendigos Blues, IsmeraRock se lança solo neste belo álbum produzido em parceria com Ayam Ubráis. Destaque para a pegada roots de No Limo Das Pedras, o alerta político de Manifesto e o lirismo de Pinheirinho. Lindo. IsmeraRock & O Calibre Dobrado / O Calibre / Independente / Disponível nas plataformas de streaming 


O nascimento do hip hop

A história real da pacificação das gangues de rua de Nova York é contada nesta bela HQ. Após o assassinato de um membro de sua gangue, o líder dos Ghetto Brothers, Benjy Melendez, propõe um acordo de paz. Em vez de brigas, as disputas passaram a ser decididas em torneios de dança. Os resultados foram o rap e o movimento hip hop. Ghetto Brother: Uma lenda do Bronx / Julian Voloj e Claudia Ahlering / Veneta / 128  p. / R$ 44,90






Nova malcriação de Irvine

Em novo romance, o cáustico autor de Trainspotting sapateia sobre a obsessão com autoimagem. Personal trainer impede assalto com socos e voadoras. Mulher gordinha filma e o vídeo estoura no You Tube. A gordinha fica obcecada com a “heroína”. Sexo, sangue e perversão. A vida sexual das gêmeas siamesas / Irvine Welsh / Rocco / 416 p. / R$ 48 / E-book: R$ 29,50







Não cheira nem fede

Revelada pelo Superstar em 2015, a banda Scalene chega ao inevitável DVD ao vivo. Produto para fãs, não deve seduzir  quem já não engole seu pastiche de rock contemporâneo mezzo Coldplay mezzo QOTSA. Picolé de chuchu. Scalene / Ao Vivo em Brasília / Som livre / DVD: R$ 34,90







Pastel de fita

Vinte anos após seu lançamento, a primeira fita demo da banda punk baiana pastel de Miolos ganha relançamento (em cassete!) via selo peruano Baratija. Um clássico sul-americano, devidamente reconhecido. Pastel de Miolos / Pastel de Miolos / Baratija Records / Preço não informado







O rock de Brasília não morreu

Quarto álbum do brasiliense Dillo, que consegue soar contemporâneo e honrar a tradição do contestador rock do DF – sem perder a pegada autoral. Jesus Krishna e Só que Não dão caneladas na babaquice ostentatória. Dillo / Dillo / Rock ‘n’ Hood / Preço não informado

sexta-feira, novembro 18, 2016

GUILHERME É O NOSSO ELTON

Caixa comemorativa de 40 anos de carreira, com toda a obra de Guilherme Arantes, tem show de lançamento neste domingo, na Concha

Guilherme. Foto Paulo Avelino
Talvez a rapaziada millenial, até pelo excesso de informação, ainda não tenha a exata noção de quem é Guilherme Arantes.

A recém-lançada caixa Guilherme Arantes 40 anos - De 1976 a 2016 certamente não deixa dúvidas: o paulista é um mestre da música pop.

Frequentemente comparado ao inglês Elton John – influência admitida pelo músico – até pela companhia inseparável do piano, ele tem toda a sua obra reunida na caixa, desde o primeiro álbum, Guilherme Arantes (1976), até o mais recente, Condição Humana (2013), mais um inédito,  Compactos e Raridades (2016).

São 22 dois CDs, mais um livreto escrito à mão pelo próprio Guilherme, detalhando memórias das composições e gravações de cada álbum.

Um deles, Ronda Noturna (1977), sequer havia sido lançado em CD e só existia em LP de vinil, sendo  considerado “maldito” pela flagrante estética de rock progressivo, então já em decadência – apesar de já trazer o hit Amanhã.

Álbum inédito exclusivo da caixa, Compactos e Raridades reune faixas que não saíram nos álbuns, como Xixi nas Estrelas (do musical infantil Pirlimpimpim 2), Deixa Chover (da trilha da novela Baila Comigo), Planeta Água (defendida no concurso MPB-Shell 81, da Rede Globo) etc.

É uma obra grandiosa, que reafirma a estatura de Arantes na MPB. Em sua seara, só   sua contraparte carioca, Lulu Santos, pode ser considerado  um concorrente à altura.

Feliz pela realização e pela estrada percorrida, Guilherme conta que o processo de confecção da caixa foi trabalhoso, porém gratificante.

“Foi um trabalho bonito em conjunto com a Sony Music. Deu um trabalhão pra juntar tudo e pode até ter passado alguma falha, mas é um negócio tão grande compilar todos os masters (fitas originais)”, conta, por telefone.

