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segunda-feira, maio 16, 2016

OS BEATLES MORTOS-VIVOS

Comédia maluca, Zumbeatles - Paul Está Morto-Vivo brinca com mitologia da banda

Quando os Beatles lançaram o álbum Abbey Road em 1969, nunca poderiam imaginar que ali se iniciaria uma das maiores teorias de conspiração do rock, segundo a qual Paul McCartney estaria morto e teria sido substituído por um sósia.

Em Zumbeatles - Paul Está Morto-Vivo, de Alan Goldsher, o Beatle fofo não apenas está morto, como também é um zumbi que se alimenta de cérebros.

Assim como seus colegas John Lennon e George Harrison. Já Ringo, não. Ringo Starr é um Lorde Ninja – do sétimo nível, é bom frisar.

Comédia maluca que brinca com os ícones do rock e a mitologia histórica dos Fab Four, o livro de Goldsher não é para ser levado “a sério”, como outras obras com zumbis, a exemplo da coqueluche The Walking Dead, os filmes de George Romero ou o livro Guerra Mundial Z, de Max Brooks.

Deste último, porém, Goldsher pegou emprestada uma característica: ele é todo contado em primeira pessoa por meio dos depoimentos “colhidos” pelo autor.

Super-zumbis

Na – por falta de termo melhor – trama, John Lennon seria um típico zumbi liverpudiano, uma espécie diferente de morto-vivo, que é capaz de falar e destacar os próprios membros e coloca-los de volta, além de ter super-poderes de hipnose, velocidade e força.

Após transformar seus melhores amigos Paul e George em semelhantes, eles formam a banda que viria conquistar o mundo – deixando um rastro de milhares de corpos desmembrados e fãs zumbificados no caminho.

Para quem é fã dos Beatles e de zumbis ao mesmo tempo, o livro é uma delícia de bobagem. Todos os personagens e episódios queridos da história do quarteto estão aqui: Stuart Sutcliffe (um vampiro existencialista), Brian Epstein (zumbificado por Lennon após morrer em 1967, estaria morto-vivo até hoje), George Martin (sendo George Martin, o que já o bastante), Yoko Ono (Lorde Ninja do nono nível) e Mick Jagger (um implacável caçador de zumbis), a estadia em Hamburgo, a viagem à Índia, o show no Shea Stadium e o show no teto da EMI, entre vários outros.

Uma tiração de sarro de fritar os miolos.

(Curiosamente, trombei na internet com os Zombeatles da vida real, que lançaram um álbum há alguns anos com versões zumbificadas para músicas dos Beatles, como Hey Food, I Wanna Eat Your Hand e 

A Hard Day's Night of the Living Dead, que você confere no vídeo abaixo....) 



Zumbeatles – Paul Está Morto-Vivo / Alan Goldsher / Tradução: Rodrigo Abreu/ Galera Record / 352 p. / R$ 39

quarta-feira, maio 11, 2016

O POSSÍVEL ACENO DE ADEUS DO PATRIARCA DO PUNK

Possível último álbum de Iggy Pop traz nova parceria, enquanto biografia definitiva chega às livrarias em bela edição de capa dura

O mundo realmente está de ponta-cabeça.

Iggy Pop, o patriarca do punk, não é mais o primeiro surgir quando se digita seu nome no Google (é uma tal de Iggy Azalea).

Mas e daí? Quase septuagenário, esta entidade superior do rock estava aí muito antes da Internet – e sua obra e memória seguirão vivas quando a tal da Azalea, muito em breve, se tornar mera nota de rodapé na enciclopédia da cultura pop.

Obra e memória, aliás, são os motes de Post Pop Depression, seu mais recente álbum, e também de Open up and bleed: A vida e a música de Iggy Pop, excelente biografia do Iguana assinada pelo jornalista Paul Trynka.

Apontado por muitos críticos como a obra derradeira de Pop em vida – vira essa boca pra lá –, o álbum é fruto da recente parceria do cantor com um dos mais respeitados roqueiros dos últimos 15 anos: Josh Homme, da banda Queens of The Stone Age.

