Michelle. Fotos de Fábio Abu. |
Arnaldo Antunes, Ira!, Baby do Brasil, Zeca Baleiro, Wanessa Camargo, Lobão, Edgar Scandurra e a lista não para.
Neste momento, Michelle empresta seu talento de multi-instrumentista para Márcia Castro, Palavra Cantada (projeto de Paulo Tatit e Sandra Peres), Maria Alcina e Mercenárias.
Em paralelo, a musicista de 36 anos assume a frente do palco, cantando e tocando guitarra em seu próprio projeto solo, com o qual lançou há pouco tempo seu primeiro álbum, intitulado apenas #1.
Candidamente deitada no gramado da casa dos seus pais no litoral norte para uma sessão de fotos, Michelle lembra que tudo começou por ali mesmo, nas férias de verão dos anos 1990.
“Só dava o povo do rock por aqui naquela época”, diz.
“Na rua mais abaixo morava Emerson Borel, guitarrista da Úteros Em Fúria. Mais para cima era a casa de Cândido Soto, guitarrista do Cascadura. Ali mais adiante ficava Leo Preto, que era da Dois Sapos & Meio. Cara, só dava nóis aqui”, ri Michelle.
Ela lembra que foi Emerson (morto em 2004), quem a ensinou os primeiros acordes ao violão: “Ele me ensinou a tocar Patience (Guns ‘n’ Roses), músicas do The Doors e tal”.
Até aí era tudo pela diversão, “hobby”. Logo estava integrando uma banda só de garotas, a Dendecumjah, que em sua meteórica passagem pela cena se apresentou no festival mais importante da época, o Garage Rock (1998), entre outros palcos.
Detonação no Kasebre
”Aí um dia Fernanda, guitarrista da banda As Meninas (que revelou Carla Cristina) me chamou para fazer som em barzinho. Daqui a pouco, soube que Neguinho do Samba estava fazendo testes para baterista na banda Didá. Passei”, relata Michelle.
“Aí foi, comecei a tocar mesmo, como profissional. Era show em São Paulo, Brasília, compra instrumentos”, conta.
Uma coisa foi levando a outra. Um belo dia Michelle se viu excursionando mundo afora com o músico avant garde italiano (radicado no Brasil) Aldo Brizzi.
“Tocamos no Fórum Social Mundial de 2004 em Mumbai, na Índia, depois fizemos alguns shows pela Europa”, conta.
“Até aí, tudo bem. Eu ainda morava aqui em Salvador. Pegava onda, andava de bike. Aí Candida (cantora da Dendecumjah) me ligou e disse que estava indo para São Paulo, tentar carreira solo”, relata.
Animada, Michelle acompanhou a amiga como baterista. Logo estava abrindo show do RPM.
“Numa dessas, conhecemos Bocato, trombonista muito requisitado na cena de lá. Através dele, conseguimos abrir um show do Ira! no Kasebre”, diz.
“Cara, você conhece o Kasebre? É um puta reduto roqueiro histórico da Zona Leste, dá umas sete mil pessoas. Chegamos lá, casa lotada. Pirei. No que nos anunciaram como ‘banda baiana’, foi uma vaia só”, relata.
“Aí entramos detonando, Candida cuspindo na plateia e tal. Conquistamos a galera e acabou que foi ótimo o show”, lembra, visivelmente contente.
Identidade roqueira
A detonação no Kasebre impressionou um certo guitar hero. De volta a Bahia, toca o telefone.
“Era Edgar Scandurra. Achei que era trote. Aí ele diz: ‘Michelle, vamos gravar o Acústico MTV do Ira! Quer fazer um teste’”?
Sem pestanejar, Michelle enfiou tudo o que era seu em um carro, o carro em um caminhão cegonha e partiu de volta à capital paulista.
“Gravei o Acústico e depois foram três anos seguidos de turnês e shows com o Ira!. 2004, 2005, 2006. Aí eu saí”.
Não por muito tempo, pois logo Scandurra voltou a convocar Michelle para seu projeto solo, o Benzina.
“Nesse trabalho conheci a Sandra Coutinho, líder das Mercenárias (clássica banda punk paulista). Aliás, te contei que também sou baterista das Mercenárias?”, lembra.
Depois disso, Michelle se estabeleceu de vez em São Paulo, atuando ora como percussionista, ora como baterista para inúmeros artistas e bandas.
“Olha, posso fazer qualquer coisa para qualquer artista. Mas minha identidade mesmo é rock”, afirma a musicista.
Em busca de extravasar essa identidade, Michelle iniciou em 2012 o projeto solo que desembocou no álbum que acaba de lançar.
Um amigo, o produtor cultural Alê Khalil cuidou de inscrever o projeto no PROAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, enquanto outro amigo, o produtor e baixista baiano Cássio Calazans começou a gravar o trabalho com ela.
“Ele gravou todos os baixos e eu, todas as baterias, percussões, violões e vocais. Edgar cantou e gravou em uma faixa, Desespero. E Arnaldo Antunes me deu uma letra, a da faixa Gangorra”, conta Michelle.
De sonoridade rica e diversa, orgânica e visceral, # 1 traz como destaque a voz ainda jovem de Michelle passeando entre texturas de psicodelia, cordas e alguma intervenção eletrônica. Uma bela estreia.
Na capa, a artista aparece deitada em uma banheira de pipoca. Adepta do candomblé, ela jura que foi coincidência. “Foi sugestão de Cássio e do meu irmão, (o fotógrafo) Fábio Abu. Quando viu, linkou”, diz.
# 1 / Michelle Abu / Independente (viabilizado pelo PROAC - SP / Preço não divulgado / www.michelleabu.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Tá loco aí? Então comenta!