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quarta-feira, dezembro 30, 2015

CAETANO VELOSO: "É IMPENSÁVEL ESSE SHOW SEM SALVADOR"

Caetano & Gil, foto Marcos Hermes
Como, por incrível que pareça, a reforma da Concha Acústica não foi concluída a tempo para este verão, ainda não há data nem local para trazer à Salvador o show Caetano e Gil: Dois Amigos, Um Século de Música  – Multishow ao vivo, inicialmente previsto para reinaugurar o espaço.

Resta aos soteropolitanos conferir os recém-lançados DVD e CD duplo  com a íntegra do espetáculo que rodou o planeta e foi gravado em São Paulo, com transmissão pelo canal Multishow na noite de Natal.

Muito a vontade no palco, o duo desfia repertório que une sucessos marcantes das carreiras de ambos e releituras para Tonada de Luna Llena (do venezuelano Simón Díaz), Come Prima (sucesso italiano na voz de  Tony Dallara), É Luxo Só (Ary Barroso) e Nossa Gente (mais conhecida como Avisa Lá, o hit do Olodum de autoria de Roque Carvalho).

Há ainda uma bela canção inédita, composta poucos dias antes da gravação do show: As Camélias do Quilombo do Leblon, bem atual.

Nesta entrevista por email, Caetano reflete um pouco sobre o processo do espetáculo, da seleção de repertório à mecânica entre sua voz e a de Gil.

Ele ainda escreve longamente sobre a polêmica do show em Tel-Aviv (Israel), objeto de protesto por escrito de personalidades mundiais como o ex-Pink Floyd Roger Waters e o Bispo Desmond Tutu.

Otimista, Caetano espera cantar com Gil em Salvador ainda no mês de janeiro. Quem sabe o Senhor do Bonfim não dá uma ajuda?

ENTREVISTA: CAETANO VELOSO

Ao celebrar 50 anos de carreira, vocês optam por fazer um show intimista, de voz e violão. A intenção era fazer algo mais próximo ao público, um encontro informal para lembrar as canções que pavimentaram essa trajetória?

Foto Felipe Costa
Caetano Veloso: O convite que recebemos do promotor europeu já era para fazermos só os dois com os violões. Fórmula semelhante ao que fizemos em 1994, no Tropicália Duo. De algum modo, o resultado desse agora é até mais íntimo e informal. Somos nós, as canções  e a memória.

O repertório repassa parte bastante significativa dos repertórios de vocês dois, com um cantando canções do outro em um intercâmbio bem interessante. Como vocês selecionaram o repertório? Qual foi o critério – ou critérios?

CV: Fizemos tudo muito rápido, sem pensar muito. Muitas músicas são óbvios marcos na lembrança das plateias. Eu sugeri que as de Gil, sempre naturalmente mais animadas, se concentrassem na segunda parte, preparando o final. Escolhi as minhas, sugeri algumas a ele. Nada foi muito formalizado. Sabíamos, no entanto, como seria prazeroso para cada um de nós que  às vezes um começasse a cantar uma canção do outro, para depois unir as vozes. Ficou curiosamente bonito o roteiro. A gente só ficou certo disso depois das primeiras apresentações na Europa.

Boa parte do repertório é cantado por apenas um de vocês, mas quando cantam em duo, você parece ser a voz aguda e Gil, a voz grave. É uma mecânica já instintiva, depois de tantas parcerias? Pode falar um pouco sobre como trabalham suas vozes juntos?

CV: Sei não. Gil faz uns falsetes rápidos e penetrantes que eu não alcanço. Aquela oitava agudíssima de Nossa Gente quem faz é ele. Além dos riffs vocais para serem repetidos pelo público em Toda Menina Baiana. Mas é fato que os gravíssimos que ele dá em Não Tenho Medo da Morte eu também não alcanço. Gil sempre teve muito mais extensão vocal do que eu. Hoje em dia, as notas mais altas são mais fáceis de cantar para mim. Mas acho que a impressão fica por causa da Tonada de Lua Llena, que canto quase toda em falsete. Isso, contrastando com os graves dele em Não Tenho Medo da Morte, faz parecer que eu fico com os agudos e ele, com os graves.

Como foi a parte europeia da turnê? Sabemos que vocês são suficientemente reconhecidos no cenário internacional para não depender só do público brasileiro exilado, mas como vocês sentiram o público em geral? Mais de brasileiros ou de locais?

CV: No todo, mais brasileiros, acho. Mas em Paris, em Montecarlo, em Vienne e em quase todas as cidades da Itália os brasileiros eram minoria.

Na inédita As Camélias do Quilombo do Leblon, vocês cantam: “Será sem fim o sofrer do povo do Brasil”? É um questionamento antigo – mas sempre atual –, em uma bela canção nova. 50 anos depois do início, vocês diriam que ainda estariam cantando contra a desigualdade?

CV: Sim, cantamos contra a desigualdade que fende o povo brasileiro.

Foto Felipe Costa
O cenário do Hélio Eichbauer com todas as bandeiras dos estados brasileiros é uma mensagem por si só para este Brasil tão dividido?

CV: O cenário de Hélio faz o show ficar mais elegante e mais eloquente. Sente-se a sugestão da unidade do país e também de sua diversidade, vistas de uma perspectiva atual. Hélio é um grande artista e um grande pensador da arte.

Sobre aquela polêmica do show em Tel Aviv – e o seu subsequente artigo para a Folha de S. Paulo (Visitar Israel para não mais voltar a Israel, publicado em 8 de novembro) –, que lição fica do episódio? Foi uma questão de ir lá conferir o clima de opressão in loco? Pode dizer por que?

CV: Sempre quis voltar a Israel. Os apelos de Roger Waters e Desmond Tutu levaram ao encontro que tivemos, no Rio, com dois jovens representantes do BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções, campanha global contra as ocupações na Palestina pelo estado de Israel). Quisemos ouvir o que os membros do movimento queriam nos dizer, mas a decisão interna era de ir. Respondi a Waters que ir poderia significar estar mais perto dos israelenses que não aprovam a ocupação. Mas não planejamos nada. Davi Windholz, um israelense-brasileiro que luta pela paz entre Israel e a Palestina, me escreveu convidando para um encontro. Em Madri, estive com Jorge Drexler, que me deu os contatos do Breaking the Silence, um grupo de ex-soldados do exército israelense que protesta contra a ocupação. Eles marcaram uma ida à Cisjordânia e contaram como nasceu sua revolta. Gil quis logo ir comigo. De volta, quis contar os movimentos da minha cabeça e do meu coração durante a visita a essa parte do Oriente Médio. A Conib (Confederação Israelita do Brasil) me chamou de antissemita e um médico palestino saudou minha suposta adesão ao BDS. Mas muitos judeus brasileiros e não-brasileiros gostaram do meu texto. Houve quem o considerasse infantil. Mas ninguém notou que, no que conto sobre o momento de entrar no palco em Tel Aviv, pensei em dedicar o show a Franklin Dario, o músico judeu pernambucano que nos anos 1960 deixou de lado uma possível carreira no Brasil dizendo que ia para Israel lutar pelo seu povo.

Para quando podemos esperar esse show em Salvador? Já há uma data e um local definidos? Sabemos que tem havido muitas dificuldades nesse agendamento. Em que medida isso incomoda vocês?


CV: É impensável a existência desse show sem Salvador. Não sei direito, mas acho que toda a dificuldade nasceu dos atrasos na obra de reforma da Concha Acústica. Espero que, em janeiro, a gente esteja cantando na Bahia.

Vi que, durante um show no Rio, a plateia encaixou o nome de Eduardo Cunha no refrão de Odeio. Apesar de todo o abismo político que parece dividir o Brasil, além de toda essa horrenda onda neoconservadora, parece que “o povão” nunca se ocupou tanto da política. Será que ao menos sairemos de toda essa bagunça um pouco mais conscientes? Como vocês veem essa coisa toda?

CV: Espero que essas dores do crescimento sejam mesmo sinais de futura grandeza.

Caetano e Gil - Dois Amigos, Um Século de Música / Sony Music/ Kit CD duplo + DVD: R$ 55,90

terça-feira, dezembro 29, 2015

SUMIDA HÁ ALGUNS ANOS, GEPETTO RESSURGE COM ÁLBUM DE PROPOSTA AMBICIOSA

Rapaziada da Gepetto, foto Kevin Oux
Surgida no cenário em 2011, a banda local Gepetto fez uma boa quantidade de shows e começava a formar público quando desapareceu.

O sumiço foi intencional. A banda se organizou para gravar seu primeiro álbum cheio, que agora, pronto, tem show de lançamento exatamente daqui a uma semana (dia 5), no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura.

Eros Anteros, o disco da Gepetto gravado com apoio financeiro do Fundo de Cultura da Bahia, é uma obra ambiciosa em pelo menos dois níveis: o sonoro e o conceitual.

Produzido em Salvador por Vicente Fonseca e Marcos Franco, o álbum foi masterizado em Nashville, Estados Unidos.

Conta com participações de Fernanda Monteiro (violoncelo), Leonardo Leal (trompete) e dos  membros do Madrigal da Ufba Henrique Moraes, Igor Garcia e Josehr Santos.

Satisfeito com o resultado, o tecladista Davi Mignac acredita que “Conseguimos apresentar melodias bem casadas, considerando novas vertentes da banda, mas sem perder a nossa essência de fazer um som intimista, melancólico e carregado de sentimento, somado a um instrumental moderno e recheado de efeitos”.

“O timbre ‘certo’ foi uma das minhas maiores preocupações para a sonoridade do disco. Lembro que ficávamos horas escolhendo timbres de guitarra e teclado para cada canção”, lembra o vocalista e guitarrista Carlos Faria, autor das faixas.

