A Bahia é destaque em safra que inclui adaptações de Jubiabá e O Pagador de Promessas. A primeira é parte da leva inicial de lançamentos do selo de quadrinhos da Cia. das Letras, que chegou arrebentando
Um ano e 8 meses depois de sua visita a Bahia para “sentir o clima e colher referências“, o cartunista Spacca finalmente vê chegar as livrarias sua adaptação para HQ do romance Jubiabá, de Jorge Amado.
Intitulado justamente Jubiabá de Jorge Amado, o belíssimo álbum é um dos quatro a inaugurar o selo Quadrinhos na Cia., criado pela Companhia das Letras para para abrigar seus lançamentos na área.
Em Jubiabá de Jorge Amado, Spacca demonstra vigor artístico e habilidade plástica inequívocas ao traduzir em quatro cores todo o clima, os cenários e tipos humanos da velha Bahia no século XX.
Sua visão se apropriou tão bem do universo amadiano que, folheando suas páginas, é quase possível sentir o cheiro de maresia no cais do porto no qual Antônio Balduíno, o herói do romance, participa de uma greve.
Experiência semelhante – Mas tudo isso, claro, não foi resultado de uma mera visita a cidade. “Ajudou ter vindo aí“, conta Spacca, por telefone. “Mas foi fundamental ter feito a ‘lição de casa‘ antes. Estudei mapas e fotos antigas. Quando passei aqueles dias aí, reconheci o que tinha estudado. Dei também um pulinho na Fundação Gregório de Mattos para olhar as fotos da antiga Praça da Sé. Sentir a ambientação, o terreno, ter a noção de andar por aí. Nem sei se aparece na história, mas é bom ter essa noção da cidade. Foi bom andar da Praça Castro Alves até o Pelô, sentir as distâncias“, avalia.
Para Spacca, o mais importante não era nem recontar o romance utilizando desenhos e balões de fala, mas sim, “oferecer ao leitor uma experiência semelhante a de ler um livro de Jorge Amado, utilizando os recursos da HQ. Então meu trabalho tem que ser tão divertido e envolvente quanto um livro de Jorge Amado“, diz.
“Por que no álbum eu tô representando Jorge Amado para muitos quem não o conhecem. Não quero vender gato por lebre, quero oferecer uma experiência similar a de ler um livro dele, mesmo“, estabelece.
Ainda assim – ou talvez exatamente por isso, adaptar um romance como Jubiabá está longe de ser tarefa fácil.
“O livro tem trezentos personagens, então muitas situações não iam ter como entrar. Fiz várias leituras. Na segunda, eu já peguei o esqueleto da obra. Aí li de novo para selecionar trechos. Não dá para fazer isso numa primeira leitura. Tem que conhecer mesmo para poder se embasar, além de ler livros paralelos, como os dois guias de Jorge Amado sobre Salvador“, ensina.
Jubiabá de Jorge Amado
Spacca / Jorge Amado
Companhia das Letras
96p. | R$ 33
www.quadrinhosnacia.com.br
SÓ OBRAS PREMIADAS NO SELO DA CIA. DAS LETRAS
O que era um tórrido namoro, entre a editora Companhia das Letras e os quadrinhos, agora virou casamento mesmo. A união tornou-se oficial com o lançamento de um selo exclusivo para HQs, o Quadrinhos na Cia. De cara, o enlace originou quatro filhos: Jubiabá de Jorge Amado, O chinês americano, Retalhos e Nova York: A vida na grande cidade.
E, a julgar pelos planos da editora para o selo, outras crias de nobre estirpe virão em breve por aí. A impressão que dá é que a as obras a serem publicadas são pinçadas diretamente das listas de premiações estrangeiras. Um exemplo é a cultuada graphic novel Jimmy Corrigan: The smartest kid on Earth, de Chris Ware, prevista para outubro.
Ainda pouco conhecida no Brasil, a obra costuma figurar ao lado do clássico Maus, de Art Spiegelman, como uma das responsáveis pelo reconhecimento das HQs como uma forma respeitável de expressão artística.
Já nessa primeira leva, a impressão de obras escolhidas a dedo é bem evidente, com algumas das graphic novels mais badaladas dessa década.
Além do soberbo tijolão Nova York: A vida na grande cidade, reunindo quatro obras de Will Eisner – mestre que dispensa apresentações – sobre a Grande Maçã, saltam aos olhos dois lançamentos há muito aguardados pelos apreciadores de HQs adultas: O chinês americano, de Gene Luen Yang e Retalhos, de Craig Thompson.
A primeira ganhou fama na imprensa internacional após ter sido indicada ao National Book Award, um dos prêmios literários mais prestigiosos do mundo, tendo sido a primeira vez que uma HQ conseguiu tal feito.
Trata-se uma história sobre aceitação (especialmente de si mesmo) e preconceito, contada em três camadas que, ao fim da narrativa, tornam-se uma só, com grande efeito dramático. A primeira história é sobre Jin Wang, um jovem imigrante chinês tentando se entrosar com os adolescentes de uma típica high school americana.
