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quarta-feira, janeiro 30, 2008

MICRO-RESENHAS ANTI-CARNAVALESCAS

Exorcismo musical de vícios e dores

O 2º CD solo do vocalista do Depeche Mode é um denso caleidoscópio de dor e desespero. São dez faixas entre um sujo som eletrônico e o gótico, lembrando muitas vezes sua banda original. Gahan é um cara que já sofreu muito por causa do vício em heroína, tendo quase morrido algumas vezes - por iniciativa própria ou acidente. Isso se reflete no tom sombrio que o CD apresenta desde a primeira até a última faixa. Em algumas delas, chega a lembrar alguma coisa do Marilyn Manson - o que é péssimo - mas essa impressão passa logo - o que é ótimo. Sua bela voz grave ainda está lá, e suas letras desesperadas também. Álbum denso, triste, desiludido e não recomendado para pessoas depressivas.
Hourglass
Dave Gahan
EMI
R$ 28,90
www.davegahan.com


Vermelha é a cor da violência

Grendel é um personagem fascinante criado na década de 80 pelo quadrinista americano Matt Wagner, tomando emprestado apenas o nome de um dos vilões de Beowulf. Inicialmente, Grendel era a identidade secreta do jovem e milionário escritor Hunter Rose, que nas horas vagas atuava como gênio do crime e psicopata refinado - do tipo que encarava o ato de matar como uma obra de arte. Neste livro, o personagem é apresentado aos leitores brasileiros em diversos contos de clima noir, ilustrados por grandes desenhistas do mercado internacional, como Tim Sale, Mike Allred, Chris Sprouse, Paul Chadwick e outros.
Grendel: Preto, Branco & Vermelho
Vários
Devir
200 p. | R$ 34,50
www.devir.com.br


Por um novo rock brasileiro

A promissora banda campineira Instiga chega ao segundo CD, Menino Canta Menina, determinada a aprofundar sua busca por um indie rock em português mais brasileiro. Não que cantem sobre a cadência do samba ou algo assim, qual um Los Hermanos paulista. A verdade é que desde seu primeiro disco, A Máquina Milenar (2005), a banda liderada por Christian Camilo (guitarra e vocal) tem demonstrado personalidade própria em canções diretas, com letras instigantes (sem trocadilho) e arranjos baseados em guitarra que devem render um show bem divertido. CD acima da média de uma banda ainda a ser descoberta pelo público. Destaques: Sabiá, Olá e Herói.
Menino Canta Menina
Instiga
Trombador
R$ 22,90
www.instiga.com


Fábio, em que estrela se escondeu
Quem tem mais de 40 anos deve se lembrar dessa: “Stella-a-a-a! (olha o eco) Em que estrela você se escondeu?“. Esquecido pelo grande público há décadas, Fábio Rolón, um paraguaio de 60 e poucos anos, foi um dos melhores amigos de Tim Maia e fez sucesso ainda antes dele com o hit Stella, uma balada soul na mesma linha das do Síndico, ainda em 1970 ou 71. Além desse novo CD, com velhas e novas canções, incluindo Stella, Risos e Preciso Urgentemente Falar com Cassiano, Fábio ainda lançou em 2007 o livro Até parece que foi sonho - Meus 30 anos de amizade e trabalho com Tim Maia (imagem ao lado), ofuscado pelo bombado livro de Nélson Motta. Muito suíngue e boa voz.
Meu Jovem Amigo
Fábio Stella
Independente
R$ 20
(71) 3374-7951 | fabiorolon@ig.com.br

sexta-feira, janeiro 25, 2008

BRAT PACK - MEU ÓDIO SERÁ TUA HQ

Brat Pack, de Rick Veitch (Monstro do Pântano) é HQ nascida do rancor - e por isso mesmo, é também uma execelente mostra de quadrinhos underground americanos.

Quando um contexto específico em que uma história é criada se torna mais importante do que a própria história, ela perde o valor?

Essa é a grande questão que parece se abater sobre Brat Pack, obra-provavelmente-máxima de Rick Veitch, o mero mortal a quem foi confiada a espinhosa tarefa de substituir Alan Moore na revista do Monstro do Pântano - fase tão importante e seminal (esse termo é horrível, mas no contexto não há outro), que acabou gerando o selo Vertigo, e, em última análise, os quadrinhos mainstream americanos como os conhecemos hoje.

Ufa.

Após esse desnecessariamente extenso e complicado preâmbulo, voltemos ao objeto da análise. Brat Pack surgiu da indignação de Veitch quando a DC censurou sumariamente uma edição sua do Monstro, onde o protagonista se encontrava com Jesus Cristo em pessoa e (supostamente) batia um papinho filosófico com Ele.

Irado, Veitch deve ter raciocinado: "Puta que pariu, eles publicam histórias com crianças vestindo roupas colantes sendo expostas a supostos pedófilos, criminosos e psicopatas há décadas - e minha história onde um personagem encontra Jesus é que é considerada ofensiva? Capitalistas filhos da puta!"

Toda essa raiva o fez criar o próprio selo independente (King Hell), e por ele lançar Brat Pack, onde juntou todos os podres que conhecia da indústria - deduziu mais alguns e se lembrou de outros - e largou lá, sem retoques, sem metáforas, com a sutileza de um Hulk numa loja de cristais.

