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terça-feira, novembro 25, 2008

DEMOCRACY É ANTICLÍMAX

Chinese Democracy, o "lendário" álbum do Guns 'n' Roses, é lançado hoje no Brasil

Não dava para esperar outra coisa: Chinese Democracy, primeiro álbum do Guns ‘n‘ Roses desde The Spaghetti Incident (1993) – que aliás, era um disco de covers – é uma grande colagem semi-esquizofrênica que reflete a confusão mental do seu único membro original remanescente, o renitente vocalista Axl Rose.

Em processo criativo e de gravação desde meados dos anos 90, o CD poderá até satisfazer aos fanáticos pela banda – e estes, por incrível que pareça, ainda são muitos ao redor do mundo – mas não dá para entender por que um disco tão mediano levou tanto tempo para ficar pronto.

De sonoridade obviamente datada, Chinese Democracy fica no meio termo entre o hard rock que fez sua fama, a eletrônica (com muitas programações) e algumas orquestrações.

Esperto, Axl soube manter, em quase todas as faixas, os timbres vocais (entre o rouco e o agudo) e de guitarras à Slash que caracterizaram o som da banda e fizeram sua fama – até para que as pessoas ainda consigam reconhecer algo do antigo Guns ali.

Dito isso, há que se considerar que o CD apresenta lá seus bons momentos, como nas faixas Riad N' the Bedouins (hard rock tradicional, com refrão empolgante), I.R.S. (no estilo de Use Your Illusion, com muitas subidas e descidas de tom) e There Was a Time (boa melodia vocal, conduz o ouvinte com certa gentileza).

Outro bom momento é a faixa que encerra o álbum, Prostitute, que, apesar da anacrônica programação de bateria introdutória, ganha pela bem resolvida dinâmica entre cordas, peso e a voz bem colocada.

Já a faixa Shackler's Revenge (lançada primeiro no game Rock Band) seria melhor se não fosse tão derivativa (e claramente inferior) de tudo o que o White Zombie já fazia desde meados dos anos 90.

Porém, apesar de ser, no geral, facilmente digerível, falta no álbum o brilho pesado, sujo e suingado que somente o grupo original de 1987 era capaz de gerar.

Afinal, Appetite for Destruction (1987), o clássico LP que catapultou a banda ao estrelato planetário não é chamado por muitos críticos de “O Último Grande Disco de Rock“ à toa.

Faltou – As ausências de membros fundamentais da banda, como os guitarristas Slash, Izzy Stradlin e o baixista Duff McKagan também se fazem sentir, até por que, eles não apenas tocavam, como também eram parceiros de composição de Axl.

Outro ponto fraco são os solos de guitarra. Apesar de seguirem os timbres do velho Slash, soam frios e muitas vezes se perdem em demonstrações olímpicas de velocidade. Faltou sentimento, coisa que nos bons tempos, o ex-guitarrista demonstrava ter de sobra.

Quando dá vazão à sua megalomania e à síndrome de Elton John que o persegue desde Use Your Illusion (1991), aí sim, o CD encontra seus piores momentos, como na mega balada This I Love (uma November Rain muito, muito piorada) e Streets of Dreams, outra baladinha sem graça.

Saldo final: 14 faixas que poderão até agradar adolescentes incautos e velhos fãs, mas que dificilmente entrarão nas listas de Melhores de 2008. Um disco que, em apenas uma faixa (a já citada There Was a Time), conta com seis guitarristas diferentes – só para dar um exemplo – dificilmente primaria pela coesão.

O que fica é o sentimento de anticlímax de um CD que deveria ter saído 15 anos atrás. Espero que os americanos apreciem bastante sua garrafinha de Dr. Pepper, por que nesse CD aqui não há muito o que saborear.

Chinese Democracy
Guns ‘n‘ Roses
Universal
R$ 27,90
www.gunsnroses.com

PRÊMIOS PARA O ROCK BAIANO EM CERIMÔNIA BEM ORGANIZADA

Primeira edição do Bahia de Todos os Rocks demonstrou potencial da cena e transcorreu sem imprevistos

O duo Dois Em Um, formado por Luisão Pereira e Fernanda Monteiro, foi o grande vencedor da primeira edição do prêmio Bahia de Todos os Rocks. A bem azeitada mistura de indie rock, eletrônica e bossa nova conquistou público e a crítica.

Do primeiro, a dupla ganhou o troféu Figa Rock ‘n‘ Roll de Melhor Música, com 26% dos votos no site da premiação. Já a crítica concedeu o prêmio de Ano 1, equivalente à Revelação.

Todos os cinco concorrentes à Música do Ano – Vandex, Yun-Fat, Fomidável Família Musical, Matiz e a Dois Em Um – ainda ainda fizeram boas apresentações, defendo suas respectivas canções.

A festa, muito bem organizada e apresentada pela cantora Nancyta Viegas e Tiago Moura, ocorreu sem nenhum vexame (diferente do famigerado Grammy Latino) e teve momentos de emoção, como quando os membros d‘Os Panteras, banda que acompanhou Raul Seixas em seu primeiro álbum, Raulzito & Os Panteras (1968), subiram ao palco para receber o prêmio de Dinossauro Referência.