Harmonia e caos

O colunista confessa que, apesar do capricho da produção, se incomodou aqui e ali com uma busca demasiadamente explícita por uma sonoridade obviamente derivada de bandas como Radiohead e Muse, além de algumas letras derramadas além da conta.

Essa última característica, contudo, faz sentido dentro do contexto conceitual desenhado pela banda: “Procuramos expressar esse conceito de dualidade através dos deuses gregos Eros e Anteros (ou Anti-Eros). Na verdade, estes deuses foram representados em figuras femininas, que são a nossa fonte de inspiração. Procuramos falar basicamente sobre relacionamentos e suas diferentes fases, com melodias e letras disputando harmonia e caos”, conclui Davi.

Show de lançamento: Eros Anteros / Dia 5 de janeiro, 19 horas / Teatro Eva Herz (Liv. Cultura, Salvador Shopping)  / Entrada gratuita



ENTREVISTA COMPLETA: DAVI MIGNAC E CARLOS FARIA (GEPETTO)

Ficaram satisfeitos com o resultado final do álbum? O que a banda buscava em estúdio, em termos de sonoridade e ambiência, foi alcançado? A produção ficou bem caprichada, diga-se de passagem.

Gepetto dá uma refrescada, em foto de Kevin Oux
Davi: A elaboração, produção e gravação do álbum Eros Anteros foi considerada a meta de 2015 para a Gepetto. E podemos dizer que fechamos o ano com chave de ouro, pois depois de praticamente 1 ano em estúdio compondo e gravando, o álbum saiu exatamente do jeito que esperávamos. Na nossa visão, conseguimos atingir a maturidade sonora desejada pelos membros da banda e pelos produtores do disco, Vicente Fonseca e Marcos Franco. Todos ficaram bem felizes com o resultado. Conseguimos apresentar melodias bem casadas, considerando novas vertentes da banda, mas sem perder a nossa essência de fazer um som intimista, melancólico e carregado de sentimento somado a um instrumental moderno e recheado de efeitos. Nossa intenção é que as pessoas escutem o disco e se surpreendam à medida que escutem cada música, pois é um álbum de 14 faixas (72 minutos) que revela diferentes universos da Gepetto, mas que acabam se relacionando diante do conceito dualista do álbum. Apesar de fazermos parte da banda, te garanto que o álbum Eros Anteros virou parte da nossa playlist e escutamos sempre com muita satisfação todas as músicas, rs. Esperamos que o público tenha esse mesmo sentimento ao escutar o disco.

Carlos: Tenho que confessar. Sou a pessoa mais perfeccionista que eu conheço, rs. E devo agradecer de coração a todas as pessoas que respeitam e acreditam no meu modo de trabalhar, que é com muito perfeccionismo e cuidado. Tenho uma banda fantástica, onde todos estão abertos a novas idéias e sempre querendo o melhor para a banda. Nesse sentido, preciso dizer que fiquei 100% satisfeito com o que conseguimos realizar com esse disco. E grande parte dessa satisfação, se deve aos nossos produtores musicais, Vicente Fonseca e Marcos Franco, que ficaram com a gente por um ano, em busca da sonoridade que queríamos alcançar com o "Eros Anteros". O timbre "certo" foi uma das minhas maiores preocupações para a sonoridade do disco. Lembro que ficávamos horas escolhendo timbres de guitarra e teclado para cada canção. De fato, posso dizer que foi um trabalho primoroso e que tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de fazer parte. Agora só resta a curiosidade de saber o que as pessoas vão achar desse trabalho feito com tanto carinho.

O disco parece ser temático, a partir do título que faz referência aos deuses gregos do amor. Pode falar um pouco sobre isso, como o tema foi desenvolvido no disco?

Davi: Acreditamos que todos nós, em essência, temos sempre dois lados. Um lado privilegia sentimentos mais "doces" como o amor, a ingenuidade e o afeto, enquanto o outro lado representa sentimentos opostos como o ódio, raiva e angústia. Na nossa visão, esses dois lados, apesar de contrários, estão sempre interagindo e são essenciais para formar o equilíbrio existencial. Para o álbum, procuramos expressar esse conceito de dualidade através dos deuses gregos Eros e Anteros (ou Anti-Eros). Na verdade, estes deuses foram representados em figuras femininas, que são a nossa fonte de inspiração, rs. Procuramos falar basicamente sobre relacionamentos e suas diferentes fases, com melodias e letras disputando harmonia e caos. Por exemplo, o disco apresenta algumas faixas com partes instrumentais e partes mais pesadas, algumas faixas mais pop, e outras até em tons clássicos com violão e violoncelo. Nosso desafio foi criar essa unidade e permitir que o disco fluísse naturalmente aos ouvidos, provando que diferentes universos podem interagir entre si e atrair novos olhares sobre a banda. Conseguimos juntar as facetas Eros e Anteros em um universo só e fazer com que isso parecesse natural e dinâmico. Além disso, aproveitando o tema mitológico, tentamos fazer com que esse disco tivesse uma vertente épica, com coros, arranjos orquestrados e uma intensa sonoridade climática em várias faixas do disco.

Carlos: Complementando o que Davi disse, foi essencial que escolhêssemos uma boa ilustração para a capa e contra-capa do disco. Felizmente, tivemos a chance de trabalhar com um dos meus ilustradores favoritos, Andre de Freitas, artista Peruano em que na maioria de suas ilustração (se não todas), são representadas por figuras femininas e sempre rola uma coisa dúbia, o que achei interessante para representar o nosso disco. Achamos legal usar dessa liberdade criativa para dar vida ao conceito da assinatura do álbum.

Sem querer ser chato, mas as as bandas que influenciam a Gepetto ficaram um tanto quanto óbvias em boa parte do álbum - sem demérito por isso, a princípio. Foi um risco calculado?

Davi: Na verdade, não partilhamos dessa mesma opinião. Claro, que precisamos começar nos baseando em algumas referências para começar a criar e entender o nosso próprio conceito de som. No EP 'Ninfo', lançado em 2012, as influências da banda, como Muse e Radiohead, estavam claras. Nesse álbum, nossa intenção foi abrir o leque e permitir criar diferentes sonoridades para mostrar ao público que a banda é uma mistura de influências, e que através dessa mistura, a banda é capaz de produzir um som diferente e particular. Em cada faixa, temos timbres diferentes, arranjos diferentes e procuramos fazer o diferencial música por música. Só a critério de curiosidade: nesse álbum procuramos nos inspirar também em artistas nacionais, que as referências talvez nem estejam tão claras no disco, mas garantimos que alguma coisa pode ser associada nas entrelinhas, como Adriana Calcanhoto e Tim Maia.

Carlos: Eu acho que nesse disco fizemos, sem muitas pretensões e ao mesmo tempo, intencionalmente, diversas homenagens a artistas e sonoridades que nos inspiraram ao longo da vida. Segundo Einstein, "o segredo da criatividade é saber como esconder as fontes", rs. Pois nessa obra, não nos preocupamos muito em soar parecido com nada, mas durante todo o processo criativo, da gravação até a mixagem do disco, várias  referencias sonoras foram cruciais. Se você prestar atenção no disco, vai perceber que de fato, podemos ser uma banda um tanto exótica e flexível (ao meu ver). Existe uma unidade ali no contexto geral do conceito do álbum, mas sonoramente, eu diria que a cada faixa, você pode se surpreender com a diversidade de influencias que nos acompanharam durante todo o processo. São 13 faixas inéditas e mais uma que fez parte do nosso primeiro EP. Dentro desse leque de canções, é possível que você vá identificar elementos sonoros de Claudinho e Buchecha a Zizi Possi (é, acredite), até Adriana Calcanhoto, Tim Maia e Roberto Carlos, principalmente nas letras. Que escutar o disco na integra pode perceber que a gente  se influencia de muitas bandas, principalmente, dos anos 90, incluindo System of a Down, Muse, Radiohead, Pink Floyd (essa é antiga), Incubus, The Joy Formidable, Blink-182 e muitos outros… No mais, fizemos o disco do nosso jeito, sem querer apelar em inovação, mas respeitando o que existe de memória afetiva e de bagagem musical de cada um da banda. Somos nós ali no meio de tudo que nos fez sermos o que somos hoje, rs.

A Gepetto surgiu há alguns anos e depois deu uma sumida do cenário. Pode contar um pouco o que rolou nesse período?

Davi: Sentimos que estávamos fazendo vários shows em sequência e que estávamos começando apresentar para o nosso público várias canções autorais ainda não gravadas. Foi ai que decidimos parar e nos reorganizar para gravar o álbum de estreia da banda. Queríamos fazer algo grande, compatível com os nossos desejos e ambições, mas percebemos que isso iria custar mais dinheiro do que a banda poderia gastar no momento. Foi por esse motivo que a banda foi sumindo gradualmente, até que conseguimos financiamento em um edital da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). Dentre de mais de 400 propostas, a nossa foi uma das selecionadas. Esse era o combustível que precisávamos para retornar com tudo. Isso fez com que a gente se fechasse em estúdio por 1 ano para produzir esse álbum com tanto carinho e dedicação. Não vemos a hora de voltar aos palcos com muitas novidades e com um repertório extenso só de músicas nossas.

Disco lançado, quais os planos da Gepetto para 2016?

Davi: Primeiro plano é lançar oficialmente o disco dia 5 de Janeiro de 2016, em show que vai ocorrer no Teatro da Livraria Cultura do Salvador Shopping. Depois disso, queremos tocar em lugares que já tocamos e também em lugares novos, arquitetando uma turnê para o próximo ano não só no Nordeste, mas também em outras partes do Brasil. Após tanto tempo compondo e gravando, acho que merecemos isso. E como inspiração é o que não falta para a banda, porque não pensar em começar a compor um novo álbum ainda em 2016? Acho que ficamos viciados e podemos fazer disso rotina agora, quem sabe um novo álbum a cada ano, rs. Pra gente, é sempre um prazer produzir novos materiais, seja músicas novas ou videoclipes. Que o nosso público fique sempre satisfeito!

