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quinta-feira, agosto 20, 2015

O LIMITE DO 'PRAFRENTEX'

Teatro: Portuguesa Maria de Medeiros e carioca Laura Castro trazem a cidade peça que discute a questão das novas famílias

Maria em Cannes. Foto Geroges Biard / CC
Atriz portuguesa de maior destaque mundial, a lisboeta Maria de Medeiros está em Salvador para apresentar ao público baiano a peça Aos Nossos Filhos, na qual contracena com a própria autora do texto, a carioca Laura Castro. A direção é de João das Neves.

A peça terá oito sessões no pequeno teatro da Caixa Cultural, esta semana e na próxima, de sexta-feira a domingo, sendo que no sábado são duas sessões – a preços populares (detalhes no serviço).

No palco, Maria e Laura interpretam, respectivamente, mãe e filha. A segunda conta que terá um filho – só que pela barriga da companheira.

E aí a  mãe, uma veterana da luta armada contra a ditadura, guerreira das causas sociais, se defronta, a partir daí, com os seus próprios preconceitos.

Em entrevista exclusiva, concedida no Gabinete Português de Leitura, Maria afirmou que a peça “não é só sobre a questão da mulher na sociedade, e sim, sobre novas formas familiares e de se relacionar com cônjuges e ter filhos”.

“A peça trata dos preconceitos de cada geração. Mesmo a mãe super prafrentex, que foi de todas as lutas, os tem de alguma forma. E a filha é mais careta do que a mãe, mas tem aí um limite que a mãe não consegue vencer”, conta.

“Ela se encontra com o próprio preconceito, com o limite de sua abertura de espírito, por que ela também esperava uma descendência ‘nos cânones’. E o que a filha leva a peça toda para explicar é que ela oferece uma descendência, mas de outra forma”, acrescenta.

Série de coincidências

Maria e Laura Castro em Aos Nossos Filhos
Aos Nossos Filhos vem sendo apresentada em diversas capitais desde 2012, tendo passado por Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Lisboa.

E ela não acaba quando sair de cartaz: em 2016, Maria dirigirá um filme, coprodução Brasil - Portugal, baseada na peça – só que com Marieta Severo no papel da mãe.

”Curiosamente, a Laura tinha pensado na Marieta para a peça, até por que ela corresponde muito mais ao papel, por tudo que ela viveu – mas aí ela não pôde”, conta Maria, que também é cantora e foi levada ao projeto por uma série de coincidências.

Em 2013, ela lançou Repare Bem, um documentário sobre o caso de Denise Crispim, que teve marido e filho torturados e mortos pela ditadura militar no Brasil.

“Aí a Laura soube do Repare Bem  e ainda ouviu minha versão da música que dá título a peça (Aos Nossos Filhos, de Ivan Lins e Vitor Martins). Ela percebeu que estávamos falando sobre as  mesmas coisas. Aí me mandou a peça, que eu li e achei que tinha tudo a ver”, relata.

“Agora, atrás da câmera, eu acho um processo muito bonito e natural que o papel volte para a Marieta”, afirma.

“Vai ser diferente, por que ela vai trazer outros aspectos da personagem. Mas isso é que é lindo no teatro: o mesmo papel pode ser abordado por atrizes diferentes, com perspectivas muito diversas”, diz.

Em tempo: o sotaque de Maria é bem leve e ninguém terá dificuldade de entende-la.

Aos Nossos Filhos / Com Maria de Medeiros e Laura Castro / de amanhã até domingo e de 28 a 30 de agosto, às 20 horas (sexta-feira), às 17h e às 20h (sábado) e às 19 horas (domingo) / CAIXA Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro) / R$ 8 e R$ 4 / vendas: bilheteria da CAIXA Cultural, a partir das 9 horas do primeiro dia de apresentação, exclusivamente para as sessões da semana / 16 anos

ENTREVISTA COMPLETA: MARIA DE MEDEIROS

Muito oportuno essa peça neste momento, quando você interpreta uma mulher que lutou contra a ditadura, temos uma presidente que fez o mesmo e, por incrível que pareça, temos também manifestações nas ruas pedindo a volta da ditadura. Como a senhora, como estrangeira próxima ao Brasil, vê este momento tão caótico?

Maria de Medeiros: Vejo com preocupação, por que sou apaixonada pelo Brasil há muito tempo. E o fato da Laura me propor essa peça já foi um conjunto de coincidências que me surpreendeu muito. Eu tinha acabado de dirigir um filme, o Repare Bem, que foi premiado em Gramado, que me foi proposto pela Comissão de Anistia e Reparação, e no filme, eu retrato a história de uma família onde só a mãe e a filha sobreviveram, mas os homens foram mortos em circunstâncias monstruosas, terrivelmente torturados e assassinados pelo militares, e nesse filme já tem essa temática, além da relação mãe e filha. E ainda tem outra coincidência: em homenagem a elas, eu escolhi cantar essa canção tão bonita do Ivan Lins e Vítor Martins, chamada Aos Nosso Filhos, que é uma carta dos pais para os filhos, diante de um contexto de luta pela liberdade em que os pais pedem desculpas pela ausência. Mas, mesmo fora de qualquer contexto politico, sempre há boas razoes para pedirmos desculpas aos nossos filhos, por que erramos muito. Em todo caso, essa canção já estava na minha vida, aí aparece essa peça com essa temática que eu vinha abordando há tempos. Achei que era um sinal que eu deveria aceitar essa aventura, essa proposta. E depois de ter trabalhado em várias projetos sobre a violência que foi essa ditadura aqui, qualquer um fica muito perplexo quando ouve que há minorias, mas ainda assim, que fazem apelos a uma ditadura militar, fica parecendo que tanta luta, tanto sofrimento foi em vão. E apesar de tudo, o fato de podermos protestar hoje significa que vivemos em uma democracia, um direito adquirido por quem deixou a pele, a alma e a vida nessa luta.