Um merecido reconhecimento para quem, quarenta anos atrás, tinha que viajar a São Paulo para comprar uma simples baqueta de bateria, como contou um dos membros. Foram aplaudidos de pé pelo público.

O prêmio de Artista / Banda do Ano, um dos principais da noite, foi para a banda Cascadura, que também fez uma grande festa no palco ao subir com todos os seus colaboradores, como roadies, empresário e assessora de imprensa.

A Cascadura ainda levou Clipe do Ano, com o vídeo de Mesmo Eu Estando do Outro Lado, uma divertida animação, assinada por Luis Guilherme Campos e Zeca Forehead de Souza.

Já o de Disco do Ano foi para a estréia da banda Pessoas Invisíveis, cujo líder, Bruno Carvalho, dedicou o prêmio à esposa.

O prêmio de Músico Destaque, que todos esperavam ir para o Retrofoguete Morotó Slim, acabou mesmo foi com o baterista / rolo compressor Emanuel Venâncio, das bandas Subaquático e Bestiário (esta última, ainda em fase de ensaios).

A figa rock 'n' roll de Show do Ano foi para banda Vivendo do Ócio, cujos integrantes estão em São Paulo, participando da final do concurso nacional Gas Sound.

segunda-feira, novembro 24, 2008

BAHIA DE TODOS OS ROCKS FAZ NOITE DE GALA PARA CENA LOCAL

Premiação pode ser sinal de que algo mudou na mentalidade das instâncias pública e privada

Para quem não acompanha o que está acontecendo no cenário alternativo, a idéia pode parecer esdrúxula, mas a verdade é que não dá mais para ignorar o rock local. O governo estadual (via Secult) já sabe disso e a iniciativa privada também (ou pelo menos, sua porção mais esperta). Agora, só falta o público.

Esse é o espírito da primeira noite de gala do rock baiano: a cerimônia de entrega do Prêmio Bahia de Todos os Rocks, que acontece hoje, no Teatro Casa do Comércio.

O evento (para convidados) vem coroar os esforços do jovem idealizador do projeto, o jornalista Emmanuel Mirdad. Com uma idéia na cabeça, o rapaz bateu na porta da Secretaria de Cultura e da iniciativa privada – no caso, da empresa de telefonia Oi, através do Fazcultura – e, para sua própria surpresa, recebeu todo o apoio de que precisava para tocar adiante sua vontade de conceder um reconhecimento aos músicos e produtores que militam no (por enquanto) mingüado mercado do rock baiano.

“O pessoal (da Secult e da Oi) achou interessante o projeto por que é uma lacuna que precisa ser preenchida, até para facilitar a profissionalização do rock baiano”, conta Mirdad.

Ele acredita que houve uma mudança de mentalidade nessas duas instâncias – dos poderes público e privado – em relação ao rock: ”Não tem mais aquela história de tratarem o rock baiano a pontapés, como era antigamente. Conseguimos o patrocínio da Oi através de edital justamente por que se tratava de um projeto de rock na Bahia.

Foi exatamente isso que eles acharam interessante. Tanto, que fizeram questão de deixar bem claro: ‘a gente gostou por ser um projeto de rock da Bahia e nós apoiamos isso‘”, cita Emmanuel.

Claro que, mesmo com apoio, nada vai muito adiante se não houver um bom estofo por trás (coisa que o rock local tem) e apoio popular. Este último, como se sabe, ainda é tímido por uma série de razões que não vale a pena elencar aqui, e certamente, não serão fáceis de superar.

Até por que, não é hora de se lamentar, e sim, de muito trabalho pela frente para quebrar essas barreiras. ”Eu acho que o momento de apresentar projetos ligados à essa diversidade cultural e ao rock é agora. As portas estão se abrindo”, aconselha Emmanuel.

Com a cantora Nancyta e o disc-jockey da Transamérica FM Tiago Moura como mestres de cerimônia (com direito à telão no palco e bancada, como manda o figurino), a noite terá apresentação das cinco bandas indicadas à categoria Música do Ano, cada uma defendendo a sua.

No foyer, antes da cerimônia, o público poderá se divertir com a jam livre do Palco Toca Raul, comandado por Ted Simões (da banda Starla) e a vídeo instalação montada pelo artista Mark Dayves, do GIA - Grupo de Interferência Ambiental. Todos os premiados ganharão o Troféu Bahia de Todos os Rocks, uma figa estilizada criada pelo artista cachoeirense Doidão, dono de um ateliê em Praia do Forte.

”Agora, o principal é que o próprio pessoal do rock deixe de ser rock star, por que a gente precisa trabalhar sério. Chega de vaidade. Sou anti-panela, cabô essa história. Então, não me enquadrem, OK?”, conclui.

