Crônicas da vida no rock louco
Leonardo Panço, jornalista e guitarrista da banda de hardcore Jason lança seu segundo livro, depois do relato de viagem Jason 2001: Uma odisseia na Europa. Em Caras dessa idade já não leem manuais, Panço reúne vários textos curtos, variando o tom entre a crônica do dia-a-dia e a observação pura e simples dos fatos absurdos vivenciados por quem militou a vida inteira no circuito do rock underground. De prosa enxuta, direta e desprovida do cinismo imaturo que costuma marcar escritores jovens, ele mostra que não precisa de malabarismo para escrever bem. E quem pedir o livro ainda leva de brinde dois CDs do selo do rapaz, o Tamborete Records.
Caras dessa idade já não leem manuais
Leonardo Panço
Tamborete Entertainment
136 p. | R$ 20 (mais envio)
www.myspace.com/leonardopanco
De volta às trincheiras
The Eternal, o álbum que marca o retorno da veterana banda Sonic Youth à independência, após quase duas décadas em gravadora major, ainda não chegou as lojas, mas, claro, já está nos HDs de meio mundo após vazar na internet. Além de voltar ao circuito do selo indie Matador Records, o grupo parece ter voltado também ao velho estilo de composições mais curtas e diretas, privilegiando o formato de canção pop. A faixa de abertura Sacred Trickster, mais Antenna, No Way e Thunderclap (For Bobby Pyn) são bons exemplos desse retorno ao espírito de álbuns como Goo (1990) e Dirty (1991). Mas o disco não fica só nisso. Há também faixas mais longas e experimentais, na linha dos primeiro trabalhos da banda na década de 80, como a provocativa Anti-Orgasm (uma ode ao amor livre, que homenageia os revolucionários alemães do grupo Kommune 1) e a suíte épica Massage The History, que, com seus quase 10 minutos, fecha o disco, atravessando diversos andamentos e climas diferentes. O lançamento oficial de The Eternal é no dia 9.
The Eternal
Sonic Youth
Matador Records
R$ 25 (importado, mais taxas)
www.matadorrecords.com
Tom Waits da R. Augusta
O leitor mais bem-informado já viu esse tipo antes: o cantor de voz rouca, terno escuro, gravata frouxa, cabelos desalinhados e cigarro no canto da boca. Não, não é Tom Waits, nem Serge Gainsbourg. É sua tardia contraparte brasileira, ou melhor, paulista, Renato Godá. Cantando as agruras e desventuras daqueles que se escondem nos becos escuros das madrugadas, Godá estreia com um bem produzido EP com sete faixas (e preço irreal, de CD cheio). A faixa de abertura, Bom Partido, já diz quase tudo o que se precisa saber sobre ele: “Não faço cerimônia / Não Sou um bom Partido / Tendo para os vícios/ Posso causar desgosto / Sou um pervertido / Livre leve e solto / Um vagabundo astuto/ Um vira-lata escroto”. Descontada a egotrip, o rapaz causa boa impressão, pois as canções, todas de sua autoria, funcionam muito bem dentro do seu estilo esfumaçado, algo entre a chanson, o jazz e o folk cigano do leste europeu (!). Outro ponto positivo foi a produção de Apollo Nove, com os músicos tocando ao vivo no estúdio, ressaltando a crueza das canções. Desce redondo.
Renato Godá
Renato Godá
Rob Digital
R$ 22,15 (no site, mais envio)
www.robdigital.com.br
Mestre + mestre = obra-prima
No início do século XX, um jovem miserável vaga sem rumo pelas ruas de Christiania (atual Oslo, capital da Noruega), caindo de fome. Na mão, um toco de lápis, com o qual escreve crônicas que oferece aos jornais da cidade, sem grande sucesso. Delirante, rói osso (literalmente), passa mal, fica lúcido, retorna ao delírio. Em poucas palavras, isto é Fome, considerado o maior romance de Knut Hamsun, polêmico e genial escritor norueguês premiado com o Nobel e tão amalucado quanto seu personagem. Nesta edição, o leitor brasileiro tem ainda o privilégio de contar com a tradução de um gênio brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Comovente.
