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quarta-feira, dezembro 28, 2011

MICRO-RESENHAS FINAIS DE 2011: A ADORÁVEL RASPA DO TACHO

(Dedicadas ao companheiro brother Braminha, um insuspeito apreciador destas mini-opiniões)

Grande banda, altos sons

Depois da grande estreia da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, eis que surge no cenário outra ótima banda na mesma levada: a São Paulo Ska Jazz, liderada pelo baixista Marcelo Calderazzo. Se na OBMJ o foco são regravações de clássicos brasileiros, aqui é a música autoral que dá o tom – com exceção do cover de Samba de Uma Nota Só. Com fartas doses dos gêneros que lhe dão nome,  o SPSJ é capaz de entortar o cangote até de monges beneditinos ao som de petardos como Alta Frequência, Sombrinha (com frevo na mistura), Estação da Luz, Periferia e outras. Imagina isso ao vivo? São Paulo Ska Jazz / São Paulo Ska Jazz / DNZ Music - Tratore / R$ 23,90


Canções de pirar o cabeção

Mais do que a grande cantora folk de sua geração, Suzanne Vega tem sido, ao longo de sua carreira, uma mestra do minimalismo. Neste terceiro volume (de um total de quatro) em que revê sua produção em novas gravações, ela aplica o bom e velho princípio do “menos é mais” em suas canções sobre “estados do ser”, ou, como ela diz no encarte, o seu “lado mais lelé da cuca”. Com sua vozinha macia, violões dedilhados, algumas poucas cordas e percussões, Vega oferece versões adoráveis de Undertow, Last Year’s Troubles e doze outras faixas. Para fechar os olhos e se entregar. Suzanne Vega / CLOSE UP Vol. 3, STATES OF BEING / Cooking Vynil - Lab 344 / R$ 26,90


Ainda vivo e  dando coices

Ainda quente do show no festival SWU, o Megadeth tem seu 13º álbum de estúdio, simplesmente intitulado “Treze”, lançado no Brasil. E o que se pode dizer é que a idade não amoleceu o coração de pedra do band-leader Dave Mustaine. O disco soa tão pesado, afiado e duro quanto seus clássicos Peace Sells... But Who’s Buying? (1987) e Countdown to Extinction (1992). Faixas como Public Enemy Number 1, We The People, Fast Lane e a faixa- título são testemunhos vigorosos da fidelidade de Mustaine ao gênero que lhe garantiu fama e fortuna. Megadeth / Thirt3en / Roadrunner - Warner / R$ 24,90




Overdoses de imaginação e humor


Foi um dia triste o 31 de dezembro de 1995, quando os jornais norte-americanos publicaram a última tirinha produzida por Bill Watterson para Calvin. Foram apenas dez anos de produção diária, mas foi o bastante para garantir ao garoto hiperativo de seis anos e seu tigre de pelúcia um lugar cativo entre os personagens mais queridos dos quadrinhos. Nesta coletânea, muitas tiras  P&B e mais as raras pranchas dominicais coloridas. Altas doses de imaginação e humor. Calvin & Haroldo: Os Dias Estão Todos Ocupados / Bill Watterson / Conrad/ 176 p./ R$ 44,90/ lojaconrad.com.br

Teen angst à germânica

Aclamado por público e crítica  na Europa, Tchick põe dois adolescentes menores de idade em fuga pela Alemanha até a Rússia, em um carro roubado, com a polícia logo atrás. Comparado a O Apanhador no Campo de Centeio, é um bom romance de formação, com adrenalina e ternura em doses equivalentes.   Tchick / Wolfgang Herrndorf / Tordesilhas/ 228 p./ R$ 39,90/ tordesilhaslivros.com.br







Patrição era "o cara"

Os romances policiais de Patricia Highsmith nunca são protagonizados por detetives ou tiras de fato. São pessoas comuns, que muitas vezes se veem no papel de criminosos. Aqui, ela testa – de novo – os limites entre pessoas “de bem” e assassinos em potencial. Febril e espetacular. O Perdão Está Suspenso / Patricia Highsmith / Benvirá / 272 p. / R$ 39,90 / benvira.com.br








Nenhum trabalho é em vão...

Os catorze anos de Bukowski como funcionário do Correio dos EUA não foram em vão: renderam seu primeiro romance – agora em versão pocket, e nova tradução, de Pedro Gonzaga. Preso à rotina da vida de carteiro, seu alter-ego Henry Chinaski se depara com cães ferozes, donas de casa insanas, colegas pentelhos etc. Cartas na Rua / Charles Bukowski / L&PM / 192 p./ R$ 17/ lpm.com.br
 







Cuidado! Ruiva braba!

Não é incomum, na ficção, mulheres ruivas serem retratadas como fêmeas sexualmente agressivas e de índole determinada. Este pequeno conto em quadrinhos parte deste clichê para provocar o leitor com uma personagem polêmica, que reage violentamente aos preconceitos masculinos. Vermelho, Vivo / Cristina Judar e Bruno Auriema / Devir/ 48 p./ R$ 18,50/ devir.com.br








Já fomos bons nisso...

Sim, houve um tempo em que o rock brasileiro foi bom e inteligente o suficiente para se apossar do mainstream. Neste CD duplo, os dois primeiros (e melhores) álbuns do Ultraje a Rigor: Nós Vamos Invadir Sua Praia (1985) e Sexo!! (1987). Comparar com qualquer coisa produzida nos últimos dez anos seria mera covardia. Digamos apenas que nunca mais o rock em português foi tão divertido, inteligente, bem humorado e politicamente incorreto na dose certa, sem precisar ofender ninguém. Roger Rocha Moreira, QI 172, dizia apenas a verdade. Não a toa, Inútil ainda é o hino informal deste País. Ultraje A Rigor / Sucessos em Dose Dupla / Warner / R$ 19,90
 



Ritual rasta-judaico em Austin

O cantor norte-americano que conjuga judaísmo com rastafarianismo reaparece no mercado brasileiro nesta edição especial de DVD e CD ao vivo gravado em Austin, Texas. Faixas como Youth (seu maior hit), Jerusalem e Time of Your Song tornam este pacote o presente perfeito para aquele seu sobrinho neo hippie. Live At Stubb’s Vol. II (DVD + CD) / Matisyahu / Coqueiro Verde / R$ 32,90