Você já leu essa HQ antes: versões-paródia (ou "realistas", diria o cínico) de heróis icônicos são colocadas nas situações mais extremas e absurdas. Authority e Esquadrão Supremo são só os exemplos mais recentes e em evidência que vêm à mente sem qualquer esforço.

A principal referência parece mesmo o episódio da morte do Robin Jason Todd, que foi brutalmente assassinado pelo Coringa após uma votação por telefone entre os leitores, proposta pelos editores da DC, em 1988.

(Nota: como nos quadrinhos de super-heróis que é morto sempre aparece, Todd já voltou a aparecer nas histórias atuais do Batman. Não me perguntem. Não li - nem pretendo ler - este material).

Essa historinha editorial sórdida serve de ponto de partida para Veitch desancar a indústria dos quadrinhos americana de alto a baixo em uma HQ ainda mais sórdida, ainda que muito bem narrada.

A verdade é que Veitch cometeu uma bela e ácida peça de HQ underground americana, coisa de deixar um Robert Crumb orgulhoso.

Tudo começa quando um locutor de rádio propõe uma votação por telefone para saber se o público preferia que o Bando de Pirralhos (Brat Pack), jovens assistentes dos heróis de Slumburg (Favelópolis?) estivesse vivo ou morto.

Óbvio que o polegar das multidões sempre vira para baixo. É facilmente previsível, pois o povão sempre vai querer ver sangue, é da natureza fodida do ser humano. O ouvinte que propôs que eles deveriam estar mortos, na verdade, o vilão Doutor Blasfêmia, responde que o desejo da população será atendido - e os executa automaticamente.

Como existem contratos de licenciamento para serem cumpridos - e muita grana a ser ganha - com a imagem dos sidekicks, aparições em público etc, Doninha Noturna (Batman), Senhora da Lua (Mulher-Maravilha), Juiz Júri (Juiz Dread?) e Rei Rad (Arqueiro Verde) pressionam um padre para que este lhe indique novas vítimas, digo, candidatos para os cargos vagos de Chippy, Luna, Kid Vício e Selvagem, os jovens parceiros dos heróis, respectivamente.

O que se segue uma jornada de degradação, violência, vício e loucura das mais caprichadas já vistas em uma HQ.

É importante frisar que o estágio do desenhista com Alan Moore influenciou bastante seu storytelling (sorry, periferia), cheio de artifícios formais como narrativas múltiplas, enquadramentos intrincados e simétricos, além de uma tal consistência na caracterização dos personagens que é impossível não ler Brat Pack com um prazer característico, quase sádico.

Pois sabemos o tempo todo que o destino dos personagens será cruel. O tom de Veitch é moralista demais, irado demais para que não fosse diferente.

Mas Brat Pack também é um chute no saco da indústria, como todo bom quadrinho underground deve ser. Essa qualidade ninguém lhe tira.

A pergunta do primeiro parágrafo tem aqui sua resposta: não. Pelo menos, não quando se tem um aluno tão aplicado de Alan Moore na autoria da obra em questão.

BRAT PACK
HQ Maniacs / King Hell
R$ 29,90 - Edição especial
Formato americano - 184 páginas

segunda-feira, janeiro 21, 2008

MICRO-RESENHAS DE SUMMERTIME

O retorno do profeta

Yusuf Islam era anteriormente conhecido como Cat Stevens, músico pop inglês de enorme sucesso nos anos 70, autor de hits inesquecíveis como Wild World, Father and Son e Peace Train. Em 1978, após viver todas as loucuras e excessos que a fama e a fortuna proporcionam, quase morrer e ter algumas experiências religiosas, decidiu abandonar a música, convertendo-se ao islamismo e adotando o nome Yusuf Islam. Somente em 2006 voltou à cena, com o CD An Other Cup. Este belo DVD é o registro do show de retorno, emocionante. Nos extras, extenso documentário sobre sua trajetória.
Yusuf‘s Café Session
Yusuf Islam
Universal
R$ 35,90
www.yusufislam.com


Direto do bar para o seu CD player

Para boa parte do pessoal mais velho, Dean Martin era o escada de Jerry Lewis em alguns de seus melhores filmes. Para o pessoal mais novo, bem... quem diabos é Dean Martin? Resposta: um símbolo de um tempo que não volta mais, quando o showbiz americano ainda exalava charme, graça e inteligência, além de música de primeira, sempre acompanhada por grandes orquestras. Neste CD, o Rei do Cool - graças aos milagres da moderna tecnologia - canta em dueto com astros da atualidade, como Kevin Spacey, Joss Stone, Robbie Williams e até mesmo Charles Aznavour. Para ouvir de black-tie, com um dry martini na mão.
Forever Cool
Dean Martin
EMI
R$ 28,90
www.deanmartin.com


Nova vocalista, mesma estética

Nightwish é aquela banda finlandesa de metal gótico e sinfônico com uma vocalista de ópera. Para gostos mais apurados, essa é uma mistura de fazer embrulhar o estômago, mas a garotada de preto - em última análise, o público-alvo da banda - se amarra. Depois de fazer muito sucesso, e inclusive, vir ao Brasil algumas vezes, a cantora Tarja Turunen deixou a banda. Mas tudo bem, a vocalista nova, Anette Olson, faz tudo igualzinho à anterior. Arranjos ultra-rebuscados e grandiloqüentes, agudos, muitas cordas, pompa e circunstância. Quem já gosta vai adorar. Quem não...
Dark Passion Play
Nightwish
Universal
R$ 27,90
www.nightwish.com