Fome
Knut Hamsun
Geração Editorial
176 p. | R$ 29,90
www.geracaoeditorial.com.br
Angústia adolescente
Com o grande sucesso entre as hordas de camisas pretas de bandas como Nightwish, Paradise Lost e outras que praticam uma mistura de heavy metal europeu de pinçadas eruditas com climas góticos e sombrios, a Sony apostou em um similar nacional, que canta em português: Libra. Com boa voz – apesar de nada original – o rapaz até que deve convencer a garotada de cara branca com suas letras desesperançadas, tristes mesmo, como Ninguém Ama Ninguém, Desaparecer e Na Minha Pele, entre outras. Ouvintes menos propensos (ou talvez de mais idade), porém, logo se entediarão com a ladainha de angústia adolescente desfiada pelo cantor. Produzido por Carlos Trilha (produtor dos CDs solo de Renato Russo), todo o álbum exala um ar frio e tristonho, sensação reforçada pelo uso ostensivo de cordas e camas de teclados que correm paralelos às guitarras nas gravações. Na já citada Ninguém Ama Ninguém, um dos ídolos de Libra, o cantor Aaron Stainthorpe (My Dying Bride) declama um poema.
Até que a Morte não Separe
Libra
Sony BMG
R$ R$ 13,90
www.librafans.com.br
Som pesado para falar da condição feminina
Uma das bandas mais ativas do cenário rock local surgidas nesta década, a Lou costuma ser subestimada por que – e isto é um fato – ainda não produziu “aquela“ canção com cara de hit, com um refrão ganchudo. De personalidade um tanto difusa – quase arredia, mesmo – a banda se caracteriza pelo som pesado, com claras influências de nomes de diversas vertentes, como System of a Down, Metallica, Deftones, Hole e Smashing Pumkins nos seus momentos mais heavy. Com cinco anos de atividade, o grupo formado por Danny N. (vocal), Tati Trad (baixo), Jera Cravo (bateria), Mel Lopo e Carol Ribeiro (guitarras) chega ao primeiro álbum cheio, Devir. Apesar de ainda não apresentar nenhuma música com pinta de hit, a Lou marca pontos ao tramar, ao longo de suas 12 faixas, algo muito próximo a um tratado sobre a condição da mulher urbana independente, dona de si mesma e do seu pensar. Contribui para isto a instrumentação correta, sem excessos ou exibicionismos, além da produção certeira de Jorge Solovera. Boa estreia.
Devir
Lou
Atalho Discos
R$ 5
www.myspace.com/loudevir
Novelização bilíngue
Prática comum nos Estados Unidos, a novelização de sucessos de bilheteria é um mercado a parte na indústria cultural e ainda pouco explorado no Brasil. Com o enorme apelo da adaptação hollywoodiana do mangá / animê Dragon Ball, o livro baseado no roteiro cinematográfico de Ben Ramsey (que, por sua vez, se baseou na obra original de Akira Toriyama) chegou há pouco tempo às livrarias brasileiras. Dragonball Evolution, o romance, traz como atração extra o fato de ser bilíngue (português / inglês), além de contar com várias fotos coloridas da película. A despeito do filme não ter agradado aos fãs mais radicais de DB, o livro é uma leitura ágil e divertida – como todo bom mangá.
Dragonball Evolution
Stacia Deutsch / Rhody Cohon / Akira Toriyama
JBC
200 p. | R$ 24,90
www.editorajbc.com.br
Bacharach & Valle
Fãs de bossa jazz instrumental têm um prato cheio neste novo CD da pianista e arranjadora brasileira Paula Faour. A ideia aqui foi “casar“ as composições de dois craques: Marcos Valle e o americano Burt Bacharach. Acompanhada de feras como o próprio Valle, Roberto Menescal, Gílson Peranzzetta, Ricardo Santoro e Sérgio Barroso, a moça criou arranjos cheios de swing, que, ao lado da instrumentação vigorosa dos seus parceiros, chutam pra bem longe o clima de churrascaria que costuma contaminar álbuns do gênero. Destaque para Raindrops Keep Falling On My Head (com Paula pilotando um elegante piano elétrico Fender Rhodes) e Wives and Lovers / Seu Encanto, com uma levada inicial a la Take Five, de Dave Bubeck, e o acordeom de Peranzzetta adornando uma valsa e transportando o ouvinte para uma Paris romântica e bucólica – que não deve existir mais. Outro clássico (de Bacharach), I Say a Little Prayer, ganha um belo arranjo de trompete de Jessé Sadoc. Belo disco.