Carlos: Pessoalmente, eu nunca fui a um grande festival de rock na vida, quem diria tocar em um… Então seria um sonho realizado tocar em alguns festivais de médio a grande porte durante a turnê do Eros Anteros. Dividir o palco com algumas bandas que admiramos e trocar essas experiências junto com nossos fãs, com certeza vai fazer parte da nossa meta para o ano de 2016.

NUETAS

Big Bross, Big Niver

O produtor Rogério Big Bross Brito comemora seu 44º verão com  big festa no Quanto Vale o Show?  hoje, no Dubliner’s. Sente só a classe: começa às 19 horas, com discotecagem de  Leonardo Santos. Às 21 horas, sobem ao palco os arrasadores Les Royales. Às 23 horas, Martin Mendonça, guitarrista de Pitty, faz um show solo especial em homenagem ao gordo, acompanhado pelos ex-Cascadura Thiago Trad (bateria) e Cadinho (baixo). Fechando a bagaça, a banda Eu Quero Ver Teu Oco Raimundos Cover assume o proscênio à uma da madrugada. Favor contribuir com a caixinha...

Rock à tardinha e longa noite adentro

Van der Vous, Bilic Roll, Mapa, Cartel Strip Club, Espúria, Prime Squad, Aurata, Ronco e Búfalos Vermelhos & A Orquestra de Elefantes fazem o Festival Sol Vermelho. Sábado, Dubliner’s, 16 horas, R$ 15.

terça-feira, dezembro 22, 2015

VERBO & JUÍZO COMANDA TEMPORADA DE REGGAE NAS SEGUNDAS DO DUBLINER'S

Pedro Ubanto e Ígor Ribeiro na linha de frente da V&J, foto Diney Araújo 
Cena musical que se sustenta por si só, o reggae baiano sempre tem novidades interessantes rolando na fita.

Uma boa é a banda Verbo & Juízo, que, desde o início de dezembro, vem fazendo uma temporada de shows com convidados até o fim de janeiro no Dubliner’s, sempre às segundas-feiras.

Intitulada Segunda Mais Reggae, a session da V&J já recebeu as bandas Tallowah (no dia 7 último), Ikenfron (no dia 14) e A Unidade (ontem).

Entre o Natal e o Reveillon tem Xarope MC & Banda Laroyê (dia 28).

Em janeiro, o reggae prossegue com as bandas  Cativeiro (dia 4) e Manos Pretos (11), o veterano  Moa Anbesa (18) e a cantora e trombonista argentina Pali OJC (25).

Como se vê, é uma iniciativa sólida, de quem está querendo realmente se firmar na cena.

Formação teatral

A Verbo & Juízo no palco, foto de Diney Araújo
Formada por Pedro Ubanto e Igor Ribeiro (vocalistas), Naiara Gramacho (vocal e flauta), Tiago Calixto (baixo e direção musical), Jair Rocha (Baterista), Alexandre Seara (guitarra) e Daniel Couto (teclado), a Verbo & Juízo já existia há algum tempo, mas veio tomar fôlego com a entrada de Ubanto, um ator e jornalista oriundo de Ilhéus, descoberto pelo baixista ao atuar na peça É Tudo Nosso?, apresentada no Espaço Xisto (Barris), em 2009.

“Nessa peça, dirigida pelo Diego Pinheiro, eu  fazia um rapper por conta da facilidade que tenho para improvisar no free style, que  ganhava o público. Aí os músicos da peça diziam que eu deveria investir nisso. Um desse músicos era Tiago Calixto, da Verbo & Juizo”, relata Ubanto.

Banda que se apresentava basicamente nos bairros da periferia, a V&J já existia, mas com outro nome.

Fã de rap e repente, Ubanto já contava com 50 letras na gaveta. Ao entrar na banda, levou suas letras e uma exigência: mudar o nome do grupo.

“Cara, o nome antigo era tão ruim que nem gosto de lembrar”, ri.

"Então nos juntamos e misturamos os ritmos. Ígor é bem roots, já e eu trago essa variação mais eclética, com influências de rap, ragga, dub e repente. Bandas como Oquadro, Baiana System e Opanijé são referências fortes pra a gente. Inclusive, os caras d'Oquadro que me ensinaram a rimar lá em Ilhéus. Eu já fazia repente com Azulão, um repentista tradicional da cidade. Aí eles me viram e disseram que se eu faço repente, eu faço rap. Eu já gostava, ouvia Sabotage, Planet Hemp, Racionais e tal", relata.

“O Verbo é  a mensagem de positividade. Juízo vem da cultura familiar. Meus pais eram comunistas na época da ditadura e sempre me incentivaram a ler sobre questões sociais, esse clamor pela justiça, pela igualdade social e de oportunidades”, conclui.

Segunda Mais Reggae / Verbo e Juízo Convida / Todas as segundas-feiras até 25 de janeiro, 20 horas / Dubliners Irish Pub / R$ 20 e R$ 10

www.soundcloud.com/verbo-e-juizo



NUETAS

Portal e Death Tales

As bandas Portal e Death Tales são as atrações do Quanto Vale o Show?  hoje, no Dubliner’s. 19 horas, pague quanto quiser.

Nossos Baianos

Já amanhã tem os Nossos Baianos comemorando dois anos de amor aos Novos Baianos. Participações de Teago Oliveira (Maglore), Jajá Cardoso (Vivendo do Ócio), Giovani Oliveira e DJ Anap. Portela Café, 23 horas, R$ 20.

NHL Festival 3

Pós-jingobéu, o  NHL Festival 3 (cartaz ao lado) traz o que há de mais up-to-date no rock baiano e bota as bandas Van der Vous, Circo Litoral, MAPA, Ubunto (feat. Osahar), ZAUL, Prime Squad e DJ set do pessoal da Soft Porn no palco do  Dubliners Irish Pub.  Sábado, 20 horas, ingressos a R$ 15 e R$ 10 (lista).

segunda-feira, dezembro 21, 2015

A FORÇA É PODEROSA EM J.J. ABRAMS

Se alguém ainda tinha dúvida de que a Força é poderosa em JJ Abrams, certamente a dissipará após assistir a Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força, em cartaz no planeta Terra desde quinta-feira.

Do início do século para cá, o nome deste novaiorquino de 49 anos está nos créditos principais (como diretor, produtor ou roteirista) de alguns dos mais interessantes filmes e séries.

Na TV, Abrams foi uma das forças criativas por trás de Alias (2001-2006), Lost (2004 -2010) e Fringe (2008-2013).

Já no cinema, Abrams foi o responsável por revitalizar duas franquias que se acreditavam mortas, com  Missão: Impossível III (2006) e Jornada nas Estrelas, com Star Trek (2009) e Star Trek: Além da Escuridão (2013).

Junte a isso a produção do espetacular Cloverfield: Monstro (2008) e a direção do spielberguiano Super-8 (2011) e fica fácil entender por que a Disney “roubou” Abrams da franquia concorrente, Star Trek, para revitalizar Star Wars.

Por que todo o  senso de maravilhamento que fez a fama da trilogia original dos anos 1970 e 80 – e que  George Lucas desprezou na desastrosa direção da trilogia dos Episódios I, II e III – está de volta em O Despertar da Força.

Não vamos enganar ninguém aqui: O Despertar da Força é, sim, praticamente um remake do Episódio IV: Uma Nova Esperança.

Jovem esquecido no deserto esperando uma virada do destino: tem nos dois filmes. Sujeito maligno mascarado e vestido de preto, servindo a um mestre maior e mais sinistro: também tem. Malandro de bom coração fugindo de encrenca: claro. Robozinho fofo e gaiato que rouba cenas: como, não? Cantina imunda cheia de aliens com uma banda tocando swing? Sim. E por aí vai.

Porém, auxiliados no roteiro pelo craque do cinemão americano Lawrence Kasdan, roteirista do  Episódio II: O Império Contra-Ataca  e diretor de filmaços como  Corpos Ardentes (1981), O Reencontro (1983) e Silverado (1985), Abrams e o co-roteirista Michael Arndt conseguiram criar um blockbuster irretocável, que abre com brilhantismo uma longa temporada de filmes anuais da franquia Star Wars.

Sim, por que daqui a um ano estreia o primeiro título derivado de Star Wars, Rogue One. E em 2018, Episódio VIII, ainda sem título. E assim será, até sabe lá a Força quando.

Voltando a’ O Despertar da Força, é preciso dizer como a produção foi acertada ao apostar no carisma e no talento dos quatro novos rostos que deverão conduzir essa nova trilogia: Daisy Ridley (como Rey, indubitavelmente a Jedi protagonista),  John Boyega (Finn, o Stormtrooper desertor), Oscar Isaac (Poe Dameron, o hábil piloto de X-Wing) e  Adam Driver (Kylo Ren, o wannabe de Darth Vader).

Ótimos atores, eles dominam a tela, especialmente na primeira metade do filme, quando – para delírio da plateia, que explode em gritos e aplausos – surgem Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew).

O mesmo acontece quando outros velhos conhecidos aparecem, como a General da Resistência Leia Organa (Carrie Fisher) e os robôs C3PO (Anthony Daniels) e R2D2 (Kenny Baker).

Enfim: Star Wars está em ótimas mãos e seguirá encantando gerações por muitos anos. De resto, é se deleitar com essa paródia de IIª Guerra Mundial em forma de fantasia espacial, como  imaginada por George Lucas nos anos 1970.

