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quarta-feira, novembro 03, 2010

THE ROOTS TIRA O PÉ DE JOHN LEGEND DA LAMA



Se é verdade que a união faz a força, o cantor de rhythm & blues e neo soul John Legend deve levantar as mãos para o céu em agradecimento. Sua união com a conceituada banda The Roots no recém-lançado álbum Wake Up!, certamente, deverá ser lembrada como o ponto mais alto de sua – até então – não-tão interessante carreira.

Apesar de ser um ótimo cantor, Legend ainda não tinha ido muito além do R&B mela-cueca para trilhas de novela. Isso mudou quando, contra todos os conselhos que recebeu de executivos da indústria fonográfica (como ele mesmo revelou em entrevistas), resolveu trabalhar com a The Roots.

Natural da Filadélfia, a banda de hip hop orgânico (isto é, tocado por músicos que usam instrumentos de verdade) já era saudada pelos críticos como uma das poucas coisas que se salvam no deprimente cenário do rap norte-americano.

Em Wake Up!, a banda e o cantor celebram um casamento que, mesmo que não dure, já gerou um lindo rebento: álbum de resgate de algumas das mais belas canções da soul music de protesto dos anos 1960 e 70.

A ideia era fazer um single, saudando a nova era que – espera-se – se iniciou na política norte-americana com a eleição de Barack Obama, mas, quando a química banda X cantor bateu, logo evoluiu para um álbum.

Poder para o povo!

O disco já abre em alta voltagem com a suingada Hard Times, um hit obscuro do genial Curtis Mayfield, gravado em 1971 pelo grupo Baby Huey & The Babysitters).

Compared To What (de Eugene McDaniels), um furioso protesto anti-Vietnã, vem na sequência, com Legend se esgoelando bonito em um ritmo quebradão, típico dos funks racha-assoalho de James Brown.

Wake Up Everybody (hit de Harold Melvin & The Blue Notes) baixa um pouco o tom e conta com a cantora Melanie Fiona em dueto com Legend. Passa.

Até porque a faixa seguinte, Our Generation (The Hope of the World), volta com uma levada funky matadora, abrindo caminho para a bela Little Ghetto Boy (de Donny Hathaway).

Marvin Gaye, uma óbvia influência para John Legend em seu estilo de cantar e um dos mais incisivos críticos do soul, diz presente em Wholy Holy (do básico LP What’s Going On, 1971), em mais uma interpretação sentida do crooner.

Mas épica mesmo é I Can’t Write Left Handed, do (injustamente esquecido) Bill Withers, com 11 minutos de discurso revolucionário e êxtase coletivo, compartilhado entre cantor e banda. Power to the people!

John Legend & The Roots / Wake Up! / Sony Music / R$ 29,90

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