Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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quarta-feira, agosto 29, 2007
OS MIZERAVÃO ENCERRAM TEMPORADA AMANHÃ
terça-feira, agosto 28, 2007
THE PREACHERMAN IS BACK!
A Pixel Media, uma empresa criada a partir da associação da tradicional editora carioca Ediouro e a Futuro Comunicação, do jornalista André Forastieri (ex-editor da revista Bizz), assumiu para si o compromisso de honrar uma velha dívida com os leitores brasileiros: concluir, de uma vez por todas, a publicação da aclamada série de HQ Preacher, de Garth Ennis e Steve Dillon.
Lançada nos Estados Unidos em 65 números mensais na segunda metade da década 90, Preacher amarga uma errática história editorial no Brasil, já tendo sido iniciada e interrompida por um punhado de pequenas editoras que não conseguiram dar prosseguimento à publicação. Pior para o leitor brasileiro, que, desde 1997, espera para ver o final da série, até hoje inédito no Brasil.
A última editora, a Devir Livraria, estava indo bem, publicando boas adaptações dos encadernados reunindo 7 ou 8 números do original americano. Publicou o primeiro, A Caminho do Texas, o segundo, Até o Fim do Mundo e o terceiro, Orgulho Americano - quando perdeu os direitos sobre as publicações da Vertigo no final de 2006 para a Pixel Media, que, felizmente, resolveu poupar os leitores de mais um re-início e começou a publicar Preacher imediatamente de onde a Devir parou.
Recém-chegada às bancas e livrarias, Rumo ao Sul é o quarto encadernado de Preacher, que mantém o mesmo bom nível editorial adotado pela ex-editora, com as vantagens da distribuição mais abrangente (que inclui bancas) e menor preço: R$ 15,00 mais barato. Grande Forasta.
BLASFÊMIAS - Um padre texano, em crise com sua fé, é possuído no meio de uma missa por uma entidade resultante da união entre um anjo e um demônio. Com o impacto da chegada da tal criatura, a igreja explode e é envolvida pelo fogo, matando todos os fiéis. Somente o padre sobrevive, agora imbuído de um poder único, misto de divino e demoníaco.
Com essa outra consciência habitando seu corpo e espírito, Jesse Custer - esse é o seu nome - descobre que Gênesis, a entidade, fugiu do Paraíso, onde era mantida prisioneira. E mais: Deus também abandonou o Paraíso e deu uma banana para a humanidade, e agora vaga pela Terra, com destino desconhecido.
Irado com tudo o que lhe aconteceu, Jesse resolve partir em busca do Criador disposto a lhe dizer umas verdades e forçá-lo a fazer alguma coisa pela humanidade. Ao seu lado, dois companheiros nada ortodoxos: uma pistoleira de aluguel (e ex-namorada) chamada Tulipa e um vampiro irlandês com 100 anos de idade, encrenqueiro e beberrão, chamado Cassidy. Isso é só o ponto de partida de Preacher, uma das três melhores séries do selo Vertigo, ao lado do Monstro do Pântano de Alan Moore e do Sandman de Neil Gaiman.
Escrita por Garth Ennis, que também é irlandês e chegado numa porre, Preacher é uma jornada insana e recheada de um pesado humor negro ao que a América tem de mais bizarro, baixo e blasfemo.
Não há mocinhos na história, e muito menos gente usando a cueca por cima da calça. O ritmo é de uma constante perseguição pelas estradas e motéis dos Estados Unidos, temperado por diálogos extremamente bem escritos e uma surpresa atrás da outra. Não por acaso, já foi chamada de Pulp Fiction dos quadrinhos. Não há limites para a blasfêmia e a sanguinolência na série de Ennis, portanto, recomenda-se que pessoas mais religiosas e sensíveis mantenham uma distância segura dessa HQ.
