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terça-feira, setembro 01, 2015

PARTE DE PROMISSORA CENA EMERGENTE, A HAO É PSICODÉLICA E TRANSCENDENTE

Amanhece no Rio Vermelho. HAO is in the house, bitch. Foto Iza Pinheiro
Salvador, uma cidade alucinante (no bom e no mau sentido - mais no mau, mesmo) tem visto ultimamente uma safra de bandas com forte influência psicodélica, como Van Der Vous, Teenage Buzz (ambas já vistas nesta coluna neste blog) e HAO, que é essa rapaziada na foto aí do lado.

No sábado passado, o quarteto lançou seu segundo EP, A Imoralidade das Rosas, em show no Dubliner’s, com a já citada Van Der Vous e Os Jonsóns, que também trafega neste circuito, dentro do NHL Festival, promovido pela revista underground Nihil, apoiadora de primeira hora desta  cena.

A primeira vista (ops, audição), a HAO é quase um revival do grunge noventista mais pesadinho, linha Soundgarden / Alice In Chains, mas a medida que o som vai avançando, nota-se outras influências, tanto atuais, quanto mais antigas: “Com certeza o Tame Impala tem sido uma grande influência em termos de psicodelia, mas não diria ser o motivo causador da nossa”, observa o vocalista Rodrigo Reis.

“Outros sons também se somam a essa aura, como os atuais Sleepy Sun, Mini Mansions e o mais recente LP do The Flaming Lips, The Terror, assim como todo o experimentalismo setentista  psicodélico e progressivo, como  Jethro Tull e Yes, à música ambiente, de sintetizadores analógicos e afins, como o Tangerine Dream e o grandessíssimo Robert Rich”, acrescenta.

Como se pode perceber pelo jorro de referências, os meninos não são fracos, não.

Transcendência, sapiência 

Dono de discurso tão psicodélico quanto sua música, ele crê que “vivemos emergentes tempos de quebra de paradigmas, de ressignificação de conceitos, de destruição e reconstrução filosófica e científica, de transcendência da sapiência humana. A psicodelia surge como reflexo da evolução, como consequência, como meio e também como fim”.

Parte integrante de uma cena emergente que já se configura como a mais interessante do rock local desde os anos 1990, Rodrigo é otimista: “Fomentadores como Big Bross, Brechó Discos, Rogério Gagliano, Irmão Carlos, Cairo Melo (NHL Produções), entre outros, e donos de casas como o pessoal do Dubliner’s Irish Pub – Messias Figueiredo e Roland Hollos – têm assumido a honrada responsabilidade de levar tudo isso aqui adiante”, diz.

Ao lado de Pedro Leonelli (guitarra), Pedro Canuto (baixo) e Igor Quadros (bateria), Rodrigo planeja levar o show da HAO para o interior do estado e além: “Temos planos de tocar em Alagoinhas, possivelmente em Feira de Santana e Lauro de Freitas. Correremos atrás de shows e festivais também fora daqui, como em Sergipe, Paraíba e outros estados nordestinos. Estamos totalmente abertos às possibilidades de expansão de fronteiras e trabalharemos para isso. A HAO pode ser uma banda nova, mas já ansiamos pelo mundo. E ele que nos aguarde”, avisa o músico.

Ouça: www.facebook.com/haoband

ENTREVISTA COMPLETA: RODRIGO REIS

Breve histórico: como os membros se conheceram e formaram a banda: eram colegas de escola, da rua, do rock? Já tiveram outras bandas? 