Prêmio Bahia de Todos os Rocks | Cerimônia de premiação | Hoje, 20 horas | Teatro SESC Casa do Comércio | Evento restrito para convidados

segunda-feira, novembro 17, 2008

THE CLASH POUCO ANTES DA QUEDA

Clássico pirata ao vivo é enfim lançado e captura os punks no auge

Em outubro de 1982, a banda inglesa The Clash estava no topo do mundo. Sobreviventes dos escombros que a explosão punk de 1976 espalhou pelo mundo, o grupo experimentava seu momento mais rentável até então: Combat Rock, LP lançado poucos meses antes, foi seu disco comercialmente mais bem-sucedido, com as faixas Rock The Casbah e Should I Stay Or Should I Go bombando nas paradas de sucessos.

Internamente, porém, as coisas não iam nada bem. Pouco após as gravações de Combat Rock, Joe Strummer (vocais e guitarra), Mick Jones (guitarra e vocais) e Paul Simonon (baixo) demitiram o baterista Topper Headon devido ao seu abuso de drogas pesadas, sendo substituído por Terry Chimes, que já havia tocado com a banda nos seus primeiros dias em Londres. (Chimes, por sua vez, foi demitido de novo menos de um ano depois).

A guerra de egos entre Strummer (com Simonon tomando seu partido) e Jones era outro ponto de desgaste. Enquanto o primeiro queria manter a banda numa postura estritamente punk rocker – com a contestação política e o rock cru em primeiro plano –, o segundo era mais ambicioso, buscando aprofundar a mistura do som da banda com outros ritmos, como reggae, dub e rap, além de se sentir bem mais confortável na condição de rock star do que seus companheiros.

Para completar, a turnê americana com os dinossauros do The Who não ia nada bem. Tocando em estádios lotados de fãs de classic rock, a banda era quase sempre vaiada e alvo de latas de cervejas arremessadas em sua direção. Os fãs do Clash mesmo, os punks legítimos, sentiam-se pouco confortáveis no esquema dos megashows em estádio e pouco compareciam.

Azar o deles – pelo menos, daqueles que deixaram de ir ao show do dia 13 de outubro de 1982, no Shea Stadium de Nova Iorque, ocasião conservada no disco pirata mais popular da banda e agora lançado de forma legal, para alegria dos fãs do Clash – naqueles dias, a banda mais relevante da sua época.

Tocando entre o ex-New York Dolls David Johansen e o The Who (em uma de suas muitas “turnês de despedida“), o Clash fez uma daquelas apresentações para ficar na memória. No palco, devidamente vestidos de guerrilheiros, o grupo destilou seu punk rock eclético, híbrido de rockabilly, reggae, dub, rap e, claro, punk ‘76 legítimo, com a fúria de quem já andava muito puto de tomar lata de cerveja na testa.

Logo após serem chamados ao palco pelo seu amigo / assessor de imprensa Kosmo Vinyl (“Nada de futebol por aqui hoje!“), o Clash já chegou arrepiando com a genial London Calling, um termômetro cínico daqueles dias de ameaça nuclear iminente. Daí em diante, é só clássico atrás de clássico, um mais matador que o outro e sem muita conversa entre as canções: The Guns of Brixton, Tommy Gun, Train in Vain, Rock The Casbah, Spanish Bombs, Should I Stay Or Should I Go, Police on My Back etc.

Em The Magnificent Seven, uma surpresa: no meio da música, a banda faz um interlúdio para o dub intoxicante de Armagideon Time, para retornar, pouco depois, e de forma bombástica, ao rap western spaguetti de The Magnificent Seven. Um delírio.

O pau come solto até o final devastador com I Fought The Law, cover de Sonny Curtis que fez tanto sucesso com o Clash, que, até hoje, muitos acham que a música é deles mesmos. Não deve ter sido fácil para o The Who subir ao palco depois daquilo.

No encarte, texto e fotos do fotógrafo Bob Gruen sobre a ocasião, com direito às presenças de David Bowie e Andy Warhol nos bastidores para testemunhar aquela noite histórica.

Live At Shea Stadium
The Clash
Sony BMG
R$ 24,90
www.theclash.com

sábado, novembro 15, 2008

UMA PALAVRINHA DO SEU BLOGUEIRO ROCKLOQUISTA

Abaixo, segue minha fala durante o II Fórum de Música, Mercado e Tecnologia, que até hoje ainda rola no Icba (com shows no Pelourinho). Compus mesa ontem de tardinha com os companheiros Luciano Matos (mediador), Bruno Nogueira (de Pernambuco, atualmente na Bahia, autor do site Pop Up!) e Bruno Maia (do Rio de Janeiro, do site Sobremúsica). A mesa foi intitulada Jornalismo Musical - Tecnologia da Informação em Música. Agradeço à galera da mesa, à todos que compareceram lá e especialmente ao Gilberto Monte, Diretor de Música da Fundação Cultural do Estado, por ter me convidado, fato que me concedeu um prestígio que eu ainda estou em dúvida se mereço mesmo. Segue o texto...

Confesso que, quando fui convidado para vir falar aqui, fiquei meio assustado. Eu sou só um jornalista formado pela Ufba, sabe, não tenho mestrado, não ensino em faculdade nenhuma, nunca escrevi um livro, e, o mais importante de tudo: tenho pânico de falar em público.