O início (e o fim) da bagaceira

Uma das bandas de rock mais originais dos últimos 20 anos, o FNM tem seus cinco álbuns com o insano Mike Patton reunidos neste pacote simples (capas em envelope de papel). Estão aqui o maravilhoso The Real Thing (1989), o genial Angel Dust (1992), o irregular King For a Day... Fool For a Lifetime (1994), o melancólico canto do cisne Album of The Year (1997) e o interessante ao vivo You Fat Bastards: Live At Brixton Academy (1991). Pela simplicidade do produto, poderia ser mais barato, mas a iniciativa é boa. Original Album Series / Faith No More / Warner / R$ 64,90




Ninguém entende um iraraense

Outro pacote simples, porém, de preço justo, traz dois discos do gênio de Irará:  Se o Caso é Chorar (1972) e Estudando o Samba (‘76). O último é mais famoso e ganhou ares cult na nova geração da MPB, que o citam em entrevistas a torto e a direito – mas parece que ninguém entendeu bulhufas. Sucessos em Dose Dupla / Tom Zé / Warner / R$ 19,90







Master senior over plus hadouken genius duplo carpado

A Voz, Olhos Azuis – não importa como você o chame, Sinatrão é e sempre será um clássico popular sofisticado, que transcende gerações (jovens, aprendam com ele!). Aqui, hits como That’s Life, Mack The Knife, All The Way e 21 outras faixas. Best of The Best / Frank Sinatra / EMI / R$ 34,90





 







O poder da igreja

A série de HQs Rex Mundi é mais uma daquelas que misturam sociedades secretas, conspirações no Vaticano e mortes misteriosas. A diferença é que ela se passa em um mundo paralelo, no qual a Igreja ainda detém tanto poder quanto na Era Medieval. Bom ritmo, ótima arte de Juan Ferreyra. Rex Mundi – Livro Quatro: a Coroa e a Espada / Arvid Nelson e J. Ferreyra / Devir/ 192 p./ R$42/ devir.com.br







Mônica HC

Muito elogiada e premiada no exterior, esta HQ retorna ao tema do ritual de passagem à vida adulta através da história de Jon, um músico tímido e Koko, uma garota furiosa e sem rumo, definida como a “versão hardcore da Mônica”. É meio clichê a história dos diferentes que se descobrem juntos, mas tem lá sua originalidade. Koko be good / Jen Wang / Barba Negra / 304 p. / R$ 29,90 / editorabarbanegra.com.br






Doutor, eu tenho cura?

Tremor nas pálpebras? Cancro mole? Filho vagal? Transtorno bipolar? Incontinência urinária? Queixo quádruplo? Não importa qual seja seu problema, Dr. Ozzy Osbourne tem um conselho para você. Pode até não resolver nada, mas pelo menos, vai te fazer rir, o que já é uma grande coisa. Confie Em Mim, Eu Sou o Dr. Ozzy / Ozzy Osbourne (com Chris Ayres) / Benvirá/ 264 p./ R$ 39,90/ benvira.com.br







Pesado, leve e assim sucessivamente

Cronista da Veja São Paulo desde 1999, Ivan Angelo tem 50 textos neste volume da ótima coleção A Arte da Crônica. Bom de prosa, como todo mineiro, Angelo passeia com leveza por temas pesados como violência urbana e vê profundidade em cenas mínimas, como uma conversa entre avô e neto. Certos Homens / Ivan Angelo / Aquipélago/ 208 p./ R$ 35/ arquipelagoeditorial.com.br








Jovem musa pop mexicana

Raridade: uma cantora pop direcionada ao mercado adolescente que não parece incentivar o ato de babar como atividade intelectual. Segundo álbum da mexicana Ximena Sariñana, este CD autointitulado é o cartão de visitas da moça no concorrido mercado norte-americano. Essencialmente eletrônico, é um álbum solar, alto astral, mas não histérico. Mais para Regina Spektor (com quem tem sido comparada), do que para a insuportável Katy Perry, Miss Sariñana teve o auxílio do multi-homem Dave Sitek (TV on The Radio) e do namorado, Omar Rodriguez-Lopez (Mars Volta) em diversas faixas. Vale a pena conferir pelo menos as faixas Different e Tu Y Yo. Ximena Sariñana / Ximena Sariñana / Warner / R$ 29,90


Chillwave: valium musical?

Há duas formas de se avaliar Within and Without, álbum do projeto chillwave Washed Out, do músico norte- americano Ernest Greene. Uma delas é como um irrecusável convite ao sono profundo, um verdadeiro valium em forma de CD. Como o nome já denota, chillwave é subgênero de música eletrônica em downtempo, para relaxar mesmo. A segunda maneira de perceber o disco é como um interessante desdobramento do pop eletrônico oitentista de bandas como Talk Talk e similares. Aqui e ali dá para pescar faixas interessantes, como Amor Fati e Echoes. Washed out / Within And Without / Domino - LAB 344 / R$ 24,90




Valor histórico apesar de...

Assim como o documentário que lhe deu origem, a trilha sonora de Rock Brasília centra seu foco no núcleo da chamada “Turma da Colina”, de onde saíram Renato Russo e os irmãos Fê e Flávio Lemos, verdadeiros artíficies do rock brasiliense. Isso porém, não livra o documentário (e sua trilha) de cometerem o pecado que foi suprimir desta história bandas pioneiras importantes, como Finis Africae e Detrito Federal (para ficar só nos anos 1980). Em todo caso, é inegável o valor histórico de clássicos como Que País é Este, Geração Coca-Cola, Psicopata, Música Urbana, Até Quando Esperar, Proteção... Vários Artistas / Rock Brasília: Era de Ouro / EMI / R$ 24,90 

Sou japonês, não desisto nunca 

Na terceira parte da obra-prima autobiográfica de K. Nakazawa sobre a vida pós-bomba atômica no Japão, o protagonista Gen (pronuncia Guén) cuida de um artista inválido coberto de feridas (e vermes em cima delas) para poder sobreviver com a mãe e irmã. E apanha, passa fome, chora e ri. Mas nunca se deixa abater. Gen Pés descalços 3 / Keiji Nakazawa / Conrad/ 272 p./ R$ 25,90/ lojaconrad.com.br