A HAO sábado passado, no Dubliner's. Foto: Pedro Maia
Rodrigo Reis: Na realidade, a formação atual da HAO já é a sua terceira. Da formação inicial, só restamos eu e Pedro Canuto (Baixista). Éramos colegas de colégio, do Vieira, onde desenvolvemos o interesse de tocar juntos. Dos gostos musicais em comum, surgiu a ideia de aprofundarmos um pouco mais as Jams de escola, transferindo-as para estúdio. Sondamos alguns conhecidos na época, meados de 2012, e formamos uma banda, até então sem nome, sem quaisquer pretensões, a não ser de fazer um som com amigos aos finais de semana. Começamos, basicamente, tocando músicas dos Red Hot Chili Peppers, desde as mais antigas, da década de 80, até as mais conhecidas, dos anos 2000. De tanto absorver essa musicalidade, foi chegado o momento de pô-la para fora. Foi assim que compus as primeiras músicas da banda, como Popeye, Filthy Box e Blue Man (esta última em parceria com João Nuno, o então baixista). À medida em que ensaiávamos, apenas crescia a necessidade de produzir algo original, que apetecesse de forma mais plena aos anseios dos ouvidos e da alma. A partir dessa súplica e da influência de outros sons, como do Rage Against The Machine e Funkadelic, foi formando-se aos poucos a HAO e o seu primeiro EP, Apache Groove. No final de 2013, João Nuno se despediu da banda e Canuto (então guitarrista) assumiu o baixo, abrindo espaço para que Pedro Leonelli, então amigo de Canuto e conhecido dos demais, assumisse a guitarra, posição a qual mantêm até hoje com excelência. Foi em janeiro de 2014 que tivemos a notícia de que João Gabriel (Biel), então baterista, se mudaria para São Paulo para cursar Produção Musical. Assim, concretizou-se o primeiro EP, da necessidade de ter em mãos o material que vínhamos produzindo nos então 2 anos de banda, que poderia simplesmente evaporar-se com a saída de Biel, caso não fosse registrado. Gravamos o Apache Groove, de forma bastante direta, crua e honesta e demos início à caminhada em cima dos palcos, ainda com amigos, vez ou outra, quebrando galho na bateria, até encontrarmos Igor Quadros, atual baterista, conhecido também da época de Vieira, hoje acréscimo essencial para a sonoridade que vimos alcançando.

O som lembrou muito bandas grunge dos anos 1990, como Soundgarden e Liquid Jesus, entre outras. Foi nessa fonte que vocês beberam mesmo? 

RR: A aproximação com o grunge e gêneros adjacentes começou com influências como o Rage Against The Machine – principalmente - e, obviamente, Nirvana. Do Rage, tive contato com o som do Audioslave, superbanda dos anos 2000, cuja formação era, “basicamente”, os vocais absurdos de Chris Cornell do Soundgarden – grande influência pessoal – adicionados ao instrumental raivoso do Rage Against The Machine, encabeçado pelo grande Tom Morello. Como uma coisa leva a outra, acabei absorvendo também parte da musicalidade do próprio Soundgarden e de seus contemporâneos, como Alice In Chains, Kyuss e como, o já então conhecido, Primus – estes também, mas em proporções diferentes, influências dos outros integrantes da banda, em termos de peso.

HAO Foto Iza Pinheiro
Salvador tem visto uma nova leva de bandas de rock com influências claramente psicodélicas, como vocês, Van der Vous, Teenage Buzz (tem mais, mas agora não me ocorre). Por que isso, agora? Tem a ver com o surgimento do Tame Impala, Midlake e outras bandas nessa linha lá fora também? 

RR: Com certeza o Tame Impala tem sido uma grande influência em termos de psicodelia, mas não diria ser o motivo causador da nossa. Não exatamente. Acho que a psicodelia sempre esteve presente, mesmo que ainda como um embrião filosófico, que agora começa a se aflorar mais, em nós, em forma de música. Talvez esse afloramento esteja sendo acelerado e amparado pelo aparecimento dessas bandas e consequente reabertura de espaço e visibilidade à música psicodélica no mundo, mas acho que está mais relacionado à evolução sensitiva e intelectual pessoal a um nível transcendental. É algo que emana – e sempre emanou – de nós, internamente, com potencial para romper com as barreiras do corpo – leia-se estrutura física genérica, também musicalmente falando. Vem de uma força caótica e incontrolável de criar movimento, de instigar a mente e os sentidos, de conectar-nos todos através da arte, da música, das frequências, das ideias, de uma forma que é melhor entendida e absorvida, por sua profundidade e infinitude, se acontecer através da psicodelia, justamente, também, porque a psicodelia tem a capacidade de representar todo o potencial gigantesco de comoção que é próprio da música em si. Essa ideologia é perfeitamente compreensível se lembrarmos do Pink Floyd, influência mais que essencial em todo esse processo. Outros sons também somam a essa aura, como os atuais Sleepy Sun, Mini Mansions e o mais recente álbum do The Flaming Lips, The Terror, assim como todo o experimentalismo setentista, do Rock Psicodélico e Progressivo, como do Jethro Tull e Yes, à música ambiente, de sintetizadores analógicos e afins, como o Tangerine Dream e o grandessíssimo Robert Rich. E, por isso, tudo, agora. Porque vivemos emergentes tempos de quebra de paradigmas, de ressignificação de conceitos, de destruição e reconstrução filosófica e científica, de transcendência da sapiência humana. A psicodelia surge como reflexo da evolução, como consequência, como meio e também como fim.

