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segunda-feira, junho 30, 2014

NO COMPASSO LENTO DO BLUES

No auge da fama e do sucesso, o duo norte-americano The Black Keys tem três dos seus trabalhos iniciais lançados no Brasil, enquanto Turn Blue, o mais novo, não chega

The Black Keys: Carney, Auerbach. Foto: Danny Clinch
No topo do mundo, o duo norte-americano de rock The Black Keys lançou lá fora, no final de maio, seu oitavo álbum, Turn Blue (Nonesuch - Warner).

De cara, desbancou Xscape, lançamento póstumo de Michael Jackson, do topo da lista Billboard. Neste momento, Turn Blue segue no Top Ten, em oitavo.

Em uma época em que o rock parece cada vez menos relevante entre os jovens, é um feito de proporções heroicas para dois losers caipiras de Akron, Ohio.

O que muitos fãs do hype talvez não saibam é que toda essa fama e fortuna veio sendo  construída ano a ano, desde 2001.

É com alegria, portanto, que os apreciadores do blues rock cru e lo fi do duo recebem a notícia de que a gravadora brasileira Deckdisc despejou três trabalhos do início da carreira de Dan Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria).

São os três discos gravados para o selo independente  Fat Possum, de Oxford, Mississipi: Thickfreakness (2003), Rubber Factory (2004) e o EP Chulahoma: The Songs of Junior Kimbrough (2006).

Thick e Rubber são, respectivamente, o segundo e o terceiro álbuns cheios.

Já Chulahoma é um tributo com seis faixas para o fantástico bluesman Junior Kimbrough (1927-1998), que, descoberto tardiamente, em 1992, gravou seus álbuns pelo Fat Possum.

Nonesuch, Danger Mouse

Depois disso, Auerbach e Carney foram “pescados” pelo selo Nonesuch, da Warner, dedicado às bandas alternativas e artistas eruditos e de vanguarda, aonde continuam ainda hoje.

Após um reinício mais ou menos frio com Magic Potion (2006), tomaram o rumo para o alto a partir de Attack and Release (2008), primeiro trabalho da dupla produzido pelo midas Brian Danger Mouse Burton (Gnarls Barkley, Rome).

Na semana em que foi lançado, Attack and Release estreou no Top 200 em 14º. O single I Got Mine foi eleita 8ª melhor música do ano pela Rolling Stone.

Em 2010, o estouro mundial do álbum Brothers e da genial Tighten Up consolidou ainda mais o sucesso do duo.

Em 2012, veio El Camino e o hit Lonely Boy. A essa altura, o nome The Black Keys encimava os cartazes dos grandes festivais, ao lado de gigantes como Paul McCartney e Radiohead, além de colecionar Grammys.

E em abril de 2013, finalmente, estrearam em palcos brasileiros ao fechar uma das noites do festival Lollapalooza (SP).

O mundo aos seus pés

Agora, com o mundo aos seus pés, Auerbach & Carney sabem muito bem de onde vieram – diferente de muitas bandas que são hypadas ao infinito antes mesmo de gravarem um álbum cheio, somente para implodir dois anos depois.

“Cada ano tem sido melhor que o anterior”, notou Auerbach por telefone ao Caderno 2+ em fevereiro de 2012, durante a divulgação de El Camino.

“Acho que vir de uma cidade pequena, para nós, é grande parte de quem somos. Isto nos tornou o ‘azarão’. Nos fez trabalhar muito mais duro para sermos notados. Também ficamos isolados por lá. É bom, porque não precisamos nos preocupar com modas, fãs ou seja lá o que estiver rolando. Nada disso é muito útil”, concluiu.

Sólidabizarrice blues rock

Assim como o primeiro CD do BK, The Big Come Up (2002), Thickfreakness foi gravado no porão da casa de Patrick Carney, em “média fidelidade”, (diz o encarte), via  gravador analógico Tascam. O blues rock ancestral, pleno de suíngue e com a voz rouca de Auerbach surge aqui  pronto, arrepiando geral em faixas como Hard Row, Set You Free (que entrou no filme Escola do Rock) e Midnight in Her Eyes. De quebra, releituras matadoras para o clássico Have Love, Will Travel (de Richard Berry, autor da imortal Louie, Louie) e Everywhere I Go (Junior Kimbrough). Sonzão poderoso.Thickfreakness / The Black Keys / Fat Possum - DeckDisc / R$ 29,90



Borracharia invocada

O melhor entre os três CDs da leva, Rubber Factory (2004) foi gravado em uma fábrica de pneus em Akron (demolida em 2010, segundo Auerbach). Foi aqui que o duo começou a flexionar seus músculos blues rock lo fi para um som mais digerível em termos pop, como atesta a balada The Lengths. Depois da abertura arrastada de When The Lights Go Out,  a levada irresistível   de 10 A.M. Automatic joga o astral lá pro alto. Hit do CD, está no set list dos shows ainda hoje. Os riffs imundos de Auerbach seguem lindos em Just Could’t Tie Me Down e All Hands Against His Own. Aumente o som, pire ai.. Rubber Factory / The Black Keys / Fat Possum - DeckDisc / R$ 29,90




Tributo ao bluesman da fertilidade

No encarte, Dan Auerbach escreve que o bluesman David "Junior" Kimbrough foi o responsável pelo seu despertar como músico. “Ali, só em meu quarto, fui transformado. (...) Toda a minha existência foi virada de cabeça para baixo. Fiquei em transe por dias”, diz. Anos depois, contratados pelo mesmo selo que tirou Junior do ostracismo na década de 1990, Auerbach & Carney gravaram este tributo póstumo de seis faixas ao velho bluesman, que, alega-se, deixou 36 (sim, trinta e seis) filhos no mundo. Menos sujo do que os registros anteriores, Chulahoma privilegia as levadas em midtempo, como na linda Meet Me in The City. Chulahoma: The Songs of Junior Kimbrough / The Black Keys /  Fat Possum - DeckDisc / R$ 25,90



Não convidem Jack White e Justin Bieber para mesma mesa que os BKs

Além dos hits, o Black Keys andou frequentando as manchetes dos jornais e sites de fofocas norte-americanos por outras razões: os caras são casca-grossa, dizem o que pensam e não levam desaforo para casa.

Jack White tem sido um oponente constante. Em emails à sua ex-mulher, a modelo e cantora Karen Elson, vazados pelo site TMZ, ele  acusou o BK de copiar seu trabalho, especialmente quando atuava no duo The White Stripes, e se mostrou fulo ao descobrir que seu filho estuda na mesma escola que os filhos de Dan Auerbach.

“Serão 12 anos em que terei que sentar em cadeiras escolares ao lado daquele babaca, enquanto outras pessoas tentam nos enturmar”, escreveu.

Patrick Carney tomou as dores do parceiro. Lamentou os emails vazados (“O TMZ deveria se envergonhar”), e disparou: “Jack White é um panaca”.

No final de maio, White teve um surto de consciência e saiu pedindo desculpas a todos a quem ameaçou, xingou e / brigou, incluindo a dupla de Akron.

Mas Carney parece curtir uma boa baixaria via mídia. No Grammy, um repórter perguntou se ele lamentava Justin Bieber não ter ganhado nenhum troféu.

“Grammys são ganhos por músicas, não por dinheiro. Ele já ganha muito dinheiro, deveria ficar feliz”. No dia seguinte, Bieber soltou no Twitter que Carney “deveria ser estapeado”.

Enfurecido com a possibilidade de ser surrado na rua pelos “beliebers”, Carney disse que “JB é um imbecil irresponsável de merda”. Hilariante.

quinta-feira, junho 26, 2014

22 CANÇÕES PARA 22 ANOS

Cascadura faz show gratuito domingo no Parque da Cidade para comemorar mais de duas décadas de atividade. Show estava marcado para abril, mas foi adiado por conta da greve da PM

Cascadura 2014: Du Txai, Nielton, Cadinho, Thiago e Fábio. Foto Heder Novaes
Coisa rara na Bahia-iá-iá é uma banda de rock dar certo. Mais rara ainda é banda de rock que dura.