Nostalgia e solidão

Um dos mais apreciados escritores gaúchos contemporâneos, Sérgio Faraco apresenta, nesta seleção de contos, sua prosa econômica e refinada. São histórias curtas de cinco páginas em média, protagonizados por personagens quase sempre solitários, imersos em nostalgia e melancolia. A Dama do Bar Nevada - Cenas Urbanas / Sérgio Faraco / L&PM/ 160 p./ R$ 14/ lpm.com.br








A crônica do “sexo ruim”

Com este álbum, Smother, o duo inglês de música eletrônica Wild Beasts tem recebido entusiasmados elogios da crítica europeia, perigando figurar nas listas de “melhores de 2011”. De fato,   o disco soa bastante coeso na sua proposta de fazer a crônica  do proverbial “bad sex” britânico – parece que, por lá, eles mesmos admitem serem ruins de cama. Com um estilo reflexivo (este não é um CD de pista), aqui e ali ouve-se ecos de Sparks, Associates e Roxy Music em faixas que, se não arrebatam de cara, crescem se ouvidas de novo e de novo. O lance é ter a disposição... Wild Beasts / Smother / Domino - Lab 344 / R$ 24,90



Eles continuam esquecendo a bendita toalhinha

Melhor série de ficção científica cômica do planeta, o Mochileiro das Galáxias  havia terminado no quinto volume, depois dque seu autor, Douglas Adams, morreu, em 1992. O apetite por lucro – e cretinices galácticas, claro – dos editores estrangeiros trouxe Arhur Dent e o robô deprê Ford Prefect de volta, agora sob a batuta de Eoin Colfer (autor da série Artemis Fowl, o Harry Potter do mal). Diversão garantida. E tem outra coisa... / Eoin Colfer / Arqueiro - Galera Record/ 368 p./ R$ 29,90/ record.com.br






Um estudo sério sobre a graça

Com o subtítulo Uma Aproximação entre Piadas e Tiras, o livro de Paulo Ramos (Doutor em Letras pela Usp e titular do Blog dos Quadrinhos - Uol) busca encontrar os pontos de contato entre esses dois subgêneros do humor. Trabalho de fôlego, utiliza como exemplo tiras de Laerte, Maurício de Sousa e muitos outros. Faces do Humor / Paulo Ramos / Zarabatana/ 224 p./ R$ 39/ zarabatana.com.br







Abaixo de zero + 25 

Em 1985, Bret Easton Ellis fez a crônica de sua geração em Abaixo de Zero (que rendeu filme com Robert Downey Jr.), sobre um punhado de riquinhos mimados  de Los Angeles em meio a sexo, drogas, violência e futilidades. 25 anos depois, ele retoma os personagens, agora quarentões, paranóicos e ainda mais decadentes. Suítes Imperiais  / Bret Easton Ellis / Rocco/ 176 p./ R$ 26,50/ rocco.com.br







A bossa do bon-vivant

Conhecido humorista, locutor e redator (além de notório bon-vivant), o showman Miele lança, somente agora, seu primeiro disco solo, com muita bossa nova e som de piano bar à beira-mar – aquele clima adorável, tipicamente carioca. Acompanhado pelo Alberto Chimelli Trio, Miele interpreta, cheio da classe e graça que Deus lhe deu, canções do bossa-novista mineiro  Pacífico Mascarenhas, como Menina de Copacabana, Meu Amor na Barra e Bem-Vindo ao Rio. Há ainda boas versões de Let’s Face The Music and Dance (de Irving Berlin) e Bluesette à Brasiliénne (Toots Thielemans, versão de Ivan Lins). Luiz Carlos Miele / Bem-Vindo Ao Rio / Discobertas / R$ 19,90

Brit pop tardio e genérico

Egresso da malfadada geração (injustificadamente) ultra-over-hypada de bandas como Glasvegas e The Fratellis, o quarteto inglês The Kooks até que se esforça, mas tudo o que consegue é ainda soar mediano em seu terceiro álbum, Junk of The Heart. Claro, há as duas ou três faixas acima da média que renderão os singles e clipes de costume. No caso, a música- título e a malcriada F**k The World Off. Mas também há coisas absolutamente dispensáveis como Is It Me e Taking Pictures of You. É um disco de brit pop tardio e genérico, que não chega a irritar, mas também pouco acrescenta. The Kooks / Junk of the heart / Virgin - EMI  / R$ 29,90



Os diretores que viraram suco

Nesta divertida antologia, 17 novos autores homenageiam seus diretores de cinema preferidos em contos nos quais tentam reproduzir seus estilos – via temática ou  linguagem. Tem Polanski, Woody Allen, Kevin Smith, Spielberg, Tarantino, Zé do Caixão, Irmãos Coen, Almodovar, David Lynch... 24 letras por segundo / Vários Autores / Não/ 192 p./ R$ 32/ naoeditora.com.br








Drácula & As Gatinhas
 

Além dos dez livros que compõem a série de vampiros tarados True Blood, a criadora Charlaine Harris ainda escreveu diversos contos. Aqui estão cinco deles, quase todos bem banais (como a série em si). Exemplo: em A Noite do Drácula, o vampiro Eric dá uma festa a fantasia e convida o Príncipe das Trevas. Será que ele vem? O Toque da morte / Charlaine Harris / Benvirá/ 176 p./ R$ 29,90/ saraiva.com.br






Leia o livro, esqueça o filme (o novo)

Há uma boa e uma má notícia sobre  O Grande Gastby, obra- prima de Scott Fitzgerald sobre os loucos anos 1920. A boa: o livro está disponível em econômica edição pocket. A má: o pior diretor do mundo, Baz Luhrmann (Moulin Rouge) está adaptando-o  para o cinema. Melhor ficar com o livro – ou com o filme de 1974. O Grande Gatsby / F. Scott Fitzgerald / L&PM/ 208 p./ R$ 14/ lpm.com.br