É, falar em público para mim é tão agradável quanto andar de avião, ir ao dentista ou enfiar o dedo na tomada. Mas enfim, cá estou eu, numa mesa sobre jornalismo musical na era da informação.

Já disseram por aí que depois de matar o CD, a internet e suas engenhocas virtuais mataram também o jornalismo musical. Sinto informar, mas acho que a notícia da morte do jornalismo musical foi um tanto exagerada.

Sim, hoje, qualquer moleque de 15, 30 ou 50 anos pode abrir um blog dizer tudo o que pensa sobre música. Mas isso faz dele um jornalista musical? Suponho que não. Sabe por que? Eu embro que, nos anos 80, no auge da empolgação com o Plano Cruzado, o rock brasil teve um boom de bandas lançadas pelas grandes gravadoras. Mas e daí? Quantas dessas sobreviveram? Só as realmente boas e que trabalharam certo.

O que eu quero dizer é que existe uma seleção natural em tudo na vida. Quantos blogs musicais já nasceram e morreram, depois de meia dúzia de posts? Não adianta sair falando que entende de rock, se, na verdade, vc começou a ouvir música com Teatro Mágico, NX Zero ou Arctic Monkeys - sem juízo de valor para qualquer uma dessas bandas - e não foi muito além disso, por que na verdade, essa pessoa teria muito pouco conteúdo a oferecer. Basicamente, meia dúzia de posts.

Então, eu não vejo ameaça nenhuma ao jornalismo musical via blogs de apreciadores que só querem um passatempo ou, no máximo, babar o ovo de sua banda preferida.

O cara que se dispõe a ser jornalista de música - ou mesmo de cultura em geral - é, geralmente, alguém que já tem uma tendência a isso desde muito jovem. É um apaixonado. Pior: é um cara que foi pego por essa paixão ainda adolescente. Como toda paixão adolescente, ela é capaz de nos cegar, mas também de nos inspirar, de nos dar força para para realizar, buscar, fazer e acontecer em nome de consumar essa paixão.

Eu mesmo decidi que ia trabalhar na Bizz aos 13 anos de idade. Apesar de provavelmente, ser o jornalista com menos experiência de redação em caderno 2 aqui da mesa, devo ser o mais velho. Não vem ao caso agora, mas além de ter batalhado duro e durante muito tempo até chegar ao Caderno 2 da Tarde, fiz um desvio que me levou a trabalhar com propaganda durante seis anos. Mas nunca joguei fora essa idéia. E durante todo esse tempo, nunca deixei de acompanhar o que acontecia, até por que sempre fui do rock e parte do meio rock local.

Boa parte dos jornalistas do rock só desperta para esse mundo quando chega na faculdade, aí cai num certo deslumbre e tal. Eu, não. Meus melhores amigos sempre foram do rock. Era a galera da Úteros, da Cascadura, da brincando deu deus, etc. Quando eu entrei na faculdade aos 21 anos (atrasado, como sempre), já era macaco velho desse meio. Hoje tenho 37.

Não sei se é o meu caso, mas os melhores jornalistas musicais, para mim, são aqueles que vieram desse mundo: do rock para o jornalismo, e não o caminho inverso.

Como sabemos, a imprensa musical é parte da própria mitologia do rock 'n' roll. Foi um fanzine americano que batizou o movimento punk. Foi um DJ de Londres que divulgou as bandas desse mesmo movimento em diante para o mundo. Foi para um editor da Rolling Stone que John Lennon declarou morto o sonho da era hippie. Há muitos outros exemplos, mas por fim, e mais importante, foi um radialista americano que deu nome a tudo isso: rock 'n' roll.

Então, eu acho que a imprensa musical, especialmente no Brasil, ainda é muito subvalorizada. O jornalista cultural em si - não apenas o musical - vive sobre uma corda bamba. Ele tem direito a emitir opiniões, mas só é respeitado enquanto essas são favoráveis aos músicos.

Por que quando ele critica de verdade, aponta inconsistências e tal, imediatamente os fãs e os próprios músicos logo se apressam a desmoralizá-lo, com argumentos do tipo: "esse cara não entende porra nenhuma de música", "ele não entendeu nossa proposta", "ele tem inveja", "os críticos são músicos frustrados" etc.

As reações na hora do elogio são exatamente o contrário: "excelente matéria, cara", "apareça no nosso show" etc.

Então o cara que se propõe a escrever sobre música é sempre esse ser indefinido, que os músicos não sabem se é "amigo" ou "inimigo" até que ele publique alguma coisa sobre sua banda.

Mas afinal, qual é o papel do jornalista musical? É a obrigação dele ter uma opinião sobre tudo? É a obrigação dele fabricar um um significado sobre a obra dos outros, por mais insossa que esta seja? "Ah, este disco é um tratado sobre a futilidade hi-tech da vida urbana pós-pós-moderna deste início de século, blá blá blá". Alguém ainda aguenta esse papo? Qual o nosso papel, afinal?