A Música de Marcos Valle e Burt Bacharach
Paula Faour
Biscoito Fino
R$ 28,90
www.paulafaour.com.br
Recém-contratado, Vanguart lança ao vivo
Aclamado como uma das melhores coisas surgidas no rock brasileiro nesta década (o que, convenhamos, não é tarefa lá muito difícil), o grupo matogrossensse Vanguart assinou com a major Universal no ano passado, após lançar seu primeiro CD independente em 2007, encartado na (desativada) revista Outracoisa, aquela do Lobão. Como era de se esperar, a gravadora logo botou os meninos para fazer o dever de casa, ou seja: CD e DVD ao vivo, claro. Das 14 faixas do álbum de estreia, doze estão aqui, mais oito inéditas. Uma delas, estranhamente, é O Mar, de Dorival Caymmi, transformada em um country rock não muito convincente. Ponta de lança de um movimento de garotos brasileiros que resgata o folk rock americano dos anos 60 e 70 (junto com Mallu Magalhães, The New Folks e outros), o Vanguart demonstra bastante entrosamento no palco e consegue agradar a muita gente. Porém, ainda falta um toque de originalidade e, talvez, menos pretensão. Quem já é fã vai gostar. Quem não é, continuará não sendo.
Registro Multishow
Vanguart
Universal
R$ 29,90 (CD)
www.vanguart.com.br
Dose dupla de autor argentino
Um homem compra um macaco de circo em um leilão. Convencido de que todo chimpanzé é um ser humano involuído, ele tenta, a todo custo, faze-lo falar. Esta sinopse dá uma idéia do estilo do escritor argentino Leopoldo Lugones (1874-1938), considerado o grande precursor do chamado realismo mágico sul-americano e fonte de inspiração para Jorge Luis Borges, entre outros. Aqui, o leitor terá acesso a dois livros de Lugones reunidos em um único volume, preenchendo uma lacuna no mercado literário ao trazer para o público um autor que, no Brasil, era muito mais falado do que lido. Um grande nome do modernismo literário.
As forças estranhas / Contos fatais
Leopoldo Lugones
Editora Globo
308 p. | R$ 35
www.globolivros.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
8 comentários:
Jonah Hex, o pistoleiro desfigurado da DC ganhou vida na pele de Josh Brolin (Onde os fracos não tem vez):
http://www.omelete.com.br/cine/100020104/Caem_na_rede_as_primeiras_fotos_de_Josh_Brolin_desfigurado_em_Jonah_Hex.aspx
E ainda tem a deusa Megan Fox, de quebra.
Esse é para ver no cinema, óbvio!
vi um show do vanguart no studio sp muito bom...mas depois ouvi o disco e achei bem mar or meno.
potato.
quero ouvir o the eternal [adoro o thousand leaves] e esse cara, godá, pra ver qualé. valeu, chicão!
GLAUBEROVSKY
vanguart é um cocô
Uai! Quiporraéssa?!?!?
http://www.youtube.com/watch?v=vXyIB2L52Dc&feature=PlayList&p=6CDF09546806A687&playnext=1&playnext_from=PL&index=5
É Rubber Johnny, do Aphex Twin + Chris Cunningham
Um clipe / curta metragem bizarríssimo, tipo uma rave com Arquivo X versus os filhos de Chernobyl.
Medo.
Hey, mãe! Eu tô no Myspace!
www.myspace.com/erasmocarlos
Morreu o Bill:
http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL1182705-7084,00-ATOR+DE+KUNG+FU+DAVID+CARRADINE+MORRE+EM+BANGCOC.html
Morreu o Bill:
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2009/06/04/ator+de+kung+fu+david+carradine+morre+em+bangcoc+6535940.html
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