Repare Bem (2013) - Trailer from Pedro Jorge - "Cabron" on Vimeo.

Vejo que a senhora vai dirigir um filme baseado nesta peça, só que com Marieta Severo no seu papel. Como é esta transferência de papeis entre a senhora e Marieta?

MM: Curiosamente, a Laura tinha pensado na Marieta para a peça, até por que ela corresponde muito mais ao papel, por tudo que ela viveu – mas aí ela não pôde. Aí a Laura soube do Repare Bem  e ainda ouviu minha versão da música que dá título a peça. Ela percebeu que estávamos falando sobre as  mesmas coisas. Aí me mandou a peça, que eu li e achei que tinha tudo a ver. Agora, atrás da câmera, eu acho um processo muito bonito e natural que o papel volte para a Marieta. Vai ser diferente, por que ela vai trazer outros aspectos da personagem. Mas isso é que é lindo no teatro: o mesmo papel pode ser abordado por atrizes diferentes, com perspectivas muito diversas

Maria em Pulp Fiction (1995), deitando e rolando com Bruce Willis
A senhora se tornou mundialmente conhecida trabalhando em filmes de grandes diretores de Hollywood, como Philip Kaufmann e Quentin Tarantino. Mas desde então vemos que senhora só tem filmado na Europa. Por que?

MM: Eu achei super divertido trabalhar em Hollywood, gostei muito, mas nunca tive assim, um 'sonho americano'. Gostei como experiência, mas nunca considerei a possibilidade de me instalar lá nesse sistema, por que me identificava mais com a Europa. E também tinha um grande sonho, que era fazer meu filme, Capitães de Abril. Foram treze anos de luta e insistência. Acho que me deixaram fazer por que já estavam tão fartos de minha insistência (risos). Nessa altura, para mim, era essa a prioridade, não era ficar lá (nos EUA). Mas adorei a experiência, e tive muita sorte de ter trabalhado com artistas tao interessantes e criativos.  O Tarantino, eu acho extraordinário, e ele, naquela época, já tinha essa consciência de que é genial, ele sabia que o espetáculo era ele também.



A senhora também dirigiu um filme sobre o fim da ditadura em Portugal, Capitães de Abril e um documentário sobre a ditadura no Brasil, Repare Bem. Eles se complementam? É uma continuação de um pensamento seu?

MM: Certamente, é uma continuação de um pensamento meu, apesar de terem formas muito diferentes, o Capitães é uma ficção, ainda que muito fiel aos dados históricos e as perspectivas dos militares. Eu fui muito fiel aos acontecimentos históricos vividos pelos militares, mas é uma ficção, um filme de guerra, foi tudo muito dirigido como um filme de guerra. Já o Repare Bem é um documentário de depoimentos, está a serviço das pessoas entrevistadas, não tem efeitos especiais, nem nada, é despojado. Mas do ponto de vista da perspectiva e do pensamento, tem a ver um com o outro, sobre essas ditaduras dos dois lados do Atlântico.

A senhora também é cantora. Eu procurei videos seus no You Tube e te vi cantando Chico Buarque e no próximo, The Clash. Mas quem influenciou a senhora enquanto cantora?

MM: (risos) Olha, só virei compositora muito recentemente, e quase envergonhada por que sou filha de um grande maestro e compositor de Portugal, e minha irmã Ana de Medeiros também é compositora, então eu fico meio inibida de compor algumas cançõezinhas, mas me considero mais intérprete, e o que tento trazer é o flerte entre teatro e música, até por que já fiz bastante musical também, com dança e tudo. Eu gosto dessas áreas onde essas artes dialogam e as fronteiras se perdem.



A senhora já apresentou esta peça em outras cidades do Brasil. Nota alguma diferença na recepção do público de cidade para cidade?

MM: É o terceiro ano que fazemos esta peça. Passamos por Brasília, Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Lisboa e agora, finalmente, Salvador. Mas não noto muita diferença nas recepções dos públicos de cada cidade. As vezes, a sala determina a diferença. Já fizemos em salas muito grandes, com o Tuca, (SP) de 800 lugares. E aqui, que é uma sala bem pequena. Eu penso que isso é melhor para peça, pois quando a fazemos em lugares grandes demais, se perde um pouco de intimidade. A peça é uma conversa entre mãe e filha e o público é convocado para esta conversa. O  que é muito interessante na peça é que as personagens são muito inteligentes e ambas tem muitos bons argumentos. Você ouve uma e diz: 'ah tem razão'. Aí você ouve a outra e diz 'ah, ela também tem razão'! É como uma conversa que o público vai seguindo.