A segunda é uma adaptação do autor para a lenda do Rei Macaco, uma das mais conhecidas do folclore chinês. E a última trata das agruras de Danny, um rapaz que sofre horrores todas as vezes que recebe a visita de Chin Kee, um primo distante que reúne em si mesmo todos os piores estereótipos sobre os chineses.
Já Retalhos é outra pérola das HQs alternativas americanas, premiada diversas vezes tanto com o Eisner, quanto com o Harvey. A obra, um volumão de quase 600 páginas, não faria feio diante de romances de formação clássicos, como O apanhador no campo de centeio (J. D. Salinger) ou mesmo Grandes esperanças (Charles Dickens).
Repressão religiosa, a relação com o irmão menor, o tédio da vida em uma cidadezinha gélida do meio-oeste e a descoberta do amor são alguns dos temas abordados por Thompson com com extrema sensibilidade.
O chinês americano
Gene Luen Yang
Companhia das Letras
240 p. | R$ 47,50
www.quadrinhosnacia.com.br
Retalhos
Craig Thompson
Companhia das Letras
592 p. | R$ 49
www.quadrinhosnacia.com.br
Nova York: A vida na grande cidade
Will Eisner
Companhia das Letras
440 p. | R$ 55
www.quadrinhosnacia.com.br
ESTILO PICTÓRICO PARA O PAGADOR DE PROMESSAS
Adaptação da obra de Dias Gomes por Eloar Guazzelli demonstra boas influências do francês Jacques de Loustal
Elas começaram a (re)aparecer de uns quatro anos para cá. Pouco a pouco, foram ganhando espaço nas prateleiras das livrarias, bibliotecas e listas de leituras recomendadas pelo MEC. Hoje parece que as adaptações de clássicos da literatura nacional para os os quadrinhos voltaram mesmo para ficar. E O pagador de promessas, um marco da dramaturgia nacional, é o mais novo capítulo dessa história.
Publicado dentro da coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel (Editora Agir) e adaptado pelo artista gaúcho Eloar Guazzelli, o texto do baiano Dias Gomes ganha uma nova releitura, diferente daquelas já vistas no cinema – em um filme igualmente clássico de Anselmo Duarte, a única vez que o Brasil ganhou a Palma de Ouro em Cannes – e na TV, em minissérie da Globo estrelada por José Mayer em 1988.
A bela edição, impressa em papel de alta qualidade, ganha ainda mais valor com o texto introdutório de Ferreira Gullar, que dá ao leitor a exata dimensão da importância da obra de Dias Gomes, definida por ele como “sem exagero, uma obra-prima da dramaturgia brasileira“.
Pictórico – Na HQ de Guazzelli, os personagens Zé-do-Burro, Rosa, o padre, o cafetão e outros ganham um jeitão de terem saído direto de um quadro (ou HQ) de Jacques de Loustal, artista francês com livre trânsito no cenário da bande desinèe, publicado no Brasil anos atrás, na extinta revista Animal.
A referência, contudo, não passa pela cópia, e sim, por uma bem trabalhada influência.
“Sou formado em artes plásticas, mas trabalho com HQ há muito tempo. O fato de ser um trabalho em homenagem ao Dias Gomes e de ser publicada em uma coleção com uma marca de apuro gráfico me fez buscar um estilo mais requintado. Eu me senti meio que na necessidade de elaborar mais. E o Loustal é mesmo minha grande referência, desde que comecei a fazer HQ. Desta forma, explorei propositalmente algumas características gráficas, busquei um resultado meio pictórico“, conta Gazzelli, por telefone.
Desafio & privilégio – Texto de mensagem política fortíssima, O pagador de promessas conta a história de Zé-do-Burro, uma matuto do interior da Bahia que, para salvar a vida de Nicolau, seu burro de estimação, faz uma promessa à Santa Bárbara em um terreiro, ou melhor dizendo, à Iansã, sua contraparte no sincretismo religioso.
A promessa consistia em carregar uma cruz, do tamanho da que Jesus Cristo carregou, desde a roça onde vivia, até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. Aqui chegando, o caboclo e sua mulher, Rosa, sofrem o diabo na mão do pároco (que não aceita que uma promessa feita em terreiro seja paga em sua Igreja), de um cafetão (que consegue prostituir a esposa de Zé), da imprensa (que o transforma em um comunista revolucionário) e outras criaturas malignas da cidade grande.
Uma fábula até certo ponto simples, que enaltece o “bom selvagem“, como notou Ferreira Gullar, mas que ganha tons épicos pela qualidade literária dos diálogos de Dias Gomes, bem como pelo clímax trágico.
“Sou fã do Dias Gomes desde minha infância, quando assistia O Bem-Amado em preto & branco na TV. Com o tempo, fui tomando pé da obra dele“, lembra Guazzelli. “O peso (de adaptar O pagador) é grande. Primeiro, por que é Dias Gomes, e segundo, por que o filme é um dos grandes clássicos do nosso cinema. Por outro lado, esta é minha profissão. É um desafio e um privilégio. Se não achasse que eu não estou a altura, ia trabalhar com outras coisas“, observa.
