Anelis Assumpção. Foto Anna Turra |
Hoje, mais uma edição se inicia, trazendo pelo menos duas atrações inéditas por aqui: o pernambucano China e a banda O Terno, de São Paulo.
A programação de três dias ainda tem a sensação paraense Felipe Cordeiro, a herdeira da vanguarda paulistana Anelis Assumpção (filha de Itamar) e a festejada Karina Buhr.
Não menos interessantes, as atrações locais elencam a anti-banda Radio Mundi, a estreia do duo Tropical Selvagem (Ronei Jorge & João Meirelles) e uma parceria do DJ Mangaio com o Coletivo Di Tambor.
Ligada às práticas de DJing e VJing, a mostra Patrimônio Imaginário também acontece no Pelourinho, amanhã.
Tom Zé, Papa e bolachas
Desde que apareceram tocando debaixo d’água no clipe da fantástica 66, (285.034 visualizações no You Tube até ontem) O Terno disparou como uma das novidades mais legais do rock brasileiro em muito tempo.
"2012 foi um ano que aconteceu muita coisa pra gente, que tocamos juntos desde 2009. De lá para cá, viemos trabalhando o repertório do álbum 66. O clipe da música 66 e o disco saíram em 2012, mas foi o clipe, lançado antes, que nos abriu muitas portas, por que teve uma repercussão muito grande. Saiu inicialmente pela antiga MTV Brasil e pela internet e depois se espalhou. Ganhamos o prêmio de Aposta MTV e também o Premio Multishow de clipe do ano.Esses dois prêmios de uma só vez foi uma surpresa e também muito importante, por daí surgiram outros shows e convites para programas como o Som Brasil Especial da Tropicália (Globo). Em 2013 tocamos pra caramba pelo interior de São Paulo, Brasília, Minas, Curitiba, Rio e outros estados", relata o baterista Victor Chaves.
"Estamos bem animados. Nunca tocamos aí, e começar o ano, fazendo o primeiro show de 2014 em Salvador é bem legal. Estamos de volta aos shows, porque em dezembro só estávamos em estúdio, gravamos o segundo CD", acrescenta.
O Terno. Foto Gal Oppido. "Vocês lembram da minha voz? Já meus cabelos..." |
“A gente tem uma grande referência nesse momento, especialmente Mutantes e Beatles, mas somos uma banda atual”, diz.
“A ideia é pegar essas referências, especialmente nos timbres e nos arranjos e tentar fazer algo novo. Tem várias bandas atuais que fazem isso também, como a Tame Impala (da Austrália) que a gente gosta muito”, detalha o músico.
Os garotos (média de 23 anos) andam com tanta moral que foram convocados por Tom Zé para participar do seu EP virtual Tribunal do Feicibuqui, uma resposta do iraraense às críticas por ter participado de um comercial de TV para o proverbial “líquido negro do capitalismo”.
“Foi divertido demais o encontro com Tom Zé”, diz.
“Fomos na casa dele e aí ele chegou com uma noticia fake de um blog de humor, que falava: ‘Papa Francisco perdoa Tom Zé pela locução do comercial da Coca-Cola’. ‘Faz uma música disso aí’, ele sugeriu. Aí largou a gente num quarto e foi fazer outras coisas”, conta.
“O Tim fez a letra, ele curtiu e aí rolou essa marchinha, Papa Francisco Perdoa Tom Zé. Nesse dia, cada um da banda saiu da casa dele com um CD Tropicália Lixo Lógico e um pacote de bolacha. Ele disse que na Bahia não se sai de mãos vazias de casa de família. Um pacote de bolacha pra cada um”, ri o baterista.
Chinaman. Foto Vitor Salerno |
Revelado em meados dos anos 1990 à frente da banda Sheik Tosado (da segunda onda Manguebeat), o pernambucano China é um artista multimídia: canta, compõe, apresenta programas de TV e rádio (A Liga, Oi FM) e, volta e meia, discute via Twitter com o Fora do Eixo.
“Eu procuro usar da minha verdade”, diz. “Quando eu questiono o Fora do Eixo, só quero explicações. Não quero acabar com nada. Vamos conversar, me contem o que acontece. Mas nunca respondem“, afirma.
"Esse tipo de coisa já me trouxe mais dor de cabeça. É que hoje sou pessoa pública, estou na TV. Então me forçam a uma postura de formador de opinião, entende? Me pedem listas de melhores do ano... porra, vai ouvir 300 discos você"!, reflete.
"Mas (sobre as discussões on line com o FdE) acho super pertinente meus questionamentos. Tem quem é partidário e tem quem não é, e cada um com sua opinião, então respeitem a minha também. Não escrevo a esmo, é tudo pensado até em como vou escrever sem machucar pessoalmente quem lê e até o próprio coletivo que eu questiono. Pô, vamos conversar, me contem o que acontece", pontua.
Graças à sua postura sem rodeios e direto ao ponto, China até já ajudou a melhorar alguma coisa. "No ano passado falei que não tocaria no Carnaval de Recife por conta dos atrasos de pagamento do cachê. Não havia movimento nenhum sobre isso, era uma postura minha. Mas é foda, né? Minha família precisa dessa grana, eu moro com meus dois filhos. Não estava esperando que mudasse nada, mas o que foi massa é que, depois de mim, outros artistas fizeram o mesmo. E os outros que tocaram receberam super rápido e depois me mandaram mensagens agradecendo a minha postura", relata.
No Zona Mundi, ele se apresenta sábado, no Solar Boa Vista. ”Fiquei super feliz com o convite. É tão difícil circular pelo Nordeste, não sei o que acontece”, pergunta-se.
No repertório, canções dos seus três discos, com ênfase no mais recente, Moto Contínuo (2011), álbum elogiado e que contém colaborações dos baianos Pitty e Martin Mendonça.
“Tô muito animado, apesar de não fazer a menor ideia de como é o público aí, se conhecem meu trampo e tal. Mas recebo muita mensagem da Bahia pedindo meu show, então acho que vai ser lindo”, aposta.
Fã da banda local Suinga, China vê nela o que falta: “Tá faltando humor. Hoje todo mundo é tão cabeça", ironiza. "Quando eu encontro alguém assim, eu piro”.
Karina Buhr. Foto: Pedro Vilhena |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Tá loco aí? Então comenta!