“Por que tem que  garimpar os masters não adulterados. É que na passagem do analógico para  o digital nos anos 1980, 90, se cometeu uma série de equívocos. O pessoal meteu muito compressor, alterou a dinâmica da músicas. Então muitas estavam com o som achatado por compressores. Isso aconteceu geral, com todo mundo”, relata.

Exigente quanto à qualidade do áudio, ele lembra que mesmo os discos de vinil produzidos no Brasil não eram de boa procedência.

“O Ronda Noturna não tinha sido digitalizado jamais, é uma espécie de  disco maldito, cultuado por colecionadores de sebo. Só que o  problema dos vinis que estão nos sebos é que a massa era ruim, misturada com asfalto para baratear o custo da matéria prima. Então ele pipoca muito, tem uma fricção com a agulha“, conta.

“A remasterização  digital dá essa oportunidade de ouvir tudo limpinho, pela primeira vez”, reitera Guilherme.

Para acompanhar o lançamento da caixa, o músico está produzindo uma série de documentários em vídeo, disponíveis no You Tube, contando suas memórias.

Produzido em sua casa / estúdio Coaxo do Sapo, aqui mesmo no litoral norte baiano, a série  As Histórias terá sete temporadas, cada uma abrangendo um período de sua carreira. A primeira, que cobre os anos de 1974 a 1977, já está disponível e tem cinco vídeos de sete a dez minutos cada.



“Esse ano, casei com uma baiana, a Márcia. Estamos juntos há dez anos, aí casamos no Clube Espanhol. Mas minha casa era bem casa de músico, meio esculachada, não tinha móvel direito, bem básica de artista. Não tinha ar-condicionado, tapetes... nunca dei muito valor para isso. Aí eu disse pra Márcia: ‘preciso de um cenário no estúdio para eu contar minha história”, relata.

Guilherme Foto Paulo Avelino
Com o auxílio da esposa, Guilherme preparou o cenário para os vídeos: “Comprei uns móveis, sofá, mesinha de centro, tapete liso, um lustre. Na  sala maior, onde estão os pianos, reuni um modelo de cada tipo, pois eu queria todos  em uma sala só:  o de cauda, o de armário, o Rhodes (piano elétrico) , o (teclado) Wurlitzer, o CP 70, o Minimoog, o órgão Hammond e o cravo, que é uma aquisição meio bizarra, tipo barroco”, enumera.

Multitarefas, como ele mesmo gosta de se definir, foi tocando ao mesmo tempo a remasterização da caixa, o roteiros dos vídeos e até o texto do livreto.

“É todo a mão, na minha caligrafia. Coo você sabe, a caligrafia  traz os detalhes da personalidade, diz muito sobre cada pessoa. É um presente a mais para os fãs, pesquisadores e jornalistas que se debruçam sobre a história do artista”, acredita.

“Eu acho que a imprensa em geral, as TVs, tem um problema de espaço,  de não se deter nos detalhes ínfimos, as pequenas preciosidades. Como a secretária da Som Livre, quem era? É detalhe, mas marcou minha vida. Foi ela chegou que pra mim e falou: ‘sua música (Cuide-se Bem, de 1976) entrou na novela’ (Duas Vidas). Essa pessoa existe. Quem ajudou? Quem torceu por mim? Quem chorou no estúdio, quem são os músicos, os técnicos, os auxiliares, quem tocou cello? Tudo isso passa batido”, afirma.

Um outro detalhe interessante que se percebe ouvindo a caixa é como a tecnologia mudou tudo na música dos últimos 40 anos, da sonoridade dos instrumentos aos métodos de gravação.

Como não poderia deixar de ser, o deslumbre com os novos teclados dos anos 1980, hoje defasados, se destacam nessa constatação.

“No livro, eu descrevo o disco de 1983, Ligação, que foi meio equivocado. Ele  tinha uma boa canção, Pedacinhos, meio black bossa, que foi fantástica. Mas no resto do disco eu tentava repaginar meu som  para o eletrônico. Foi a chegada das baterias eletrônicas e eu demorei para dominar isso. Nesse disco, isso deixou a desejar”, diz.

Ele lembra de um hit internacional da  época, Steppin’ Out, do norte-americano Joe Jackson, “o som que era para eu estar fazendo. Era muito inspirado, foram os anos que surgiram o Spandau Ballet, Duran Duran, os movimentos new romantic, new bossa, o Style Council, que era uma coisa bem politizada. Mas muita coisa eu não assimilei, não dei o melhor de mim”, admite.

Nada disso porém, diminui a importância de Guilherme e o amor dos seus fãs.