Ora é o Santo dos Assassinos, enviado pelos burocratas do Paraíso, que aparece para matar Custer e promove verdadeiras chacinas. Ora é Herr Starr, um alemão de monóculo a serviço da organização secreta Graal, dedicada a proteger a linhagem de Jesus Cristo, que quer se apoderar do padre e seu poder. Protegida em segredo há dois milênios pelo Graal e procriando-se apenas entre si mesmos, o último descendente da linhagem de JC é um jovem retardado que vive numa jaula e arremessa seus excrementos em quem quer que se aproxime.
Decadência, mutilações e muitas discussões sobre fé, igreja, guerra, política e até mesmo amor pontuam a narrativa em Preacher, tornando-a o ponto alto da prolífica carreira do escritor, cuja assinatura em HQs como Justiceiro (Marvel), A Pro (Dark Horse) e Hitman (DC) é garantia de boas vendas, dado o seu grande séquito de seguidores entre os chamados fanboys (fanáticos das HQs).
Auxiliado pelos ótimos desenhos de Steve Dillon, um especialista em expressões faciais e detalhes da anatomia humana expostas por tiros e facadas, Ennis criou um dos melhores testemunhos do caos de fim de século ao misturar diversos gêneros numa HQ de características únicas, com clima de faroeste e ritmo de pesadelo e comédia em doses iguais.
Em busca de Deus e de respostas para o porque Dele ter abandonado a humanidade a rezar para ninguém, Jesse Custer encarna uma versão pós-moderna do caubói durão, que é capaz de matar sem remorsos, mas justo o bastante para ganhar a simpatia do leitor.
O elenco coadjuvante é outro ponto alto de Preacher, a começar por Tulipa e Cassidy, que acabam formando com Custer um improvável triângulo amoroso. Mas inesquecível mesmo é o Cara de Cú, ou Você-Sabe-Quem, um jovem e ingênuo fã de Kurt Cobain, que após saber do suicídio do líder do Nirvana, resolve segui-lo, dando um tiro de espingarda na própria cara. O problema é que ele não morreu, apesar de ter ficado com o rosto totalmente destruído. Arrependido e iluminado por uma nova chance na vida, ele resolve se tornar uma espécie de benfeitor, de codinome impublicável - daí a denominação Você-Sabe-Quem, utilizada pela editora nas peças de divulgação para não chocar o público leigo.
O personagem fez tanto sucesso que ganhou uma edição especial detalhando sua origem, A História de Você-Sabe-Quem, lançada pela Pixel em junho e ainda disponível nas bancas.
Em Rumo ao Sul, acompanhamos o Reverendo Custer, Tulipa e Cassidy em uma viagem a Nova Orleans, onde eles entram em contato com um bruxo local, esperando descobrir mais sobre a entidade Gênesis e e o paradeiro de Deus. Claro que nada sai como se espera, e novas bizarrices acontecem com o trio, incluindo a decapitação de um deles. Há ainda um novo encontro com Você-Sabe-Quem, que ganha sua primeira transa. Já Herr Starr encontra num chapéu panamá a solução para disfarçar sua careca, transformada pelo Preacher em um pênis gigante com a ajuda de uma faca.
Com o sucesso cult, Preacher está sendo adaptada pelo diretor Mark Steven Johnson (Motoqueiro Fantasma, Demolidor) para uma série no canal americano HBO. Cada temporada teria 12 episódios de uma hora e cada episódio reproduziria fielmente um dos 65 números da serie. Por enquanto, a idéia não saiu do papel, mas os fãs, mãozinhas suadas de ansiedade, aguardam novidades para breve - com as bençãos profanas de Jesse Custer.
Preacher: Rumo ao sul
De Garth Ennis & Steve Dillon
Pixel Media
180 págs.
R$ 29,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Site indicado sobre Preacher:
http://preacher.alwaysmad.com/
Matéria publicada no Caderno 2 do jornal A Tarde de 29 de agosto de 2007. Texto sem a edição do jornal.
quinta-feira, agosto 23, 2007
BIG BEN TÁ LIGADO
Figura central para se entender a explosão do rock baiano dos anos 1960, o cantor Big Ben (ou Waldir Serrão para os íntimos), volta aos palcos, lançou novo CD e homenageou Raul Seixas e Elvis Presley, em um pocket-show gratuito na Saraiva Megastore do Salvador Shopping.