Por que a cena do General Hux (Domhnall Gleeson) discursando diante de uma multidão de Stormtroopers em uma má-disfarçada imitação de Hitler entregou tudo: a velha história do bem contra o mal nunca foi tão divertida.

sexta-feira, dezembro 18, 2015

"PEANUTS REFLETE A CONDIÇÃO HUMANA"

Snoopy, Charlie Brown, Linus, Lucy, Schroeder e toda a turma está de volta – e de uma maneira  nunca vista: em 3D, no filme Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme.

A estreia nos cinemas  é só em 14 de janeiro, mas o diretor Steve Martino já está no Brasil, aproveitando a Comic Con Experience em São Paulo para divulgar o filme.

Escolhido pessoalmente por Craig Schulz, filho do criador Charles Schulz para a tarefa, Steve conversou com exclusividade com o Caderno 2+ sobre a experiência de trazer Snoopy para o século 21.

Como se sentiu quando foi convidado para dirigir este filme? É uma grande responsabilidade, correto?

Steve Martino: Sim, na primeira reunião que tive com Craig Schulz, eu fiquei muito honrado em saber que ele queria trabalhar comigo e o Blue Sky, o estúdio em que trabalho. Aí eu fui pra casa me sentindo muito bem e então contei pra minha família e amigos e eles ficaram bem animados, "uau, Peanuts, faz tanto tempo que eles não tem um filme" e aí me falavam como eles gostam do Snoopy e do Charlie Brown e aí quando terminava a conversa, todos eles diziam "oh, é melhor você não estragar isso!". (Risos) Ai eu me toquei, 'cara, essa é uma responsabilidade das grandes'. Ao mesmo tempo, isso foi uma grande motivação para mim e para a equipe. O pessoal do Blue Sky também é muito fã do Snoopy. Juntos, sentimos que esta era uma grande oportunidade de oferecer aos nossos filhos, a toda uma nova geração, esses personagens maravilhosos com os quais crescemos. Nós tomamos um cuidado enorme, passamos muito tempo nos certificando de que não íamos 'estragar' nada, que íamos fazer o melhor que poderíamos.


Qual foi sua maior preocupação ao converter Peanuts do 2D para o 3D? Que característica não poderia se perder na transição?

SM: O que era mais importante para mim e essa foi a mesma orientação que dei para toda a equipe é que eu queria encontrar o seu traço (de Charles Schulz) em tudo o que fazemos. Por que tudo o que Charles fazia tinha esse traço de caneta muito aparente. É isso que é lindo nisso que ele criou. Cada objeto que criamos e botamos no filme precisava ter essa aparência de feito a mão. Apesar de desenhado a mão, na animação computadorizada, tudo tem dimensão. Para mim, esse foi o barato de criar essa experiencia cinematográfica. A janela do cinema é enorme, uma grande tela para pintar. E eu achei que a animação por computador nos permitiria ver em um nível de detalhes e beleza e riqueza e imagens como nunca vimos antes. O desafio então foi fazer os personagens se moverem, e olharem em um um mundo que ainda precisava ter um clima e um visual no estilo feito a mão.

Os desenhos animados do Snoopy que assistimos quando crianças tinham meia hora no máximo, mas seu filme tem uma hora e meia de duração. Como foi resolvida essa questão?

SM: O que foi ótimo é que desde a primeira conversa que tive com Craig Schulz, ele disse que queria um longa metragem e seu filho, Bryan Schulz, é roteirista e trabalha com longas. Então o que foi ótimo é abordamos a narrativa a partir de uma estrutura de longa-metragem. O que significa que queríamos que a história tivesse uma unidade narrativa forte, uma estrutura em três atos. É uma abordagem diferente da de um episódio de vinte minutos para a TV. Todo o meu trabalho tem sido em longas e eu sinto que entendo esse tipo de narrativa e certas coisas que precisam ser feitas. No fim, eu acho que isso o torna mais divertido, por que é uma nova história e não uma coleção de nossas tirinhas preferidas costuradas juntas por uma hora e meia. Quando a audiência vai ao cinema, ela espera sempre mais, ela quer entrar e se engajar com os personagens, imaginar o que vai acontecer em seguida, ser conduzida nessa jornada. Foi dessa maneira que abordamos Peanuts, acho que essa será provavelmente a "novidade" dessa experiência, o fato de ser um longa metragem. Mas os personagens permanecem os mesmos.

A resposta da crítica internacional tem sido muito boa. Como se sente sobre isso?

SM: Me sinto ótimo! Sabe, quando comecei nesse projeto, achei que, na melhor das hipóteses, os críticos ficariam divididos,  tipo 50% gostou, 50% não gostou. Achei que muitos fãs diriam que não deveríamos fazer em animação digital, mas fiquei muito feliz em ver que a resposta dos críticos tem sido tão positiva. Só tenho que agradecer a todos os maravilhosos artistas do Blue Sky Studios com quem trabalhei pelos seus esforços. Eles trabalharam muito duro para fazer algo tão fiel ao espírito destes personagens.

Charlie Brown representa um tipo de menino que todos nós conhecemos ou fomos algum dia, o loser (perdedor, melancólico). Você acha que Charles Schulz foi meio que um revolucionário ao desafiar a cultura norte-americana do winner (vencedor)?

SM: Sabe, acho que ele (Charles Schulz) era muito ímpar. De sua perspectiva, acho que ele sempre nos dizia que fracassos eram muito mais engraçados do que vitórias. Sabe como é, "estou fazendo uma tira de jornal, quero que as pessoas riam". Mas acho que isso evoluiu para um aspecto da vida real, nós não vencemos em tudo o que fazemos. Acho que é isso que faz o seu trabalho relevante ainda hoje. Ele reflete a condição humana, ou a interação humana. Todos aqueles sentimentos que nos inspiram quando lutamos para sermos bem-sucedidos. Mas não o somos todas as vezes ao longo do caminho. E podemos ser lembrados disso e rir disso também.

Peanuts O Filme vai ser uma trilogia?

SM: Neste momento eu não faço ideia. Eu só concentrei meus melhores esforços nele e estou animado que o mundo queira assisti-lo. Agora depende das pessoas. As audiências ao redor do mundo sempre tem apetite por mais. Mas certamente esses são personagens sobre os quais você pode contar muitas e muitas histórias.

Nas tiras e desenhos animados, vemos Snoopy assumindo diversas personalidades, como Joe Cool e o Barão Vermelho. Vocês planejam faze-lo assumir outras mais modernas, como por exemplo, um Snoopy Homem de Ferro? A família Schulz permitiria fazer algo assim?

SM: Oh, essa é uma boa pergunta para eu fazer ao Craig Schulz! O que descobrimos com este filme é que ficamos muito animados com o Snoopy Ás Voador. Então, quando o Snoopy entra no seu mundo de imaginação, achamos que voar seria excitante – e Craig Schulz é piloto, ele ama voar. Foi assim que escolhemos essa linha narrativa

O senhor  trabalhou com o animador brasileiro Carlos Saldanha na série A Era do Gelo. Como é trabalhar com ele?

SM: Eu amo Carlos Saldanha! Seus trabalhos refletem muito bem sua personalidade. Assistir seus filmes equivale a conhece-lo. Eles celebram a vida, e é isso que eu amo, especialmente nos filmes da sério Rio, com um uso maravilhoso de música e danças, que passam uma grande alegria de viver. É o que sinto em seus filmes e como pessoa e meu amigo. Adoro.

quarta-feira, dezembro 16, 2015

A FORÇA ESTÁ ENTRE NÓS

Star Wars: Estreia mais aguardada do ano, O Despertar da Força chega envolto em sigilo e muita expectativa

Agora não há mais escapatória. Resistir é inútil.

Dentro de poucas horas, a Força estará entre nós mais uma vez.

À meia-noite, Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força estreia mundialmente, retomando a saga de Luke, Leia e Han Solo trinta anos depois dos eventos do Episódio VI: O Retorno do Jedi (1983).

Dirigido pelo mago nerd JJ Abrams, que migrou da  concorrente Star Trek, o filme inicia uma nova trilogia e marca os primeiros passos da Disney, detentora da franquia (adquirida em 2013), no universo que George Lucas ergueu.

Como em tudo que se refere a Star Wars, o sigilo é quase total até que a tela se ilumine com as fatídicas palavras “Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...”

Para se ter uma ideia, nem sinopse a Disney chegou a divulgar. O que se sabe vem dos trailers, além de declarações dos atores e alguns profissionais envolvidos na produção.

A expectativa, contudo, é alta.

Após a decepcionante trilogia dos Episódios I, II e III, burocraticamente dirigida por George Lucas como se estivesse filmando uma sessão da TV Senado, o bastão (ops, sabre de luz) está nas hábeis mãos de Abrams, que já cuidou de sinalizar a retomada de um certo ar de 1977, com direito a cenas no deserto e menos computação gráfica e mais maquetes e animatronics.

A Força em Salvador

Em Salvador, dois multiplexes receberão a pré-estreia à meia-noite, com a presença de cosplayers devidamente caracterizados, hoje a noite.

No Cinépolis Shopping Bela Vista, o Conselho Jedi Bahia recepcionará os fãs no saguão a partir das 20 horas, para tirar fotos e celebrar o momento. Às 23 horas, haverá sorteio de brindes e bate-papo.

Já no Cinemark do Salvador Shopping, quem animará os fãs serão os integrantes do  fã-clube Império Comando da Bahia, também fantasiados como personagens da saga, a partir das 21 horas.

Aqui, reunimos (quase) tudo o que sabemos até o momento sobre O Despertar da Força.

Que Ela esteja entre nós.