No dia 20, ele se reencontra com o público baiano no show de lançamento da caixa, na Concha Acústica.

“É um show completo, de 2 horas e meia. Vai ser emocionante, até por ter escolhido a Bahia pra viver. Tenho uma ligação forte com esse lugar que aprendi a amar”, conclui.

Show Guilherme Arantes 40 anos - De 1976 a 2016 / Dia 20 de novembro, 19 horas / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / R$ 40 (meia) e R$ 80 (inteira) / Camarote: R$ 80 (meia) / R$ 160 (inteira)

Guilherme Arantes 40 anos – De 1976 a 2016 / Guilherme Arantes / Sony Music / R$ 509,90 / www.guilhermearantes.com.br

ESPUMANTE PAULA TOLLER

Rainha do Pop brasileiro, Paula Toller retorna à cidade com o show do seu CD mais recente, Transbordada (2014)

Paula. Foto Flávio Colker
Desta vez, em ambiente mais propício à animação que a obra propõe, na Concha  Acústica, palco que ela conhece bem, dados os vários shows que lá fez com o Kid Abelha.

No repertório, tanto músicas do Transbordada, quanto de seus outros álbuns e, claro, os hits do Kid – tudo devidamente rearranjado para extrair o máximo de peso e suíngue das canções.

“Tanto as canções mais recentes quanto os grandes hits estão no show.  Estou botando o público pra dançar e relembrar os anos 1980 – mas sem nostalgia, com uma pegada moderna e agitada nos arranjos”, conta Paula, por email.

Animada para voltar à Concha reformada, a cantora promete uma “noite de rock”, com um convidado especial.

“Já declarei que sempre saio de alma lavada, seja com lua ou chuvarada, dos meus shows na Concha”, diz.

“Amo a vibração daquele espaço e,  para abrilhantar o espetáculo, convidei Liminha, (parceiro e produtor do disco e diretor musical do show) para tocar guitarra, então vai ser uma noite de rock de respeito”, afirma.

Expansão da marca

Paula Ft Flávio Colker
E foi com Liminha no comando que Paula e sua banda retrabalharam seu repertório, começando pela produção do próprio álbum.

“Esse show surgiu no encontro que tive com Liminha . Ficamos meses no estúdio, compondo e gravando. Foi um trabalho lindo, e ainda contamos com a ajuda de grandes compositores. Tem as baladas essenciais do meu repertório e alguns lados B do Kid, que não poderia faltar”, revela.

2016 foi um ano de virada na carreira da cantora, que quebrou o suspense e declarou o fim de sua antiga banda, após 35 anos de muito sucesso.

Agora, ela planeja compor novas canções, enquanto diversifica o campo de ação da marca Paula Toller.

“Neste ano estive envolvida com muitas atividades diferentes, fiz uma mega-turnê com a história do rock brasileiro, acabei de lançar o meu Espumante LaToller Brut, colaborei na produção do filme Minha Fama de Mau”, diz.

“O que posso adiantar é que em 2017 vou voltar a compor, me dedicar mais, então vamos ter novidades”, promete.

Paula Toller: Transbordada / Hoje, 17h30 / Concha  Acústica / R$ 100 e  R$ 50 / Camarote: R$ 200 e R$ 100

quinta-feira, novembro 17, 2016

FESTIVAL LADO BA TESTA FORMATO QUE UNE MÚSICA E NEGÓCIOS

Com 21 shows – 17 deles gratuitos –, conferências e rodadas de negócios, o Festival Lado BA reafirma o novo momento da música independente na Bahia

Júlio Caldas: amanhã, com Okwei Odili na Arena Sesc. Foto Pedro Deliege
É cada vez mais claro: só ouve mais do mesmo quem quer. A música independente na Bahia – seja MPB moderna, rock, afrobeat, eletrônica etc – está na ordem do dia, ganhando o público que abriu mão de ouvir a tosqueira de sempre das rádios comerciais.

A volta do Festival Lado BA - Música e Processos Colaborativos é apenas mais um sintoma disso.

Realizado em 2010, 2011 e 2012, o festival volta a cartaz graças ao Prêmio Funarte de Programação Continuada de Música Popular 2015, mais apoios da Skol e Secretaria da Cultura do governo estadual.

Na programação, além de 21 shows (17 gratuitos) de artistas locais, nacionais e internacionais, conferências com produtores e músicos, além de rodadas de negócios com direito à speed meetings e acesso exclusivo ao diretório on-line de compradores.

O formato unindo shows e ações de mercado não é novo – WOMEX, MIDEM e SXSW já ocorrem há alguns anos na Europa e Estados Unidos, com grande sucesso.