(Na foto ao lado, surrupiada do blog Sweet Edy [http://staredy.blogspot.com], da estrela do glam rock brasileiro Edy Star, vemos Big Ben, com Thildo Gama e o próprio Edy, da esquerda para a direita).
Parceiro de Raulzito desde os tempos d‘Os Panteras, Big Ben aproveitou a passagem dos 18 anos de sua morte hoje e relembrou diversos clássicos em versões acústicas, com sua banda e a participação de outro companheiro de Raul, Thildo Gama.
O outro homenageado foi Elvis Presley, que também foi bastante relembrado na semana que passou, quando completou 30 anos de seu desaparecimento. "Eu vou cantar as músicas de Elvis e o Thildo, as de Raul. Vai ser um show simples, mas sincero, para não deixar passar em branco as datas de Raul e Elvis", afirma Big Ben.
No CD que chega em setembro às lojas, Big diz ter incluido duas parcerias suas inéditas com Raulzito: Águas da Vida e Crivo. "O disco só vai estar disponível para vender em setembro. Banquei tudo do meu bolso mesmo, pois não consegui apoio de nenhum empresário. Os patrocinadores só querem saber de arrocha, bundinha e outras babaquices. Enquanto isso, perpetua-se a falácia de que não existe público para rock na Bahia", dispara.
"Eu fui um dos precursores do rock na Bahia e ajudei muita gente com meu programa na TV Itapoan (nos anos 1970). Mas hoje, ninguém quer saber. Só a Saraiva abriu espaço pra gente", continua.
Quem quiser se alistar nessa briga, pode entrar em contato com Big Ben pelo número 9906-4770.
Matéria publicada no Caderno 2 do jornal A Tarde de 21 de agosto de 2007 - devidamente remodelada para ajustar os tempos dos verbos...
segunda-feira, agosto 20, 2007
ROCK BAIANO NA VEIA - E NO VÍDEO TAMBÉM
O proscrito rock 'n' roll baiano, de vez em quando, aparece com umas novidades bem interessantes. Uma das últimas é a banda Estrada Perdida, que recentemente lançou, de forma independente, um DVD intitulado Estilo CDR, gravado ao vivo na Zauber. Acompanhando o DVD ainda vem um CD com mais oito faixas de estúdio, apresentando outro repertório.
De cara, o grupo lançou um registro do underground local que já nasce histórico - tanto pelo ineditismo de ser o primeiro DVD independente do rock baiano, quanto pela visceralidade que transborda de suas imagens, e principalmente, do seu som. Formado por Cebola Elétrica nos vocais, Tico Ceará na guitarra, Nuno Ricardo (ou Chuck Norris) no baixo e Fernando Fernandes na bateria, a Estrada Perdida pratica um rock vigoroso, enfurecido, veloz e primitivo, ainda que lírico e até mesmo poético nas letras.
Com sua voz grave e cavernosa, muito semelhante à de Iggy Pop, Cebola é quem concentra as atenções no show, assumindo uma persona quase messiânica, algo entre o hedonismo rastejante do líder dos Stooges e a pajelança alucinada de um Nick Cave. Não a toa, o próprio vocalista assume que os dois (Pop e Cave) são suas principais influências.
Já os riffs da guitarra de Tico, longe do minimalismo punk o qual muitos erroneamente atribuem à banda, evocam o mais faiscante hard rock setentista, à beira do heavy metal canônico de um Judas Priest ou mesmo do estilo serra-elétrica do Motorhead, fato confirmado pelo band leader: "O pessoal diz que somos punks, mas nosso lance é misturar a batida primitiva do rock com riffs de hard rock anos '70, como Motorhead", confirma.
Surgida em 2004, das cinzas da antiga banda de Cebola, Penetration, a EP ainda é pouco conhecida mesmo dentro do restrito mundinho do rock baiano - o que é uma pena. "A Estrada toca no máximo, 3 ou 4 vezes por ano. Não fazemos exatamente parte do chamado 'núcleo do Rio Vermelho', pois nunca somos convidados pelas outras bandas para tocar. Só tocamos quando nós mesmos produzimos o show - o que dá uma trabalheira danada", desabafa o cantor.