Finn e Rey: os novos Luke e Leia 

Interpretados por John Boyega (Ataque ao Prédio) e Daisy Ridley, Finn e Rey deverão assumir a linha de frente da nova trilogia. Rey, a garota, é uma escavadora em busca de relíquias no deserto do planeta Jakku, quando se encontra com Finn, em plena fuga.

Leia, cadê o Luke? 

A Princesa Leia aparece nos trailers, mas seu irmão, Luke, não. Na primeira vez, ela recebe nas mãos o sabre de luz de Luke. E depois, sendo consolada. Leia, o que houve com seu mano?

Poe Dameron 

Interpretado por Oscar Isaac (Inside Llewin Davis), o piloto de X-Wing Poe Dameron é uma incógnita. Há quem aposte que é o novo Han Solo. Há quem ache que ele está do lado negro

Han Solo e Chewie

Figuras icônicas da trilogia original, Han Solo e Chewbacca estão de volta. Nos trailers, eles aparecem voltando para casa – e depois sendo capturados. O que o destino lhes reserva?



Kylo Ren, o novo Darth Vader

Encarnado por Adam Driver (Girls), Kylo Ren é o cara alto de máscara e capa preta da vez. Sabe-se que se trata de aristocrata que coleciona itens do antigo Império, como o capacete detonado de Darth Vader. Seu sabre de luz é sinistro, com guarda-mãos que o deixam similar a uma espada medieval. No trailer, jura concluir a “obra” de Darth Vader

O robôzinho BB-8 

Uma das estrelas do primeiro trailer, o BB-8 é real, e não CGI. Trata-se de um robô criado pela start-up Sphero. Brinquedo já a venda nos EUA, a cabeça é  magnetizada no corpo

Batalhas, batalhas 

Um dos momentos mais aguardados são as batalhas espaciais entre os caças X-Wing (Rebeldes) e Tie Fighters (Império), além da boa e velha Millenium Falcon de Han e Chewie. Ah, mais uma dica: não há mais Império e Aliança Rebelde. Agora eles são chamados de Primeira Ordem e Resistência, prazer.

Dupla robótica clássica 

Presentes em todos os  episódios anteriores, os dróides C3PO (Anthony Daniels) e R2D2 (Kenny Baker) também voltam n’O Despertar da Força, em toda sua glória

Capitã Phasma

Interpretada por Gwendoline Christie (Game of Thrones), a Capitã Phasma é outra personagem nova sobre a quase nada se sabe. Sabe-se que, debaixo da armadura similar a de um Stormtrooper, tem uma mulher. Seu nome, Phasma, é uma homenagem de JJ Abrams ao clássico cult de terror Phantasm (1979), de Don Coscarelli, que apresentava umas esferas prateadas assassinas.

segunda-feira, dezembro 14, 2015

A SOLIDÃO DO PÓS-APOCALIPSE

Em reedição de capa dura, Eu Sou a Lenda é tanto sobre a solidão quanto sobre os vampiros

O Neville de Will Smith ainda tinha um cachorro no filme. No livro, nem isso.
Fãs das literaturas de terror e ficção científica tem um ponto de interseção histórico no livro Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson (1926-2013).

Publicado originalmente em 1954, este pequeno clássico moderno voltou às prateleiras do Brasil em uma bela edição capa dura da Aleph, com direito a uma nova tradução (de Delfin), um artigo acadêmico e entrevista com o autor, feita em 2007.

A afirmação do primeiro parágrafo se justifica: no livro, acompanhamos a via-crúcis de Robert Neville, o último homem sobre uma Terra na qual só restaram vampiros, transformados após uma praga, a qual o protagonista busca, sozinho, debelar.

Aquartelado em uma casa fortificada e cheia de suprimentos, Neville passa seus dias, quando os sugadores de sangue estão – como ele descobriu – em coma, sempre em busca de mais víveres.

Uma rotina melancólica, descrita com precisão por Matheson, entre ruas vazias e as lembranças dolorosas de Neville, que perdeu mulher e filha no surto do bacilo vampiris, como ele o batizou.

Rotineiramente, todas as noites, sua casa é cercada por hordas de vampiros liderados por seu ex-vizinho, Ben Cortman.

Os monstros passam a noite atirando pedras na casa, gritando e aterrorizando Neville, que ainda tem que se conter diante das vampiras lascivas que se exibem nuas diante do seu olho mágico.

O verdadeiro adversário

Seminal, Eu Sou a Lenda marcou época e foi uma forte influência para autores como Stephen King (que assina a introdução) e Peter Straub – além do cineasta George Romero, que se inspirou, em parte, no livro, para criar o clássico A Noite dos Mortos-Vivos (1968), o filme que redefiniu os zumbis modernos que hoje povoam a cultura pop.

De fato, é tópico recorrente de discussão entre os fãs se os monstros de Eu Sou a Lenda são, afinal, vampiros ou zumbis, já que tem características de ambas as “variedades”.

Na verdade, isso é o que menos importa. Eu Sou a Lenda é menos sobre monstros e mais sobre a solidão, talvez o maior adversário do protagonista. Uma leitura e tanto.

Para não dizer que não falei dos filmes, Eu Sou a Lenda já teve três adaptações ao cinema: Mortos que Matam (The Last Man on Earth ou L'ultimo uomo della terra, 1964, de Ubaldo Ragona e Sidney Salkow), A Última Esperança da Terra (The Omega Man, 1971, de Boris Sagal) e Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007, de Francis Lawrence).

Ainda há uma produção lançada direto em home video no mesmo ano do filme estrelado por Will Smith, A Batalha dos Mortos (I Am Omega, 2007, de Griff Furst).

Eu Sou a Lenda / Richard Matheson / Aleph / 384 p. / R$ 44,90

quinta-feira, dezembro 10, 2015

PODCAST ROCKS OFF DÁ UMA GERAL EM 2015

"Come to daddy", diz Jaz Coleman do KJ. Vai lá!
Após uma pequena hibernação, o podcast Rocks Off retorna com a dupla titular Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira Jr..

Neste programa, nosso duo que dá no duro dá uma geral no que rolou de interessante em 2015.

Abre com Laibach, segue com Killing Joke, Dead Weather, Buddy Guy e.... vocês já pegaram o espírito da coisa!

O negócio aqui é profissa, tá? ;-)









quarta-feira, dezembro 09, 2015

EM SEGUNDO ÁLBUM, DRAMA URBANO MOSTRA ALGUMA EVOLUÇÃO

Drama Urbano, foto Mariana Andrade
A banda Drama Urbano é o projeto do coração de Vitor Lopes, economista e professor universitário que, após trabalhar uma vida inteira, agora se permite fazer o que gosta, pela  própria satisfação pessoal.

Na sexta-feira passada, a DU lançou, com um show no Teatro Eva Herz, seu segundo álbum, Volume II.

“O engarrafamento da hora do rush atrapalhou, mas  deu um público expressivo, com uma receptividade boa. Álvaro Assmar e André Becker (sax) participaram”, conta Vítor.

Autobancado e autoproduzido, o CD traz participações de músicos  experientes: Álvaro Assmar (guitarra em Whisky e Blues), do saxofonista Kiko Souza (em Engarrafamento e Tempo Cinzento) e Paulinho Laranjeiras (guitarra em Teu Segredo), entre outros.

 Ouvindo o álbum, é possível perceber que, de fato, há muita sinceridade nos esforços de Vítor (voz, guitarra), Ismael Santana (voz, guitarra), Timóteo Lopes (baixo, voz) e Rodrigo Maia (bateria).

Mas se sobra sinceridade, ainda falta identidade. Há faixas que soam como uma espécie de rock genérico, algo entre o hard rock e o pós-punk oitentista.

“Eu e Ismael frequentávamos a cena nessa época. Ele chegou a tocar em uma banda, a Razão Social. Então  temos mesmo essa influência”, diz.

Letras legais como as de Engarrafamento e Tempo Cinzento mostram que talento a ser explorado há – talvez o que falte seja a orientação de um produtor profissional.

“Acho que nosso som é eclético, não nos enquadramos em estilos, mas claro que leva as influências que temos”, diz.

Evolução e descanso

Mas, como o próprio Vítor assume, tudo é um processo – perceptível até na evolução instrumental do primeiro álbum (2011) para este Volume II.

“Mudamos o batera, o que já deu outro gás. Acho que foi uma evolução boa em relação ao primeiro disco. Trabalhamos melhor os arranjos e mantivemos a linha das letras com crônicas sociais e urbanas”, afirma Vítor.

Álbum lançado, a DU entra no estaleiro novamente para planejar uma agenda de shows para 2016.

“Esse fim de ano, a gente descansa. Passamos 2015 nos dedicando a gravação do CD. Depois do Carnaval voltamos aos shows”.

www.dramaurbano.com

NUETAS

Então é Natal, Retros

O show O Maravilhoso Natal do Retrofoguetes comemora uma década de muito jingobéu em ritmo de surf music e rockabilly instrumental. Nesta edição tem Renata Bastos, Kall Medrado, Chilli Band e Lorenight de convidados. Sexta-feira, 23 horas, no  Portela Café, R$ 30, R$ 20 (antes).

CMTN no sábado

Em plena tour pelo Brasil, a Canto dos Malditos na Terra do Nunca faz parada na terra natal para um show com Supercombo (ES), Semivelhos e Circo de Marvin. Sábado, 17 horas, no Buteco do Gaúcho (Avenida Octavio Mangabeira, 2457, Pituba), R$ 25.

sábado, dezembro 05, 2015

DIÁLOGOS DE CULTURA POP

Livros de entrevistas trazem grandes nomes das HQs, do punk e contracultura

Ilustração: Cau Gomez, publicada antes no impresso
Um dos gêneros mais cativantes do jornalismo é, sem dúvida,  a entrevista. Um entrevistador preparado e um entrevistado interessante, que tem o que dizer e histórias a contar, podem render horas e horas de prosa das boas.