Como está o cenário de shows e bares para tocar na cidade? Rola muita dificuldade para tocar? 

Ei, Rodrigo também toca sax! Foto Pedro Maia
RR: Na verdade, não. Apesar de Salvador ter fama de ser uma cidade pobre para o Rock e música alternativa, na realidade têm-se aberto um espaço muito importante e significativo para essa cena. Basicamente, não vê quem não quer. Fomentadores como Big Bross, Brechó Discos, Rogério Gagliano, Irmão Carlos, Cairo Melo da NHL Produções, entre outros, e donos de casas como o pessoal do Dubliners Irish Pub – Messias Figueiredo e Roland Hollos - têm assumido a honrada responsabilidade de levar tudo isso aqui adiante. E as oportunidades existem, é preciso estar atento e disposto a encará-las. Nós estamos e percebemos uma safra grande e crescente de artistas encarando essa realidade com mais ímpeto, não só em Salvador, mas em toda a Bahia. É só uma questão de tempo para que essa visão pequena do cenário soteropolitano e baiano caia por terra, porque as medidas para isso estão sim sendo tomadas e são perceptíveis para quem tem olhos.

Com o CD lançado, quais os planos da banda? Shows no interior, fora da Bahia e tal? 

RR: Depois de um excelente show de lançamento do novo EP, “A Imoralidade das Rosas”, no Dubliners, pretendemos sim e já estamos em articulação para levar o nosso som para além da capital. Temos planos de tocar no interior da Bahia, como em Alagoinhas, possivelmente em Feira de Santana e Lauro de Freitas, entre outras cidades, em breve. Correremos atrás de shows e festivais também fora daqui, como em Sergipe, Paraíba e outros estados nordestinos. Estamos totalmente abertos às possibilidades de expansão de fronteiras e trabalharemos para isso. A HAO pode ser uma banda nova, mas já ansiamos pelo mundo. E ele que nos aguarde.



NUETAS

Thiago Trad convida

O Quanto Vale o Show? de hoje tem o Bahia Experimental, do baterista Thiago Trad (Cascadura, Bailinho de Quinta). Ele convida DaGanja, Caveira (Lisergia), Tati Trad, Cadinho Almeida, Pedro Degaut e Enio. Hoje, Dubliners, 20 horas, pague quanto quiser.

Wander Wildner X4 X3

Wander Wildner volta a Bahia em miniturnê: Salvador (quinta-feira), Feira de Santana (sexta), Alagoinhas (sábado) e Camaçari (domingo). O mestre divulga o oitavo CD, Existe Alguém Aí?. Por aqui o show é no Dubliner’s, com Os Jonsóns e o DJ Bruno Aziz. 22 horas, R$ 20.

Cascadura no teatrão

A Cascadura faz mais um show (em grande estilo) da sua série de despedida: é o Laboratório Acústico na  Sala Principal do Teatro Castro Alves, no projeto Domingo no TCA. Domingo, 11 horas R$ 1.

3 comentários:

  1. já fui o novo do woody?
    querendo ver essa semana...de todos q ele fez (até um pra tv) só num vi os 2 últimos...

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  2. Ainda não vi, Sputter.

    Na verdade, tô mais curioso para ver o Expresso do Amanhã, que é baseado num quadrinho de FC que resenhei há algum tempo, O Perfuraneve. Tb tá em cartaz.

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  3. KING.

    http://www.comicsreporter.com/index.php/jack_kirby_the_king_of_comics_would_have_been_98_today/

    Jack Kirby, o Rei dos Quadrinhos, faria 98 anos hoje. Para comemorar, esse site reuniu 98 imagens que demonstram a genialidade do desenhista.

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