Com mais de duas décadas de atividade ininterrupta, então, só podemos estar falando de um caso único: Cascadura.

Neste domingo – com a cidade já devidamente pacificada, espera-se – a banda fundada pelo cantor e compositor Fábio Cascadura Magalhães faz um show especial para comemorar a data no projeto Música no Parque, no Parque da Cidade.

“Neste show, vamos tentar fazer uma brincadeira, que é tocar 22 músicas em ordem regressiva”, conta Fábio.

“Vamos partir do Aleluia! (2012) até chegar ao #1 (1995). É muita música e o tempo que temos disponível em cima do palco é apertado, mas vamos nos esforçar”, acrescenta.

Ou seja: para quem é fã, trata-se de um show imperdível.

Não só pela prazerosa oportunidade de ouvir ao vivo clássicos há muito fora do repertório, mas também pela expectativa de ver se a missão do show (22 músicas, uma para cada ano) será cumprida a risca.

Infelizmente, nenhum ex-membro foi convidado para participar do show comemorativo - mas por questões técnicas, garante Fábio.

"Não, não temos nenhum convidado previsto. Como é um show cheio de informação, com pouco tempo para muita música, não vimos um brecha. Mas teremos a oportunidade de convidar essas pessoas para celebrar com a gente mais adiante. Todos são muito importantes na nossa historia e serão sempre homenageados pelas suas contribuições. Nesse não rola pela questão técnica, mesmo", diz o band leader.

Nos próximos dias, a banda ainda lança o clipe da faixa O Delator, com participação do Jajá Cardoso (Vivendo do ócio), que canta a faixa em dueto com Fábio, e direção de Glauco Neves e Carlos Faria.

”Eles fazem o programa Lá Em Casa Sessions (exibido on line e no canal Music Box Brasil) que tem a peculiaridade de ser um programa em rede nacional, só com artistas da Bahia”, conta.

O show também meio que encerra a temporada do Aleluia!, fechando o longo ciclo do álbum duplo.

“Acho que o resultado do Aleluia!, com toda essa galera envolvida, desde (os produtores) andre t e Jô Estrada, (o baterista) Thiago Trad – e todos que participaram foi muito bacana”, avalia Fábio.

“Muita gente em Salvador teve contato com o disco – e o entendeu. Foram mais de 30 mil downloads, número que se multiplica por dois ou três com os compartilhamentos. Foi uma resposta muto legal”, diz.

Rock para durar

Após o show, Fábio conta que a banda abre um novo ciclo.

“Vamos começar a pensar em nossas possibilidades. Queremos produzir material inédito, mas ainda não um disco”, conta.

“Estamos pensando, vamos experimentar e ver se lançamos algo novo até o final do ano. Deve ser tipo um single para baixar. Já fizemos isso no final da temporada do Bogary. É uma forma de encontrar um caminho para poder seguir trilhando e produzindo”, observa.

Único membro fixo da Cascadura desde 1992, Fábio hoje conta com o já citado baterista Thiago Trad como sócio e segundo membro com mais tempo de casa (desde 2002).

“Ontem (quarta-feira) eu estava em um programa de rádio e um menina adolescente ligou e me fez uma pergunta sobre os fãs da Cascadura que são  mais novos do que a própria banda. São os  filhos da primeira geração de  fãs”, conta Fábio.

“Isso pra mim é a maior demonstração de êxito desse trabalho de 22 anos: atrair a atenção das pessoas de outras gerações. Isso é o que eu sonhava quando era moleque e ouvia Beatles, Rolling Stones, Ramones:  fazer um som duradouro, que as pessoas ouvissem muitos anos depois e dissessem ‘legal, rock ‘n’ rol’!”, comemora.

“Nesse mundo novo, tão medido por quantidade de cliques, de visualizações, não se preza mais a qualidade. Mas nós temos uma qualidade de fãs que é tamanha, que fico muito satisfeito de olhar para a plateia e ver do brother que nos acompanha desde o início a  garotos de 14, 15 anos. Isso rola muito, em Cajazeiras mesmo, rolou. Não tem dinheiro que pague isso, é o máximo", observa.

"O show em Cajazeiras no aniversário de Salvador foi muito legal. A resposta foi ótima, tanto de pessoas que nunca tinham nos visto às que já nos conheciam... Foi uma experiência muito boa poder tocar em um lugar que raramente se tem oportunidade. Foi marcante, um momento muito legal para a banda", avalia.

"E quero dizer que me sinto muito orgulhoso de ser cria de uma geração que batalhou muito, com muita coragem, para mudar o senso comum e isso repercute além da gente. A geração dos anos 90 continuou produzindo e bem”, conclui.

No palco, Fábio e Thiago contam com Du Txai (guitarra), Ricardo Cadinho (baixo) e Nielton Marinho (percussão).

Projeto Música no Parque: Cascadura / Domingo, 11 horas / Anfiteatro Dorival Caymmi (Parque da Cidade) / Entrada Franca




22 ANOS, 5 ÁLBUNS: DISCOGRAFIA BREVEMENTE COMENTADA

# 1 (WR, 1995)

No CD de estreia, um comovente inventário das angústias adolescentes compartilhadas pelos jovens roqueiros locais, em roupagem southern rock da Cidade Baixa. Brilhante do início ao fim







Entre! (WR, 1998)

De sonoridade mais limpa, quase jovem-guardista, o 2º CD não teve o impacto do anterior e investiu pesado em baladas. Mas é outra joia, com clássicos como O Batismo, Doze e Meia, Rodas no Asfalto

Vivendo em Grande estilo (Unimar, 2002)


Reinventada, assume ares mais contemporâneos e faz o CD preferido de muitos fãs. Estão aqui hits como Queda Livre, Retribuição e Gigante. Marca entrada de Thiago Trad.

Bogary (OutraCoisa, 2006)

Triunfal, a 2ª parceria com o produtor andré t. se revelou ainda mais acertada em um CD  ao mesmo tempo pesado e sofisticado. Firmou a banda como o maior nome baiano da cena independente brasileira

Aleluia! (Garimpo, 2012)

Após longo intervalo, volta com CD duplo que é de longe sua obra mais ambiciosa, na qual tentam decifrar Salvador. Os resultados são desiguais, mas ainda assim há grandes achados. Caetano Veloso se derreteu em artigo n’O Globo


terça-feira, junho 24, 2014

O SOM DA PURA MÚSICA - MEGAPOST XIX FESTIVAL DE MÚSICA INSTRUMENTAL DA BAHIA + NUETAS

Com quatro dias, o XIX Festival de Música Instrumental da Bahia traz grandes concertos à Sala Principal do TCA a  preços populares

Amilton Godoy (piano), do Zimbo Trio, e Gabriel Grossi (gaita). Foto Dani Godoy
Se em qualquer lugar do mundo manter um festival de música estritamente instrumental não é lá tarefa fácil, imagina na Bahia.

Mas é com muita dignidade e alegria que o Festival de Música Instrumental da Bahia chega à sua 19ª edição.

Às favas que não foi uma trajetória em linha reta. “Fizemos as  primeiras nove edições entre 1980 e 1988”, conta o criador e curador do Festival, o maestro Zeca Freitas.

“Foi uma época maravilhosa, mas depois ficamos sem força. Só em 2003, com a ajuda do músico, ator e produtor Fernando Marinho, conseguimos retomar o Festival, graças ao Fazcultura”, detalha.

Arthur Maia, uma lenda do baixo no Brasil
Melhor ainda: em 2013, eles conseguiram inserir o evento na lista de  projetos calendarizados da SecultBa.

“Com isso, garantimos sua realização por três anos: 2013, 14 e 15”, conta.

“É muito importante garantir essa continuidade. Estamos numa fase boa, mas pretendemos continuar fazendo parte dos projetos calendarizados”, diz.