Sax endiabrado e doce nas horas certas

Grande nome do jazz europeu, o romano Stefano di Battista demonstra toda a sua técnica neste brilhante CD. Seu show no último TIM Festival foi elogiadíssimo pela crítica - e não é para menos. Com a mesma autoridade com que investe em complexas improvisações hard bop (como em Alexanderplatz Blues e The Serpent‘s Charm), tece cálidas texturas bossa novísticas, como em Echoes of Brazil, um sincero tributo à nossa música pátria.
Trouble Shootin‘
Stefano di Battista
Blue Note / EMI
R$ 28,90
stefanodibattista.net


Sacrifícios para o deus-verme do mal

Uma múmia de 42 mil anos de idade é a porta de entrada em nosso mundo para um demônio arcano de outra dimensão, com o poder de levantar os mortos e transformar a Terra em um inferno, sacrificando-a em nome de um deus-verme. Essa trama para lá de lisérgica com altas doses de misticismo a la H.P. Lovecraft (escritor americano, 1890-1937) é só o ponto de partida para as histórias do universo de Zombie World, série da editora americana Dark Horse. Para inaugurá-la, ninguém melhor que Mike Mignola, criador de Hellboy, um especialista neste tipo de horror. Aventura e terror leves, meio Indiana Jones, meio A Múmia.
Zombie World - O Campeão dos Vermes
Mignola/McEown
Pixel Media
80 pgs | R$ 29,90
pixelquadrinhos.com.br

domingo, janeiro 20, 2008

RECADO DE CISSA (A ATRIZ) PARA CISSA (A BANDA)

"Sou louca para conhecer esses meninos! Me procurem! É de reggae, né? Ah, é de rock? Adorei, me senti homenageada. Quero cantar com eles! Peça para me procurarem, vão lá no meu site, deixem o contato que a gente se fala".

Cissa Guimarães, a garota que quebra o coco mas não arrebenta a sapucaia, na doce ilusão da inocência, prevendo uma parceria improvável no rock baiano... Depoimento colhido durante o Festival de Verão, em 19 d janeiro.

Ah! O site da moça: http://www.cissaguimaraes.com.br/

E o da banda: www.myspace.com/cissaguimaraes

sexta-feira, janeiro 18, 2008

OUÇA E ULTRAJE-SE

Tá no ar o Podcast O Clash Loco 2. Vão lá cambada!

http://clashcityrockers.podOmatic.com/entry/2008-01-17T19_12_30-08_00

quarta-feira, janeiro 16, 2008

SUPERSTAR DOS VIDEOCLIPES

Vandex, ex-Úteros em Fúria, lança clipe-paródia dos Bee Gees em show com participação da Formidável Família Musical

Um herói espacial de roupa brilhante, em cenários igualmente reluzentes, canta com os cabelos ao vento entre uma bela contorcionista em um trapézio e um porco-espinho humano que solta faíscas pelas mãos.

Essa descrição surrealista é apenas o novo videoclipe do cantor Vandex (acima, em foto de Sora Maia) para sua música Venha Mamãe, dirigido por Isabel Machado.

Vandex, para quem não conhece, era o baixista e fundador da Úteros em Fúria, banda fundamental para o cenário rock local na primeira metade dos anos 90, e que influenciou praticamente todo mundo que veio depois, de Pitty a Cascadura.

Com o fim da banda em 1995, Evandro Botti se tornou Vandex e se juntou a Apú Tude (também ex-Úteros) na dupla Guizzzmo, com a qual lançou um ousado e pouco ouvido CD (Macaca!) em 2003. Logo em seguida, partiu em carreira-solo.

"Eu não tenho pressa não. Hoje em dia, com a derrocada do sistema das gravadoras, prefiro fazer um fonograma legal, criar um clipe e distribuir pela internet", avisa, demonstrando estar ligado na realidade do mercado fonográfico.

"Ninguém mais compra disco. Então, é muito mais negócio concentrar todo o seu esforço nas suas melhores músicas e trabalhá-las como você acha mais certo, fazer um clipe bacana, postar no You Tube, essas coisas", aposta.

O clipe de Venha Mamãe, faixa composta a oito mãos por Vandex, Emerson Borel (guitarrista da Úteros em Fúria, morto em 2004), Manuca e Márcio Lobão, é mais um capítulo da parceria do músico com a baiana Isabel Machado, estudante de cinema em Iowa City, nos Estados Unidos.

Em 2007, eles lançaram o clipe da música Erasmo de Rotterdam, uma divertida homenagem aos musicais de Busby Berkeley, um alucinado coreógrafo dos anos 30.

Para Venha Mamãe, Vandex e Isabel partiram de duas referências estéticas dos anos 70: os Bee Gees (tanto na música quanto nos vídeos) e a ficção científica de filmes e seriados como Barbarella, Buck Rogers e Galactica. Daí a descrição algo lisérgica da cena no primeiro parágrafo.

Um detalhe que vale a pena ser citado é a participação do músico, artista plástico e performer Jayme Figura como o monstro espacial que solta faíscas pelas mãos.

O clipe de Erasmo de Rotterdam está disponível no You Tube (é só buscar "Vandex") e no MySpace (www.myspace.com/vandex). Já o clipe de Venha Mamãe só estará disponível nesses mesmos sites a partir de sexta-feira, após o lançamento de amanhã.

"Eu adoro fazer clipe. Enquanto eu puder continuar investindo, vou continuar fazendo", declara.