Dois livros lançados recentemente preenchem bem estes requisitos e são leitura recomendada aos interessados em cultura pop.

Alguém come centopeias gigantes? reúne algumas das melhores entrevistas publicadas pelo antológico fanzine norte-americano Search & Destroy e da editora RE/Search Publications.

Já Universo HQ Entrevista traz as principais entrevistas com grandes nomes dos quadrinhos, publicadas nos últimos 15 anos pelo site brasileiro Universo HQ – o melhor do Brasil especializado na nona arte.

Além do óbvio ponto em comum (entrevistas), os livros compartilham viés “alternativo” nos seus entrevistados.

Enquanto Centopeias traz alguns dos mais cultuados nomes da chamada contracultura e do movimento punk, o UHQ Entrevista elenca verdadeiros mestres de uma arte que até pouco tempo era muito mal vista: os quadrinhos.

Anti-establishment

Lançamento que vem com a garantia de qualidade da etiqueta Mondo Massari (selo da Edições Ideal coordenado pelo jornalista Fabio Massari),  Alguém come centopeias gigantes? é leitura obrigatória para os interessados em arte de vanguarda, música incrivelmente estranha e experimentos sociais.

O elenco de entrevistados é a nata do anti-establishment. Há o lorde punk de São Francisco Jello Biafra (Dead Kennedys), o papa do cinema trash John Waters (Hairspray), as bandas experimentais Devo e Throbbing Gristle, a roqueira e poeta Patti Smith, os escritores William S. Burroughs , Lawrence Ferlinghetti e J.G. Ballard, a banda psychobilly The Cramps, o cantor e ativista punk Henry Rollins, o entusiasta do LSD Timothy Leary etc.

Selecionadas pelo próprio Reverendo Massari, algumas entrevistas foram feitas nos anos 1970, como a do Devo (engraçadíssima) e a de Paul Simonon, baixista do Clash. A do Cramps, com o casal freak Poison Ivy e Lux Interior, é toda sobre sua coleção de discos exóticos.

Já Jello Biafra dá uma aula de sociologia punk, analisando todo o desenvolvimento do movimento nos EUA. Tim Leary fala de suas experiências com ácido lisérgico e assim vai.

A cada entrevista, lições de vida e tiradas impagáveis, como esta, de John Waters: “Ganhei botox de graça, mas não usei por que não poderia mais dar um sorriso de escárnio”.

Lendas das HQs

Volume que marca os 15 anos de sucesso do Universo HQ, o livro de entrevistas do site é outra leitura obrigatória para os fãs dos quadrinhos.

Os 23 entrevistados podem ser divididos em três categorias: mestres brasileiros (Maurício de Sousa – em entrevista inédita, Mike Deodato, Flavio Colin e Lourenço Mutarelli), lendas dos comics anglo-americanos (Will Eisner, Neil Gaiman, John Byrne, Joe Kubert, Jim Starlin, Mort Walker) e gigantes europeus (Milo Manara, Ivo Milazzo, Giancarlo Berardi e Miguelanxo Prado, entre outros).

Como algumas das entrevistas já tem mais de dez anos e muita coisa mudou desde então, a bem cuidada edição traz mais de 300 notas de rodapé atualizando as informações.

De resto é só alegria ler relatos extraordinários como o de John Byrne, o mais influente artista dos X-Men, sobre sua relação tumultuada com o escritor Chris Claremont: “O brilhantismo veio mais de nossas duas cabeças grandes se batendo do que de uma real síntese de visão”.

Organizado pelo editor Sidney Gusman, o livro ainda traz ilustrações de todos os entrevistados (e entrevistadores) do cartunista Baptistão.

Alguém come centopeias gigantes? / V. Vale - Fábio  Massari (Org.) / Ideal/304p./ R$ 49,90

Universo HQ Entrevista / Sidney Gusman (Org.) / Nemo/ 360 páginas/ R$ 78

quinta-feira, dezembro 03, 2015

NOVAS E VELHAS TENDÊNCIAS DO ROCK NO BIG BANDS FESTIVAL

Começa hoje: sétimo festival Big Bands segue apostando na independência absoluta do produtor Rogério Big Bross Brito

O homem-banda O Lendário Chucrobillyman (PR). Foto Paulo Rick
O produtor Rogério Big Bross Brito conseguiu de novo. Sem edital, apoio ou patrocínio, ele realiza entre hoje e sábado a sétima edição do seu festival de rock, o Big Bands.

O método Big Bross de agitar festivais praticamente sem dinheiro é o mesmo das outras vezes: do it yourself, colaboração, dedicação.

“Neste exato momento estou terminando uns cartazes numerados e camisetas que vamos vender para ajudar nos custos”, conta.

“É  parecido com o ano passado, só não fiz crowdfunding esse ano. O custo total do festival é de R$ 8 mil. Isso por que as  bandas da capital e do interior toparam tocar sem cachê, só com ajuda de custo”, conta Rogério.

Já as três atrações de fora da Bahia – o duo paulista Test, o homem-banda paranaense Lendário Chucrobillyman e a banda pernambucana Vamoz – concordaram em se apresentar por um cachê simbólico, “quase uma piada”, conta.

De resto é a colaboração dos amigos e militantes da cena, que ajudam o produtor até pegando músico em aeroporto e levando para o hotel.

“Os ultimos dois meses eu trabalhei feito louco para viabilizar o festival. Peguei o cachê da palestra que dei na Feira da Música (em Fortaleza) e paguei o cachê de uma das bandas. Aprendemos a lição: nunca dê um passo  maior que a perna”, afirma.

Os três dias de som – todos no Dubliner’s Irish Pub – são bem definidos.

O primeiro é o mais eclético, com o pós- punk gótico da Modus operandi e o indie clássico da Vamoz, mais o DJ Bruno Aziz.

A segunda noite é do rockabilly e surf rock, com a novata Ivan Motosserra, a conhecida Les Royales e o Chucrobillyman.

O brutal duo death-grind Test (SP) e sua Kombi. Foto Samuel Esteves
O sábado começa cedo (17 horas) e é o dia mais pesado e com mais bandas (oito): Erasy (Feira de Santana), Aphorism, Test, Ironbound, Limbo (essas duas de Alagoinhas), Antiporcos, Novelta (Feira de Santana) e HAO.

“O Big Bands foi feito pra ter a minha cara, mesmo”, afirma Rogério.

“E outra: os públicos mais fiéis da cidade são do metal e do punk. O Torture Squad, de São Paulo, tocou domingo e entupiu”, diz.

Para o produtor, o festival segue cumprindo sua missão, que é botar para tocar prioritariamente bandas de rock da capital, do interior e do Brasil – que, de preferência, nunca tenham vindo a cidade.

“Das três de fora, só a Vamoz já tocou aqui, e mesmo assim, há muito anos. Já o Test, que está bombado no meio do metal extremo e lançando tendência com letras em português, já tocou em tudo que é festival pelo país”, conclui.

De volta de Feira e de Fortaleza, onde conferiu in loco a movimentação independente no Nordeste e no interior da Bahia, Big afirma que vê sim, luz no fim do túnel.

"O Feira Noise teve duas mil pessoas por dia, com atrações como Cascadura, Vespas Mandarinas e tal. Sem bandas mega hype ou sucessos falidos de de outrora, como CPM 22 ou Raimundos. O Feira Noise brocou! E brocou com uma programação muito doida, ou seja, há luz no fim do túne, ou melhor, ou há rock no fim do túnel! A verdade é que a cena do interior é que tá bombando seriamente. A galera é muito engajada, muito envolvida", relata.

O indie tradicional da ótima Vamoz (PE) hoje no BB. Foto Theo Gouveia
Sintonizado no movimento, Big diz que o Big Bands seguirá voltado ao segmento mais roqueiro, deixando as bandas e artistas de perfil mais eclético com quem entende: "Há algum tempo, até a virada dos anos 90 para 2000, eu abraçava tudo. Em 94, trouxemos o Mundo Livre SA pela primeira vez à cidade, por que se não o fizéssemos, não tinha quem fizesse. Hoje essa parada tá mais bem dividida, o Radioca tomou essa programação para eles, então eu tenho que voltar o Big Bands é para o rock mesmo, que é minha parada, meu segmento, e que andou meio abandonado. Fora o Palco do Rock, você não tem um festival voltado para o rock, menos ainda o ano todo, como o Big Bands", considera.

"Tivemos o Warm Up do Big Bands por um mês inteiro em julho, só com bandas da trinca Big Bross-Brechó-São Rock. Tivemos Wander Wildner rodando pelo interior. O Big Bands tá acontecendo desde julho e com pequenas ações o ano todo, para em dezembro concretizar com o festival", lembra.

Coincidência ou não, Big Bands acontece na mesma semana em que a Cascadura se despede do público - mas parece que esse macaco velho não tá comendo nada dessa conversa: "Bicho, a Cascadura concluiu um ciclo, o que eles já fizeram tá bom demais, deixa o cara (Fábio) tirar umas ferias", diz.

"E depois essas paradas de 'acabou a banda'... Ele tá indo pro Canadá e daqui a pouco volta, aí faz um show pra matar a saudade... A Cascadura é a banda que todo mundo acha legal, né? Nando Reis e Caetano falaram bem paca, mas nenhum deles gravou! Nunca teve a chance de entrar na trilha de Malhação. Vou sentir falta. Fábio é meu amigo, meu irmão. Mas eu nem vou nesse show. Pra mim não acabou,  não. Ele não vai aguentar ficar longe do palco", aposta Big

"Por outro lado, bandas como Headhunter DC e Mistifyer continuam. A Mistifyer vai tocar ano que vem no maior festival de black metal do mundo, nos Estados Unidos (o Maryland Deathfest, em Baltimore), com Testament, Venom, Exciter e o caralho. (Nota: O Test, que toca sábado aqui, também vai). A expectativa por eles lá é tanta, que o contratante pediu exclusividade, é mole? E o melhor de tudo é que eles estão pouco se cagando se aqui as pessoas sabem disso ou não. Para eles, o que vale é que os fãs deles saibam", conclui.