Este ano, serão quatro dias de concertos na Sala Principal do Teatro Castro Alves com grandes atrações locais, nacionais e uma internacional, com ingressos a preço popular: R$ 20, R$ 10 a meia.

Tudo começa na quinta-feira, com Orquestra de Violões da Ufba, Eric Almeida (saxofonista), Toninho Ferragutti & Marco Pereira (duo de acordeom e violão).

Na sexta-feira é a vez de Estevam Dantas & Grupo, Letieres Leite Quinteto e Orquestra Victoria (da Argentina).

Sábado tem Grupo Instrumental do Capão, Saravá Jazz Bahia e Arthur Maia (com Gerson Silva & Amigos).

Ubuntu: jazz com influências africanas
No domingo, o gran finale com Ubuntu, Camará Ensemble e Amilton Godoy & Gabriel Grossi (duo de piano e gaita, fazendo um repertório só de Villa-Lobos).

Camará, Victoria, Toninho

Comemorando 60 anos da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, esta nobre instituição é homenageada com duas atrações na grade: as Orquestras de Violões e Camará.

“Tanto a Escola quanto o Festival são duas instituições de resistência da música instrumental. A força de ambas vem da manutenção de um mundo saudável para práticas musicais que trabalham com outra lógica que não a da mainstream”, percebe Paulo Rios, diretor artístico da Camará Ensemble.

Orquestra de Violões da Ufba
O concerto do Camará será “todo dedicado a obras de compositores baianos de quatro gerações. Participamos da homenagem aproveitando o repertório que surgiu na Bahia, de forma emaranhada com a história do conjunto”, detalha.

Já a atração internacional,  Orquesta Victoria (onze integrantes) trará um repertório de tangos autorais e clássicos, “com arranjos próprios”, informa Ezequiel Cheche Ordoñez, diretor.

“Podemos dizer que fazemos tango, tocado por jovens de hoje. Com um olhar moderno para o gênero, mas sempre respeitando as bases rítmicas”, diz.

Letieres Leite Quinteto. Foto: Fernando Eduardo
Mas que ninguém espere a pegada modernosa / eletrônica do Gotan Project: “Entendo que é uma proposta feita com profissionalismo. Pessoalmente,  respeito e aplaudo a pesquisa que eles fazem, mas gostar mesmo, eu não gosto”, afirma.

“É uma sorte tocar aí, especialmente um grupo tão grande. Estamos muito animados para tocar no TCA, é  realmente um belo teatro”, conclui Cheche.

Outra atração de peso é a dupla formada pelo acordeonista Toninho Ferragutti e o violonista Marco Pereira, que vem fazer o repertório do CD Comum de Dois.

Grupo Instrumental do Capão: viagem sonora
“Desde janeiro de 2013, quando o Duo estreou, sentimos que  valia a pena ser registrada em CD”, diz Toninho.

“O acordeon é um instrumento riquíssimo, de possibilidades infinitas, soa muito bem com  cordas, palhetas e a voz, além de ser o grande representante das culturas regionais”, conclui.

XIX Festival de Música Instrumental da Bahia / de Quinta-feira (26) até domingo (29), às 20 horas /  Teatro Castro Alves / R$ 20 e R$ 10 /  www.festivalinstrumental.com.br



EXTRAS: ENTREVISTAS

Toninho Ferragutti

Marco Pereira e Toninho Ferragutti. Foto: Gal Oppido
A parceria com o violonista Marco Pereira rendeu um material muito bonito e de sonoridade pouco ouvida no Brasil, que alia o dinamismo do acordeom com as harmonias do violão. Te surpreendeu o resultado? Como o senhor avalia a interação entre esses dois instrumentos tão ricos?

Toninho Ferragutti: Na verdade, o resultado não me surpreendeu, pois desde janeiro de 2013, quando o Duo estreou e Curitiba, nós dois já sentimos que a música que estávamos fazendo valia a pena ser registrada em CD e tivemos o cuidado de não deixar o trabalho esmorecer marcando vários shows para amadurecer o repertório Sentimos que mais que a importância do instrumento, pensamos a música de forma muito próxima, e isso aconteceria mesmo que tocássemos outros instrumentos.

O que podemos esperar do show? É o repertório do CD Comum de Dois? Ou haverá alguma surpresa?

TF: O repertório do show é quase o mesmo do repertório do CD, sendo os solos as únicas surpresas.

No Brasil, costuma-se ligar muito o acordeom aos gêneros regionais, como o forró (aqui no Nordeste) e à música tradicional gaúcha (de fronteira), no sul. Mas sabemos que se trata de um instrumento de possibilidades muito mais amplas, utilizado em diferentes estilos de música mundo afora. Como o senhor lida com essa dualidade no seu trabalho? Esse pré-conceito sobre o instrumento no Brasil atrapalha ou ajuda?

TF: O acordeon é um instrumento riquíssimo, de possibilidades infinitas, soando muito bem com instrumentos de cordas, palhetas, e com a voz humana além de ser o grande representante das culturas regionais da qual vc citou na sua pergunta. Sem dizer que o Brasil, é uma escola de grande acordeonistas. Acho que é assim mesmo, tudo ao mesmo tempo, música regional, música popular, erudita o importante é fazer bem e bem feito e o futuro a Deus pertence rsrsrs.

É a primeira vez que o senhor vem tocar em Salvador? Qual sua expectativa para o festival? Ficou feliz com o convite?

TF: Ficamos extremamente felizes com o convite. Já estive levando meu trabalho para Salvador outras vezes e a nossa expectativa é das melhores  Grande abraço e obrigado! Esperamos você no nosso concerto.

Paulo Rios, diretor artístico, regendo o Camará Ensemble
Paulo Rios (Camará Ensemble)

A Escola de Música da Ufba é a grande homenageada deste XIX Festival de Música Instrumental da Bahia. Você poderia falar um pouco sobre a relação da Escola com o Festival - e a importância que um tem para o outro?

Paulo Rios: Chico, não sei muito sobre a relação histórica do Festival com a EMUS. Acho que não sou o melhor para responder isto. No entanto, vejo que tanto a Escola quanto o Festival são duas instituições de resistência da música instrumental no estado. A força de ambas é a da manutenção de um mundo saudável para práticas musicais que trabalham com outra lógica que não a da mainstream mercadológica. Assim, tanto EMUS quanto Festival são lugares de criação e invenção, por natureza.

O Camará Ensemble é um conjunto dedicado a ao lançamento e gravação de obras de compositores brasileiros de música de concerto contemporânea. Que peças serão executadas no concerto do Festival? Alguma inédita?

PR: O concerto será todo dedicado a obras de compositores baianos de quatro diferentes gerações. Todas as músicas já foram apresentadas pelo menos uma vez pelo Camará. Nós decidimos participar da homenagem justamente aproveitando o repertório que surgiu, na Bahia, de forma emaranhada com a história do próprio conjunto. São, em sua maioria, obras que foram encomendadas pelo ensemble, desde a sua formação, em 2011. Além delas, há também a minha "Choro de Estamira", que foi estreada em 2009, na Holanda, por um grupo de música contemporânea europeu que acabou influenciando bastante na criação do Camará.

Como diretor artístico do Camará, você mesmo costuma reger os concertos, mas desta vez teremos o maestro José Maurício Brandão à frente da orquestra. Por que? É você mesmo que seleciona as peças, os músicos, os regentes?