No show de amanhã na Boomerangue, Vandex contará com uma banda de acompanhamento formada por Eric Hora (filho do bluesman Álvaro Assmar) na guitarra, Fernando Bueno na bateria e Son Melo no baixo.

Além de Vandex e banda, a noite ainda contará com apresentações da Formidável Família Musical e do agitador e DJ Big Brother.

A Formidável Família, anteriormente conhecida como Zecacurydamm, se notabilizou com o EP Sessões da Primavera (2006), com ensolaradas canções pop que chamaram a atenção até de grandes gravadoras.

Lançamento do clipe Venha Mamãe, de Vandex
Com Vandex, Formidável Família Musical e DJ Big Brother
Hoje, 22 horas
Boomerangue (3334-6640 / 3334-5577)
Rua da Paciência, Rio Vermelho
R$ 12

segunda-feira, janeiro 14, 2008

MELHORES DE 2007 - 10 CANÇÕES INTERNACIONAIS

Por que 10 músicas ao invés de 10 discos? Dá menos trabaio! Logo mais, 10 músicas nacionais/locais.

Sem ordem de preferência, nem comentários malas. Tirem suas próprias conclusões.

Time to Get Away - LCD Soundsystem
Ouça aqui: www.youtube.com/watch?v=noHwSIobCXc

As Above, So Below (Justice Remix) - Klaxons
http://www.youtube.com/watch?v=mPhIvFQ-MyU

Who's Gonna Find Me - The Coral
www.youtube.com/watch?v=S5ksBt5nJY0

Silently - Blonde Redhead
http://direitoemdebate-ajp.blogspot.com/2008/01/blonde-redhead-silently.html

And I Was a Boy From School - Hot Chip
http://www.youtube.com/watch?v=MtxAou8c28k

Is There a Ghost - Band of Horses
www.youtube.com/watch?v=JK716RqoUms

Rehab - Amy Winehouse
www.youtube.com/watch?v=LD5sahXoj0U

Let There Be Light - Justice
www.youtube.com/watch?v=m6Qs70pZmiA

Mer du Japon - Air
http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=2026716017

No Cars Go - Arcade Fire
www.youtube.com/watch?v=rJDsm1Y4kUk

sábado, janeiro 12, 2008

COBALTO NA MALAGUETA, FAVELA DE VERÃO EM LAURO DE FREITAS

Cobalto, a melhor banda local de heavy metal da atualidade toca hoje

Tóxico em grandes quantidades e benéfico em pequenas, o cobalto é um metal de cor azulada, cujo nome vem do alemão kobold, "espírito maligno" ou "demônio das minas". Os próprios mineiros lhe chamaram assim, porque acreditavam que um duende roubava a prata e deixava o cobalto, sem valor comercial e nocivo, no lugar.

Um nome adequado, portanto, à melhor banda baiana de heavy metal na atualidade - até prova em contrário. Formada em 1999, a Cobalto chega agora ao segundo CD, Metamorphic, com um show na casa noturna Malagueta, tendo na abertura as bandas Veuliah, Templarius e Dryad, também experimentadas no cenário metálico local.

Em 2005, pouco depois de lançar seu primeiro disco, Elemental, o grupo teve a oportunidade de viajar à Finlândia, onde inicialmente fariam apenas 7 shows previamente agendados. As apresentações impressionaram tanto o público, a crítica e o manager local, que a estadia a princípio curta acabou sendo de nove meses.

"Tocamos pela Finlândia toda, Alemanha, Suécia, Noruega, Bélgica e República Tcheca", enumera Daniel Dattoli, guitarrista. Na República Tcheca, se apresentaram no festival Masters Of Rock, onde subiram no mesmo palco que muitas das bandas que o influenciaram, como Kreator, Apocalyptica, The Gathering, Master Plan e Whitesnake.

Dessa viagem, voltaram impressionados com a popularidade que o heavy metal goza no país de Mika Häkkinen (corredor de Fórmula 1). "O metal na Finlândia é que nem o pagode aqui. Toca como música ambiente nos corredores dos shoppings, uma coisa incrível", se admira.

No show desse sábado, a banda estará fazendo o lançamento oficial de Metamorphic no Brasil. "Ainda nesse primeiro semestre, pretendemos tocar pelo Nordeste e depois, descer para o Sudeste. Vamos ver se rola", afirma Dattoli.

Uma segunda turnê pela Europa é uma possibilidade, mas ainda depende de conversações. "Estamos negociando para ir lá no verão europeu, entre julho e agosto", revela.

Representante inequívoco do heavy metal trampado, com arranjos bem elaborados e afiados musicalmente, a Cobalto demonstra fôlego de sobra para se firmar como mais uma banda brasileira que faz mais sucesso no exterior do que no Brasil.

"Temos muita influência das bandas clássicas, como Metallica, Slayer e Pantera, mas absorvemos tudo, inclusive música brasileira, querendo ou não. Tudo isso se reflete no som", observa o músico.

Para esquentar, a Cobalto fez shows em dezembro em Fortaleza e em Paulo Afonso.