Gravado com três câmeras na base do improviso e da brodagem, o DVD em si apresenta uma boa qualidade técnica - dentro das limitações óbvias que uma produção de rock independente baiana enfrenta, claro. "Mais de 60% desse DVD foi feito na camaradagem. O iluminador mesmo, só chegou no dia e quase entrou em pânico. Foi tudo no risco, e por isso mesmo, muito prazeroso", conta Cebola.
Realmente, Cebola deve agradecer pelos amigos que tem. Numa das câmeras, contou com ninguém menos que Marcondes Dourado, o premiado videomaker. Os outros foram Andrigo de Lázaro (apontado pelo vocalista como o idealizador do vídeo), Márcio Zore e Gustavo Calazans. O som foi gravado separadamente por Salomão Hage e mixado posteriormente por Jorge Solovera. "A edição do vídeo e a mixagem do som foram feitos separadamente. Depois pegamos os dois e sincamos", explica.
Tudo dentro do espírito da banda e da sua produtora, a Cão Errante Produções, que em breve lançará o CD do rapper Preto Seda e um livro de prosa filosófica do escritor Humberto Sansa - além de um novo CD / DVD da Estrada em 2008.
Articulado e bem falante, Cebola demonstra ter muito mais a oferecer do que o estereótipo de rockeiro doidão que ignorantes costumam colar nos músicos do estilo. "O recado da Estrada Perdida é que a gente não aborda os problemas urbanos por exigência de direitos, tipo música de protesto. Falamos da selva urbana, do fracasso e da solidão. Fazemos da dor um estilo, e o júbilo é exatamente conseguir viver com a ferida. Não fazer dela uma música triste, e sim, errante, hedonista. É uma tentativa de manter o espírito livre de ideologias, moral, inclusão social. Por mais incluído que esteja, o espírito da Estrada sempre será marginal, outsider", define Cebola.
http://www.myspace.com/estradaperdida
"No mar de outdoors só se salva / Quem tem um seguro contra a liberdade da alma / No mar de outdoors só não naufraga / Tudo que é servil, feio, banal, escroto"
Trecho de O frio, faixa do CD Estilo CDR
Matéria publicada no Caderno 2 do jornal A Tarde do dia 20 de agosto de 2007.
quinta-feira, agosto 16, 2007
RUIM DE ATUAÇÃO, BOM DE BILHETERIA
Apesar de ator medíocre, os filmes de Elvis eram mina de ouro - e ajudaram a manter a carreira em alta
Como o primeiro ídolo branco e fabricado do rock - até então uma invenção negra - a transposição do fenômeno de Elvis Presley para as telas de cinema foi um passo natural - previsível, até - dentro do procedimento habitual da indústria cultural.
De Ama-me com Ternura (Love Me Tender, 1956) até Change of Habit (1969) foram 31 filmes com o rapaz do Mississipi como o sofrível ator que sempre foi - não que os roteiros exigissem muito de suas limitadas habilidades dramáticas. Não por acaso, outras duas películas suas lançadas no cinema, não eram filmes, e sim, concertos filmados.
O que salvava Elvis na tela era seu carisma irresistível, aliado ao seu famoso sorriso meio de lado, que derretia corações feminos nas salas de cinema do mundo inteiro.
O nome de Elvis Presley em um cartaz era garantia de filas na porta do cinema. Tanto era, que ficou famosa a frase de um produtor de Hollywood da época, Hal Wallis: "Um filme com Elvis é única coisa de lucro certo em Hollywood".
Por outro lado, sua intensa produção cinematográfica - 31 filmes em 13 anos! - foi o que ajudou a dar uma sobrevida à sua carreira - em franca decadência, principalmente após o retorno do seu período no exército (final dos anos 1950 / início dos 60).
Elvis atuou ao lado de grandes nomes de Hollywood, como Walter Matthau, Mary Tyler Moore, Ursula Andress, Burgess Meredith e Ann Margret - com quem aliás, manteve um tórrido affair durante as filmagens de Amor à Toda Velocidade (Viva Las Vegas, 1964). Este último foi considerado o seu melhor filme pelos críticos.