PR: Desde que me mudei para a cidade de Parnaíba, no Piauí, que mudamos a forma como o grupo funciona. Agora não sou mais seu diretor artístico, mas sim um dos consultores artísticos do Camará, que decide os detalhes de suas apresentações através de um conselho formado por alguns dos músicos e o compositor Vinícius Amaro – que tem sido um colaborador frequente desde a criação do grupo. Além disso, há uma relação estreita entre Camará e OCA – Oficina de Composição Agora, que serve também como um ponto de apoio para o grupo (tanto do ponto de vista artístico, quanto de produção mesmo). A relação estreita com os compositores também deve ser citada: gente como Alexandre Espinheira, Paulo Costa Lima, Guilherme Bertissolo, Alex Pochat, sempre estão apoiando o grupo e participando da sua trajetória. A minha atuação como regente era uma ousadia de minha parte... Agora, com a distância, os músicos do grupo terão a oportunidade de trabalhar com regente de verdade, como é o caso do nosso querido José Maurício Brandão – o que, por sinal, reforça a homenagem à Escola de Música, tendo em vista o excelente trabalho desenvolvido pelo maestro dentro da instituição.

Que atividades podemos esperar do Camará no futuro próximo? Concertos, gravações, alguma viagem em vista?

PR: Logo após a apresentação no Festival, o Camará iniciará os trabalhos de colaboração com o compositor norte-americano Jonathan Pfeffer, que está fazendo uma residência artística no Instituto Sacatar, em Itaparica. Em meados de Julho, o grupo apresentará um espetáculo montado pelo compositor, inspirado em aspectos da música e ritualística do candomblé. Estamos na expectativa, ainda para Julho, do início da segunda edição do MAB – Música de Agora na Bahia, projeto da OCA dedicado à música contemporânea, que este ano, com patrocínio da Petrobrás, promete agitar o circuito da música nova música de concerto no Brasil e no qual o Camará, mais uma vez, será colaborador especial. Até o início do ano que vem, devemos, ainda, participar de dois festivais de música contemporânea no país, um em São Paulo e outro no Rio Grande do Sul. Mas são eventos cujas agendas ainda dependem de confirmação.

Orquestra Victoria: o tango pelos "jovenes de hoy"
Ezequiel Cheche Ordoñez (Orquesta Victoria)

Pode nos descrever a abordagem da Orquesta Victoria para o tango? Mais tradicional, mais contemporâneo ou a meio caminho?

Cheche: Poderíamos dizer que é o tango interpretado por jovens de hoje. Fazemos algumas composições próprias e vários tangos clássicos com arranjos próprios, com um olhar bastante moderno do gênero, mas sempre respeitando as bases rítmicas do tango, ainda que tentando lançar um olhar diferente e nosso, de quem nunca deixou de tocar tango.

A Orquestra faz exclusivamente o tango ou também trabalha com outros ritmos / gêneros argentinos?

Cheche: Como eu disse acima, é o tango com o nosso próprios olhar. Dentro dessa pesquisa, flertamos com outros ritmos e, especialmente, com outros timbre um pouco mais distantes do tango, mas em nenhum momento tocamos concretamente um um outro estilo, ou seja, em algum arranjo de tango podemos fazer uma base rítmica de chacarera , mas nunca chegamos a tocar uma chacarera em todas as suas formas.

Grupos como Gotan Project e Bajofondo tem ajudado a popularizar o tango mundo afora para novas gerações, com uma abordagem moderna, incluindo a música eletrônica em suas "receitas". O que a Orquestra Victoria acha desta nova estética?

Cheche: A opinião de toda a orquestra honestamente não sei, eu posso dar a minha opinião.Eu, pessoalmente, sou a favor de qualquer busca de algo novo, desde que seja feita com seriedade e paixão, além do fato de eu gostar ou não. Por exemplo, Gotan Project e Bajofondo eu não gosto de ouvir o que eles geralmente fazem, mas eu entendo que a proposta é feita com profissionalismo e à sua maneira, como uma forma de acrescentar à visão global da música, de qualquer maneira. Pessoalmente, eu respeito e aplaudo a pesquisa que eles fazem, mas gostar mesmo, eu não gosto .

É raro termos bons músicos argentinos tocando aqui na Bahia. Estão entusiasmados para vir a Salvador? O que podemos esperar do concerto no Teatro Castro Alves? 

Cheche: A verdade é que é uma sorte de ir tocar aí, especialmente um grupo tão grande como nós, são 11 músicos e não é fácil de se mover uma grande orquestra. Felizmente, com a ajuda do Festival podemos ir. Estamos muito animados para tocar no TCA, é realmente um belo teatro. Para todas as pessoas que vão nos ver, é uma grande oportunidade de ouvir um pouco do que acontece com o tango em Buenos Aires hoje.

Márcio Pereira (último a direita) e o Saravá Jazz Bahia
Com show sábado no Festival Instrumental, Saravá Jazz Bahia se inspira em New Orleans

Uma das atrações de sábado no XIX Festival de Música Instrumental da Bahia, a banda local Saravá Jazz Bahia foi formada por inciativa do guitarrista baiano Márcio Pereira após uma temporada na cidade norte-americana de New Orleans.

Bom, quem conhece algo sobre essa meca do jazz (ou no mínimo, assistiu ao fantástico seriado Treme, da HBO), sabe que Nova Orleans, é provavelmente, a cidade mais parecida com Salvador fora do Brasil.

Centro cultural que mistura tradições europeias e africanas na música, na culinária e nos costumes? Povo alegre que ama brincar na rua? Blocos afro que se vestem de índios? Salvador e Nova Orleans tem tudo isso e muito mais em comum.

“Os blocos tem um quê meio religioso, saem de manhã dos bairros negros. Me lembrou muito as lavagens daqui. É possível fazer muitos paralelos”, nota Márcio que foi para lá em 2007, fazer mestrado na University of New Orleans.

Lá, ele notou como o jazz ainda é tocado e apreciado pelo povo nas ruas, de forma festiva. “No Saravá eu trago um pouco disso, a música para as pessoas. É que, desde a bossa nova, o jazz passou a ser mais classe média, ganhou status de concerto, que as pessoas vão ao teatro para assistir”, afirma.

“A consequência disso é que (o jazz) ficou um pouco mais distante das pessoas. Pelo lado positivo, ganhou mais respeitabilidade, um status similar ao da música erudita”, percebe.

Filosofia jazzy

Aliando a abordagem mais direta de New Orleans ao afrossamba jazz do maestro Moacir Santos, o Márcio e o Saravá buscam criar uma linguagem própria, baseada no ritmo.

“Na filosofia do Saravá, o jazz é a comunicação através da música e da utilização abundante da improvisação como forma de dialogo”, explica.

No show de sábado – confiram a programação do Festival todo, que está muito legal – a banda fará temas autorais, mais o clássico Nanã (Moacir Santos) “e uma composição de um professor meu de New Orleans, uma demonstração de um típico street beat de lá”, diz.

Além de Márcio (guitara), o Saravá é: Angelo Santiago (contrabaixo), Carlos Careca (bateria), Vinicius Freitas (sax tenor), Bruno Nery (trombone), Mateus Aleluia (trumpete).

Formada em Salvador, a Saravá Jazz Bahia já foi “banda residente” do Visca  Sabor & Arte (Rio Vermelho)

Saravá Jazz Bahia no XIX Festival de Música Instrumental / Sábado (28),  20 horas /  Teatro Castro Alves (Sala Principal) / R$ 20 e R$ 10 / www.soundcloud.com/saravajazzbahia

NUETAS

Audiolivro Rock.BA

Lançado há uns dez anos, o livro Rock Baiano: História de uma Cultura Subterrânea, de  Ednílson Sacramento, ganha reedição em formato audiolivro. O lançamento é nesta sexta-feira (27), às 19 horas, no Complexo Cultural dos Barris. Pinta lá. Em tempo: "As 100 primeiras pessoas que enviarem nome e telefone para o e-mail "nvozes@gmail.com" e receberem confirmação, ganharão um exemplar gratuitamente no local".

Theatro no Calypso

Sábado é o último show acústico (de três) da banda Theatro de Séraphin, no temporariamente redivivo Calypso, para ajudar a bancar a gravação do próximo CD. Ainda rola a mostra Paisagens Sintéticas, do baixista e arquiteto Marcos Rodrigues. Rogério Big Bross é o DJ. Sábado, 18 horas, R$ 10 (contribuição mínima).