Ao seu lado, uma cozinha de respeito: Dean Fertita (The Raconteurs) no baixo  e Matt Helders (Arctic Monkeys) na bateria.

Aos 69 anos, Pop faz em Post Pop Depression, de fato, um balanço da vida louca e do legado que deixa ao encarar a própria mortalidade.

Letras como a de American Valhalla (referência ao paraíso pós-vida dos guerreiros nórdicos) não deixam dúvidas: “Aonde é o Valhalla  Americano? / Morte é a pílula mais difícil de engolir”.

Gravado em segredo no estúdio de Homme localizado no deserto de Joshua Tree, o álbum traz aquele som já característico do guitarrista: grave, anguloso, seco. Se for mesmo a saideira do velho punk, está de bom tamanho.

Pode não ser comparável aos seus grandes momentos com os Stooges ou David Bowie, mas desce a cortina em grande estilo.

James vs. Iggy

Todo mundo conhece Iggy Pop, o rock star destrambelhado com corpo de bailarino que se tornou um dos pais do punk rock ao fundar, em 1967, a lendária banda The Stooges.

Já em Open up and bleed: A vida e a música de Iggy Pop, o autor Paul Trynka nos apresenta ao homem por trás do mito, o senhor James Osterberg.

Considerada por muitos críticos como a biografia definitiva do Iguana, Open up and bleed ganhou bela edição brasileira da Aleph, com capa dura e caderno de fotos.

Com mais de 500 páginas, o livro traz um relato detalhadíssimo de Pop, com direito a depoimentos de amigos de infância, músicos e produtores e até seu terapeuta.

Não dava para esperar menos de Paul Trynka, consagrado jornalista musical inglês, autor de bios de David Bowie, Brian Jones e ex-editor da revista Mojo.

Mas talvez o maior mérito do livro seja a revelação da dupla personalidade James Osterberg / Iggy Pop. 

Nascido na pacata cidade universitária de Ann Arbor, Iggy cresceu   em um parque de trailers.

Seu pai era professor, e ele era um verdadeiro CDF: articulado, envolvido com política, foi até apontado como “o mais provável a se tornar presidente” no livro do ano escolar.


Tudo mudou, claro, quando ele foi fisgado pelo rock ‘n’ roll, graças aos irmãos (e vizinhos) Ron e Scott Asheton, com os quais ele fundou os Stooges.

O livro – talvez esta seja sua única falha – não explicita o momento exato em que o afável Jim se metamorfoseou em Iggy, o roqueiro selvagem que rolava sobre cacos de vidro no palco.

Mas um relato em particular, do fotógrafo Bob Gruen, é bem revelador.

Em 1996, ele foi fotografar um show de Pop em Londres. Ao chegar, o encontrou em um ritual pré-show:

“Foi como assistir ao Hulk, quando uma pessoa normal se transforma numa criatura incrível. Dava quase para ver ele se tornando mais forte e poderoso. O Jim tinha se transformado no Iggy e se apropriado de toda aquela massa, aquele poder”.

Iggy, seu monstrinho.


Post Pop Depression / Iggy Pop / Universal Music / R$ 27,90

Open up and bleed: A vida e a música de Iggy Pop / Paul Trynka / Aleph / 536 p. / R$ 69,90

sexta-feira, maio 06, 2016

PODCAST ROCKS OFF LEMBRA PRINCE E DESCOBRE NOVIDADES

De lá do além, Mr. Rogers Nelson apura o ouvido para nos ouvir melhor...
Neste episódio, Nei Bahia, Osvaldo Braminha Silveira Jr. e este blogueiro lamentam a perda de Prince, músico que Nei reputa ser mais talentoso do que muita vaca sagrada por aí.

Mas se Mr. Bahia falou, tá falado: este blogueiro não vai duvidar.

Como nem só de obituário vive este podcast, trazemos algumas novidades da hora: Pete Yorn, Purson, Ivan Motosserra, Black Mountain e outras figuras sinistras trazem alguma vida a este momento sombrio no Brasil e do mundo.

Vamo que vamo?