Lançamento do CD Metamorphic
Com as bandas Cobalto, Veuliah, Templarius e Dryad
Hoje, sábado 12 de janeiro de 2008, às 20 horas
Malagueta, na R. do Xaréu, lote 1, Pituaçu (Praia do Corsário, em frente a churrascaria Sal e Brasa, 3264-0729)
R$ 10 (antecipado) e R$ 20 (ingresso + CD Cobalto)
Censura: 16 anos


COM CITAÇÕES DE JUNG, CD VERSA SOBRE A INQUIETUDE

De forma tranquila e sem medo de errar, é possível dizer que Metamorphic é mais uma obra-prima do subterrâneo heavy metal local, berço de grandes bandas do estilo como Headhunter DC (que completou 20 anos em 2007), Drearylands, Mistifyer e Malfector.

Conceitualmente sofisticado, o álbum é um ensaio sobre os sentimentos humanos elaborado a partir de textos do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), que aliás, tem um trecho de texto declamado na faixa The Psyche Lives (A Psiquê Vive).

Dividido em três partes, o disco versa sobre as inquietações, anseios e angústias do homem na sociedade contemporânea, o medo de se perder e se ferir. A faixa de abertura, Fearing to Bleed (Com Medo de Sangrar) é exatamente sobre isso - e a carta de intenções de Metamorphic. Vale citar que o grupo contou com a colaboração de Sérgio Franco Filho, ex-vocal da extinta Automata, nas letras e na conceituação do CD.

O som é como deve ser: uma porrada na orelha, alternando momentos velozes e brutais com refrões surpreendentemente melódicos, cortesia do vocalista Viktor Lemoz.

Este é uma revelação. Versátil, remete diretamente aos mestres Max Cavallera (ex-Sepultura) e Phil Anselmo (ex-Pantera) quando rasga a voz. Mas quando a solta de forma natural nos refrões , surpreende com melodiosidade e suavidade.

A banda como um todo é extremamente competente, e nas mãos hábeis do produtor Jera Cravo - um especialista em sons pesados - rende que é uma beleza.

O baterista Louis, aliás, há muito tempo já é um dos melhores músicos baianos no seu instrumento, desde os tempos em que tocava nas bandas Shadows e Drearylands, do vocalista Leonardo Leão (hoje nos Mizeravão). O homem é pura precisão, peso e velocidade sem limites.

www.cobalto1.com/
www.myspace.com/cobalto



WOODSTOCK FAVELA DE VERÃO 2008:
MUITO ROCK, PALESTRAS, WORKSHOPS, ABRAÇO COLETIVO E RASGA-SACO (?)


Quem anda cansado de tanto ensaio, sarau e pagode tem uma ótima opção para fugir do lugar comum do verão soteropolitano na festa Woodstock Favela de Verão 2008.

O "evento", que acontece hoje em uma casa em Lauro de Freitas é uma divertidíssima tiração de sarro com os festivais sérios de música alternativa que acontecem em todo o Brasil.

Além de shows de boas bandas do cenário rocker local, como The Honkers, Hoje Você Morre, Machina e Cissaguimarães, entre outras, os organizadores criaram um esdrúxulo e hilariante programa de atividades, palestras e workshops.

Entre as oficinas, os participantes poderão escolher entre Aprenda a tocar guitarra solando rapidamente com João Gabriel, ou Imite John Bonham você também com Glauco Neves.

Já as palestras apresentam temas absolutamente trepidantes e relevantes, tais como: Pegação no Verão: A Importância do Trivela para a cultura baiana, com Freak Bartolomeu, Analise sua conta de água, com Dedé Doravalho e Como deixar de ser roqueiro passo-a-passo, com Giba, são apenas alguns exemplos do espírito tresloucado da festa.

Haverá ainda recital de poesias, rasga-saco, abraço coletivo e aulas de surf na piscina.

Woodstock favela de verão 2008
Com The Honkers, Hoje Você Morre, Cissaguimarães, Machina e muitas outras bandas, DJs, palestras e workshops
Hoje, a partir das 9h
Loteamento Bosque dos Quiosques, Rua A, quadra H, Lote 31, Lauro de Freitas (Casa de muro verde)
R$ 5

quinta-feira, janeiro 10, 2008

HENFIL - O HUMOR DE GUERRILHA

Há 20 anos, o Brasil perdia um dos seus maiores humoristas - e humanistas. Henfil era o Glauber Rocha do cartum


O que não é bom para os americanos pode ser ótimo para os brasileiros. Uma rápida passagem da biografia de Henfil, ocorrida durante sua estadia nos Estados Unidos em meados da década de 70, pode ser o bastante para ilustrar o quanto este mineiro de Ribeirão das Neves estava avançado em relação ao que se entendia por humor naquele tempo e lugar específicos.

Morto há 20 anos, em 4 de janeiro de 1988, Henfil viajou aos EUA em 1973 em busca de tratamento para sua hemofilia - e ares menos pesados do que os que aqui se respiravam na época da ditadura militar. No ano seguinte, conseguiu um contrato com um dos syndicates americanos responsáveis por distribuir tiras de quadrinhos para os jornais de lá e do Canadá. Seu contato na tal empresa estava entusiasmadíssimo, achando que ele ia revolucionar o mercado de HQs nos EUA, entre outros delírios.

Suas tirinhas dos Mad Monks, como foram chamados os Fradinhos em inglês, contudo, caíram como uma bomba no colo do conservador público norte-americano leitor de jornais, que rejeitou o teor ácido e anárquico do seu humor, de imediato.