O responsável por traze-lo à Bahia é o produtor e músico Vince de Mira, sócio da casa Commons.

“Este formato de convenções ou Panoramas de música e mercado vem acontecendo já há algum tempo. Tem o WOMEX, que acontece de forma itinerante na Europa, MIDEM (França), Circularte (Colombia), FIMPRO (México), SXSW (USA) e até mesmo a SIM e o Porto Musical aqui no Brasil. São eventos que prestam serviço de construção de network para produtoras, selos e artistas que precisam ampliar o raio de ação de seus projetos”, diz.

A paulista Iara Rennó: sábado, com Márcia Castro. Ft Chris Vonameln
As rodadas de negócios prometem ser uma mão na roda, garante Vince: “Pense quanto uma produtora baiana economiza, podendo participar de uma rodada de negócios com compradores internacionais e nacionais aqui em Salvador. Isso já seria um ponto. Já pensou em quanto se investe nisso? Com passagem, hospedagem fora do país, ou até mesmo em São Paulo, ou em Pernambuco?”.

“Para os artistas que se apresentam, é um trunfo. Além de poder participar das reuniões e sensibilizar o comprador, ele pode  convida-lo para os shows. Eu mesmo estive na FIMPRO (México). Saí de lá com três shows fechados pro ÀTTØØXXÁ no México”, diz.

Curador do festival, ele conta que "Eu trabalho em torno da diversidade. Se você for ver as atrações, verá artistas que já tem uma estrada maior como outros, que são chamados de emergentes. Na programação dos largos do Pelourinho você vai poder ouvir Cumbia, MPB contemporânea, rap, reggae e por aí vai. Agora, o processo curatorial também não abre mão de recortes de parcerias para conseguir realizar os 21 shows. A parceria com o Bolsa Estúdio Skol, por exemplo. Eles selecionaram, através de uma curadoria interna, 20 artistas pra gravarem seus fonogramas em estúdio. Destes 20 artistas, eles sustentaram cinco, que foram escolhidos por mim para se apresentar no festival. A parceria com o programa Latino América 360 (México) e a KLI Records (Chile), eu fiz quando estive presente na Feira Internacional da Música de Guadalajara. Eles já tinham seus arranjos de apoio com os seus respectivos países para passagem. Isso ajuda e eu preciso levar isso em consideração. Assim, pude trazer as bandas Sonido Satanás (México) e a Maria Colores (Chile). Da mesma forma acontece com os artistas de Minas Gerais que estão no festival. Eles estão organizados, buscando parcerias locais para poder atuar em outros estados e países. É preciso pegar estes atalhos, respeitando a linha curatorial que o Lado BA pretende apresentar, para poder realizar o evento com  maior impacto", explana.

Do México, a banda Sonido Satanas
Atuando na linha de frente dessa nova cena de música popular na Bahia, Vince faz uma reflexão sobre essa nova geração de artistas.

"Eu não sei exatamente o que os une, ou se estão unidos em termos de ideais, enfim… Acho que é uma geração que faz música e produz música, ao mesmo tempo. Uma geração com um hiper acesso aos meios de produção e difusão. Que buscam se comunicar de forma mais independente. Se estrutura de baixo para cima, através de nichos. Hoje, você consegue ter shows de segmentos ditos como independentes em casas diferentes, e estes shows não concorrem entre si. Eu vejo também uma unidade de narrativa. Esta unidade não quer dizer que eles queiram falar das mesmas coisas, mas sim, que buscam se comunicar de dentro para fora, naturalmente, inseridos em um contexto. Não vejo estes artistas que eu tenho experiência em trabalhar querendo ser subproduto de nada", afirma.

Com o sucesso de bandas como Baiana System, Scambo e IFÁ Afrobeat, caiu por terra o velho argumento – mal-intencionado, quase sempre – de que aqui “não há público” para artistas alternativos.

“Eu acho que você está certo. Caiu por terra. Para mim,  ser auto-sustentável é uma meta. Eu não posso te dizer o que falta, porque eu não tenho esta fórmula. Eu acredito que os formatos de se estruturar no mercado te ajuda a estar preparado para quando existir uma oportunidade mas antes de tudo a música precisa bater onda no público”, diz.

“Para você viver de palco, é necessário que a música bata, emocione o público. Olhe como as pessoas ficam no show do Baiana System. Não é à toa que colocam quase 2 mil pessoas a R$ 50 (o ingresso). Esta é uma receita considerável. Olhe como as pessoas ficam no show da Scambo. Não é à toa que  arrecadaram mais de R$ 60 mil para gravar o disco deles. Agora, não dá para se desesperar caso você não consiga isso. Viver de música não é só viver de palco”, afirma.