O SOM DO ERMO, SEGUNDO ASLEY

Conheça Asley, talento folk rock de Irecê que se apresenta hoje apresentou terça última no Dubliner’s

Asley e seu violão, em foto de João Júnior
O interior da Bahia pode estar gestando um novo movimento de música folk nordestina.

Direto de Irecê, o jovem Asley é a ponta de lança de um pequeno grupo de orgulhosos músicos interioranos a fim de fazer um som diverso do que sai dos porta-malas dos carros estacionados nas praças.

A base de violão, o som de Asley é ora delicado, ora sofrido, mas sempre sincero e bonito.

Seu primeiro trabalho, um EP com sete faixas, está disponível no Soundcloud e vale muito o seu tempo.

E apesar de jovem, o rapaz já conta com alguma moral: no ano passado, Asley venceu o II Canta Sertão, em São Gabriel, com a bela Cabaré do Santo Amor.

Já no 39º Festival de Música Popular de Ibotirama, ficou em terceiro, com a pungente Mais do que Pó – ambas as canções estão no EP.

“Sim, eu moro em Irecê. Já morei em Belo Horizonte um tempo para estudar, mas voltei”, conta, por telefone.

Asley residiu na capital mineira entre 2009 e 2015. “Lá passei por um processo de maturação musical, mas foi  meio solitário. Já gostava de tocar, de desenvolver composições, mas não encontrei parceiros na mesma frequência“, conta.

Só no final de 2014, de férias na Bahia, ele encontrou seus pares musicais: Mateus Zingue e Daniel Penha, dois artistas da modesta Capim Grosso.

“Abandonei tudo em Minas, onde fazia Comunicação, para voltar e tentar construir um movimento de folk de forma orgânica, um som limpo com instrumentos de verdade, sem artificialismos”, demarca.

Em Capim Grosso, o trio se trancou no estúdio de outro músico local, o sanfoneiro Kelvin Diniz: “Esse cara é um prodígio, sabe tudo. Foi no estúdio dele que fizemos esse EP que está no Soundcloud”, conta.

Boy George segundo Asley

Asley no ermo da secura, em foto de João Júnior
E hoje terça-feira passada, Asley estará esteve em Salvador, para fazer seu segundo show na capital, na noite Quanto Vale o Show?, ao lado da banda local Astral Plane. O primeiro foi no dia 9 último, na Casa da Mãe.

“Vou tocar acompanhado de banda: guitarra, baixo e bateria. E no sábado, abro para a Scambo aqui em Irecê”, diz.

No repertório, as faixas autorais do EP e algumas releituras de hits pop como Karma Chameleon (Culture Club) e Your Song (Elton John).

O hit do Boy George e sua banda, aliás, está no EP e é uma delícia. No Soundcloud, já conta com mais 1,2 mil audições.

“Eu tenho esse repertório intimista de covers, gosto muito dessas baladas. Engraçado que  todo mundo me pede para tocar artistas tradicionais do folk, como Bob Dylan e Johnny Cash, mas nem toco eles. Acabo  escolhendo músicas que se tornam folk ao violão”, diz.

Ligado ao interior, Asley, Mateus e Daniel, que também tem trabalhos próprios, querem voltar os olhos da capital para o campo: “O folk necessita desse contato com o campo, a coisa rancheira. Não é imitação do americano. É que aqui a gente tem muito disso: a secura, o ermo. Não é coisa nova, já fizeram isso: Belchior, o Pessoal do Ceará, Ednardo. Queremos trabalhar nessa linha", conclui.


NUETAS

Vivendo com Gerônimo

A sempre bem-vinda Vivendo do Ócio volta à city para uma série de shows no Circuito Música Bahia da Caixa Cultural. Serão quatro apresentações com o grande Gerônimo de convidado, de quinta-feira a domingo, com ingressos a ridículos R$ 8 e R$ 4. Sempre às 20 horas, exceto domingo, que é as 19 horas.

O diabo à quatro

Pancreas, Declinium, Jack Doido e Ronco quebram tudo no  Taverna Music Bar. Rock em vários estilos diferentes para gostos diversos: tem hard, pós-punk e blues rock. Sábado, 22 horas, R$ 10.