Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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terça-feira, junho 13, 2006
"I REMEMBER 1965 / EVERYBODY WAS STILL ALIVE / I'M A SOUL SURVIVOR"
Soul survivor, Wilson Pickett.
Esse negócio de viver nessa sucursal de Papua Nova Guiné chamada Brasil é complicado mesmo. Ainda mais se você for um pobre apreciador de música de qualidade. Como explicar que um filme como Only the strong survive (USA, 2002), nunca deu as caras abaixo da linha do Equador? Pois bem, este filme é um documentário que foi buscar pelas ruas de Memphis e Nova Iorque respostas para uma simples pergunta: onde estavam, o que faziam e o que foi feito de nomes da primeira divisão da soul music americana como Wilson Pickett, Sam Moore (Sam & Dave), Isaac Hayes, Rufus Thomas, Carla Thomas (filha do Rufus), Jerry Butler e Mary Wilson (ex-Supremes), entre outros?
Sem chance de sair no Brasil pelo visto, o filme de Chris Hegedus e do veterano documentarista rocker D.A. Pennebaker (Ziggy Stardust, entre outros) é um testemunho do talento genuíno, genialidade e resistência destes heróis da melhor música negra americana. E se hoje eles parecem pouco conhecidos até em seu próprio torrão natal, que dirá em terras tupiniquins...
Tudo começa ainda em 1999, quando acompanhamos Chris - que não se furta de aparecer defronte às câmeras para entrevistar os músicos - numa viagem à Memphis, lar das míticas gravadoras Stax (cujos artistas são o objeto de estudo deste documentário) e Sun Records - onde ele pretende encontrar respostas para a pergunta que lhe frita o cérebro: o que foi feito dos grandes astros da Stax Records?
O filme é essa jornada, quase uma peregrinação dos diretores, por estúdios de rádio (Rufus Thomas), pequenos teatros e botecos onde hoje esses gigantes da música se apresentam. Ou se apresentavam, já que dois dos principais nomes enfocados pelo filme já faleceram: Rufus, em 2001 e Pickett, no iniciozinho de 2006. É difícil não se emocionar com o fervor, a devoção e a garra que esses senhores e senhoras avançados pelos 50, 60, 70 anos de idade cantam diante das câmeras de Hegedus e Pennebaker.
Entre os momentos mais marcantes (e são vários) podemos citar Rufus Thomas, encontrado em Memphis, fazendo um programa de rádio (atividade que desempenhava desde os anos 50), cheio de malícia. Mais adiante, o vemos em um restaurante humilde, dando autógrafos para uma pequena platéia, no lançamento de um livro. Na seqüência, Rufus sobe no palco e praticamente demole o lugar com o balanço de seu hit clássico, Walkin' the dog. Carla, sua filha, se junta ao velho para um dueto igualmente emocionante em Nightime is the rightime.
Sam Moore. Esse, num passeio de carro em Nova Iorque, aponta para o documentarista as ruas em que traficava heroína e pó para poder manter o próprio vício durante os anos de decadência, na década de 70. Num show em tributo à Issac Hayes, armado às pressas pelo próprio documentarista só pra botar os caras no palco e poder filma-los cantando, Moore arrepia até os pelos anais da audiência em performances absolutamente perfeitas de Soul man e Hold on I'm coming, seus hits dos tempos de glória com Dave.
Isaac Hayes, o menos esquecido de todos - ele era o Chef do South Park, lembram? - também não deixa por menos e detona o tema de Shaft. É de estatelar, não tem pra ninguém.
Minto. Wilson Wicked Pickett aparece expelindo eletricidade pelos poros, em performances matadoras de Land of a 1000 dances e Mustang Sally para uma audiência em estado de graça. Além de ser um bom sacana, do tipo que não se intimida com ninguém. Logo no começo, tira uma onda com o diretor do filme: "É você o homem do dinheiro? Como é seu nome? Ah, logo vi, você é judeu"!
Deixados à própria sorte pela indústria do entretenimento americana, muitos deles vivem com dificuldade. Sam Moore, por exemplo, reclama que suas músicas tocam direto nas rádios, mas não recebe um tostão por isso, por que ele não era nem autor, nem o editor de nenhuma delas. "Mas é minha voz que está lá! Por que eu não tenho direito à nenhum tostão?", se queixa, e com toda razão.
Gênios de um tempo em que gemas de pop perfeito pareciam brotar do próprio chão de Memphis e Nova Iorque, esses astros de um passado nem tão distante assim estão morrendo um a um, sem que muita gente se dê conta disso. Um crime que nem filmes como esse Only the strong... poderá redimir, apenas registrar. Baixe, encomende, dê seu jeito, mas veja esse filme!
Raise your hand and testify, everybody!