Prince Addamo. Amanhã, com Toco Y Me Voy, no Largo Quincas
Atento ao complicado momento político-econômico do país, Vince acredita que a Bahia ainda está em melhor situação quue muitos outros lugares.

"É. Tá complicado. As vezes tenho a impressão que a gente tá voltando para os anos noventa, mas mesmo naquela época, a gente fazia, claro que em condições precárias. Hoje, com uma habilidade maior, com certeza conseguiremos fazer melhor do que naquela época. Dentro do espectro pessimista, podemos dizer que a Bahia está um paraíso. Existe ainda uma política de fomento a cultura no Estado que, por mais que atrase os recursos, eles ainda acontecem. Além disso, Salvador, finalmente, terá uma lei de incentivo a cultura. Eu vejo com bons olhos os espaços permanentes. Nós aqui na Bahia temos uma quantidade de espaços permanentes para a música e cultura que precisa ser considerado. Tanto os públicos, como os privados. O ideal é que a gente se conheça melhor. Cada vez mais. Produtores, donos de espaços e artistas. Precisamos entender a lógica um do outro para poder superar as dificuldades e propor trocas mais justas", conclui.

Vulcanidades de Lívia

Lívia Nery abre hoje o festival, seguida de Enio. Foto Davi Caires
Responsável por abrir o festival hoje, na Arena Sesc Pelourinho, Livia Nery é exemplo desta nova atitude dos artistas locais.

Sua música, apesar de dialogar com tradições locais, não tem nada de comercial. Ainda assim, ela tem circulado pelo Brasil e acaba de voltar da Argentina.

“Tenho tocado fora, em casas de pequeno porte, com shows bem intimistas. Tem sido muito boa a recepção do público, as pessoas tem ficado  atentas e colado comigo na viagem do show”, afirma.

“Em Buenos Aires, recebi convite para tocar de novo, já num espaço maior, então tem sido ótimo firmar e ampliar a rede de circulação”, conta.

No palco, Livia oferecerá ao público um pocket do seu show Vulcanidades: “O show que vou fazer no Lado BA é o experimento solo do Vulcanidades, que comecei fazendo em banda. É diferente, por que algumas músicas ganharam outro arranjo para serem tocadas  solo, comigo no sampler, synth e loop. Tem música que não entrou, tem música nova”.

"É engraçado, no comecinho eu fiz alguns shows solo ou em dueto, numa proposta mais experimental e improvisativa. Depois, quando formei a banda, o show ganhou mais corpo e passei a chamá-lo de Vulcanidades, que pra mim foi o marco de um início com mais potência e vigor. Agora o mundo deu volta e retornei ao formato solo, mais reduzido, que permite circular melhor", reflete.

Apesar de, por enquanto, transitar em uma abordagem experimental, Lívia acredita que seu trabalho está próximo do formato convencional da canção.

"Meu trabalho está dentro de um universo experimental, pelo fato de ter uma formação não-convencional em permanente estado de mudança. Até hoje modifico muito o jeito de tocar cada música, vou descobrindo novas possibilidades com os aparelhos e na interação com outros músicos. Experimental também pela preocupação com a atmosfera e a viagem sensorial proposta, mas se você for ver, quase tudo ali é canção! Enquanto composição, minhas músicas são canção pra caramba, só que executadas dessa maneira diferente. Sobre gêneros, tenho uma grande inspiração da música soul, do trip-hop, música jamaicana. Percebo uma impressão digital muito forte da canção brasileira dos anos 70 e 80, que ouvia em casa e no rádio e um certo repertório baiano que costuma penetrar em quem nasce aqui: Gerônimo, Luiz Caldas, Timbalada, etc", analisa.

Para 2017, Lívia busca gravar seu primeiro álbum cheio. "Primeiramente (fora temer) lançar o disco, que está sendo gravado, com músicas que já toco no show e outras inéditas. Estou trabalhando aceleradamente pra lança-lo antes do Carnaval. Quero muito tocar em festivais e o Lado BA vai ser uma boa oportunidade para encontrar muitos organizadores e firmar shows. Devo também passar temporadas maiores entre Rio e São Paulo, para divulgar o trabalho"conclui.

Festival Lado BA - Música e Processos Colaborativos / de hoje até sábado / 21 Shows nos largos Pedro Archanjo e Quincas Berro d’Água e na Arena Teatro SESC Senac  / 11 Conferências no Teatro Sesc e Casa XIV / Programação: www.facebook.com/FestivalLadoBa