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quinta-feira, janeiro 03, 2013

PHILIP K. DICK: VOLUME DE CONTOS ADAPTADOS AO CINEMA TRAZ OS TEMAS MAIS CAROS AO AUTOR DE BLADE RUNNER

Meio genial, meio esquizofrênico (do tipo dado a visões místicas), o escritor norte-americano Philip K. Dick (1928-1982), permanece um enigma a ser devidamente desvendado.

Realidades Adaptadas (Aleph), livro que reúne sete dos seus contos transpostos para o cinema, poderá não elucidar os muitos pontos obscuros em sua vida e obra, mas é bom começo – além de ser uma senhora leitura para os apreciadores de sua ficção científica psicodélica, pessoal e intransferível.

Estão aqui os seguintes contos: Lembramos Para Você a Preço de Atacado (adaptado como os filmes O Vingador do Futuro, de 1990 e 2012), Segunda Variedade (adaptado como Screamers - Assassinos Cibernéticos, 1995), Impostor (Impostor, 2001), O Relatório Minoritário (Minority Report - A Nova Lei, 2002), O Pagamento (O Pagamento, 2003), O Homem Dourado (O Vidente, 2007) e Equipe de Ajuste (Os Agentes do Destino, 2011).

Infelizmente, quase todas estas adaptações falharam em captar o real espírito filosófico da obra literária de Dick e se ativeram aos aspectos mais superficiais dos contos, o lado mais aventuresco e comercial.

Desta leva, a adaptação mais digna é – por incrível que pareça – a primeira versão de Lembramos Para Você a Preço de Atacado: o filme O Vingador do Futuro (1990), estrelado por Arnold Schwarzenegger.

 Mas não exatamente por causa do carismático brucutu austríaco, mas por mérito do diretor, o holandês Paul Verhoeven, um legítimo subversivo entranhado no sistemão de Hollywood, e que, em 1987, já tinha cometido uma obra-prima da FC distópica: Robocop.

Já filmes como  Screamers - Assassinos Cibernéticos, Minority Report - A Nova Lei e  Os Agentes do Destino  ainda se prestam a uma sessão da tarde descompromissada.

Quanto aos outros... bom, era melhor que nem tivessem sido “cometidos”.

Realidade esfacelada

Quanto aos contos, o que se depreende da maioria deles (assim como da maior parte da obra de Dick) é que o homem era atormentado pelo princípio que veio a ser conhecido como Matrix: a realidade é uma ilusão.

E antes que alguém aí cite a célebre trilogia dos Irmãos  Wachowski, vale lembrar que a maioria destes contos foi escrito na década de 1950.

De diferentes ângulos, ele aborda diretamente o tema da “falsa realidade” em pelo menos três destes sete contos: Lembramos, Relatório e Equipe.

Já em Impostor, Segunda Variedade e O Homem Dourado, o tema também é o mesmo: o que é ser humano? O que nos torna seres humanos?

Que aliás, é o tema central do mais bem-sucedido filme  baseado em  um de seus romances: o clássico Blade Runner - O Caçador de Androides (1982), de Ridley Scott.

Questionamentos naturais para um ex-estudante de Filosofia da Universidade de Berkeley, diga-se. As formas como ele abordava essas questões é que eram extraordinárias.

Fama póstuma

À moda Hitchcock, seus protagonistas eram sempre homens comuns envolvidos em seus afazeres diários que, um belo dia, caem em uma espécie de toca de coelho (influência de Lewis Carrol?) e veem a realidade se esfacelar diante de seus olhos.

Um ótimo exemplo é Equipe de Ajuste.

O conto, de ambientação idílica nos subúrbios e escritórios norte-americanos dos anos 1950, mostra um homem que, um belo dia, chega na hora errada ao trabalho e flagra uma estranha equipe de trabalhadores “remoldando” a realidade, incluindo desde as divisórias até o físico das pessoas, como se faz com massa de modelar.

Acima, cena do filme Os Agentes do Destino, com Matt Damon e Emily Blunt, baseado neste conto.

Segue-se aí uma frenética busca do homem pela verdade, além do questionamento da sua própria sanidade mental.

O conto é bem ilustrativo da mente de Dick, que vivia atormentado com o que ele achava ser o espírito encostado de sua irmã gêmea, morta aos três meses de idade.

Outro episódio é sua experiência mística de 1974, experimentada após atender a porta e se deparar com uma entregadora de farmácia usando um pingente de colar na forma de um peixe – símbolo dos primeiros cristãos.

O episódio, ele relatou, o transportou para a Roma antiga, entre outras peripécias. Robert Crumb quadrinizou essa história maluca, que o jornalista brasileiro Alexandre Matias traduziu e jogou on line. Leia.

No fim das contas, tudo isso só torna ainda mais fascinante a leitura destes contos – como de resto, qualquer coisa que ele escreveu.

Morto por acidente vascular cerebral pouco antes da estreia de Blade Runner nos cinemas, Dick nunca viu nenhum dos filmes baseados em sua obra e é mais popular hoje do que jamais foi em vida.

Realidades Adaptadas / Philip K. Dick / Aleph / 304 p. / R$ 48 / www.editoraaleph.com.br

5 comentários:

  1. Posts inaugurais de 2013.

    Meu reveillon? Foi ótimo, obrigado.

    ...Veuve Clicquot, BITCH!

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  2. Bobby Womack diagnosticado com alzheimer...

    http://oglobo.globo.com/cultura/bobby-womack-anuncia-que-esta-com-alzheimer-7171852

    ...e Peter David sofrendo AVC:

    http://www.examiner.com/article/marvel-comic-book-writer-peter-david-suffers-stroke

    2013 começou não muito bem para alguns ídolos deste blogueiro.

    É pé em deus e fé na estrada.

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  3. Sin City 2 vindo aí.

    http://omelete.uol.com.br/sin-city/cinema/sin-city-2-modelo-da-playboy-mostra-seu-visual-no-filme/

    Fetish babe.

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  4. IM-PER-DÍ-VEL:

    http://omelete.uol.com.br/cinema/killer-joe-matador-de-aluguel-assista-ao-trailer-legendado/

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  5. O fantástico Jacques Tardi (Era a Guerra de Trincheiras, O Grito do Povo etc) recusou a medalha da Legião de Honra, maior condecoração do governo francês:

    http://www.bleedingcool.com/2013/01/02/jacques-tardi-turns-down-the-legion-dhonneur/

    Bravô!

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