O jornalista de música precisa ser músico também para poder falar? Por que eu suponho que muitos dos melhores jornalistas do ramo jamais empunharam uma guitarra. Na minha humilde opinião, é até melhor que o jornalista de música não seja músico, para não impregnar o texto de observações técnicas que só entediariam o leitor. Por que a gente não escreve para outros músicos. A gente escreve para o público. Somos consumidores de música, como qualquer outro.

O cara que escreve sobre cinema, com raras exceções, jamais vai dirigir um filme. Então, na minha opinião, a visão do jornalista de música deve partir de um ângulo muito mais próximo ao do consumidor comum do que ao do músico.

Qual foi a intenção desse cara ao fazer esse disco? Ele teve sucesso, atingiu seu objetivo? Ele é popular ou erudito? Enquanto um ou outro, ele foi bem sucedido? Essa música tem poder para seduzir o público ao qual ela se destina?

São essas as perguntas que me faço quando vou escrever sobre um disco ou uma banda. Por que meu papel não é me colocar do lado do músico, mas ao lado do público. Na verdade, de um ideal de público: informado, inteligente e bem formado.

É aquela coisa: tem muito músico que se revolta quando falamos mal de suas bandas, por que supostamente, não temos autoridade para falar de música por que não somos músicos – a não ser quando falamos bem, claro. Então, quem tem essa autoridade? Só outros músicos? Mas esses não são jornalistas para escrever no jornal. Se eles forem escrever sobre música vai ser uma tragédia, por que não é assim que eles se expressam melhor. É fazendo música.

Recentemente, acho que acabei criando uma micro-polêmica no meio rock local, por que eu reclamei que tinha muita banda por aí que, apesar de ter potencial, não estava lançando mão de um dos principais recursos de sedução do público: o refrão.

O refrão, como sabemos, é parte integrante de uma estrutura maior, que é a canção. A canção é o formato mais simples e popular da música, é aquilo que ouvimos quando ligamos o rádio.

Fui criticado por cobrar dos músicos locais algo que eles, desde o início, deveriam se dispor a fazer: música para o público. Sim, por que quem faz música para outros músicos ou para os amigos não vai para frente nunca.

Se incomodei tanta gente - até alguns dos meus melhores amigos me criticaram duramente por conta dessa minha posição - é por que estou certo mesmo.

Enfim: acho que é esse o nosso papel: não apenas ficar fazendo resenhinhas de disco ou de show, comer pilha de a, b ou c e hypar ninguém, e sim, ter uma visão mais ampla de todo o processo, noticiar, observar, criticar e, até mesmo, apontar direções, caminhos.

E que Lester Bangs venha puxar meu pé de noite se eu estiver errado.

terça-feira, novembro 11, 2008

MICRO-RESENHAS EM DOSES HOMEOPÁTICAS

Manics voltam em forma

Uma das bandas mais importantes (e subestimadas) surgidas nos anos 90 no Reino Unido, a Manic Street Preachers tem sua história marcada pelo sumiço do guitarrista Richey Edwards em 1995. Essa tragédia – ainda não explicada pela polícia – inspirou o (agora) trio a cometer um álbum grandioso, dois anos depois: Everything Must Go (1997). Após alguns altos e baixos, a banda retornou à velha forma com Send Away The Tigers, lançado lá fora em 2007, e que só agora chega ao Brasil. Nele, a banda galesa recupera o som widescreen e o peso que caracterizam seus melhores trabalhos. E ainda tem a ótima participação da maravilhosa Nina Pesson (Cardigans), na faixa Your Love Alone Is Not Enough. CD para ouvir direto, sem pular uma faixa sequer.
Send Away The Tigers
Manic Street Preachers
Sony BMG
R$ 13,90
www.manicstreetpreachers.com


Sherlock & Watson à americana

Nero Wolfe e Archie Goodwin formam a contraparte ianque à dupla de detetives Sherlock Holmes e Doutor Watson. O primeiro é o cérebro analítico, capaz de desvendar crimes complexos sem sequer se levantar da poltrona, enquanto o segundo é um misto de braço direito e biógrafo, já que é ele que narra os casos. Serpente, publicado pela primeira vez em 1934, é exatamente a estréia de Wolfe e Goodwin. Com humor refinado, Stout conquista o leitor logo de cara ao apresentar o obeso detetive como um bebedor inveterado de cerveja. No primeiro caso, a dupla investiga os assassinatos do reitor de uma universidade em um campo de golfe e um imigrante italiano na época da recessão.
Serpente
Rex Stout
Companhia das Letras
328 p. | R$ 42,50
companhiadasletras.com.br


O hard rock dos seres pensantes

Conhecida como “a banda de heavy metal do homem pensante“, a Blue Öyster Cult nunca figurou entre os mais vendidos ou lotou estádios. Graças à sua associação com escritores como Michael Moorcock e Stephen King, ganhou fama de fazer um hard rock elaborado, com letras narrativas entre a ficção científica e a fantasia, o que lhe valeu a admiração de ícones do metal, como Bruce Dickinson (do Iron Maiden), responsável pela seleção das músicas. No CD, curiosos e fãs poderão curtir alguns pontos altos de sua obscura carreira, como Astronomy, (regravada pelo Metallica), Don‘t Fear The Reaper (título deste Best Of) e as pops Joan Crawford e Burnin‘ For You (seu maior hit).
The Best Of
Blue Öyster Cult
Sony BMG
R$ 11,90
www.blueoystercult.com