Camisa's third season

O Camisa de Vênus dos guitarristas remanescentes Karl Hümel e Gustavo Mullem mais o vocalista  Eduardo Scott faz nova temporada no Dubliner’s,  Irish Pub aos sábados de julho: dia 05 (com Celebration Day), 12 (Batrákia), 19 (Lo Han) e 26 (Barão Vermelho Cover). 22 horas, R$ 30.

Cascadura no Parque: agora vai

Lembram daquele show do Cascadura no Parque da Cidade que não rolou por causa da greve dos PMs? Agora vai: domingo (29), às 11 horas, grátis.

segunda-feira, junho 23, 2014

TODOS OS SKANKS

Seis anos depois de seu último álbum de inéditas, o quarteto mineiro Skank volta com Velocia, disco que unifica os diferentes momentos da carreira 

Henrique, Lelo, Samuel e Haroldo: Skank 2014. Foto: Weber Pádua
Fato: o Skank é uma espécie de “último dos moicanos”. Entre as bandas de sua geração, o quarteto mineiro é a única que conseguiu sobreviver fazendo sucesso no mainstream com dignidade.

Em Velocia, felizmente, essa constatação se reafirma.

“A gente escolheu desde sempre transitar nesse mundo a fim de ter músicas conhecidas”, confirma o baterista Haroldo Ferretti.

“Então, a gente tenta buscar essa dignidade. Se não fosse dessa forma, talvez não conseguíssemos fazer”, acrescenta.

"Temos essa visão e essa preocupação. Chega num momento que vemos quais faixas tem mais cara de tocar no rádio, e aí começamos e investir mais trabalho e transpiração nelas. Mas também prestamos atenção nas que são experiências diferentes para arranjar. Enfim, algumas faixas podem ser menos comprometidas com o formato clássico. E outras, um pouco mais", detalha Haroldo.

Primeiro álbum de estúdio de Samuel Rosa & Cia desde Estandarte (2008), Velocia também parece anunciar um momento de transição para o Skank ao juntar, em um mesmo trabalho, a pegada reggae dancehall dos primeiros discos e a fase mais melódica, iniciada em Maquinarama (2000).

Em suma: nos anos 1990, o Skank surgiu reggae, deu uma guinada para o rock melódico na década  passada e, agora, parece querer buscar uma nova abordagem para atravessar mais uma década.

“Acho que é um álbum que ficou com uma cara de ter aquela unificação de momentos diferentes de nossa banda. Ela Me Deixou (o primeiro single) é um ska, estilo de música jamaicana que no inicio de nossa carreira era mais forte”, lembra.

“Mas sem deixar de lado canções ao violão, como Esquecimento, que remete a outra fase do Skank, mais recente. No fim das contas, é a mesma banda. Não é uma surpresa tão grande”, descreve Haroldo.

O engraçado é que, para pessoas mais jovens, que começaram a ouvir a banda dos anos 2000 para cá, a retomada reggae soa... nova.

“A minha filha adolescente disse que (esse disco) tava diferente do que gente já tinha lançado”, ri. “Não é diferente. É como no início”, diz.

Nascido em estúdio

Talvez pelo próprio fato de ser um  álbum de  busca por novos caminhos, Velocia foi todo criado em estúdio.

“Nesse intervalo de tanto tampo sem CD de inéditas, a gente não tinha tido uma necessidade, uma vontade lançar álbum novo. Coisa da inspiração, sabe? Tem que respeitar esse momento. Poderíamos lançar um CD novo de ano em ano, mas a chance de sair meia boca é muito maior. Acho que o disco tem um resultado muito bom naquilo que nos propusemos a fazer dez meses atrás, sem nenhum material pronto ou determinação de caminhos a seguir”, aposta Haroldo.

“Fomos para o estúdio e começamos a  tocar, fazer experiências, criar riffs. E assim o Velocia foi se criando. né? Bem despretensioso. Em outros momentos da nossa carreira, dissemos 'temos que mudar esse formato nosso', porque ninguém tinha mais vontade de continuar fazendo a mesma coisa. Nesse agora, não houve isso, só muita tranquilidade e despretensão”, conta.

Orientados pelo produtor Dudu Marote, o Midas que transformou álbuns como Calango (1994) e O Samba Poconé (1996) em múltiplos discos de platina, Samuel, Haroldo, Henrique Portugal (teclados) e  Lelo Zaneti (baixo) chegaram às onze faixas do disco.

Mais da metade – seis faixas – são parcerias  com Nando Reis, que foi ao estúdio e gravou vozes em três delas: Alexia, Périplo e Galápagos.

Há ainda parceria com Lucas Silveira (Fresno) em Do Mesmo Jeito, BNegão em Multidão, Emicida em Rio Beautiful e Tudo Isso e a cantora Lia Paris em Aniversário.

Alexia, craque barceloneta

Alexia Putellas, goleadora do Barcelona e nova musa do Skank
Digerido o álbum, fica difícil entender a razão de Ela Me Deixou, uma balada genérica em ritmo de ska, ter sido escolhida como primeira música de trabalho.

Alexia, a faixa de abertura, homenagem à craque Alexia Putellas, do time feminino do Barcelona, é um hit pronto, pra cima – e ainda fala de futebol, em plena época de Copa.

Assim, fica mantida a tradição do Skank de canções sobre futebol. O curioso é que, entre os quatro membros da banda, Haroldo é justamente o que menos se interessa pelo esporte.

"Eu sou o menos fã de futebol na banda. É um assunto que tá nosso dia a dia todo dia, não tem uma van em que eu entre com a banda que alguém não fale do jogo de ontem ou do de amanhã. A relação do Skank com futebol não é em função de copa ou de um jogo. É constante. A gente fazer música de futebol não tem nada de inusitado, né?", constata.

"Mas a música da Alexia surgiu de um vídeo, um gol dela que deixou todo mundo de cara. Você busca Alexia no You Tube e esse gol é o primeiro vídeo que aparece. Samuel mostrou pra gente e depois pro Nando, 'vamos fazer uma música pra essa menina, que além de linda, joga um bolão'. Nando escreveu a letra, que fala sobre o tema do futebol. Mas sem a pretensão de ser mais um hino pra Copa. Já temos um hino, É Uma Partida de Futebol, que é atemporal, a gente nunca pensou em substitui-la", relata Haroldo.

“Aí depois Samuel e Henrique mostraram a música pra ela, lá em Barcelona. Ela escutou, curtindo no fone. ‘E aí,  é legal?’, Samuel perguntou. ‘Sim, é um samba, não é’! Bom demais né, cara? O gringo é muito bom”, ri Haroldo.

Há quem diga que o Skank fez parte da última grande geração do rock brasileiro, a dos anos 1990, a última antes de uma fase de decadência que começou nos anos 2000 e se arrasta até hoje. "Saber extamente o por que é difícil de saber. É um segmento que se enfraqueceu muito em termos de gosto popular, de tocar em rádio, infelizmente. Mas isso é cíclico no Brasil, sempre foi. Quando surgimos, o que tocava em rádio era sertanejo, aí nossa geração transformou o rock em moda. Depois disso, na década seguinte, já houve um enfraquecimento e isso vem piorando. Muito difícil saber o por que. Há algumas opiniões, tem um pouco o lance de as bandas novas gastarem pouco tempo para desenvolver e pensar em um trabalho legal pela urgência de fazer clipe no you tube, uma ação para ter views e 'fãs' na rede. Deveriam gastar mais tempo pensando em desenvolver um trabalho legal, por que o resto é consequência. A consequência de um bom trabalho é um bom resultado. Obviamente, isso é uma especulação, não tenho dados científicos para confirmar", arrisca.