A mulher tem assumido cada vez papeis de protagonismo na sociedade, mas a senhora sente que há um retrocesso também, um avanço conservador homofóbico e misógino em curso?

Maria e Laura na peça que estreia em Salvador
MM: Sim com certeza, é evidente que a mulher está assumindo mais protagonismo, apesar da misoginia ambiente no mundo inteiro. Mas felizmente, as mulheres estão com mais força na sociedade, e o que acho interessante é que a peça trata dos preconceitos que cada geração, de alguma forma, tem. Mesmo com uma mãe super 'prafrentex', por que foi de todas as lutas, lutou a vida toda contra preconceitos raciais, na defesa da mulheres, por justiça social e ainda hoje é engajada por crianças soropositivas, e de alguma forma, a filha é mais careta do que a mãe. Mas tem aí um limite que a mãe não consegue vencer, ela se encontra com o próprio preconceito, com o limite de sua abertura de espírito, por que ela também esperava uma descendência 'nos cânones'. E o que filha leva a peça toda para explicar é que ela esta oferecendo uma descendência, mas de outra forma. É muito interessante como cada geração tem suas lutas, não é só uma questão da mulher na sociedade, e sim, a de novas formas familiares e de se relacionar com cônjuges e ter filhos. E o filme vai ser ainda mais sobre as várias formas de filiação que não é só a 'standard'.

Como está o cinema em Portugal? No Provocações, a senhora disse que esperava-se uma nova lei. Houve algum avanço? A gente quase não vê filmes portugueses por aqui.

MM: Tenho muita gratidão a Mostra de SP, por que sempre tem olhar para o cinema português. Na verdade, ainda há muita gente boa fazendo cinema interessante em Portugal, apesar das dificuldades. A máquina vai funcionando devagar, mas a criatividade está lá, felizmente.

Aqui no Brasil quase não conhecemos a música e o cinema de Portugal. A senhora arrisca alguma opinião sobre o por que disso? Será o sotaque, que os brasileiros tem dificuldade de entender?

MM: Mas é verdade, o brasileiro não entende o sotaque português. Mas penso que não só tem essa dificuldade em nos entender, mas é que é muito difícil exportar cultura, e um peixe pequeno como Portugal... Isso precisa vir de uma vontade política. Eu vivo na França, e lá eles tem uma política cultural interna e externa, o estado francês ajuda a promover muito de sua cultura, já o governo português, não, é um grande trabalho. Ainda assim, tem muitos fadistas portugueses bem conhecidos aqui no Brasil.

4 comentários:




  1. http://portaldoamazonas.com/evangelicos-urinam-e-depois-queimam-imagem-de-nossa-senhora-na-regiao-de-cajazeiras



    Evangélicos urinam e depois queimam imagem de Nossa Senhora na região de Cajazeiras

    “Mijaram em cima da imagem, jogaram gasolina e queimaram Nossa Senhora. Dizem que os católicos estão condenados ao inferno”. Lastimou o padre.



    O religioso destacou também a preocupação das mães, pois as crianças estão sendo taxadas de que estarem “condenadas ao inferno”.

    O padre disse que essas declarações são feitas por evangélicos até nas escolas, e isso está deixando os católicos constrangidos e as crianças amedrontadas. “Estão fazendo a cabeça das crianças para repudiarem Nossa Senhora”.

    Querino denunciou ainda que estão pichando as paredes da igreja com palavrões. “Estão também chamando os católicos de baratas pretas”.

    Segundo o padre, as pessoas que estão fazendo esse tipo coisa pertencem a igreja dirigida por Luiz Lourenço, mais conhecido por Pastor Poroca. Ele informou que não procurou a polícia para denunciar o caso.



    Amém.

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  2. http://br.noticias.yahoo.com/janot-denuncia-eduardo-cunha-ao-stf-por-corrup%C3%A7%C3%A3o-e-lavagem-de-dinheiro-195730388.html

    148 anos...num pega um...se fosse negro e "de menor"...queriam amarrar no poste...vi um conhecido dizer q cunha era o novo herói da direita...q esquecessem aécio e blblabla...sendo que o carinha é gay...e cunha homofóbico...contra o casamento gay...kd um tem o herói q merece...e o brodim ainda diz q tb é contra casamento gay e etc...vai entender...enfim...tb sou contra casamento...essa invenção maluca que inventaram...mas tem gente q gosta...e se dá bem...mas não é pra todo mundo...e "a sociedade" e a religião querem impor pra tod@s!

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  3. Chico...seu yahoo tb tá todo cagado???
    eles mudam a porra pra uma coisa bacana e quando vc se acostuma...eles mudam de novo...acho q vou migrar de vez pro gmail...

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  4. Meu Yahoo tá o mesmo de sempre, Sputter. Naturalmente cagado... Business as usual. Estranho.

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