Meio Tracy, meio Corinne

Nascida em Paris e criada em Lagos (Nigéria), Asa (asha) lembra um cruzamento entre Tracy Chapman e Corinne Bailey Rae. Ela flerta com um soul de voz suave (como a segunda), mas é mais pé no chão e política, como a primeira. Não é virulenta, mas é firme o bastante para incluir no disco três (belas) canções em iorubá (Bimpé, Oré e Broda Olé).  Com uma voz belíssima e sonoridades acústicas, crava este segundo álbum de carreira com muita estabilidade e coerência – o que não o impede de as vezes soar inofensivo. Mas por enquanto, está bom o bastante. Asa / Beautiful Imperfection / Naïve - LAB 344 / R$ 24,90


Ruas sujas, traços idem 

Em São Paulo, cinco personagens à margem da sociedade lutam para sobreviver. Elogiadíssima pela crítica Brasil afora, a HQ Encruzilhada mostra,  em uma arte suja e expressiva e narrativa enxuta, a barra pesada da vida  de dois meninos de rua, uma garota de programa, um viciado, um ladrão e uma vendedora de DVDs piratas. Prefácio de Marcelo Yuka. Encruzilhada / Marcelo d’Salete / Barba Negra/ 128 p./ R$ 29,90/ editorabarbanegra.com.br

terça-feira, dezembro 20, 2011

BANDA SET7E! GANHA PÚBLICO DE ANIMÊS

Quando criança, nos longínquos anos 1970 e 80, o blogueiro era fã de seriados japoneses toscos – os chamados tokusatsus –, como Ultraseven, Robô Gigante e Spectreman, entre outros.

Especialmente o último – por causa da música-tema, que era um rock tão empolgante que o fazia pular no sofá. O que o blogueiro não imaginava é que as canções-tema de seriados japoneses, incluindo os animês (animações), acabariam se tornando um subgênero musical à parte dentro do J-Pop (ou J-Rock), a música jovem nipônica.

Com a proliferação dos eventos e convenções dedicados à cultura pop japonesa, bandas de rock especializadas vão surgindo – inclusive em Salvador.

E a primeira a chamar atenção é a Banda Set7e! (acima, em auto-retrato), na estrada desde o final de 2008 e transitando bem entre dois mundos: o rock local e os eventos nerds, como o I Festival Anual de Quadrinhos, Anibahia,  Anipólitan e  Anihime (Feira de Santana).

Animê songs à baiana

Fã de animês e mangás desde criança, foi da vocalista Ana Carolina Menezes que partiu a iniciativa de montar a banda.

“Em 2008, eu fui pra um evento desses e lá conheci várias pessoas. Criou-se então um chat de MSN e nele sempre discutíamos o fato de que nesses eventos não tocavam os temas dos animes. Tocavam J-Rock mesmo, que a maioria das pessoas não conhece”, lembra Karol_Funny, como também é conhecida.

“O pessoal do chat começou a conversar sobre isso, formar  uma banda de anime songs que tocasse os temas conhecidos, como Dragonball, Naruto, Cavaleiros do Zodíaco etc”, conta.

A fim de agitar, a menina e seus contatos virtuais começaram a buscar músicos na própria rede “Fomos buscando pessoas via Orkut, nas comunidades dos eventos, amigos dos amigos”.

Em dezembro de 2008, a Banda Set7e! estreou, pouco depois de formada. “Rolou um festival de J-Music no Irish Pub da Barra. Foi o primeiro show”, diz.

De lá para cá, o sexteto virou figura fácil nos eventos do gênero, tocando para multidões de nerds enlouquecidos – vejam os vídeos da Banda no You Tube, são muito divertidos.

“É muito engraçado. Até quando tocamos em shows de rock, é muito legal, por que tem várias pessoas que nunca vimos em eventos de animê, se acabando de gritar. Por que são músicas que qualquer pessoa conhece, tocam na TV”, ri.

Acompanhada por  Diego e Yuri (guitarras), Rafael (vocais), Milton (bateria) e Flávio (baixo), Karol conta que a banda também está criando repertório próprio em Português.

“E em janeiro vamos tocar em Porto Seguro, no primeiro evento de animê por lá”. Arigatô, Karol!

Conheça: www.bandaset7e.com

MARCONI LINS: ROCK ALONE EM EM OROPA, FRANÇA E BAHIA

Nada como viajar pelo mundo, conhecer outras culturas e se despir um pouco do imenso e proverbial provincianismo soteropolitano.

Marconi Lins (foto de Nara Nogueira), músico e jornalista baiano com uma certa estrada no rock local, teve recentemente uma boa experiência caminhando e cantando pelo Velho Mundo, a troco de vivência e aprendizado insubstituíveis – além de alguns poucos Euros generosamente depositados no case do seu violão.

”Minha mulher está morando em Londres por conta de  um curso. Aí   lá fui eu com meu violão de 12 cordas (craviola) nas costas, passear e tocar pelas ruas”, conta Marconi, líder da Sindirock e ex-membro de Os Herege e Sombra Sonora.

Após um contato prévio com alguns músicos locais (via sua esposa no território estrangeiro), Marconi descolou pequenas gigs no circuito de pubs em Camden Town (bairro boêmio, reduto de Amy Winehouse).

“Toquei em alguns pubs: Latin Corner, Camden Rock, The Alley Cat. Esse é  um pub subterrâneo, de rockabilly, aberto  de segunda a segunda, é demais. A cena ferve lá”, conta.

“Aí eu tocava meu violão, mandava uns blues em português. As pessoas abriam logo um sorriso quando ouviam a sonoridade da nossa língua. A verdade é que eles só se interessavam mesmo quando eu cantava músicas em português”, constatou.

“Aí no final no dia dava pra comer um kebab e tomar umas Guinness”, diverte-se  o cantor.

Craviola & Hammond Live

De volta do giro por Londres, Paris e Amsterdam, Marconi apresenta o mesmo repertório que afiou na Europa gratuitamente todas as quartas-feiras, no projeto Blues Free Salvador, comandado pela Água Suja.

“Sou eu na craviola e o Ricardo Lopo (Rick Freak) me acompanhando no órgão Hammond. Fica lindo, é tipo um semiacústico, fica bem diferente do som da Água Suja”, conta.