"Mas a indústria foi mudando muito. Não se vende mais tanto. Aquelas bandas que estão em gravadoras tem menos verba para divulgação. E, ao mesmo tempo, as que não tem gravadora, estão num circuito muito forte de música independente, hoje tem alguns festivais de banda indie com bandas consagradas, com espirito de indie. Acho que a tendência é melhorar esse mercado para as novas bandas. Pra gente é ruim olhar para o lado e nao ver nenhum 'coleguinha'. Estamos quase sozinhos nesse mundo, isso é ruim pra gente também. Mas a sensação é que as coisas estão mudando. Talvez mais lentamente do que gostaríamos, mas estão mudando. Tenho certeza que tem muita banda legal de pop  rock jovem que não toca em rádio e não consegue se lançar. Elas precisam aparecer. Isso talvez esteja ligado a um movimento. A gente não teve assim um movimento. Skank, Cidade Negra, Nação Zumbi, Raimundos, cada um estava num canto do país e sequer tinham o mesmo estilo. Mas virou moda, conseguiram existir e fazer discos. Temos que acreditar que aconteça de novo, agora em outro formato", conclui Haroldo.

Velocia / Skank / Sony Music / Produzido por Dudu Marote e Renato Cipriani / R$ 20, em média /  www.skank.com.br / www.sonymusic.com.br


sábado, junho 21, 2014

AYRAN NICODEMO, VIOLINISTA ENTRE DOIS MUNDOS

Ayran Nicodemo, foto: Ariel Subirá
 Tradição sinfônica, música cigana: o violinista mineiro Ayran Nicodemo partiu dessas duas (enormes) bases para construir a música do seu primeiro álbum de violino solo, Pedra Cigana.

Músico da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ex-spalla da OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) Jovem, Nicodemo é, aos 25 anos, uma das promessas da música erudita nacional.

Das oito faixas de Pedra Cigana, apenas uma não é de sua autoria: Hora de La Munte, um tema folclórico romeno, que, curiosamente, ele descobriu durante uma visita à Bahia.

“Em janeiro de 2014 fui convidado para integrar o quadro de profissionais do Festival de Música e Danças do Mundo, em Imbassaí. Lá, ao ter contato com músicos de diversas culturas e países, está pérola apareceu, e encontrei nela o que faltava para o CD”, conta Ayran.

“'Hora' é uma dança característica romena, e 'Munte' é uma região. 'Hora de la Munte' é  a dança deste local”, ensina.

Diálogo, releitura

Ayran Nicodemo, foto: Ariel Subirá
Apesar de fascinado pela música e pela cultura ciganas, Nicodemo não tem ascendência  romani (etnia indiana que deu origem aos povos ciganos).

“Sou de ascendência italiana, minha família não tem relação alguma com a cultura cigana. Mas eu, desde o primeiro momento em que peguei o violino, passei a tocar de uma forma muito parecida e influenciada pelos ciganos do leste da Europa”, relata Ayran

“A música cigana é algo que me fascina antes de eu pensar (em) música, é muito visceral em mim. É isso que retrato em Pedra Cigana”, descreve.

Portanto, o que se ouve em no álbum não é “música cigana” de fato, e sim, a interpretação de Nicodemo para esta tradição, além de um diálogo entre esta e a escola da música sinfônica Ocidental – o que só  torna a obra  ainda mais interessante.

“Quando componho, procuro seguir minhas sensações, e o idioma musical do leste europeu encontra muita consonância em mim”, diz.

“Há características deste idioma, como ritmos, compassos e intervalos, mas não penso sobre isso, experimento e gosto ou não, totalmente através do universo sensitivo. Procuro estar aberto ao que vem de mim, mas claro que possuo inúmeras referências, e minha intenção não é traduzir, mas sim expressar o que sinto”, explica.

Na verdade o povo cigano é um povo muito perseguido em todo o mundo, e sua cultura é pouquíssimo respeitada e admirada verdadeiramente. Há no ocidente uma mistura de deslumbramento, medos e crenças sobre algo muito mais simples que é a cultura cigana, claro que há festas e rituais, assim como outras culturas, mas há também um ar de saudade e esperança. Com estas festas, saudade e esperança sim o disco dialoga muito”, constata.

“Sobre a tradição, por ser um disco de músicas autorais e com uma releitura, a ideia de tradição não está presente neste CD, mesmo porque não sou de família cigana, e o arranjo da música romena é mais uma preocupação de diálogo e referência do que de tradição”, observa o violinista.

Músico de orquestra erudita tradicional, Ayran se alimenta tanto da tradição sinfônica ocidental, quanto da musicalidade cigana, uma coisa alimentando a outra.

"Com toda certeza, apesar de serem universos bastante distintos, o músico e o instrumento são os mesmos, ou seja, são a ponte entre estes ambientes, e é muito interessante observar estas imensas forças agindo entre sí dentro de mim! Há momentos nos quais o pensamento sinfônico influência muito,e outros nos quais é o arquétipo cigano tocando na orquestra. Sempre gosto de observar e aprender com estes diálogos/forças", reflete.

Entre dois mundos (cigano e sinfônico), quem ganha é o ouvinte.

"É importante para mim que o ouvinte sinta algo, não importa se é o que eu senti. Claro que num país onde a musicalização (principalmente infantil) não é cultural ainda, a assimilação de uma música sem palavras se torna mais desafiante para muitos, mas jamais inacessível, pois este entendimento se dá mais ainda no mundo das sensações, e é isso que pretendo, quero que as pessoas ouçam e sintam o que reverbera dentro delas e dialoguem com isso! É isso que faço, quando componho, vou me conhecendo e dialogando comigo próprio, e este é o barato da música!", conclui Nicodemo.

Pedra Cigana - Violino Solo / Ayran Nicodemo / A Casa Discos / R$ 27 / www.facebook.com/ayran.nicodemo

quinta-feira, junho 19, 2014

A REVOLUÇÃO TELEVISIONADA E A CRISE DO HOMO AMERICANUS

No livro Homens Difíceis, Brett Martin analisa a predominância de personagens masculinos nas melhores séries da TV norte-americana

Familia Soprano: chefão da máfia com crise de pânico vai à psicóloga
Não é segredo: a melhor dramaturgia audiovisual norte-americana não está mais nos cinemas – está na TV. Pelo menos, desde que a HBO colocou o já clássico seriado Família Soprano (1999-2002) no ar.

No livro Homens Difíceis: Os bastidores do processo criativo de Breaking Bad, Família Soprano, Mad Men e outras séries revolucionárias, o jornalista Brett Martin refaz o antes, o durante e o depois desse processo, que transformou a TV norte-americana em uma fonte de teledramaturgia arrojada, personagens inesquecíveis e muita reflexão sobre a crise que se abateu sobre o homo americanus.

E que surpresa descobrir que o “antes” dessa revolução (na ótica de Martin) começou na TV aberta quase 20 anos antes, quando a rede NBC botou no ar o seriado Chumbo Grosso (Hill Street Blues, 1981-87), idealizado por Steven Bochco.

Com linguagem documental, atuações naturalistas, roteiros realistas e temas de relevância social, não havia nada como Chumbo Grosso sendo feito na TV.

Mad Men: publicitário bem sucedido de identidade incerta e passado insondável
Ironicamente, Bochco havia se inspirado no que o cinema havia feito e  que estava deixando de fazer: os dramas urbanos e adultos de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Mike Nichols, Peter Bogdanovich etc.

O que ocorreu foi que, com a infantilização do cinema pós-Star Wars, ET e Indiana Jones, coube à dramaturgia televisiva abordar dramas humanos adultos

Foi aí que  roteiristas, produtores e showrunners como David Chase (Sopranos), David Simon (The Wire: A Escuta), Alan Ball (A Sete Palmos), David Milch (Deadwood) e Matthew Weiner (Matthew Wriner) viram sua brecha para renovar a TV.

Leitura magnética e indispensável para quem se interessa pelos bastidores da TV, dramaturgia e os seriados abordados em si, Homens Difíceis sustenta que as séries dramáticas mais bem sucedidas e elogiadas da última década e meia são com homens, sobre homens e criadas por homens – mas não exclusivamente para homens.