Em menos de duas semanas, quase todos os jornais já haviam cancelado a publicação dos Mad Monks, como eram chamados os Fradinhos em inglês. Um jornal de Salt Lake City, centro da religião dos mórmons, recebeu 404 cartas contra os Mad Monks só na primeira semana. As palavras mais comuns dos leitores para se referir às HQs de Henfil eram: "anti-americano", "anti-Deus" e "sick" (doentio). Em questão de dois meses, suas tiras já haviam sido banidas de qualquer publicação norte-americana.

Esse fato, relatado pelo próprio cartunista no seu livro de cartas Diário de um cucaracha (1983), não o diminui em absolutamente nada em relação ao que ele representa para o humor gráfico e político brasileiro - pelo contrário: apenas o engrandece e mostra que ele estava fazendo a coisa certa ao colocar o dedo na ferida pra valer, sem medo.

A verdade é que é impossível falar de cartum no Brasil e não citar Henrique de Souza Filho. Sem a influência de um Henfil, talvez não houvesse surgido a importantíssima geração Chiclete com Banana de Angeli, Laerte e Glauco. Ou talvez não houvesse surgido com a força com que surgiu - além de todos os outros que vieram depois, claramente influenciados - direta ou indiretamente - por ele: André Dahmer (Malvados), Alan Sieber e Adão Iturrusgarai (Aline), entre muitos outros.

Profundamente humanista, Henfil era um paradoxo ambulante: ele levava seu humor extremamente a sério. Provocar risadas era o que menos lhe interessava. O que ele queria era espezinhar e incomodar os poderosos, provocando a reflexão do leitor médio e conscientizando-o das situações absurdas características do Brasil de sempre - e exacerbadas em um regime de execeção maquivélico e assassino.

Salvo engano, pode-se dizer que Henfil está para o cartum brasileiro assim como Glauber Rocha está para o cinema nacional: ambos punham sua arte primordialmente a serviço de uma causa. No caso, o Brasil. Contudo, ao invés de se tornarem produtos perecíveis, característicos de uma época, eles transcenderam seus temas, inquietações e amarras estéticas graças ao toque de gênio pessoal e intransferível que cada um tinha em si.

Assim como o cineasta baiano, o cartunista mineiro não via limites entre sua arte e a realidade de uma nação, confundindo-as e misturando-as em alegorias cruéis de um povo esmagado pelas oligarquias, pela alienação, pela fome e pela exclusão. Assim como Glauber, Henfil pensava - e lamentava - um projeto de país que não deu certo. Ele respirava Brasil, comia Brasil, vivia o Brasil 24 horas por dia. E suas idéias - intensas, febris, radicais - refletiam isso o tempo todo.


Com Henfil não tinha folga. Ou o cidadão estava do lado da democracia e do povo ou não estava. Qualquer deslize de algum colega artista era imediatamente denunciado e exposto em críticas virulentas publicadas no Pasquim - então em seu período áureo.

Seu cemitério dos mortos-vivos, administrado pelo personagem do Cabôco Mamadô, recebia novos inquilinos toda semana. Até mesmo Elis Regina, de quem era muito amigo, ele enterrou no cemitério, após a cantora gaúcha ter cometido o erro de cantar o Hino Nacional na abertura das Olimpíadas do Exército, em 1972. Lá já estavam muitos outros notáveis brasileiros, como Roberto Carlos, Pelé, Marília Pêra, Paulo Gracindo e o casal Tarcísio Meira e Glória Menezes.

Bem que ele avisou um pouco antes, em uma entrevista concedida à revista Veja em abril de 1971. Enfático, Henfil disse exatamente à que vinha: "Procuro dar meu recado através do humor. Humor pelo humor é sofisticação, é frescura. E nessa eu não tou: meu negócio é pé na cara. E levo o humorismo a sério".

Multimídia muito antes que essa palavra se tornasse moda, Henfil não se limitou ao cartum gráfico, atuando também em televisão, teatro, cinema, jornalismo e literatura. Sua vasta obra e estilo minimalista de desenho, definido como "caligráfico" por Millôr Fernandes, marcaram profundamente a cultura brasileira nos últimos 30 anos. Sua figura simpática, olhar insano e obra impactante têm sido objetos de estudo e homenagens nos últimos anos.


Toda a sua obra em livros e álbuns de cartuns vem sendo republicadas em bem-cuidadas edições pela Editora 34 Letras, sob a supervisão de seu único filho, Ivan Cosenza de Souza. Dois outros livros trazem sua biografia e estudo da obra: Morte e Vida Zeferino - Henfil & Humor, de Rozeny Silva Seixas, e Rebelde do Traço - A Vida de Henfil, de Dênis Moraes. Um terceiro já está programado para sair este ano, intitulado Henfil - O Humor Subversivo, de Márcio Malta.

Em 2005, a vasta exposição Henfil do Brasil, promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil levou os personagens e o pensamento do cartunista para as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Ivan tem uma versão reduzida da exposição, para levar a cidades de menor porte, que bem que poderia vir à Salvador, se alguém se interessasse em trazer.

Por essas e muitas outras, Henfil deixou um legado de arte e consciência política praticamente inigualáveis, só comparáveis à de gigantes contemporâneos seus, como os colegas de Pasquim Jaguar e Millôr. Em um momento de falência cultural gritante, sua memória é cada vez mais importante para salvar o que resta de dignidade nestas sofridas plagas.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

UMA VEZ PINK FLOYD...