Festival Big Bands 2015 / Amanhã, sexta-feira (22 horas) e sábado (17 horas) / Dubliner’s Irish Pub / R$ 10 (Amanhã) e R$ 20 (sexta e sábado) / Programação: www.bigbands.com.br

quarta-feira, dezembro 02, 2015

BATRÁKIA PREPARA SEU PRIMEIRO SALTO

Hoje: banda de hard rock lança primeiro álbum com show gratuito no Teatro Eva Herz

Batrákia na estrada. Foto Manuela Gomes
Surgida há quatro anos com a proposta de fazer hard rock estilo Califórnia anos 1980, a Batrákia é uma das bandas mais ativas do cenário local, tendo se apresentado em todos os inferninhos da cidade e também em diversas cidades do interior.

Hoje, a rapaziada faz o show de lançamento do seu primeiro álbum, com show gratuito no Teatro Eva Herz.

Intitulado Alvo Marcado, o CD foi viabilizado pelos fãs via crowdfunding, gravado nos Estúdios WR e produzido pelo ex-Úteros Em Fúria Luis Fernando Apu Tude, que conhece bem o tipo de som que a Batrákia estava buscando tirar.

"Estamos muito satisfeitos! Era o que estávamos esperando. Tivemos dois grandes desafios que nos limitaram muito, que foi grana e o tempo - esse último nos fez apressar alguns passos que poderiam ter sido mais calmos", diz o guitarrista Dell Brito.

"Conversamos com alguns produtores e músicos do rock baiano e quase todos nos indicaram Apu, pela pegada que tem e a experiência com o gênero que tocamos. Fizemos o convite para produzir esse disco conosco, ele aceitou e a parceria foi muito boa", conta.

Apertada a tecla play, o que se ouve é uma banda que ainda busca estabelecer uma identidade própria, aliviando o peso das próprias influências, consideradas ultrapassadas até por eles mesmos.

O destaque, além das ótimas guitarras, é o vocalista Bruno Passy, cujo gogó é capaz de deixar o decadente Axl Rose saudoso dos seus bons tempos.

“Nós também acreditamos que o hard rock 80 já teve o seu tempo. Nos últimos anos a banda amadureceu e criou uma nova roupagem da proposta inicial. As músicas mais novas já têm elementos e sonoridades mais modernas”, afirma Dell.

“Isso foi muito discutido entre nós e com o próprio Apu durante a produção. Queremos desvincular esse rótulo oitentista do som, que nos influencia mas não é o que somos. Não queremos ser cópia do Guns, Bon Jovi ou AC/DC. Queremos que as pessoas escutem Batrákia”, diz.

"Foi o nosso primeiro álbum e logo em um dos maiores estúdios da Bahia, que é o WR. Apesar de Apu nos deixar bem a vontade, a ansiedade em vivenciar algo tão legal é grande. Aprendemos a rotina de um grande estúdio e como 'gente grande' faz suas gravações. Experimentamos muitos sons e timbres, usamos referências que Apu nos apresentou, principalmente sons mais modernos", relata Dell.

Diferencial batrakiano

A banda ao vivo Pelô. Foto pescada do site oficial, sem crédito 
Satisfeitos com o resultado final do disco, os meninos sabem que agora é que o trabalho começa: “Planejamos uma pequena turnê por cidades que já passamos e um novo clipe para 2016. A ideia é também apresentar o CD em todas as plataformas virtuais”, diz.

“Poucas bandas no Brasil se arriscam compor nessa linha com letras em português. Esse é  nosso diferencial e o que faz com que mais pessoas curtam e nos acompanhem”, afirma.

No repertório, algo notável é a quantidade de baladas, mais ou menos metade do disco.

"O álbum reuniu todas as composições da banda, ficando de fora somente os arranjos e letras soltas. Nem sempre é possível executar nos shows uma quantidade grande de baladas mas no disco é legal, as pessoas escutam com mais atenção e podem sentir todo tipo de experiência de forma particular. Os recursos do estúdio nos permitiram também usar mais instrumentos como teclado e violão, o que ampliou muito nossas possibilidades", analisa Dell.

Entusiasmado, o músico convida as pessoas a ouvirem ao álbum e irem ao show de hoje: "O álbum está muito bom! As composições foram criadas com muito cuidado para fugir do clichê e apresentar algo que emocione e surpreenda - quem espera um verdadeiro disco de rock - com solos cheios de sentimento e uma voz com timbre único. Alvo Marcado é o resultado de uma produção totalmente independente com a ajuda de amigos e fãs da banda. Ficamos muito satisfeitos com o produto final e estamos contando as horas para o dia da estréia!", conclui.

Além de Dell e Bruno Passy, a Batrákia é John Daltro (guitarra), Lucas Vieira (baixo) e Chico Brito (bateria).

Batrákia Show de lançamento:  Alvo Marcado / Hoje, 20 horas / Teatro Eva Herz (Livraria Cultura Salvador Shopping) / Entrada franca

www.facebook.com/batrakia



NUETAS

Drama Urbano sexta

A banda Drama Urbano lança seu segundo álbum, Volume II, com show gratuito na sexta-feira.  Com participações de Álvaro Assmar e do saxofonista Kiko Souza, o CD sai por R$ 20 no local. Teatro Eva Herz (Livraria Cultura Salvador Shopping), 20 horas.

Semana Big Bands

Esta semana tem o ultraindependente festival Big Bands (cartaz ao lado): três dias de rock sem concessões, patrocínio ou apoio. Tem Vamoz! (PE), Test (SP), O Lendário Chucrobillyman (PR), Hao, Novelta, Limbo, Les Royales, Ivan Motosserra etc. Infos: www.bigbands.com.br.

Flauta, Callangazoo e O Mundo

No domingo, as bandas A Flauta Vértebra, Callangazoo e O Mundo fazem matinê no Dubliners. 16 horas,  R$ 10.

terça-feira, dezembro 01, 2015

"OS TEMPOS MUDARAM E O ROCK ACOMPANHOU"

ENTREVISTA: FÁBIO CASCADURA

Fábio Cascadura Magalhães. Foto Max Haack / Agecom 
Domingo, quando o último acorde do show da Cascadura soar no Largo Teresa Batista, o rock baiano estará órfão de uma de suas bandas mais importantes.

Capítulo final de uma história que ainda está por ser devidamente contada, o show encerra a carreira da banda fundada em 1992 por Fábio Cascadura Magalhães e que contou com um who’s who de grandes músicos locais em suas fileiras.

A banda vai, mas a obra, com cinco álbuns extraordinários, fica – e entra na história da música baiana como um exemplo de consistência e talento genuíno.

Em  breve, Fábio deixará o Brasil. Thiago Trad, Du Txai e Cadinho seguirão suas carreiras.

Aqui, Fábio fala da estrada percorrida, do fim e do começo.

Como vai ser o show final? Haverá convidados? Ex-membros?

Fábio Cascadura: Essa será nossa última apresentação como uma banda ativa. É um momento especial e foi pensado. Enquanto nós, da banda, conversávamos sobre a dissolução do Cascadura, o pessoal da Ruffo (produtora que cuida da nossa agenda) estava alinhavando novas datas, novos shows. Assim, ao decidirmos pelo fim, havia uma agenda acordada. Decidimos então juntar as duas coisas: encerrar a carreira com uma série de apresentações temáticas, que foram os shows homenageando os álbuns. Com isso, tivemos os momentos de carinho e reconhecimento com ex-membros e eles serão sempre lembrados: a obra é deles também. Algumas pessoas acham que esse será o “show do Aleluia”, seria a lógica. Mas, na verdade, pretendemos fazer uma apresentação tocando o máximo de coisas significativas da nossa obra e aproveitaremos para homenagear o rock na Bahia. Por isso convidamos dois caras que representam a ponta de lança disso: Teago, da Maglore e Jajá, da Vivendo do Ócio. Eles representam o nosso tempo atual e é isso que queremos celebrar.

A banda deixa um vácuo na cena? Certamente, muita gente se sentirá órfã quando soar o último acorde (esse repórter incluído)....

1994: Cândido, Toni, Alex Pochat, Jean Louis e Fábio
FC - É a hora da gente, mais que tudo, reconhecer que ainda existe “muita lenha pra queimar” nesse rock baiano. Estamos contentes em sair deixando um legado e sabendo que tem uma moçada afiada nos representando nacionalmente – é o caso desses dois convidados. E tem muita coisa legal acontecendo no rock da Bahia atualmente: Lo Han, Batrákia, pondo o hard rock de volta na roda, Irmão Carlos, Falsos Modernos, Semivelhos (Juazeiro), Circo de Marvin, Novelta (Feira), Ventura (Alagoinhas)... tanta coisa. Não temos do que nos queixar. Ainda tem o contexto de casas shows: Portela, Dubliners Irish Pub, Commons e outros espaços. Em 1992, quando começamos, era bem diferente. Esses espaços têm estrutura que não tínhamos. Há também uma comunidade em torno disso tudo, com designers, gente do audiovisual, fotógrafos, DJs, blogs, vlogs... Os tempos mudaram e o rock daqui acompanhou. Existem produtores e gente ligada a fazer o barco navegar mais longe. Salvador está conectada a um movimento maior, trazendo artistas e festivais para cá. Além disso, além da capital, o interior reflete estas transformações. Agora, o Cascadura deixa uma obra importante para a Bahia.

