Livro Os bastidores de Hollywood na Vanity Fair é dossiê da pesada sobre alguns dos filmes mais importantes do cinema americano
Em 1968, Dustin Hoffman e Jon Voight andavam a esmo pelas ruas de Nova Iorque, tentando encontrar o tom certo para seus personagens Ratso Rizzo e Joe Buck no filme Perdidos na Noite (Midnight Cowboy, 1969). Ratso, um tuberculoso, exigiu de Hoffman um capricho a mais nas cenas de tosse. Numa dessas, após forçar uma crise, Hoffman vomitou direto nas botas de caubói de Voight. Este olhou meio enojado para o primeiro. "Cara, por que você fez isso"?
São histórias como essa – e muitas outras – que fazem do livro Os bastidores de Hollywood na Vanity Fair (Agir) uma deliciosa leitura para cinéfilos – descontados os fluidos corporais que surgem aqui e ali.
Organizado por Graydon Carter, editor da Vanity Fair, revista norte-americana especializada em cultura pop e celebridades, o livro traz dez textos sobre os bastidores de dez clássicos de Hollywood: Cleópatra (Cleopatra, 1963), A Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success, 1957), Sob o Signo do Sexo (The Best of Everything, 1959), A Primeira Noite de Um Homem (The Graduate, 1967), A Malvada (All About Eve, 1950), Primavera Para Hitler (The Producers, 1968), Os Embalos de Sábado À Noite (Saturday Night Fever, 1977), Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955), Reds (Idem, 1981) e o já citado Perdidos na Noite.
Muito bem pesquisados, escritos e detalhados, os textos dos repórteres da Vanity Fair são – além de extremamente reveladores sobre os intestinos da indústria hollywwodiana – uma aula de jornalismo cultural e investigativo de primeira.
Outro aspecto muito interessante do livro é que, através dele, é possível acompanhar o processo que transformou a "velha Hollywwood" do glamour em P&B, na "nova Hollywood", com filmes socialmente relevantes e de estética crua, beirando o documental, como o já citado Perdidos na Noite e Easy Rider - Sem Destino (1969), de Dennis Hopper.
Surgida no final dos anos 60, o marco inicial da nova Hollywood, segundo o livro, seria Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas (Bonnie & Clyde, 1967), de Arthur Penn.
Sexo, sexo e mais sexo
Como seria de se esperar, podres dos astros não faltam no livro. Burt Lancaster, astro e produtor de A Embriaguez do Sucesso, gostava de espancar mulheres. A frente de uma verdadeira gangue de mulherengos incorrigíveis, convocava "reuniões de trabalho" para discutir quem poderia ser o alcoviteiro oficial da turma.
Sal Mineo e Dennis Hopper, coadjuvantes de James Dean em Juventude Transviada, tiveram de transar com Nicholas Ray, o diretor, para conseguir seus papéis – assim como Natalie Wood, a estrela da película, com quem veio a namorar e que na época tinha 16 anos.
Grandes filmes que surgiram a partir dos maiores fracassos previstos
Uma característica que parece unir muitos dos filmes abordados em Os bastidores de Hollywood na Vanity Fair é que quase sempre, as películas em questão eram vistas pelos executivos dos estúdios – e, em alguns casos, até pelos próprios diretores – como fadados ao fracasso, por serem ousados demais ou mesmo malucos demais.
É o caso, por exemplo, de A Primeira Noite de Um Homem, Perdidos na Noite, Primavera Para Hitler, Reds e Juventude Tansviada. O capítulo sobre Reds, de Warren Beatty, assinado pelo jornalista Peter Biskind, é especialmente curioso.
Bonitão, mas realmente talentoso e bom de bilheteria, Beatty tinha acabado de arrebentar em Hollywood com O Céu Pode Esperar (Heaven Can Wait, 1978), um imenso sucesso de público e crítica.
Valendo-se da moral conquistada, resolveu produzir seu filme dos sonhos, contando a história do jornalista John Reed, autor de Dez dias que abalaram o mundo, relato em primeira mão sobre a revolução russa de 1917 e o único americano enterrado no Kremlin.
25 milhões para esquecer
Claro que convencer os executivos americanos – em plena vigência da Guerra Fria – a produzir um "épico com mais de 3 horas de duração sobre um herói comunista que morre no final", como o próprio Beatty descrevia seu filme, foi outro épico por si só.
Beatty chegou a receber uma oferta de US$ 25 milhões para "esquecer" a ideia.
Junte-se a tudo isso a obsessão do diretor em realizar até 80 tomadas de cada cena, buscando sabe-se lá o quê, e tem-se aí uma das produções mais difíceis da história do cinema.
Os bastidores de Hollywood na Vanity Fair / Graydon Carter (Org.) Trad: Clóvis Marques / Agir / 320 páginas / R$ 49,90
Maravilha de informação essa, man! Igual ao de Dylan, já tá na minha prateleira...
ResponderExcluirEu já havia assistido "Perdidos na Noite" há um tempão e adorei e há uns meses comprei o DVD, coloquei pra assistir com Poliana e a coitada... coitada! Só faltou cortar os pulsos no final... heheheeeee...
É realmente marcante da época essa transição de estilos (ou seria melhor "surgimento" de um novo estilo?), você pega esses e outros filmes de linha semelhante e não tem como não estabelecer um parâmetro com a virada dos 60s pros 70s em diante.