“Toco tudo o que eu gosto. É rock passional, tipo Velhas Virgens, Raul, Made In Brazil, O Peso e mais algumas músicas minhas. Amanhã tem show. Pinta lá, que é legal”, convida.

Blues Free Salvador / Com banda Água Suja e Marconi Lins (Rock Alone) / Toda quarta-feira, 21 horas / Dubliner’s Irish Pub (Rio Vermelho) / Grátis

Conheça: www.marconilins.blogspot.com

NEM O CARA DO TV ON THE RADIO SALVOU

Auxiliada por Dave Sitek, californianos até que tentam, mas CD novo soa irregular

Banda importante no contexto do rock alternativo norte-americano que emergiu para o mainstream no final dos anos 1980, início dos 1990, o quarteto californiano Jane’s Addiction chega ao quarto álbum de estúdio em 26 anos de uma carreira bastante errática: The Great Escape Artist.

E a pergunta que fica é exatamente o por que dessa volta. The Great Escape Artist não chega a ser um disco ruim e de fato tem lá seus momentos, mas eles são tão poucos – e ficam em tamanha desvantagem em relação ao que eles produziram nos seus dias de glória – que o álbum pouco justifica a sua própria existência.

Fundada em 1985 por Perry Farrel, o guitarrista Dave Navarro, o baixista Eric Avery e o baterista Stephen Perkins, o Jane’s Addiction (gíria para “vício em maconha”) causou espanto entre os roqueiros quando lançou seu primeiro LP em 1988, o espetacular Nothing’s Shocking.

Em uma época em que o penteado dos músicos era mais importante do que a música – mais ou menos como hoje em dia – a trupe liderada por Farrel surgiu como um oásis de liberdade criativa e guitarras realmente pesadas em um som caleidoscópico, que combinava os riffs grandiosos  do Led Zeppelin, uma dose de suíngue funky, a psicodelia californiana e um certo sentido de zeitgeist, tudo  de forma bastante coesa.

Canções como Ocean Size, Mountain Song  e Jane Says se tornaram hits instantâneos entre a rapaziada mais esperta.

O sucesso só aumentou no segundo LP, Ritual de Lo Habitual (1990), que trouxe o maior hit do JA, Been Caught Stealing, ode de Farrel aos ladrões de loja, além do peso suingado de Stop!, entre outros petardos.

Se tudo parecia lindo para os fãs, porém, nos bastidores, uma guerra se travava entre os egos dos integrantes. No ano seguinte, a banda anunciou seu fim.

Farrel criou o festival Lollapalooza (que chega em 2012 ao Brasil) e formou a banda Porno For Pyros, levando Perkins com ele. Navarro teve breve período no Red Hot Chili Peppers.

Desde então, o Jane’s Addiction já fez três retornos. Em 1997, lançou a coletânea Kettle Whistle, mas logo acabou de novo.

Em 2003, lançou um razoável álbum de inéditas, Strays – apenas para encerrar atividades de novo, em 2005.

Este retorno aos estúdios e palcos teve a mão amiga do músico Dave Sitek, da cultuada banda TV on The Radio, que tocou baixo e co-escreveu diversas faixas com Farrel & Cia . O resultado é bastante irregular.

A abertura, com Underground, soa anti-climática e sem impacto, já que, mais adiante, tem coisa melhor, como Curiosity Kills e I’ll Hit You Back.

Mas o melhor está no fim, nas duas últimas faixas, Broken People (co-escrita por Duff McKagan, ex-Guns ‘n’ Roses) e Words Right Out of My Mouth.

A primeira, curiosamente, remete ao Jesus & Mary Chain pela melodia doce. E a segunda, pesadona, é a faixa que mais lembra a banda nos tempos áureos.

The Great Escape Artist  / Jane's Addiction / Capitol - EMI Music / R$ 24,90 / www.janesaddiction.com

sexta-feira, dezembro 09, 2011

MEDO, DELÍRIO E MAGIA NA PSICODÉLICA LONDRES DE 1969

Não existe autor de quadrinhos mais espantoso – e meticuloso – do que o inglês Alan Moore.

Na  nova HQ da sua série A Liga Extraordinária, Século: 1969, ele continua a divertidíssima saga de personagens famosos da literatura às voltas com o possível surgimento do anticristo na Londres do final dos anos 1960 – com direito à toda aquela obsessão por detalhes e a narrativa cerebral que o tornaram universalmente cultuado.

Segunda parte da história iniciada em Século: 1910 (publicada ano passado no Brasil), 1969 acompanha o grupo liderado por Mina Murray (personagem de Drácula, de Bram Stoker) o rejuvenescido Allan Quatermain (de As Minas do Rei Salomão, de H. R. Haggard) e Orlando (do livro homônimo de Virginia Woolf) tentando impedir que o mago Oliver Haddo traga o anticristo à Terra.

Descrito assim, pode até parecer uma grande bobagem. Mas, como toda obra mooreana, 1969 é um grande jogo com o leitor mais atento. Auxiliado pelo artista e co-criador Kevin O’Neill, ele cria uma narrativa que pode ser desdobrada em múltiplos níveis de leitura.

Até por que, a exemplo de Grant Morrison, outro escritor inglês envolvido com bruxaria, Moore encara suas obras como atos de magia em si. Como diz o  personagem Andrew Norton (criado pelo escritor de FC Ian Sinclair): “Certas ficções atraem energias subterrâneas”.

Dito isto, é bom lembrar que nos dias de hoje, a máscara de V de Vingança (obra fundamental de Moore) assombra líderes mundiais como símbolo do movimento Occupy Wall Street.

No plano mais superficial de leitura de 1969, há as referências visuais. Escritor e desenhista se esmeram em espalhar pelas páginas as mais inesperadas sugestões da cultura pop.

Nas HQs de Moore, nada, absolutamente nenhum detalhe, por mais ínfimo que seja, está ali por acaso. Nas cenas de rua, por exemplo, é possível perceber versões “realistas” de  personagens como Zé do Boné (das tiras) e Recruta Zero, caminhando despreocupadamente.