As origens de Preacher e amigos

Preacher, de Garth Ennis (roteiros) e Steve Dillon (desenhos) é uma das melhores séries do Vertigo, selo da DC especializado em quadrinhos adultos e de terror. Composta de 65 números, luta há uns dez anos para chegar ao final no Brasil. Além da série principal, Ennis lançou quatro edições especiais que explorava com mais profundidade o passado de alguns personagens da série. Memórias reúne essas quatro edições em um encadernado caprichado: O Cavaleiro Altivo enfoca a juventude de Jesse Custer, personagem principal. Guerra de Um Homem Só mostra o passado de Herr Starr, o hilário e azarado vilão de monóculo e cicatriz no rosto. Cassidy: Sangue & Uísque é uma avenyura do vampiro irlandês beberrão, amigo de Jesse, envolvido numa comunidade de ridículos vampiros góticos de Nova Orleans (uma clara tiração de sarro de Garth Ennis com os romances de vampiro para dona de casa de Anne Rice). E A História de Você-Sabe-Quem (a melhor das quatro) mostra a origem do patético personagem Cara de Cú, um jovem loser reprimido pelo pai, um policial white trash durão. Quando Kurt Cobain aparece morto em 1994, o rapaz resolve meter um tiro na ventas para seguir o ídolo. Só que ele não morre, nascendo daí o Caaaaaara de Cúúúú!!!! Genial. O bom dessa edição que o leitor não precisa ser familiarizado com a série para entender as histórias. Dá para ~lê-las isoladamente, e se, gostar, ir atrás da série Preacher principal.
Preacher: Memórias
Ennis / Vários
Pixel Media
244 p. | R$ 22,90
www.pixelquadrinhos.com.br


Guitarra baiana à frente

Instrumentista de mão cheia, Fred Menendez é um fiel seguidor da tradição da família Macedo, tocando guitarra baiana com muita habilidade. Neste trabalho, o músico busca criar temas específicos para a guitarrinha, na tentativa de resgatar sua relevância dentro do cenário musical baiano. Apesar da intenção louvável e de tocar incrivelmente bem, Menendez peca nos arranjos para algumas músicas, um tanto esquemáticos demais, pois calcados nos vícios do hard rock instrumental de nomes como Joe Satriani e congêneres. Depõe contra seu trabalho também a opção de gravar acompanhado de bateria eletrônica e um teclado de timbre artificial (em faixas como Via Contrari e Zanzara), o que tira muito do caráter orgânico que caracteriza a guitarra baiana. Não à toa, tem seus melhores momentos em faixas menos convencionais, como nos blues The Fox Man e Canguru.
Metamorfose
Fred Menendez
Independente
Preço não divulgado
www.fredmenendez.com

quinta-feira, novembro 06, 2008

BOOMBAHIA NA TVE HOJE

Só um aviso rápido, a pedidos:

A matéria da cobertura do Boombahia vai ao ar nessa quinta (HOJE), dia 6/10, às 22h, no Soterópolis (TVE - Canal 2). Divulgue! Assista! Grave! Uhúú!

segunda-feira, novembro 03, 2008

EXIBIÇÃODE CURTAS LEMBRA ALEXANDRE ROBATTO

Pioneiro do cinema baiano, Alexandre Robatto Filho terá seu centenário de nascimento lembrado e homenageado nesta terça-feira (4), na Sala Walter da Silveira, com a exibição pública e gratuita de dois dos seus curta-metragens: Xaréu e Vadiação.

A iniciativa da Dimas – Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado, ainda contemplará uma exposição no Palacete das Artes, organizada pela Secretaria de Cultura da Bahia (Secult).

A estatura do homenageado mais do que justifica o esforço. Robatto foi responsável por legar às gerações que se seguiram à dele um inestimável acervo da memória da sociedade baiana nas décadas de 1930, 40 e 50.

“Alexandre Robatto Filho foi o que se pode chamar de pioneiro. Nos anos 30 e 40, quando não se tinha quaisquer condições de se filmar aqui , ele conseguia fazer filmes de curta-metragem documentando ocasiões importantes“, lembra o crítico de cinema e professor da Ufba André Setaro, que escreveu um livro sobre o cineasta em 1992, em co-autoria com o também cineasta José Umberto.

Entre os muitos registros históricos de Robatto, Setaro destaca a inauguração do Fórum Ruy Barbosa – com a vinda dos restos mortais do jurista –, a chegada de Marta Rocha do Miss Universo, os pescadores de xaréu, o parque de exposições agropecuárias que havia em Ondina, os antigos bailes de carnaval do Clube Baiano de Tênis, entre outras. “Sua obra é uma memória muito preciosa do que era a Bahia naquela época“, diz.