Lançamento DVD duplo de David Gilmour, ex-guitarrista do Pink Floyd, com cinco horas de duração é puro deleite para os fãs

O homem que encantou - e chapou - meio mundo com alguns dos mais belos e comoventes solos de guitarra de todos os tempos está de volta: David Gilmour, o lendário guitarrista do Pink Floyd, uma das mais influentes bandas de todos os tempos, acaba de lançar o DVD Remember That Night - Live At The Royal Albert Hall, registro do show realizado em 2006 na centenária casa londrina, fundada pela Rainha Vitória em 1871.

O show foi o ponto alto da turnê de On An Island, primeiro disco solo de Gilmour em 22 anos e recebido com entusiasmo pela crítica - pelo menos a facção que já passou dos trinta - e público.

Os músicos que o acompanham e seus fantásticos convidados são um show à parte. Na banda, Gilmour contou com o próprio tecladista do Pink Floyd, Richard Wright, além do ex-Roxy Music Phil Manzanera na guitarra. Jon Carin (teclados, lap steel), Guy Pratt (baixo) e Dick Parry (sax) são velhos conhecidos dos fãs, tendo excursionado com o Floyd nas mega-turnês de 1987 e 94. Só o baterista Steve DiStanislao é novato.

É com essa turma que Gilmour executa um concerto de duas horas e meia, dividido em duas partes. Na primeira, abre o show com três hits de The Dark Side of The Moon (1973, para muitos, o melhor disco de sua ex-banda), ganhando o povo logo de cara. Na sequência, executa todo o On An Island. Após um intervalo, Gilmour e cia. retornam ao palco para detonar uma seqüência de hits do Floyd.

E é aí que os convidados citados anteriormente brilham. David Crosby e Graham Nash, duas instituições dos anos 60, com passagens por bandas como The Byrds, The Hollies e Crosby, Stills, Nash & Young, tornam Shine on You Crazy Diamond (do álbum Wish You Were Here, 1975) ainda mais pungente do que já é.

E, surpresa das surpresas, David Bowie abrilhanta com sua voz e proverbial elegância outros dois clássicos do Floyd: Arnold Layne (da fase Syd Barret, 1967) e Comfortably Numb (de The Wall, 1979). Vale lembrar que o repertório floydiano não é exatamente estranho para Bowie, que já havia gravado See Emily Play (também de Barret) para seu álbum de covers Pin Ups, lançado em 1973.


Outro ponto alto é a raríssima execução de Echoes, majestoso épico progressivo que ocupava o lado B inteiro do álbum Meddle (1971), com seus 22 minutos. O último registro do Pink Floyd tocando essa música ao vivo foi no filme Live At Pompeii (1972).

O único senão de Remember That Night é quando David Gilmour recorre à músicas do último álbum do Floyd, o fraco The Division Bell (1993), como High Hopes e Coming Back to Life, desnecessariamente incluídas diante de um repertório portentoso como o do Floyd.

Ainda na primeira parte, a execução completa de On An Island também quebra um pouco o ritmo, mas não chega a ser ruim - pelo contrário. As faixas do último CD do guitarrista podem ser recompensadoras para os ouvintes que conseguirem manter a atenção - sem se desviar diante de tantas outras atrações oferecidas no DVD.

E que atrações. Só de documentários, o disco 2 oferece três, sendo o melhor - e o maior - de todos intitulado Breaking Bread, Drinking Wine (Repartindo o Pão, Bebendo Vinho): são 46 minutos na estrada com Gilmour e sua banda, documentando os bastidores da turnê européia de On An Island.

Em Veneza, o show na Piazza San Marco quase é cancelado por causa da chuva. Na Polônia, tocam numa festa comemorativa do sindicato Solidariedade, no mítico Porto de Gdansk, com direito a um almoço com Lech Walesa. Nos bastidores, só alegria entre os ingleses e seu característico humor, sempre disparando piadinhas uns para os outros - pelo menos enquanto as câmeras estão ligadas.

Mas o momento mais curioso mesmo é o tenso e breve encontro entre Gilmour e seu ex-companheiro de Pink Floyd, Roger Waters. O primeiro está em estúdio, ensaiando com sua banda, quando é informado que Waters também está ensaiando, bem na sala ao lado. O que se segue parece um encontro de generais inimigos em trégua: no pátio separando os dois estúdios - território neutro, claro - Waters vem caminhando sozinho de um lado, enquanto Gilmour vem do outro com a mulher, Polly Samson.

Um cumprimento ressabiado, um sorriso amarelo, "como vai, tudo bem", um abraço desajeitado na despedida e pronto. Waters chega a jogar um verde, dizendo que está com muita saudade dos palcos, talvez para ver se o guitarrista se comove e resolve voltar com o Pink Floyd de uma vez - mas Gilmour não lhe dá a menor bola.

Os outros documentários são o making of de On An Island e mais algumas cenas de turnê, desta vez na costa oeste americana.

Mas tão curioso quanto o raro encontro Waters / Gilmour é vê-lo tocando Dark Globe, faixa do primeiro álbum solo de Syd Barret (The Madcap Laughs, 1970), em homenagem ao ex-membro, morto em 2006. Mas é bom assistir essa faixa até o fim, pois logo depois vem a surpresa: mais uma execução de Echoes, agora em versão acústica e compacta, com apenas uns 7 minutos.

Se Remember That Night não chega a ser uma partida de futebol, ainda é uma caixinha de surpresas. Aos 64 anos em 2008, é bom saber que este gênio da guitarra e melodias etéreas ainda guarda suas cartas na manga - e as joga com pleno vigor.