“Embora um grupo de mulheres desempenhe papéis altamente influentes nessa narrativa – como roteiristas, atrizes, produtoras e executivas –, elas não estão em número suficiente”, escreve Brett Martin.

Breaking Bad: pacato professor vira produtor de meta e torna-se um monstro
“Não apenas os programas mais importantes do período foram comandados por homens, como também eles falavam basicamente sobre (grifo do autor) masculinidade, em especial os contornos do poder masculino e as infinitas variedades de combates entre homens”, afirma.

Levando-se em conta que os  principais protagonistas dos três programas mais importantes do período – Família Soprano, Mad Men (AMC, 2007) e Breaking Bad (AMC, 2008-13) – são de (e sobre homens) vivendo crises  profundas, fica realmente difícil contestar o autor.

Ainda assim, seria pouco para Martin sustentar sua tese.

Problema resolvido ao detalhar a criação, produção e desenrolar (à frente e por trás das câmeras) de outras  séries de alto nível que partilhavam das mesmas características, como A Sete Palmos (HBO, 2001-05), The Shield (FX, 2002-08), Deadwood (HBO, 2004-06), Dexter (Showtime, 2006-13) e The Wire: A Escuta (HBO, 2002-08), entre outros.

Mas o que mais surpreende no livro são suas revelações de bastidores sobre os criadores dessas séries – eles mesmos homens tão difíceis e mergulhados em crises quanto os personagens que eternizaram.

Homens Difíceis: Os bastidores do processo criativo de... / Brett Martin / Aleph/ 368 p. / R$ 54 / www.editoraaleph.com.br

terça-feira, junho 17, 2014

BABY LIXO, DE HEITOR DANTAS, QUER DESCONSTRUIR O ROCK

Heitor Dantas, em foto de Claudio Braga
Tá vendo o rapaz barbudo aí do lado? Se você é leitor(a) atento(a) desta coluna, já o viu antes.

Heitor  Dantas é o guitarrista do power trio de blues avant garde Laia Gaiatta e também da banda que acompanhou Tuzé de Areu na temporada do seu badalado show / evento, Novas Aventuras no País do Som, ambos já vistos neste espaço.

Desta vez, Heitor volta à Coletânea com outro trabalho: a banda Baby Lixo, mais uma aventura sônica de tons vanguardistas do músico, que tem formação acadêmica e intenções ousadas: Heitor quer desconstruir o rock.

Hein?!?

“Mas a ideia é fazer rock mesmo, sem muita... (pausa). É explorar os limites do rock. Tem a coisa dos riffs de guitarra muito presente. É uma linguagem de rock, com vocais mais agressivos”, explica Heitor.

“No nosso primeiro EP, Bon Appetit, Sucuri,  trabalhamos a partir de canções. Mas não vai ser só isso. Fazemos colagens. Pega um  riff aqui, um texto ali, uma harmonia acolá. Tem um trabalho de decupagem sonora”, detalha o músico.

Procura-se o roque

Por mais que doa ao colunista, é possível que Heitor esteja prestando um serviço: tem coisa mais desmoralizada e irrelevante do que o rock hoje?

A juventude, em sua maioria absoluta, não quer mais nem saber. Está ocupada demais se exibindo em redes sociais e engolindo a próxima modinha (funk, sertanejo, pagode) sem qualquer questionamento.

Talvez seja mesmo bom para o rock ser desconstruído, reinventado.

“Sem dúvida, e  isso não é uma ideia nova. Os Beatles fizeram isso, o rock progressivo, o punk fez isso. E  acho que essa forma de trabalhar é muito contemporânea. A coisa do mash up,  CTRL+C,  CTRL+V é por aí. Vejo muito isso por aí e acredito que vai ser cada vez mais vai ser explorado”, reflete Heitor.

É possível que, após 50 anos (ou 60, para os mais otimistas) de constantes revoluções musicais,estéticas e de comportamento, estejamos diante de um esgotamento de linguagem do rock?

"Quem me falou a mesma coisa foi Ronei Jorge: as coisas mais arranjadas, criativas e inovadoras e ousadas hoje em dia não estão mais do rock. É curioso, isso. Mas não sei a linguagem se esgotou. Desde o comecinho dos anos 2000 tem pintado muito revival, muita banda refazendo as mesmas linguagens dos anos 60, 70, 80. Talvez por que o século 20 foi muito... Talvez por a gente ter tido muitas inovações em um período relativamente curto, determinadas linguagens foram aprofundadas, e os músicos de agora tenham essa necessidade de retomar o que se fazia nessas épocas. Mas não acho que tenha esgotado. Acho que não esgota nunca. Mas a sensação de saturação é possível. Aí fica a sensação de que não tem tem mais nada o que ser feito. Acho que não esgotou, não, vira e mexe, aparece algo. Claro que nao mais como nos anos 60, por exemplo que tinha uma coisa aqui outra ali e... Mas ainda aparece. O Radiohead nos ano 90, Björk, QOTSA, Mars Volta... Tudo bem que Björk não é mais tão rock, mas acho que ainda aparece coisa, sim", reflete Heitor

O primeiro registro do Baby Lixo, o já citado EP Bon Appetit, Sucuri, foi produzido por Jorge Solovera e estará disponível para baixar a partir de 19 de julho, no site da banda.

No mesmo dia, show no Café da Walter. No site www.babylixo.com.br já dá para ouvir as faixas Mundonela e Henry Miller foi Mendigo.

No palco, Heitor será acompanhado por Antenor Cardoso (bateria) Eduardo César (guitarra) Vitor Magalhães (baixo).

Baby Lixo: lançamento de Bon Appetit, Sucuri / Café da Walter (Biblioteca dos Barris) / 19 de julho, 20 horas / Preço do ingresso a ser divulgado




NUETAS

Lacertae no sábado

Incrível arte de Bruno Aziz no cartaz do show
A grande banda sergipana Lacertae, da cidade de Lagarto, andou sumida por alguns anos, mas agora está voltando – e este sábado já tem show em Salvador. vai ser no Warm-Up Festival Big Bands 2014, com as locais Tentrio, Modus Operandi e o DJ Bruno Aziz. Quem ainda não conhece o Lacertae, vale a pena: trata-se de um duo, formado por um guitarrista endiabrado, virado na estética hendrixiana, acompanhado por um baterista de kit inusitado, que inclui um berimbau de cipó de imbé, típico da região.  Tentrio é rock instrumental épico. E Modus Operandi, nosso representante na estética do rock industrial / gótico. Dubliner’s, 22 horas, R$ 10.

One for the money...

Amanhã tem os fantásticos Les Royales detonando mais uma edição da festa Rockabilly Sessions. No Commons Studio Bar, 22 horas, R$ 15 (lista amiga no www.commons.com.br).

Lucas no Show Box


A mesma Commons inaugura, no dia seguinte (quinta-feira, 19) um novo formato de eventos na casa: o Show Box, que terá apresenações em formato reduzido, tipo voz & violão, duos, live PA. O primeiro traz  Lucas Santtana, voz e violão. 22 horas, R$ 15 (lista amiga).

segunda-feira, junho 16, 2014

SENTA, QUE O TITIO CREEPY VAI TE CONTAR UMA HISTÓRIA

Material da clássica revista Creepy dos anos 1960 ganha mais um volume

 Muito antes da invasão zumbi de The Walking Dead (a HQ), o terror já dava as cartas nos quadrinhos como uma grande sensação, além de atrair alguns dos maiores talentos da indústria.

Em Creepy: Contos Clássicos de Terror, podemos conferir um pouco dessa produção.

Aqueles com mais de 40 anos que liam HQ nos anos 1970 talvez já a conheçam: muito desse material foi publicado no Brasil na saudosa revista Kripta, da editora RGE (atual Globo).

Para apreciadores de qualquer idade, este segundo volume pela Devir (o primeiro saiu em 2013), é puro deleite.