Isso para não citar os vários personagens obscuros retirados de livros de ficção pulp e seriados de TV, com os quais os protagonistas topam a todo momento.

O “vilão” da história, por exemplo, Oliver Haddo, é criação de um dos mais amados escritores britânicos, W. Somerset Maugham (1874-1965) – o qual, por sua vez, se inspirou no ocultista Aleister Crowley (1875 -1947)  para dar vida a Haddo, no livro O Mágico (1908).

Já Kosmo Gallion, que, em 1969, é discípulo de Haddo, surgiu em um episódio do seriado sessentista inglês The Avengers (depois adaptado em um filme de 1998, com Uma Thurman).

Parte da crítica estrangeira tem reclamado dessa obsessão do inglês, sugerindo que a série sucumbiu ao próprio peso, já que ela seria hoje mais um compêndio de citações e esconde-esconde de personagens e menos uma narrativa bem amarrada.

Concerto no Hyde Park

No nível das metáforas, o próprio escritor declarou ao site Newsarama que “se há alguma moral aqui é que ‘os tempos mudam’. Invariavelmente, através da história, essa tem sido a lição: ‘os tempos mudam’”.

Com três protagonistas imortais, Moore tem o gancho perfeito para tratar do assunto, já que cada um deles lida de uma forma diferente com sua condição.

Em 1969, Mina Murray, mordida por Drácula há pouco menos de um século, começa a demonstrar seu desgaste emocional com a impossibilidade de morrer, testemunhando a mudança dos tempos.

Seja como for, para os fãs do escritor, este é mais um capítulo imperdível de sua obra mais recente. O clímax, ambientado em uma recriação do famoso concerto dos Rolling Stones (Orquestra Púrpura na HQ) no Hyde Park em homenagem ao guitarrista Brian Jones (Basil Thomas na HQ), morto em circunstâncias misteriosas – outro gancho perfeito para Moore, que aliás, inicia a HQ mostrando como ele morreu, vista mais acima, clique para ampliar – é de arrepiar, com direito a viagens lisérgicas no plano astral.

Agora, que venha a terceira parte, 2009.

Leia aqui a resenha do Rock Loco para a primeira desta história,  A Liga Extraordinária – Século: 1910.

A Liga Extraordinária – Século: 1969 / Alan Moore & Kevin O’Neill /  Devir/ 96 p./ R$ 48,50 (capa dura)/ R$ 35 (brochura)

quarta-feira, dezembro 07, 2011

TOMA NA CARA, UM DOS ÚLTIMOS BLOGS DO ROCK LOCAL, PROMOVE NIGHT DE HARDCORE E HIP HOP


Uma cena de rock (ou de música alternativa, que seja) sadia e produtiva se faz não apenas com boas bandas (e estúdios e casas decentes aonde se possa tocar), mas também com veículos de comunicação – profissionais e amadores, como blogs – cobrindo, noticiando e incentivando.

 Como se sabe, o espaço nos grandes veículos, com raras exceções, é quase sempre escasso. Restam, então, os blogs.

E aí é que o bicho pega: aonde estão os blogs que deveriam cobrir o rock baiano?

A década passada começou com diversos deles ativos, mas, hoje, só uns dois continuam sendo atualizados: o el Cabong, de Luciano Matos, e o Toma Na Cara HC, dedicado a cobrir a prolífica cena hardcore local.

“Comecei no fotolog. Aí um brother meu, Gabriel, criou o blog e disse: você escreve e eu posto”, conta o blogueiro, Eduardo Felipe Teixeira Lima – o xDudux –, que, no melhor estilo faça você mesmo, também conta com vários colaboradores.

De tão bem feitinho, o Toma Na Cara parece ter se tornado o eixo em torno do qual gira o HC local.Não a toa, Eduardo e aliados tem organizado minifestivais anuais como uma forma de “confraternização de fim de ano” da cena.

Confraternização hardcore

Neste sábado, o Festival Toma Na Cara HC  chega à  terceira edição, reunindo nove bandas, entre grupos de hardcore e hip hop.

A zoada começa às nove da noite e cada grupo deve se apresentar por cerca de meia hora.

Na grade, constam: Cobra City (primeira foto, sem créditos), Fracassados do Underground (segunda foto, por Antônio Loula), DaGanja, Dimak, Derrube o Muro, Fim, Veredicto, Robot Wars (SE) e Dispor (terceira foto, mais abaixo, sem créditos).

“A ideia é cada banda fazer um pocket show, até para  a galera se conhecer, se integrar”.

“Como são  bandas de que gostamos, é também uma oportunidade para nos divertirmos, até por que eles não tocam muito, já que não há muito espaço para HC em Salvador”, diz.

“Na verdade, acho que a cena deu uma morgada”, observa. “No início da década de 2000, era mais ativa. Muitas bandas acabaram, o espaço diminuiu. A galera prefere ouvir bandas moderninhas. Eu mesmo curto a Vivendo do Ócio, mas o pessoal tem deixado de ir aos shows sem nem saber como é”, lamenta.

Da cena atual, ele aponta como preferidas duas bandas que, por já terem tocado no Toma Na Cara em anos anteriores, não estão escaladas desta vez – sua política é não repetir atrações ano a ano: Charlie Chaplin e Buster.

"Aposto muito na Charlie Chaplin, que é uma das poucas bandas que saiu do nosso círculo de HC para tocar para outras galeras e é bem aceita em vários lugares. Sempre que tem show, eu vou. Aposto muito neles, se continuarem, acho que vão se dar bem", elogia.

"E gosto muito da Buster também, é uma banda sensacional. É a melhor banda de HC melódico de Salvador, indiscutivelmente", aponta.

“Se tiver show de  HC, vá, vale a pena conhecer. Não preciso nem falar do hip hop baiano, que vai muito bem, obrigado”, garante Dudu.

