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segunda-feira, janeiro 21, 2013

MÁRIO MEMÓRIA: PARTE 1

É com imenso prazer e o coração latejante de emoção que anuncio ao volta do RockLoquista Original a sua casa: Mário Jorge, velho amigo pessoal deste jornalista, baterista das bandas Úteros em Fúria e Penélope, fundador do programa de rádio Rock Loco (origem deste blog), está escrevendo algumas de suas memórias dos loucos anos 1990. Neste primeiro texto, que ele publica também em sua página no Facebook, Mário nos conta como foi seu périplo solitário (ou nem tão solitário assim) de Salvador ao Rio deJaneiro, para testemunhar o histórico Hollywood Rock de 1993 - aquele do Nirvana. Sem mais, divirtam-se!

DIÁRIO DO ROCK 1 - 19 de janeiro de 1993:
Caganeira, caipirinha e pimentas ardidas

No início dos anos 90, o rock estava com gosto de querosene, inclusive em Salvador: MeioHomem, brincando de deus, Mütter Marie, Dr. Cascadura, Crack... Visceralidade e vontade de sobra. Duas rádios tocavam “rock” (96 FM e Cidade), mas MTV não pegava por aqui (que tardou, só chegou em 1995).

A gente tinha que se contentar em assistir ao Vídeo Jovem com Josenel Barreto como apresentador, soltando pérolas como: “O Metallica que acaba de ganhar o premio gremlins”. Quem tinha acesso a MTV? Só lembro dos irmãos Serravalle (Dalmo e Quinho, da brincando de deus), TV a cabo ainda era muito restrita.

Nessa época, o Brasil entrava na rota dos shows internacionais. O Hollywood Rock rolava no verão no Rio e em SP e concentrava grandes atrações em poucos dias de apresentação. Solução: o velho Itapemirim comercial, sem nenhuma dúvida... Avião não era pra roqueiro. E se não tivesse onde ficar, ficava na rua, ninguém quer mexer com um “maluco sujo”.

Época de uma leva de rock alternativo espetacular e nenhuma preocupação. A madrugada de 19 de janeiro de 1993, exatamente há 20 anos atrás, passei de caganeira . Comprei elixir paregorico (opiáceo usado pra diarréia... Minha mãe usou muito na minha infância. Acredito que hoje seja uma medicação controlada) e embarquei torcendo pra dá tudo certo.

O remédio deu um sono monstro e dormi quase que a viagem toda sem precisar do banheiro do buzú. Vinte e seis horas depois: o Rio. Mais um buzu rumo a Copacabana, onde Fernando Bueno (amigo baterista que morava no Rio com a sua banda Dead Easy) me cedeu um teto.

Banho básico, um pão com ovos e suco na esquina e vamos lá! “Praça da Apoteose”. O DeFalla abriu o festival com um show bem maluco, mas quando a gente é fã, acha tudo bonito.

Foi então que me apareceu meu amigo Cebola e me apresentou a maior invenção do verão de 93: “a
caipirinha em lata” (a partir desse momento não tenho certeza da real seqüencia dos fatos). Nos abraçamos e pulamos como cangurus endemoniados.

Na seqüencia, biquíni cavadão. Que beleza! Hora de ir pro bar e chapar o coco de caipirinha. Eu e Cebola já estávamos achando tudo lindo.

O Alice In Chains, com um puta de um show pesado e sombrio (e isso é um elogio, tá?), e eu curtindo. E aí que veio a porra! O Red Hot Chilli Peppers entrou no palco “botando prá vê táuba lascá”, rock do bom e muita disposição para chegar colado ao palco.

Fiquei emocionado, só senti coisa igual no Robert Plant (com Jimy Page) em 1994 e no Neil Young no Rock in Rio de 2001. O guitarrista não era o Frusciante... Acho que foi uma das poucas apresentações de Erick Arik Marshall no RHCP. Gás total até o final do show e a sensação de que tudo vale a pena.

Cheguei na casa de Bueno com uma fome da porra. Nada perto dava esperança de alimento naquela hora da madrugada. Saí andando a esmo pelas ruas de Copacabana e no calçadão avistei uma barraquinha de cachorro quente. Quando cheguei me deparei com Edu K e Castor Daudt (DeFalla).

Pensei... Caralho, ou o mundo do glamour é uma farsa mesmo ou esses caras são muito bagaceira... Hospedados no Copacabana Palace, acabaram de tocar no festival mais importante do país e estavam ali comendo aquele cachorro quente da pior qualidade. Trocamos umas ideias, eles conheciam a Úteros e falamos sobre a possibilidade de tocar juntos.

No dia seguinte, após acordar, forrei o estomago com um churros e rumei à apoteose. Cheguei e fui direto pro bar em busca da “maravilha”. Calor da porra, caipirinha gelada e a doideira “carcomendo no front”.



