Autoridade em rock, jornalismo e discotecagem, Kid Vinil ataca de DJ sábado a noite, no Groovebar
Não é possível pensar em imprensa especializada em rock no Brasil sem lembrar de Kid Vinil. O carismático roqueiro, jornalista, radialista e apresentador é a atração de hoje da festa Into The Groove, no Groovebar (Barra).
É a primeira vez que Kid, que despontou para a fama nacional na primeira metade da década de 80 com sua banda Magazine e os hits Sou Boy e Tique Nervoso, vem discotecar em uma festa em Salvador. Além dele, se apresentam ainda na noite os DJs Big Brother, Pinguim (residente da casa) e Amenus (de Curitiba).
No comando da balada, o dono da festa avisa que a ordem é curtir: “Eu tento equilibrar um pouco a coisa, tento fazer o povo dançar. Toco década de 80, rock brasileiro, mas também coisas atuais, mas mais para dançar mesmo“.
Antes da festa, Kid ainda tem outro encontro marcado com o público baiano durante a noite de autógrafos do seu livro Almanaque do Rock, lançado há poucos meses, na Saraiva Megastore do Salvador Shopping.
Tiros a esmo – Quem andava se perguntando por onde andava Kid Vinil, por si só um ícone da new wave brasileira, é bom saber que o homem nunca se acomodou nesse papel, diferente de muita gente que fez sucesso nos anos 80. Ativo como nunca, ele hoje atua como blogueiro oficial dos sites da MTV e do Yahoo!, além de continuar como disc-jockey da rádio paulista Brasil 2000, escrever muito e discotecar na noite também.
Então é batata: quer saber o que anda rolando de novo e interessante no rock, é só consultar Kid Vinil. Para ele, o difuso rock desta década, já em seu ocaso, “se caracteriza por atirar pra todos os lados. Não tem mesmo uma cara, nem um estilo definido. Tem gente fazendo folk rock, outros synth pop, new darks, shoegazer revival... Enfim, uma mistura de estilos dos anos 80 e 90. Acho que daqui pra frente vai ser essa salada“, opina.
Tudo isso parece ser resultado dos últimos dez anos, com a cultura do download que disponibiliza tudo de forma muito fácil. “O grande problema hoje é que muita coisa está disponível, então não existe um filtro. Antigamente, você tinha nas revistas informações mais jornalísticas que ajudavam nisso. Essa nova geração não tem muito critério, talvez por causa disso, então cada um baixa e ouve o que quer“, observa Kid.
Mas, de qualquer forma, o rock continua. “Acho que a melhor cena de rock hoje vem do Brooklyn em Nova Iorque. Tem Vivian Girls, Dirty Projectors, Crystals Stilts, The Pains Of Being Pure At Heart, Chairlift e uma série de outras bandas“, aponta.
Como todo roqueiro maduro, Kid não curte rock farofa, apesar de demonstrar tolerância com os similares nacionais: “O que eu não gosto são bandas tipo Simple Plan. Aqui no Brasil mesmo, essa geração emo pós-CPM 22 (Strike, NX Zero, Fresno) não me desagrada, acho válido, os garotos são esforçados e batalhadores, tem influências de punk, hardcore e new wave“, ensina.
Trajetória marcante no BRock
Um dos pioneiros do punk rock no Brasil, Kid montou em 1980 a banda Verminose, mais ou menos na linha do resgate do rockabilly, como já faziam os Stray Cats. Adicione-se a isso seu visual inspirado em Groucho Marx e, logo, Kid virou um “traidor“ para os radicais do movimento.
”Na época, eu fui considerado o primeiro traidor do movimento. Todos queriam me pegar, mas nunca aconteceu. Só um incidente em 80, num show ainda do Verminose, mas saí ileso. Depois disso, vieram outros traidores, como o Clemente (do Inocentes) e o João Gordo (do Ratos de Porão). Mas isso acabou. Hoje o João é um popstar da MTV e o Clemente, um produtor e músico respeitadíssimo. Enfim, eles acabaram nos engolindo”.
Em 1983, a banda mudou de nome e orientação no momento certo, tornando-se Magazine, um sucesso instantâneo em plena era da new wave, Blitz e popularização do rock Brasil, com os hits Sou Boy, Tic Tic Nervoso, Comeu e Glub Glub no Clube.
“Uma das coisas que mais me impressionou na época foi ouvir minhas músicas tocando nas rádios em todo país e viajar o Brasil de Norte a Sul e ver as pessoas cantando Sou Boy e Tic Tic Nervoso. Como diz aquela propaganda, ‘isso não tem preço!‘”.
Apesar do sucesso, Kid saiu da Magazine em 1985, formando, com o bluesman André Christovam, a banda de blues rock Kid Vinil & Os Heróis do Brasil, de vida bastante curta.
“O Heróis do Brasil foi um projeto meu e do André que não deu muito certo, pois a gravadora não quis divulgá-lo na época. Isso nos desanimou e acabamos cada um seguindo sua carreira. Hoje, o André é um reconhecido blueseiro e não pensamos em nos reagrupar, pois o projeto foi frustrante pra nós. Nos esforçamos tanto na época e só recebemos criticas negativas, foi desastroso. Eu e o André particularmente adoramos o disco, mas a critica foi implacável, nos destruiu“, relembra.
A partir daí, passou a se dedicar mais ao trabalho de jornalista, com passagens por veículos como TV Cultura, MTV e diversas rádios. Em 1993, remontou o Verminose e lançou o CD Xu-Pa-Ki. Em 2002, voltou com o Magazine, lançando o CD Na Honestidade.
“O Magazine não existe mais. Meu projeto agora é o Kid Vinil Xperience, que revive a banda. O guitarrista é o Carlos, ex-Magazine. Tocamos coisas inéditas e covers dos 80“, diz.
Kid Vinil | DJ set | Mais os DJs Big Brother, Amenus e Pinguim | Sábado, (09.05) as 22 horas | Groovebar (3267-5124) | R. Marquês de Leão, 351, Barra | R$ 15
Noite de autógrafos do Almanaque do Rock | Sábado, (09.05), 19 horas | Saraiva Megastore Salvador Shoppping (3341-7020) | Avenida Tancredo Neves, s/n | Gratuito
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Um comentário:
Mini-especial com UNKLE
http://clashcityrockers.blogspot.com/
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