Festival Tomanacara HC / Com Fracassados do Underground, Cobra City, DaGanja, Dimak, Derrube o Muro, Fim, Veredicto, Robot Wars (SE) e Dispor / Sábado, 21 horas / Dubliner’s Irish Pub (Rio Vermelho ) / R$ 10

sexta-feira, dezembro 02, 2011

MICRO-RESENHAS DE PAPAI NOEL 2011

O testamento de Raulzito

Os dois últimos LPs de Raulzito voltam às lojas em um  lançamento da série Bilogia (EMI). Uah-Bap-Lu-Bap- Béin-Bum! (1987) é o melhor dos dois, com hits como Cowboy Fora da Lei, Quando Acabar O Maluco Sou Eu e I Am (versão em inglês de Gita). Já o subestimado  A Pedra do Gênesis (1988), testamento do gênio, traz sua verve ainda intacta (apesar do seu péssimo estado de saúde à época), em faixas como Check-Up e Não Quero Mais Andar na Contramão (versão de No No Song, hit de Ringo Starr). Ambos os títulos, porém, sofrem com a brega sonoridade  oitentista. Bilogia Raul Seixas / Coppacabana - EMI / R$ 29,90


A independência do Brasil

Este  álbum, lançado originalmente em 1958 e relançado agora pelo selo Discobertas, é um marco. Além de se tratar do primeiro disco independente brasileiro, traz 14 músicas de Pacífico Mascarenhas, um esquecido porém maravilhoso compositor mineiro. Oriundo da burguesia de Diamantina, Pacífico recrutou uma banda com cantor (Marcus Vinícius), pianista (Paulo Modesto), baterista (Dario) e baixista (Alvarenga) para executar suas composições. O resultado é esta linda coleção de boleros, pré-bossas e jazz latino cheios de suíngue, que remetem ao son cubano. Curta com a patroa. Paulinho & Seu Conjunto / Um Passeio Musical / Discobertas / R$ 19,90

A delicadeza do brucutu

Sim, os brutos também amam. Revelado há quase duas décadas por Ozzy Osbourne, o super guitarrista (e armário ambulante) Zakk Wilde brinda os fãs com este belo álbum acústico com versões de canções de sua própria banda, Black Label Society, e mais alguns covers. A base de pianos e cordas, ele manda bem nas versões de Junior’s Eyes (Black Sabbath), Helpless (Neil Young) e Can’t Find My Way Home (Blind Faith). A surradíssima Bridge Over Troubled Waters (Simon & Garfunkel) não acrescenta e  poderia ter ficado de fora. Mas o saldo, que fecha com um número instrumental natalino, The First Noel, é bem positivo. Black Label Society / The Song Remains Not The Same / Lab 344 / R$ 24,90



Adoráveis neuróticas em sequência

Se alguém quiser se iniciar na literatura suja e louca de Charles Bukowski, este romance é um dos melhores pontos de partida. O livro é o relato de uma sequência de affairs do alter ego do autor, Henry Chinaski, com diversas mulheres – uma mais insana do que a outra. A obra-prima de um grande autor, no auge da forma. Mulheres / Charles Bukowski / L&PM/ 320 p./ R$ 19/ lpm.com.br







Menos Coldplay, Vanessa


A cantora e pianista norte-americana Vanessa Carlton até que impressiona nas primeiras faixas do seu quarto álbum,  Rabbits on The Run. Registradas ao vivo no estúdio,  Carousel e I Don’t Want to Be a Bride impressionam na ambientação  – ela claramente gravou as canções em um salão, concedendo ao som uma grandiosidade quase eclesiástica, como se estivesse numa igreja. Apoiado nos belos arranjos de piano e cordas, o disco soa bem, mas começa a cansar ali pela metade. Talvez se ela ouvisse menos Coldplay e mais Dr. John... Vanessa Carlton / Rabbits on the run/ Lab 344/ R$ 24,90


Canção para o fim da inocência

Pungente epitáfio para o fim da adolescência e da era das gangues de casaco de couro, o clássico de Susan Hinton de 1975 mantém o (des)encanto sensível que levou Francis Coppola a adaptar as agruras de Rusty James e seus amigos  para o cinema em um de seus melhores filmes. Bem vinda republicação. O Selvagem da Motocicleta  / Susan E. Hinton / Benvirá/ 152 p./ R$ 19,90/ benvira.com.br






Super desconhecidos


Alex Ross, o desenhista de estilo realista que estourou com Marvels (1994), volta em seu tema preferido: a mitologia super-heroica. Aqui, ele traz de volta vários supers da época da 2ª Guerra (direitos em domínio público) para novas aventuras nos sombrios dias atuais. Bela HQ, típica de Ross. Projeto Superpowers / Alex Ross, J. Krueger, C. Paul,  S. Sadowski,  Klauba / Devir/ 256 p./ R$ 48,50/ devir.com.br

 



Devia ser adodato em escolas

Em tempos de obscurantismo religioso galopante, ler o filósofo inglês Bertrand Russell (Nobel de Literatura 1950) pode ser revigorante. Ao negar o conforto pós-morte do Cristianismo, Russell oferece uma chave para a maturidade definitiva: o homem é quem deve se responsabilizar pelos seus atos. Por que não sou cristão / Bertrand Russell / L&PM/ 256 p./ R$ 17/ lpm.com.br






365 risadas

Quadrinista baiano maior, Antonio Cedraz continua publicando as tiras da sua Turma do Xaxado em ordem cronológica, chegando agora ao Ano 4. Aliando humor inteligente para todas as idades e crônica social mordaz ambientada no sertão baiano, Cedraz mostra por que não é multipremiado a toa. Xaxado ano 4 / Antonio Cedraz / Editora Cedraz/ 96 p./ Preço não informado/ xaxado.com.br
 



Trio de bravos marinheiros

 Parte da cada vez mais numerosa  cena de rock instrumental da Bahia (será uma crise de discurso?), o Tentrio lança seu primeiro álbum para download gratuito e confirma sua vocação para criar grandes épicos sônicos / cinematográficos. E bota épico nisso: inspirados nas seiscentas e tantas páginas de Moby Dick, de Herman Melville, o trio navega ora em calmaria tropical (Bairro Sujo), ora em mares encapelados (Cachalote), sobre águas misteriosas (Mamba Negra II) e até mesmo encarando densas tempestades (9000 Zumbis). Bela estreia. TenTrio / Melville / Big Bross Records / Download gratuito: tentrio.blogspot.com