“Mas passado o susto, teve outro problema, já que adaptar uma peça é um processo complicado. Às vezes a peça fica muito ancorada no texto. Por outro lado não posso fazer uma adaptação totalmente ancorada nisto, já que não tinha muitas páginas. Como a peça é muito ambientada num espaço só, trabalhei bastante a cidade como personagem. Adicionei detalhes e narrativas paralelas“, conclui.
O pagador de promessas
Dias Gomes / Eloar Guazzelli
Agir
72 p. | R$ 44,90
www.editoraagir.com.br
BÔNUS: TRAILER DE O PAGADOR DE PROMESSAS
FILME DE 1962, PREMIADO COM A PALMA DE OURO EM CANNES
Da seção "vai rolar": Cinebio sobre The Runaways, banda da qual participou minha ídola, e mais fuckin' rocker girl ever, Joan Jett...ok, bota aí Poison Ivy no mesmo nível...ou quase.
ResponderExcluirJoan Jett DETONA!!!
http://www.omelete.com.br/cine/100016860/Atriz_de_Crepusculo_ja_arruma_novo_filme_para_protagonizar.aspx
pra entender e amar:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=M3T_xeoGES8
moçada,
ResponderExcluirobras primas de will eisner, pra quem não conhece ainda:
• o edifício + a força da vida + o nome do jogo + pequenos milagres + o complô + fagin, o judeu + avenida dropsie, etc, etc...
http://ebooksgratis.com.br/page/2/?s=will+eisner
• um contrato com deus e outras histórias de cortiço:
http://ebooksgratis.com.br/quadrinhos/quadrinhos-um-contrato-com-deus-e-outras-historias-de-cortico-will-eisner/
• o sonhador
http://ebooksgratis.com.br/quadrinhos/quadrinhos-o-sonhador-the-dreamer-will-eisner/
mas legal mesmo é ler no papel! codiloco...
GLAUBER
Engraçado como, para contratar bandinha engraçadinha, as majors - neste caso, a EMI brasileira - se arvoram rapidinho.
ResponderExcluirhttp://www.omelete.com.br/musi/100020231/Massacration_assina_contrato_com_gravadora.aspx
Nada contra o Massacration. Pelo contrário. Sou fã de Hermes & Renato e dou muita risada com a banda de mentirinha deles. Mas com tanta gente por aí fazendo um trabalho "sério" e com potencial comercial...
Quando as catedrais eram brancas
ResponderExcluirhttp://tiny.cc/s7I3F
O CD novo do Cachorro Grande, Cinema, foi lançado hj no Myspace:
ResponderExcluirhttp://www.myspace.com/cachorrogrande
bela capa do disco da theatro! belo nome do disco do cachorro grande. quero ouvir os dois.
ResponderExcluirGLAUBER
Marcão, é disco novo, é? Deixa de fazer mistério, homem! Conte-nos tudo! ;-)
ResponderExcluirO processo de desmontagem do mercado musical tal como o conheciamos continua em processo de marcha acelerado:
ResponderExcluirUniversal vai oferecer música ilimitada na web
http://musica.ig.com.br/noticias/2009/06/15/universal+vai+oferecer+musica+ilimitada+na+web+6729906.html
errata: digo mercado fonografico e não musical.
ResponderExcluirPassando para parabenizar o blog e tambem divulgar o site das bandas independentes...!
ResponderExcluirConfira, participe, colabore enviando suas materias, divulgue sua banda, cadastre os proximos shows!
www.projetobandaindependente.com.br
Entre na comunidade do Projeto Banda Independente!
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=53185088
Figura fundamental para se entender as transformações que o rock passou do punk até o eletro, Mark E. Smith através da sua banda The Fall tem com o The Fall Box Set (1976-2007) um guia mais acessível para uma banda inacessível. Mark Smith criou uma sonoridade única, com guitarras abrasivas a la Velvet fase John Cale, eletrônica inspirada no Kraut Rock do Can, com letras secas e de humor áspero com a urgência e simplicidadedo punk. De forma não intencional se tornou um dos principais expoentes do pós-punk, o fato ‘e que o Fall até hoje mantém o radicalismo estético e artistico proposto em seus álbuns inicias. O fato de ser uma banda( vou chamar de banda, mas é Mark Smith) prolífica, sempre deixou fãs não incondicionais como eu, meio perdidos, e tambem meio sem saco para escutar tudo.Fato de ser considerada uma banda difícil tambem não ajuda, alias Mark E. Smith nunca ajudou, vide o sem numero de mudanças no line-up da banda.Mas o Box-Set com seus concisos (hehehe) 5 cds cobrem bem a carreira da banda até O Reformation ! Post TLC de 2007( a banda já lançou mais dois desde). O vocal do cara com sua voz de eterno escárnio é uma atração a parte. Recomenda-se entrar no site das letras (http://www.visi.com/fall/), o sotaque carregado de Manchester de Smith é quase incompreensível, mesmo para seus patrícios. Um deleite para quem gosta de punk, pos-punk, o lado John Cage do Velvet e Kraut- Rock. We are Sparta F.C. !
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