Você dedicou os últimos 23, 25 anos de sua vida a essa banda, contando Os Feios como seu embrião. Como é a sensação de fechar esse longo ciclo de sua vida? Passa um filme na sua cabeça?

FC – Posso dizer que estou muito tranquilo e feliz de chegar até aqui desse modo. Como disse, foi uma decisão bem pensada. Vários fatores pesaram. O principal é que tínhamos chegado a um ponto muito confortável: reconhecimento, obra, prêmios, história... Tem que saber a hora de parar também. Que mais poderíamos fazer? Outros discos? Ok! Semanas atrás, recuperei o HD do computador em que fiz a pré-produção do “Aleluia” – na verdade quem recuperou foi o Du Txai (guitarrista do Cascadura), durante o ano de 2010. Contei 47 esboços inacabados que não foram usados no disco! São esboços bem precários: sem letras, com trechos indefinidos. Poderia trabalhar esse material. Mas, o ciclo do Cascadura se fechou. E se fechou bem! Estamos terminando a banda num momento ótimo: ninguém brigou, não temos frustração alguma, sabemos quem somos! Daqui a dez anos vamos olhar pra cá e ver que o último álbum foi um disco duplo com 22 canções – que eu considero muito boas – falando da nossa terra. E de modo próprio, autoral e autentico. Mas, sobre esse anos de rock: eu estou realizado. Meu sonho de garoto tornou-se verdade!

Como você avaliaria os álbuns da banda hoje, descontadas possíveis deficiências de produção da época dos primeiros? Você tem um preferido, um que considere perfeito, um que gostaria de refazer se pudesse?

Fase Vivendo: Lefê Neto, Fábio, Thiago Trad e Martin Mendonça
FC- Pra mim é difícil fazer essa avaliação. Ainda mais nesse momento. Cada disco tem sua história, seu legado... São duas fases bem distintas: os dois primeiros discos, sob a produção e Nestor Madrid, foram uma escola e ele o mestre. Aprendi a cantar diante de um microfone, a respirar... Também aprendi a ouvir e a escrever melhor. Depois, entre 2002 e 2011, vieram os trabalhos com André T (e dois deles com a co-produção de Jô Estrada). Novo aprendizado e novos desafios. Não refaria nada, não. Tá tudo ali. Cada disco me traz orgulho por motivos particulares. Talvez eu devesse ter dado mais atenção aos momentos em que estes discos estavam sendo feitos. Eu (e de certo modo, eu e Thiago Trad) sempre tivemos um método pautado na obstinação: terminava uma produção, entravamos em outra. Praticamente não “curtíamos” ou comemorávamos aquilo que tínhamos acabado de realizar. Não tinha festinha e nem “champagne”! Era sempre “trabalho, trabalho, trabalho” e não podíamos “falhar”! Erámos muito cruéis conosco... E acho que tenho a maior parte da responsabilidade nisso. Eu via tudo como uma obrigação e acabava pressionando Trad ao limite. Com o tempo isso virou uma característica nossa. Hoje, eu certamente curtiria mais o momento, se pudesse voltar no tempo.

E quanto às várias formações da banda? Qual você destacaria como a mais significativa, aquela que resume a Cascadura? Qual o valor das contribuições de cada uma delas?

FC – Essa coisa de “banda mutante” foi louco e foi bacana! Pela banda passo gente muito boa. Posso dizer que só passou músico de primeira. Foram fases e transformações. Tive vários parceiros notáveis. Paulinho, Flash, Pochat, Toni Oliveira, Martin... Mas, sem Thiago Trad a trajetória do Cascadura teria sido bem mais breve. Por isso, acho que essa dupla – eu e Trad – marca a mais produtiva formação da história da banda. Seja em parceria com Martin e LF, com Jô e André, com Dimitri (produtor) ou junto com Cadinho e Du Txai, com quem temos tido bons momentos. Acho que é o esquema mais marcante.

Você sempre foi um grande compositor de canções, de singles. Mas, até por serem de um mesmo autor, elas acabavam fechando álbuns muito coesos (exceção ao Aleluia, pensado desde o início como álbum conceitual). Olhando para trás agora, qual você diria que foi o grande tema da Cascadura? Amor, amizade, o rock 'n' roll em si, Salvador? Ou tudo isso junto?

Fase Bogary: Cândido, Fábio, Tiaguinho Aziz e Thiago. Foto Ricardo Prado
FC- Me honra ser reconhecido por isso. O exercício da canção está em mim desde os 13 anos de idade. Com quatorze, formei a primeira banda (valendo!). Ao longo do tempo fui aprendendo sobre isso: contar histórias por meio da música. Veja: em “Caim” (do Bogary) eu trato da inveja, me colocando no lugar do personagem título. A inveja é algo muito humano e todo mundo de diz que não tem. Quando alguém assume que tem, vem com aquele papo de “inveja boa”... “Inveja boa” é cacete! Hahahahaha!!! Dê outro nome. Pois acho que fazer música é muito uma análise de si próprio. Quando fiz essa canção, acho que estava me sentindo injustiçado pelo “Vivendo em Grande Estilo” não ter atingido o sucesso que (eu achava que) merecia. Hoje vejo que isso não foi necessário para ele deixar a marca como um grande disco. Ele é um grande disco! Talvez não exista um grande tema, na obra do Cascadura. Ao menos, não consigo identificar. Acho que talvez a natureza do que somos permeei o conjunto das canções. Por isso, nós mesmos somos a matéria prima das narrativas. Como somos iguais a todo mundo, todo mundo acaba se identificando com essa ou aquela canção.

Ao contrário de Raul Seixas, Camisa de Vênus e Pitty, que se estabeleceram no eixo Rio-SP, lá ficaram e tiveram sucesso assim, a Cascadura foi e voltou. A banda precisava de Salvador para manter (e desenvolver) sua identidade? É bom lembrar que foi na volta que vocês fizeram o baianíssimo (e portanto universal) Bogary.

Cascadura final: Cadinho, Thiago, Fábio e Du Txai. Foto Giva's Santiago
FC – Se não fossemos da Bahia, não seriamos o Cascadura. O lance de termos ido (morar e São Paulo) e voltado, como disse em um texto, “foi o cadafalso das ilusões” para nós. Foi importante, sim. Mas foi mais pela oportunidade de nos conhecermos e nos reconhecermos como soteropolitanos e baianos que qualquer outra coisa. Sou grato a Sampa por isso! Até ali, queríamos ser universais. Acho que já erámos. Porém, foi a perspectiva que tivemos da cidade, estando fora e dela, que passou a nos valorizar mais por estarmos lá, que consolidou esse processo de afirmação da nossa construção. Você pode nascer aqui e não ser ou nãos e sentir baiano. Isso é uma construção que fazemos ao longo da nossa trajetória. O mesmo vale para qualquer pessoa de qualquer lugar. No entanto, não é possível negar aquilo que você traz intimamente consigo. O “Bogary” foi a etapa fundamental desse exercício. Ali abrimos nosso alçapão interno. Saiu a saudade, a frustração, a inveja, os medos... Mais que um disco corajoso, foi um desabafo da zorra! Hahahahahaha!!!! E foi tenso, doloroso compor isso tudo. Mas enquanto gravávamos, com André T e Jô amparando tudo isso com bom humor e amizade e ao mesmo tempo, com Thiago reafirmando sua disposição em dividir aquele peso todo, a poeira foi baixando e me senti confiantemente baiano. O passo seguinte seria discutir e entender as contradições e os contrastes inerentes à Bahia. Foi o que tentamos fazer no Aleluia. Eu adorei o resultado.

É verdade que você vai embora do Brasil? Pretende continuar fazendo música? Pode falar um pouquinho de seus planos?

FC – É verdade, sim. Isso faz parte de um processo na minha vida. Era um projeto antigo de Tici (com quem Fábio é casado), de antes de nos conhecermos e que foi ganhando força por uma série de circunstancias. Eu entrei no relacionamento sabendo desse desejo dela, acabei aderindo e estou contente por tê-lo feito. Sempre estarei aberto às possibilidades no meio das artes. Tenho me mantido em contato com algumas pessoas lá fora. Mas tenho que chegar e ver o que vai acontecer. A vida de imigrante é difícil. Existe um processo de adaptação. Quero poder seguir nos estudos da História, que tem sido o rock’n roll dessa fase da minha vida. Um grande amigo meu, de Nova Yorke, e que morou aqui na Bahia por algum tempo, Bob Gaulke, diz que “ser músico brasileiro no exterior é melhor que ter um ‘green card’”. Hahahaha!!! Tomara!

O que você gostaria de dizer neste momento aos fãs que acompanharam a banda - sejam velhos fãs do início, sejam os fãs mais recentes? O que você gostaria que eles soubessem, mas nunca falou?

FC – Não existe um epitáfio para a banda. Foi um processo muito rico. Devo tudo que sei a essa experiência mágica de viver na música. Minhas amizades, meu relacionamento com minha amada, minha história... Tudo é fruto do Cascadura. Toquei nos maiores e melhores palcos do Brasil e nos menores e mais animados também. Nada mal para um garoto pardo, surdo de um ouvido, que enquanto crescia no Largo do Tanque, que passou a sonhar em ter uma banda de rock depois de ter escutado “A Collection of The Beatles Oldies”. Acho que ofereci o melhor que tinha em mim para que a música ficasse bonita. E contei com o apoio e a imprescindível colaboração de pessoas generosas, sem as quase isso não seria possível. Bem, já disse o que tinha que dizer com a banda. Mas, agora, um “Muito obrigado!” vai bem!