Em um mundo aonde tudo parece conspirar para anular qualquer traço de pensamento crítico, personalidade própria e alma, ler William Shakespeare chega ser um exercício de subversão.
E quanto mais jovem, melhor. Um bom atalho para introduzir o bardo inglês às crianças e jovens está na Coleção Shakespeare Em Quadrinhos (Editora Nemo).
Com três volumes já lançados há alguns meses (Romeu & Julieta, Otelo e Sonhos de Uma Noite de Verão), a coleção acaba de ganhar mais dois volumes: A Tempestade e Macbeth.
É verdade que clássicos literários convertidos em quadrinhos se tornaram um belo filão de mercado para as editoras, ávidas a serem incluídas na cobiçada lista anual de obras a serem adquiridas pelo Programa Nacional Biblioteca nas Escolas (PNBE), do Ministério da Educação (MEC).
É verdade também que, nem sempre, tais HQs constituem uma adaptação à altura da obra original.
Felizmente, não é caso desta coleção.
Primeiro, é preciso dar um desconto: condensar uma obra de Shakespeare em 64 páginas de quadrinhos não é tarefa fácil.
E depois, nenhuma adaptação em HQ substitui a obra original. Elas costumam servir justamente como uma introdução resumida, uma espécie de “aperitivo”, para que o leitor se interesse pela obra, o autor etc.
O editor da coleção, o também quadrinista Wellington Srbek (autor da premiada Estórias Gerais), chama a atenção justamente para este caráter introdutório: “A principal orientação (aos roteiristas e desenhistas) é ser o mais fiel possível aos fatos narrados na obra original”, conta, em entrevista.
“Partindo disso, cada dupla de autores faz um trabalho de transposição da peça para a linguagem dos quadrinhos, tendo em mente o público final ao qual as adaptações se destinam, que são os leitores jovens”, diz.
Com uma obra tão extensa quanto essencial, a seleção de peças a serem adaptadas é, certamente, a parte mais fácil do trabalho: “Simplesmente selecionamos as obras mais importantes e mais significativas de Shakespeare”, define Srbek.
Feita a escolha das obras, parte-se para a seleção dos profissionais designados para adaptá-las: “Neste caso, como conheço diversos roteiristas e desenhistas brasileiros, foi mais uma questão de reunir duplas cujo trabalho mais se aproximasse do estilo e da temática de cada peça”, detalha o editor.
A adaptação de A Tempestade é um ótimo exemplo de como o processo aparentemente simples assumido por Wellington funcionou bem.
O roteiro ficou a cargo de Lillo Parra, com experiência de mais de dez anos no meio teatral, com os coletivos paulistas Teatro Popular União e Olho Vivo.
Já o traço delicado, fluido, de Jefferson Costa caiu como uma luva em figuras fantasiosas como o feiticeiro italiano Próspero e seu servo monstruoso, Caliban.
Já o traço sombrio (e totalmente colorido em tons terrosos) de Rafael Vasconcellos se prestou com notável leveza ao clima de traições e intrigas medievais de Macbeth. Marcela Godoy, romancista (O Primeiro Relato da Queda de Um Demônio) e roteirista do volume Romeu & Julieta, também cumpriu bem sua tarefa em Macbeth.
Claro, todos aqueles longos monólogos e diálogos típicos do velho William são aqui resumidos, mas não diminuídos.
“Na verdade, no caso da Coleção Shakespeare, os roteiristas fazem uma recriação do texto original, partindo do que o autor escreveu, mas pensando na narrativa dos quadrinhos”, esclarece Wellington, que prepara, ele mesmo, uma adaptação sem resumos de Hamlet para breve, com o desenhista Alex Shibao.
“Está em produção agora Rei Lear, com roteiro de Jozz e desenhos de Octavio Cariello. Temos também em finalização uma adaptação de Hamlet, mas esta não será para a Coleção Shakespeare, pois tem uma proposta diferente; foi uma tradução direta do texto original da peça, feita por mim, que está sendo desenhada por Alex Shibao, e é voltada para um público mais adulto”, conclui.
Macbeth / William Shakespeare, Marcela Godoy e Rafael Vasconcellos / Nemo/ 64 p/ R$ 39/ www.editoranemo.com.br
A Tempestade / W. Shakespeare, Lillo Parra e Jefferson Costa / Nemo/ 64 p/ R$ 39/ www.editoranemo.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
6 comentários:
Grant Morrison desanca Alan Moore legal e aponta vários supostos plágios que o barbudão cometeu, roubando ideias do carecão.
http://www.bleedingcool.com/2012/11/26/fanboy-rampage-grant-morrison-vs-alan-moore-round-eight/
O que posso dizer?
DE-LI-CI-O-SO!
Quero mais!
No livro do Morrison, Superdeuses, ele até pegou leve, apesar de deixar bem claro em várias passagens que não vai com a fuça do bruxo de Northampton.
Aqui, agora, o bicho pegou. Capaz de acabar em processo.
Sem contar as fotos sensacionais. Tem uma de Moore novinho, sem barba! Nunca tinha visto o cara sem barba. E tem uma de Morrison que ele está a cara de nosso Messias Bandeira. Sério! Deem um saque.
Porra Chico, demais!
Esse quebra pau pelo menos deve render uns trocadinhos a mais nos bolsos deles, isso sim...
Todas aquelas fotos são de Moore?!?
As de cima, sim. As de baixo, de Grant.
Lenny Kravitz será Marvin Gaye em um filme / biografia.
http://omelete.uol.com.br/musica/marvin-gaye-lenny-kravitz-vai-protagonizar-filme-sobre-vida-do-musico/
ME-DO!
Essas HQs com adaptações das peças clássicas de Shakespeare são excelentes, tenho todas. Mesmo li Sonho de Uma Noite de Verão... um capricho e muito divertida :-)
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