Matéria publicada no Caderno 2 do jornal A Tarde de 16 de agosto de 2007.
terça-feira, agosto 14, 2007
HUMOR NA RESERVA ANIMAL
Quem gosta de ler as tiras dos jornais - e também quem as publica - não sabe o que está perdendo, mas pode saber agora. Liberty Meadows, uma das melhores séries dos últimos tempos, totalmente ignorada pelos periódicos brasileiros, teve sua primeira coletânea, Éden, lançada este mês no Brasil.
A série foi criada pelo coreano naturalizado americano Frank Cho, mais conhecido por aqui como o desenhista de algumas séries de super-heróis para a Marvel, como Vingadores e Shanna - A Mulher-Demônio, além de ainda ilustrar muitas capas para as revistas de diversos personagens da mesma editora. Entre os leitores de super-heróis, seu nome já era um dos mais quentes dos últimos anos, por conta de seu traço realista perfeito, elegante e - especialmente - suas belíssimas e voluptuosas mulheres.
Porém, seu trabalho como tirista de humor, responsável por lançar seu nome para o público e as grandes editoras americanas, permanecia inédito em língua portuguesa - até agora. Em Liberty Meadows, Cho surpreende quem o via apenas como um grande desenhista, apresentando um trabalho de altíssimo nível na difícil arte de produzir uma (boa) piada em apenas três ou quatro quadrinhos diários.
Liberty Meadows é o nome de uma reserva animal particular - e o cenário onde se desenvolve a ação da tira - que recebe espécimes em extinção ou maltratados, seja por desastres ecológicos ou antigos donos.
A reserva é habitada por um punhado de animais falantes engraçadíssimos, como Ralph, um urso anão ranzinza e metido a inventor; Leslie, um sapo-boi hipocondríaco; Truman, um patinho que sofre de stress pós-traumático depois de um derramamento de óleo em sua lagoa; Dean, um porco boa-vida, fumante, beberrão e pretenso conquistador; e Oscar, um cachorrinho-salsicha (daschund) que é o melhor amigo de Truman - e o único animal da reserva que não fala nem se comporta como um ser humano.
Com tantos bichos problemáticos, alguém teria de lidar com eles e ajudá-los a superar seus traumas. Brandy, uma linda psiquiatra de animais e Frank, o atrapalhado veterinário da reserva, assumem seus cargos logo no início do livro, fornecendo tanto as "escadas" para as piadas dos bichinhos, quanto o ponto de identificação para os leitores. Brandy teve seu visual claramente inspirado na atriz Lynda Carter (aquela que fazia a Mulher Maravilha do seriado de TV dos anos 1970) e deixa Frank babando desde a primeira tira em que aparecem juntos.
A tensão sexual entre os dois personagens é outro ponto de partida para Cho criar divertidas situações, onde o tímido veterinário invariavelmente acaba se dando mal, já que Brandy, como costumam fazer as mulheres muito bonitas, ora se faz de desentendida, ora não dá mole, mesmo.
Uma das vantagens de se ler as tiras em sequência no livro, e não apenas uma por dia no jornal, é perceber o ritmo constante do humor fortemente influenciado pelas sitcoms televisivas que Cho aplica nas piadas. É difícil segurar o riso com as diversas tiradas cômicas vividas pelos animaizinhos e suas contrapartes humanas.
Ao longo de suas páginas, Cho cria várias "deixas" para os personagens soltarem suas neuroses. Ora é um apresentador de TV canastrão que vai à reserva gravar um programa, ora é um esquilo do mal que resolve atormentar os bichinhos, ou algo do gênero.Algus coadjuvantes que aparecem volta e meia, como o gordo zelador Tony, o sorveteiro Al ou o administrador Julius também têm seus momentos.