As primeiras bandas da noite (nem lembro quais foram) não me interessavam, eu estava no aguardo do L7 e do Nirvana. Então, O L7 fez um show massa! Divertido e alto astral (as meninas estavam se divertindo mesmo, no dia anterior, tinham mostrado as bundas brancas queimadas de sol na janela do ônibus).

O show do Nirvana em SP uma semana antes tinha sido bizarro, João Gordo falou para Kurt que aquele era um festival capitalista vendido, patrocinado por uma marca de cigarros e transmitido para todo o país por uma rede de televisão de bosta.

Silêncio e lá vem o show do Nirvana, confesso que não estava entendendo muita coisa, as pausas pareciam longas demais, afinadas intermináveis, Kurt acendia um cigarro e ironizava o festival, tirava o pau pra fora e cuspia na câmera da rede globo...

A poucos metros de mim, uma ruivinha nariguda linda com uma faixa da banda na cabeça olhava meio entediada. Dei-me conta que tinha coisas interessantes além do palco... Duas ou três frases engraçadinhas e o show ficou melhor.

No dia seguinte, encarei o velho Itapemirim comercial (dessa vez sem opiáceo). Exausto, rumei para casa com a sensação de que só o show do RHCP e a caipirinha em lata já tinha valido tudo.

E se passaram 20 anos...


6 comentários:

  1. Detalhe, após o caótico show do Nirvana, Mario vira pra mim e fala, "taí, goshhtei" (modo embriagado em alta). Respondi algo no mesmo tom, sei lá o que exatamente. Mas que depois de tomar um ou dois copos de cerva com gosto de mijo fez aquelas latinha parecerem o néctar dos deuses...ah isso foi mesmo. Grande e belo texto, mr. Mario. Manda mais!!

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  2. Rapaz, tava vendo esse vídeo do L7 aí.... QUEPORRAÉESSA?

    Isso sim era festival de verão.

    Que astral monstro. Todo mundo louco, curtindo a milhão. Vc não vê ninguém parado, com cara de nojinho, blasé.

    Se fosse hj metade ia estar filmando / fotografando com seus smartphones. E a outra metade ia estar tuitando - ou atualizando o "feici", dizendo aonde estava e o que estava fazendo.

    Essa juventude de hj está perdida, meudeus.

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  3. Chicão, tomo a liberdade de defender os jovens desse mundo virtual!

    Os maiores facechatos que conheço já passram dos 30 a muito tempo!!!

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  4. legal o texto Mário!!!
    nunca entendi esse papo de que o Nirvana não queria tocar no festival grande pq é underground, num quer assinar num assina...quer qubrar o contrato quebra...pdoe ter se arrependido? ok...entendo...mas e as pessoas que pagaram pra ver a banda?
    e o "profissionalismo"?
    penso 1o em mim num show, pra me divertir, senão num "divirto" os outros...mas penso tb em quem pagou pra ver um show daquele...pra conseguir uma grana pra ir, como Mário fez, viajou 26 horas num buzão pra ir ver...e chegar lá ser uma merda, imagina se o cara fosse "fan" da banda? não fan menudos, mas um cara que o disco da banda foi importante pra ela quando novo...hj em dia isso num soa tão "normal", mas nos anos 90 pra mim, isso era a coisa + importante que tinha...além de jogar bolas com meus amigos em minha rua...

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  5. Nei, se vc está dizendo eu acredito. Até por que, assim como Bob D., eu não estou lá....

    Sputter, eu uma galera (Borel, Apu e outros) assistimos a transmissão ao vivo desse show lá em casa (minha mãe e avó estavam viajando e a noitada ainda deu prejuízo material, mas isso é outra história) e lembro de ter achado esse show do Nirvana uma merda total, fiquei decepcionado. Borel, não. Achou foda. Achou que Kurt botou pra foder. Eu não tinha pegado o aspecto político da coisa. Borel, não. Tinha entendido o teor de manifesto anti-megacorporação ali no ato, intuitivamente. Eu fiquei decepcionado por que esperava um show perfeito, alucinante, energético, cheio de hits. Hj acho legal e tal. Mas acho que se tivesse ido lá como Mário ficaria mais decepcionado ainda. Sabe como é, eu não paguei pra ver um manifesto anti-megacorporação. Mas enfim....

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  6. Walking Dead volta na Fox com os episódios inéditos da terceira temporada 12 de fevereiro. Trailer arrepiante do que vem aí:

    http://omelete.uol.com.br/walking-dead/series-e-tv/walking-dead-novo-trailer-revela-cenas-ineditas-do-retorno-da-terceira-temporada/

    E TV aberta se rendeu aos zumbis. A Bandeirantes começou a axibir o seriado às terças (mesmo dia em que é exibido na Fox). Hoje, 22.01, passa o segundo espisódio da primeira temporada.

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