Remember That Night - Live At The Royal Albert Hall
David Gilmour
Sony
R$ 59,90
www.davidgilmour.com

terça-feira, janeiro 01, 2008

MICRO-RESENHAS QUASE-NOVAS PARA O ANO-NOVO

A lei de (James) Murphy

Diz o velho clichê rodrigueano que toda unanimidade é burra. O problema é que, assim como por trás de todo boato há um fundo de verdade, as unanimidades não são criadas do nada. Alguma coisa deve existir para justificá-la. Nas listas de melhores de 2007 que começam a pipocar por aí, o álbum Sound of Silver, do LCD Soundsystem, deverá ser a unanimidade do ano, figurando no topo de 9 entre 10 listas da crítica especializada. O pior é que - desta vez - ela estará certa. O CD é um brilhante híbrido entre o rock e a música eletrônica que avança algumas léguas em terrenos já abertos anteriormente por gigantes do pop rock, como como New Order, David Bowie, Kraftwerk e Prince. Ficar parado ao som de hits como Time to Get Away, North American Scum (e sua letra genial) e Us V Them é pura implicância. Um resumo certeiro e completo de tudo o que importa no pop atual.

Sound of Silver
LCD Soundsystem
DFA / EMI
R$ 28,90
www.dfarecords.com


Veja o filme, leia o livro...

Com a adaptação para os cinemas (com Michelle Pfeiffer e Robert de Niro no elenco estrelado) bombando por aí, era óbvio que relançariam este belo livro de Neil Gaiman e Charles Vess com toda a pompa que ele merece. Na cidade de Wall (Muro), um casal de adolescentes observa o céu e assiste uma estrela cadente cair do outro lado da muralha que separa a cidade dos humanos do mundo das fadas. Victoria, a jovem, promete seu amor à Tristran, mas somente se ele pular o tal muro, penetrar no mundo das fadas e lhe trouxer a estrela brilhante. O problema é que ele não é o único a buscá-la... A melhor obra de Gaiman ainda é Sandman, mas Stardust é uma ótima amostra de sua narrativa envolvente. Os lindos desenhos de Charles Vess completam o pacote.

Stardust
Neil Gaiman / Charles Vess
Pixel Media
R$ 49,90
www.pixelquadrinhos.com.br


Indie rock clássico na veia

A melhor novidade recente do rock baiano canta em português claro, fala de amor com sensibilidade e tem uma pegada pop irresistível. A Berlinda, contudo, não se pauta no pop-rock banal da atualidade, indo buscar suas referências lá na Inglaterra dos anos 80, em bandas clássicas do guitar rock (indie) como Smiths, Teenage Fanclub, Ride e Jesus and Mary Chain, mas com uma abordagem mais para cima, quase festiva. Apropriada a sonoridade com conhecimento de causa (pela banda), a produção de Apú Tude foi irretocável, recriando em estúdio a ambiência sônica característica do estilo. A mixagem de Tomás Magno no estúdio Toca do Bandido (RJ) deu o brilho final. A diferença é que, se nas bandas inglesas originais, os vocais ficavam afundados em um mar de distorção e feedback, aqui, a voz cristalina de André Blhoem (uma revelação) navega calmamente na proa do som, convidando o ouvinte a cantar junto. São apenas 4 faixas, todas candidatas a sucessos do underground: Amanhã, O Lado Escuro da Rua, Quando Ficamos Sós (talvez a melhor) e Redenção. Ótima estréia.

Mar de Calma
Berlinda
Independente
R$ 5
www.fotolog.com/bandaberlinda / www.tramavirtual.com.br/berlinda


Entrevistas do além com humor negro

Kurt Vonnegut (1923-2007) era um dos mais admirados autores americanos. Ao lado de Gore Vidal e Norman Mailer, compunha a linha de frente da intelectualidade ianque que pegou em armas e foi lutar na 2ª Guerra. Jack Kevorkian, mais conhecido como Dr. Morte, é o famoso médico que realizou uma eutanásia ao vivo, no programa 60 Minutes, e do estúdio foi direto para a cadeia. Em 1999, Vonnegut criou uma série de esquetes para uma rádio onde, com o auxílio fictício de Kevorkian, que o colocava em estado de quase-morte, realizava entrevistas com Adolf Hitler, Isaac Newton, James Earl Ray (o energúmeno que assassinou o Dr. Martin Luther King) e várias outras personalidades. Hilariante, tocante e inteligentíssimo.

Deus o abençoe, Dr. Kevorkian
Kurt Vonnegut
Record
80 p. | R$ 28
www.record.com.br


Clássico da ficção científica revisitado


Segundo volume das aventuras do jovem John Difool, o detetive da série de ficção científica O Incal, um influente clássico dos quadrinhos europeus, de Alejandro Jodorowsky e Jean Moebius Giraud. Nas duas histórias desta edição, Difool encara uma conspiração envolvendo a taxa de nascimentos na zona de prostituição da Cidade-Poço, localidade da Terra 2014 onde o imaturo investigador nasceu. Auxiliado pelos ótimos desenhos de Zoran Janjetov, claramente um discípulo de Moebius, Jodorowsky envolve e diverte com muito humor negro, crítica social, ação e sua conhecida imaginação delirante.

Antes do Incal - Vol. 2
Jodorowsky / Janjetov
Devir
104 p. | R$ 42
www.devir.com.br