Em 304 páginas desfilam algumas das maiores lendas dos quadrinhos, como Archie Goodwin, Frank Frazetta, Alex Toth, Wally Wood, John Severin, Joe Orlando, Steve Ditko, Gene Colan, Gray Morrow e muitos outros.

Esperteza que dribla censura

Fundada em 1964 por Russ Jones para Warren Publications, a Creepy ecoava, em temática e estética, as revistas de terror da EC Comics, fechada pelo governo americano durante a caça às bruxas da era McCarthista.

Creepy se safou da  graças a uma esperteza do seu editor, James Warren: rodada em  formato magazine (o mesmo da Veja, por exemplo), não lhe era exigido o selo de aprovação do Comics Code Authority, criado no auge da perseguição.

A mesma estratégia foi utilizada com sucesso nas duas outras revistas de terror da editora: Vampirella e Eerie – esta última, como Creepy, também está sendo republicada no Brasil em volumes, pela Mythos Editora.

Jones logo se desentenderia com Warren, dando lugar ao lendário editor e roteirista Archie Goodwin, que depois se tornaria um dos principais nomes da Marvel nos anos 70 e 80.

Em P&B, Goodwin e um dream team de desenhistas criaram milhares de páginas em que valia tudo para assustar e surpreender o leitor: desde adaptar contos de Edgar Alan Poe (O Barril de Amontillado) e Bram Stoker (Drácula) a recorrer a medos mais “modernos”, como guerras, robôs revoltados e conspirações de assassinato.

O alívio cômico ficava por conta da apresentação sempre mordaz do anfitrião da revista, o tenebroso Titio Creepy, além dos muitos anúncios de produtos típicos da época, como o veículo do Frankenstein, bonecos do Drácula, óculos de raios-X etc. Uma delícia.

Creepy: Contos Clássicos de Terror – Volume Dois / Vários autores / Devir/ 304 p. / R$ 49 / capa dura: R$ 60 / www.devir.com.br

domingo, junho 15, 2014

PODCAST ROCKS OFF DISSECA: SLOWHAND - PARTE 2

  Osvaldo Braminha Silveira Jr., Nei Bahia e Miguel Cordeiro fecham a tampa nessa série de dois podcasts especiais, dedicados à vida e obra de Eric "Deus" (ou "Slowhand") Clapton.













sexta-feira, junho 13, 2014

BAIÃO ERUDITO NO TCA

De casa nova (temporária) e em outra Secretaria, o projeto NEOJIBA faz concerto junino domingo, com homenagem ao Rei  Luiz Gonzaga

Ensaio Neojiba em 10.06.2014 - Foto Maurício Serrra
Símbolo do Brasil em sua face mais popular e legítima, o Rei do Baião  Luiz Gonzaga (1912-1989) é o grande homenageado do Domingo no TCA deste mês, com duas orquestras do projeto NEOJIBA executando seus clássicos, pelo preço de nenhuma: R$ 1 e R$ 0,50, meia.

“Faremos Asa Branca e um pout pourri chamado Gonzagueando, tudo executado por duas orquestras no palco: a Juvenil da Bahia e a Castro Alves”, detalha o maestro Ricardo Castro, criador do projeto e seu diretor desde início, em 2007.

“O  restante do repertório é de inspiração nacional e latino-americana – com exceção da Dança Húngara, de Johannes Brahms (1833-1897)”, acrescenta o músico.

Desta forma, completam o repertório do concerto as peças Danzón nº 2, do mexicano Arturo Márquez (1950) e Malambo, do argentino Alberto Ginastera (1916-1983).

El Sistema

Hoje com sete orquestras juvenis, o NEOJIBA (sigla para Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) baseia sua metodologia de ensino no aclamado El Sistema, programa venezuelano criado em 1975, pelo economista e músico José Antonio Abreu.

“Como nos inspiramos no El Sistema, uma característica dele é o tratamento orquestral do repertório nacional popular. Por isso incluímos no nosso repertório o Danzón do Arturo Márquez, que traz em si toda a tradição das danças cubanas e mexicanas, transcritas para orquestra”, explica Ricardo.

“Inspirados nisso, provocamos nossos músicos a transcreverem, em arranjos eruditos, clássicos populares brasileiros. Então já temos transcritos, com sucesso, Aquarela do Brasil (de Ary Barroso), Tico-tico no Fubá (Zequinha de Abreu) e, finalmente, Asa Branca e Gonzagueando”, detalha o maestro.

O que é realmente impressionante é que, no caso das composições de Gonzagão, as orquestras executam essas peças sem partitura.

“Esta é uma ação pioneira  da arte orquestral, na qual atuamos sem os limitantes de precisar estar sempre vinculados à partitura”, afirma.

“Nossos meninos tocam Asa Branca de ouvido,  desenvolvendo a capacidade de improvisação e estabelecendo um vínculo direto entre músico e música, sem passar pela partitura”,  acrescenta Ricardo.

O concerto será dividido em duas partes, com a primeira a cargo da Orquestra Juvenil da Bahia. “A Orquestra Castro Alves entra na segunda parte do concerto”, conta Ricardo.

“É uma orquestra recém-formada, após a admissão de novo integrantes,  agora em maio. Ela exemplifica os resultado dos núcleos de prática orquestral implantados na Região Metropolitana e fora de Salvador”, diz.

"É uma satisfação enorme (dirigir o projeto), uma jornada muito intensa, de muitos desafios e batalhas, mas que vale muito a pena, por que estamos tratando do futuro de nossa comunidade, de nossa sociedade. A educação e interação são as chaves para um crescimento harmonioso para nossa sociedade, e a música tem se demonstrado como um meio mais rápido, eficaz e bonito de atingir resultados significativos nessas áreas", reflete.

Da Secult para a Sedes

Ricardo Castro (esq.) e o jovem maestro Yuri Azevedo. Foto: Tatiana Golsman
Renovado, o NEOJIBA respira novos ares em dois níveis: físico e administrativo.

Saiu do Teatro Castro Alves para uma casa (temporária) no bairro do Barbalho.

E foi transferida da Secretaria Estadual de Cultura (SecultBA), para a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (SEDES).

“A evolução do NEOJIBA ultrapassa todas as expectativas, graças ao apoio incondicional do governo do estado na implantação deste projeto como política pública. Hoje temos mais segurança dentro da SEDES, que nos dá mais capilaridade e potencial de expansão”, afirma Ricardo Castro.

Ele conta que essa migração estava prevista desde o início – até por que o NEOJIBA segue a risca o El Sistema: “Na Venezuela eles também fizeram essa migração lá atrás, da Cultura para o Desenvolvimento Social, uma secretaria  mais adequada a nossa ação cultural”, explica.

“Foram muito importantes esses anos no SecultBA  por que as orquestras se inseriram numa dinâmica de excelência e visibilidade. Foi uma casa acolhedora ao NEOJIBA”, reconhece.

 "A finalidade das orquestras do Neojiba não é o concerto em si, mas sim o caminho que ele leva. Enquanto que, em uma orquestra normal, vinculada a área de cultura, a finalidade é a apresentação pública, a nossa meta é levar o público, a plateia, ao palco, a participar, pela linguagem musical, do processo de crescimento e desenvolvimento humano. Sem distinção de idade, ideologia, classe social, situação humana. É uma ação que abrange a todos, e por isso, pode ser considerada uma das políticas públicas mais importantes da Bahia", afirma Ricardo.

Agora é hora de alçar novos voos, pelo jeito. Mas antes uma questão séria precisa ser resolvida: “Ainda não temos sede definitiva. Nosso maior desafio hoje é conseguir isso”, diz.

“Esta é uma pendência importante que, esperamos resolver em breve. Não temos mais salas de ensaio do tamanho de nossas orquestras, nem salas de estudo em quantidade suficiente para  todos os inscritos”, diz.

Domingo no TCA – Orquestra Juvenil da Bahia e Orquestra Castro Alves / Domingo, 11 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves / R$ 1 e R$ 0,50 / Vendas: no dia, a partir das 9 horas