Este último, por exemplo, tem uma rixa pessoal com Khan, um matreiro peixe-gato que habita a lagoa da reserva. Cho aplica neste "conflito" a dinâmica - e até mesmo os diálogos - do entrevero entre o Capitão Kirk, do seriado Jornada nas Estrelas e seu mais clássico vilão, não por acaso, chamado "Khan", extraídas do filme Star Trek II - A Ira de Khan. O resultado, para fãs ou não de Star Trek, é hilariante.
Citações à cultura pop, aliás, é outra grande ferramenta nas mãos de Cho para fazer humor, e seriados televisivos são um de seus assuntos preferidos. Em uma sequência passada numa festa de Halloween, Cho fantasia Brandy de Xena, a Princesa Guerreira (ele parece ter fixação em morenas de olhos azuis) e Frank, de Gabrielle, sua parceira nas aventuras da série de TV, com direito a peruca loira e tudo.
Com o desaparecimento de grandes mestres das tiras de jornal como Charles Schulz (Snoopy, falecido) e Bill Waterston (Clavin & Haroldo, aposentado), pouca coisa surgiu nos úlimos anos em termos de boas tiras estrangeiras nos jornais brasileiros. Salva-se um Dilbert e olhe lá. O resto é o mesmo de sempre: Hagar O Horrível, Recruta Zero, Mago de Id, AC... Todos são fantásticos e já têm seu lugar reservado na história dos quadrinhos, mas uma renovação não seria nada mal. E Liberty Meadows seria um bom começo.
Vale chamar atenção também para o excelente trabalho de edição e adaptação da pequena editora HQ Maniacs para o álbum, com direito ao formatão de luxo, sobrecapa envernizada, papel brilhante, galeria de capas em cores e um extenso guia de referências que detalha todas as citações de cultura pop (e são muitas delas) ao longo do livro - tudo por um preço bastante justo e não exorbitante. O resultado é um álbum que vale - e muito - o seu preço. Que venham logo os próximos volumes.
Liberty Meadows - Livro 1: Éden
Frank Cho
Image / HQManiacs
132 pgs / R$ 32,90
www.hqmaniacs.com
Matéria publicada no jornal A Tarde de 15 de agosto de 2007. Texto sem a edição do jornal.
sexta-feira, agosto 10, 2007
ASTRONAUTAS! ACIONAR RETROFOGUETES!
Já conhecida dos freqüentadores dos shows de rock underground da cidade, a banda pernambucana Astronautas volta a Salvador para lançar seu álbum mais recente, O Amor Acabou!, que circulou por todo o País encartado no nº 18 da revista Outracoisa - aquela do Lobão.
O grupo toca domingo na Boomerangue (cada vez mais o templo da música alternativa local) acompanhados da banda mineira Enne e dos locais Retrofoguetes.
Atualmente residindo em São Paulo, os Astronautas cumprem com galhardia o sacrificado circuito alternativo nacional, tocando seu competente rock básico com letras em português e misturado com elementos eletrônicos.
Já os Retrofoguetes saem de um breve retiro sem fazer shows na cidade por se encontrarem em meio às gravações do segundo CD, ainda sem previsão de lançamento.
Em comum com os Astronautas, as referências à ficção científica barata dos filmes B e revistas em quadrinhos. Donos de uma fiel audiência local, os Retrofoguetes costumam eletrizar suas platéias com a energia vibrante do seu som, muito graças ao entrosamento do trio Morotó (exímio guitarrista), Rex (bateria) e C.H. (baixo).
Menos conhecidos, os mineiros do grupo Enne cantam em português e já lançaram dois CDs, sendo o mais recente, Nômade (2007). O som é algo pós-grunge, com ecos de Silverchair e Incubus.
Astronautas (PE), Retrofoguetes e ENNE (MG)
Domingo, 19h R$ 10 [antecipado] e R$ 12 [na porta] Boomerangue R. da Paciência, Rio Vermelho (3334-6640)
quarta-feira, agosto 08, 2007
HARDCORE DA AUSTRÁLIA NA TERRA DO DENDÊ
quinta-feira, agosto 02, 2007
OH, NO! THE MICRO-RESENHAS RIDES AGAIN!
Sessão de tortura Manson style