A metade da missa soul

Quando a lourinha neo hippie Joss Stone surgiu em 2003 com o hit Super Duper Love, apreciadores de soul music prenderam a respiração: uau, o estilo ainda está vivo? Estava. E ainda não sabíamos da missa a metade, já que um ou dois anos depois, uma judia de Londres (não tão bonita, porém mais talentosa), fugitiva da clínica de reabilitação (Rehab) traria o soul definitivamente de volta a ordem do dia. E Joss? Continuou na dela (com um detalhe importante: viva), construindo uma carreira bastante respeitável. Nesta coletânea, seus primeiros hits. Joss Stone / The best of joss stone 2003-2009 / EMI Music / R$ 28,90

Pelas ruas de Curitiba

Lançamento da coleção A Arte da Crônica, de cronistas contemporâneos, esta coletânea do curitibano Pellanda percorre as ruas da capital paranaense enfocando fatos e personagens ora cômicos, ora perversos. Boa oportunidade para ler outros cronistas,  fora do eixo Rio-SP. Nós passaremos em branco / Luís Henrique Pellanda / Arquipélago/ 192 p./ R$ 34/ arquipelagoeditorial.com.br





Pelas ruas de BH

Um dos primeiros títulos da coleção A Arte da Crônica, este livro traz uma boa amostra da produção do jornalista  mineiro Humberto Werneck. Exímio contador de histórias, ele transita com desenvoltura entre o cômico e o sensível, com um texto econômico e elegante. Esse inferno vai acabar / Humberto Werneck / Arquipélago/ 192 p. / R$ 34/ arquipelagoeditorial.com.br






Agora tu me quer, né?


Último romance da cultuada autora inglesa, Persuasão aborda a temeridade que é dar (e seguir) conselhos. Foi seguindo o conselho de uma amiga que Anne Elliot dispensou o pobretão (porém charmoso) Frederick Wentworth. Sete anos depois, já solteirona, Anne reencontra Frederick, agora um distinto capitão da marinha britânica. Daí vem as inevitáveis reflexões, conjecturas, arrependimentos. Persuasão / Jane Austen / L&PM/ 192 p./ R$ 15/ lpm.com.br



Cartas para ninguém

Moses Herzog está na pior. Sua mulher o traiu com seu melhor amigo. Ele está na crise da meia-idade e também na profissão. Intelectual refinado, ele abraça a insanidade e escreve cartas (nunca enviadas) aos parentes e pessoas que admira. Lançado em 1961, Herzog é um clássico moderno. Herzog / Saul Bellow / Companhia das Letras/ 400 p./ R$ 56/ companhiadasletras.com.br










Sexo, drogas & matança

Em tempos de Wall Street ocupada, a versão pocket deste livro chega em boa hora. Patrick Batemann ganha milhões trabalhando durante o dia em Wall Street. A noite, veste Armani, cheira cocaína, bebe champanhe francês e diverte-se nas boates mais chiques de Manhattan. Na saída, assassina prostitutas e mendigos para  espantar o tédio. O Psicopata Americano / Bret Easton Ellis / L&PM - Rocco/ 480 p./ R$ 16/ lpm.com.br






Caçada humana

Baseado em fatos reais, o romance de estreia de James Ellroy foi resultado da obsessão do autor pela história de uma jovem estuprada, torturada e assassinada em Los Angeles, em 1947 e apelidada “Dália Negra”. A busca pelo assassino gerou uma das maiores caçadas humanas da história da Califórnia. Dália Negra / James Ellroy / Best Bolso/ 448 p./ R$ 19,90/ record.com.br

 




O velho Gordy não merecia

Aqui está uma coisa incomum: uma dupla de electro hip hop (oi?) formada por tio e sobrinho – sendo que um deles, o DJ Redfoo, é filho de Berry Gordy, o fundador da Motown. Já SkyBlu é neto de Gordy. A bizarrice (descontados os óculos e roupas esdrúxulas) para por aí, já que o LMFAO (Laughing My Fucking Ass Off) não vai  além de nada que Black Eyed Peas e demais representações de som playboy de boate já não tenha feito. Parece que esse povo segue uma cartilha. Som genérico para pessoas genéricas (mas que juram serem muito originais).  LMFAO / Sorry for Party Rocking / Universal / R$ 24,90
 


O folk carioca de Momo

Momo é o nome artístico de Marcelo Frota, músico carioca enturmado com a nova geração de compositores pop brasileiros, como Lucas Santtana (que toca flauta em duas faixas aqui) e Domenico Lancellotti (percussão e bateria em outras duas). Bastante elogiado por parte da crítica, Momo tem seus momentos neste CD bilíngue, como Blue Bird (melancólica, com bela guitarrinha fuzz)e Pescador. Apesar da voz suave e bonita, dos belos arranjos acústicos e tal, um certo sentimento de tédio se sobrepõe à medida que o álbum avança. Deve ser uma coisa de geração. Momo / Serenade of a sailor  / Pimba - Tratore / R$ 23,90


Fecha a conta, passa régua

Principal nome da onda disco punk que assolou Nova York na primeira metade da década passada, o LCD Soundsystem, projeto do músico James Murphy, dá adeusinho (pelo menos até o próximo revival) com este álbum, gravado ao vivo em um estúdio de Londres. Com versões longas (de até oito minutos), os melhores momentos ficam com a especialidade de Murphy – as faixas de pista –, como Us Vs Them (funk de branco de responsa), Drunk Girls, o synth-funk  Get Innocuous! e, claro, a tresloucada Daft Punk is Playing At My House. A joydivisioniana All My Friends também soa bem resolvida. LCD Soundsystem / London Sessions / EMI - DFA / R$ 29,90


Viva a FC Brasuca!

A pioneira utopia futurista-tropical  Zanzalá (1936), de Afonso Schmidt (1890-1964), abre esta antologia de novelas de FC brasileira, editada por Roberto de Sousa Causo. A Escuridão, de André Carneiro, O 31º Peregrino, de Rubens T. Scavone (1925 -2007) e A Nós o Vosso Reino, de Finísia Fidelli, fecham o rico painel desta produção. As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica  / Vários Autores / Devir/ 224 p./ R$ 29,50/ devir.com.br