“Os filmes e a câmera ele comprou no Rio de Janeiro. Depois que ele filmava aqui, tinha que mandar os filmes de volta ao Rio, para revelar. Esperava meses até que estivessem prontos. Depois disso, ele tinha que viajar ao Rio mais uma vez para montar a película, pois aqui também não havia mesa de montagem ou moviola. Era um persistente“, classifica Setaro.

O professor vê no primeiro longa-metragem de Glauber Rocha, Barravento, uma influência clara daquele que ele considera o melhor filme de Robatto: Entre o Mar e o Tendal, onde ele aborda a pesca de xaréu.

“Este foi seu filme esteticamente mais bem-acabado, pois apresenta uma boa composição de cenas e uma certa elaboração em termos de cinema. Barravento, de fato, tem muitos planos idênticos à Entre o Mar e o Tendal. Enfim, foi um sujeito de grande importância“, observa.

Nascido em 1908, Alexandre Robatto Filho foi cirurgião dentista, professor universitário de radiologia, pintor, rádio-amador e cineasta, por hobby.

Xaréu e Vadiação
Exibição dos dois curtas de Alexandre Robatto Filho | Terça-feira, 4 de novembro, 20 horas | Sala Walter da Silveira (3116 - 8100) | Rua General Labatut, 27 Barris | Entrada gratuita

sábado, novembro 01, 2008

LUGAR DE HQ É (TAMBÉM) NA LIVRARIA

Cada vez mais, quadrinhos de qualidade migram das bancas para as boas lojas do ramo

Longe vai o tempo em que quadrinhos eram aquela coisa de criança que se comprava com os trocados do pão e apenas em bancas de revista. Os leitores, especialmente aqueles que já atingiram a idade adulta, vivem um momento especial. A oferta de HQs de qualidade nas livrarias nunca foi tão variada.

A todo momento, surgem novas editoras, e todas, firmemente determinada a conquistar o leitor – e seu nicho neste mercado – investindo em materiais de qualidade, tanto gringos, quanto nacionais. E essa concorrência, longe de se verificar apenas nas gôndolas dos jornaleiros, hoje se dá mesmo é no nobre espaço das prateleiras das livrarias.

“Esse movimento é irreversível“, opina o editor Cassius Medauar, da Pixel Media, que lança algumas das HQs mais buscadas por leitores jovens e adultos, como as do selo Vertigo (Sandman, Preacher) e Wildstorm (Promethea, Planetary).

“Acho que, tanto o público, quanto as livrarias, já compraram a idéia, mas o potencial desse mercado ainda foi bem pouco explorado. Há um espaço grande para ocupar, pois só agora as livrarias estão descobrindo como trabalhar com esse material diferenciado e a entender que se elas exporem bem (nas prateleiras), terão retorno em venda“, acredita.

“Há uma demanda reprimida do público por quadrinhos de qualidade. Muitas vezes, o leitor que se forma na banca, passa a ler livros. Quando chega na livraria, ele descobre que aquilo também está lá, em outras edições. E acaba descobrindo ainda outras opções de HQ“, raciocina.

CONFIRA A SEGUIR UMA PEQUENA SELEÇÃO DO QUE DE MELHOR TEM CHEGADO ÀS LIVRARIAS

Clássico Vertigo chega à terceira edição no Brasil

Se Alan Moore, com seu Monstro do Pântano, foi quem fincou as bases do selo Vertigo, seu conterrâneo Neil Gaiman foi o responsável por consolidá-lo de vez com Sandman. Iniciada no final dos anos 80, trouxe para o mercado muitos leitores que, até então, não tinham o costume de ler HQ. O segredo? Uma bem amarrada viagem onírica misturando terror, dramas familiares, fantasia, mitologia e personagens fascinantes. Para começar, o personagem principal é uma encarnação do poder humano de sonhar. Muito popular, a série chega à sua terceira edição brasileira, agora com preço (bem) mais em conta, nova colorização e extras.
Sandman - Prelúdios e Noturnos
Gaiman / Kieth
Pixel Media
144 P. | R$ 29,90
www.pixelquadrinhos.com.br


Golaço de jovem brazuca premiado nos EUA

O gaúcho Rafael Grampá era um ilustre desconhecido até 2008. Só neste ano, o rapaz ganhou (em parceria com os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá), o prêmio Eisner de Melhor Antologia por 5, foi procurado pelo autor Brian Azzarello para ilustrar a revista Hellblazer e viu seu primeiro álbum solo, Mesmo Delivery, lançado aqui e nos EUA simultaneamente. Não é para menos: sua narrativa é para lá de cinematográfica e seu estilo de desenho, uma festa para os olhos. Mesmo Delivery, ultra-violenta, chega a lembrar filmes de Tarantino e torture porn (tipo O Albergue). Uma senhora estréia de alguém que ainda vai dar muito o que falar. Um golaço.
Mesmo Delivery
Rafael Grampá
Editora Desiderata / Ediouro
56 Páginas
R$ 23,50
www.ediouro.com.br


Clássico de Frank Miller em nova edição, colorida

No auge da carreira, ainda quente do sucesso de clássicos dos anos 80 como O Cavaleiro das Trevas e A Queda de Murdock, Frank Miller resolveu dar adeus aos quadrinhos de super-heróis das grandes editoras (Marvel e DC) e partiu para criações próprias na editora Dark Horse. Dessa safra saíram os novos sucessos lançados ao longo dos anos 90, como a série Sin City, Liberdade - Um Sonho Americano, 300 e Hard Boiled. Esta última, criada em parceria com o desenhista (e maníaco detalhista) Geoff Darrow, é uma surrealista (e extremamente violenta) aventura de ficção científica. Anteriormente publicada no Brasil em P&B, ganha agora sua edição definitiva, em cores.
Hard Boiled: À queima-roupa
Frank Miller / Geoff Darrow
Devir
128 P. | R$ 45,00
www.devir.com.br


HQ nacional com gosto de sessão da tarde

Uma das melhores surpresas dos quadrinhos nacionais em 2008 veio de Joinville, Santa Catarina: criada pelos jovens Diogo Cesar (roteiro) e Pablo Mayer (arte), A casa ao lado conta uma bem amarrada história de terror leve, temperada com muito bom humor. Tudo começa quando o adolescente Felipe leva a jovem filha da vizinha para conhecer a tal casa ao lado do título, tida como mal assombrada na cidade catarinense. Detalhe: no meio da noite. Claro, coisas estranhas acontecem, e, no dia seguinte, o relutante pai do rapaz é pressionado pela vizinha, polícia, imprensa e ex-mulher a dar conta dos adolescentes desaparecidos. A narrativa é muito ágil e carrega o leitor para dentro da história, como numa boa sessão da tarde. Mais um sinal do ótimo momento criativo por que vem passando as HQs brazucas.
A casa ao lado
Diogo Cesar / Pablo Mayer
HQM Editora
56 páginas
R$ 14,90
www.hqmaniacs.com.br


Alan Moore supera a si mesmo em Promethea

Ainda pouco conhecida pelos fãs brasileiros do genial Alan Moore (Watchmen), Promethea é uma das séries que ele lançou no seu próprio selo, o ABC. Super ambiciosa, a série traz, a cada número, uma pequena aula sobre mitologia, fábulas, magia, metafísica, arte, filosofia e até sexo tântrico. A história segue a jovem Sophie Bangs – numa Nova Iorque futurista – em sua pesquisa sobre a Promethea, uma guerreira mitológica que se manifestou em diversas mulheres ao longo dos séculos, até que esta se manifesta na própria Sophie. Destaque para o prodigioso desenhista J.H. Williams III, responsável pelos espantosos leiautes.
Promethea - Livro Um
Alan Moore / J.H. Williams III
Pixel Media
176 p. | R$ 41,90
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Adaptações em HQ de contos do Velho Safado

Publicadas no Brasil – ainda nos anos 80 – em dois álbuns, essas adaptações do quadrinista alemão Matthias Schultheiss para os contos do seu conterrâneo Charles Bukowski voltam às livrarias reunidas em um volume único pela mesma L&PM. Estão aqui, vertidas para a nona arte através do rigor acadêmico de Schultheiss, algumas das mais emblemáticas histórias curtas do Velho Buk, como Mamãe bunduda, N. York, 95 cents ao dia e Kid Foguete no matadouro. Ao todo, são oito contos ilustrados que resumem bem – especialmente para os neófitos – o estilão sujo, bêbado e decadente deste ídolo do underground. O desenhista dá um show nas suas adaptações em P&B, decupando com maestria o texto seco de Bukowski em cenas cheias de poesia e detalhes.
Delírios cotidianos
Charles Bukowski / Matthias Schultheiss
Editora L&PM
152 P. | R$ 29
www.lpm.com.br


A volta dos vampiros sensuais, impiedosos (e incestuosos)

Fãs dos elaborados álbuns de quadrinhos europeus têm um prato cheio com o lançamento pela Devir de Predadores, série em quatro edições criada pela dupla Jean Dufaux e Enrico Marini. A obra dá uma atualizada razoável no batido tema dos vampiros ao focar sua narrativa em uma série de estranhos assassinatos que vêm ocorrendo em Nova Iorque: as vítimas são encontradas sem uma gota de sangue, apenas com um alfinete a perfurar um quisto que todas elas têm atrás da orelha. Intrigada, a detetive Vicky Lenore e seu parceiro Benito Spiaggi partem para investigar a fundo o caso. Em paralelo, acompanhamos os assassinos em si, os irmãos vampiros Drago e Camilla, em sua sangrenta jornada para erradicar uma antiga ordem de vampiros infiltrados em altos escalões do poder. A narrativa – apesar de, aparentemente, apresentar os culpados logo de cara – é forte e arrasta o leitor, também graças à linda arte de Marini. Que venham mais HQs européias.
Predadores - Volumes 1 e 2
Jean Dufaux e Enrico Marini
Devir Editora
64 p. (cada volume) | R$ 29 (cada volume)
www.devir.com.br