Only the Strong Survive (2002) - Directed by Chris Hegedus & D.A. Pennebaker. Starring Jerry Butler, The Chi-Lites, Isaac Hayes, Sam Moore, Ann Peebles, Wilson Pickett, Sir Mack Rice, Carla Thomas, Rufus Thomas, Mary Wilson.
WAYNE COYNE: DE OBSCURO HERÓI INDIE À PSYCHO FREAK PARA AS MASSAS
É muito difícil fazer a resenha de um disco do Flaming Lips - ainda mais depois do The Soft Bulletin (1998) para cá. Psicodélicos demais - freaks - na tradição clássica de um Captain Beefheart, para utilizar a definição exata que o rockloquista Brama me deu uma vez - sua música desafia a rotulação, esta atribuição tão cara à classe dos jornalistas, com o perdão da má palavra. A música dessa turma de Oklahoma City desafia o pensamento lógico. Então, para um cara chato como eu, metódico, que organiza suas revistas em quadrinhos em sacos plásticos separados por autor e na ordem numérica, fica complicado querer decifrar as mensagens ocultas, metáforas insanas e música psycho dos Lábios Flamejantes.
Levei algum tempo para perceber que erro tolo é esse, querer racionalizar o som dessa banda. A pegadinha é exatamente essa. E a intenção de Wayne Coyne & Cia é justamente essa: convidar seus fãs e ouvintes para um passeio no seu incrível mundo de psicodelia colorida para o terceiro milênio. Não racionalize. Se entregue, sinta a música, freak out.
Por conta dessa concepção (que não é para qualquer um, diga-se), à primeira vista, tudo parece muito aleatório, muitas vezes as letras não parecem fazer qualquer sentido e longas passagens instrumentais escancaram a herança do Pink Floyd de Syd Barret. Contudo, pelo menos por enquanto, esse At war with the mystics (Warner Brothers, 2006) parece alguns pontos abaixo das obras primas anteriores, o citado Soft Bulletin e Yoshimi battles the pink robots (2002).
Bons momentos existem, como The sound of failure (faixa 3), uma cartinha para Gwen Stefani e Britney Spears cheia de climas e uma interessante dinâmica entre dedilhados de violão e riffs de guitarra. A instrumental The wizard turns on (faixa 6), totalmente anos 70 com suas flautas, guitarras afundadas até o joelho em wah wah e bateria estilo Nick Mason (Pink Floyd); e suas seqüências, It overtakes me (groovão torto de baixo) e Mr. ambulance driver (com sua linda e esquisita sonoridade - a especialidade da casa).
O disco como um todo tem aquele climão outro planeta típico dos Lips e da produção de Dave Fridmann. Em várias faixas, parece que a banda vai simplesmente revogar a lei da gravidade e botar todo mundo pra flutuar um pouco em algum lugar estranho, úmido e colorido.
Contudo, At war... não parece ser um disco que vá conquistar novos fãs, dada sua óbvia inferioridade em relação às obras anteriores. Se você ainda não tem nada dos FL, tente os discos mais antigos. Ainda assim, At war... galgou posições nas paradas da Billboard, chegando a entrar no Top Ten, fato inédito na carreira dos Lips. E assim, de obscuro band leader de uma das mais sólidas instituições do indie americano (estilo já obscuro por definição), Wayne Coyne & Cia parecem começar a saborear um sucesso de público que, mesmo tardio, deve ser bem vindo. Tomara que mais e melhores discos saiam dessa fase ligeiramente mais popular.
NÁDEGAS A DECLARAR - Quando eu disser: "deu branco, não tenho nada pra falar", acredite. Caso contrário, só sai merda patética, como foi na entrevista que dei pro programa do Alexandre Matias e Trama Virtual sexta feira passada, antes de gravarmos o podcast. Espero sinceramente ser limado sem dó nem piedade na edição final do tal programa. Já o podcast em si foi muito bacana, com participações ótimas do próprio Matias (boa praça, disposto a conversar e debater com a gente lá), Gilberto Monte (tara_code), Vince de Mira (Lampirônicos) e Paquito, além da trupe rockloquista de sempre - com exceção de Mário Jorge que tá fazendo birra só por causa do meu post passado. O papo rendeu tanto que deu mais uma hora só de conversê. Por causa disso, ele deverá ser editado e picotado em duas ou três partes pelo sempre diligente Don Jorge, que a essa altura já arrancou alguns dos seus famosos cachos com essa tarefa.
LULUZINHA X MONSTRO DO PÂNTANO - A Devir Editora, que vem fazendo um excelente trabalho lançando no Brasil clássicos intantâneos das hqs como Sin City (Frank Miller), Planetary (Warren Ellis), The Authority (Ellis e Mark Millar), Preacher (Garth Ennis), Liga Extraordinária, Tom Strong e Top Ten (as três últimas de Alan Moore), lança agora mais duas obras para fãs de quadrinhos de toda as idades. Quem estava com saudade da Luluzinha, Bolinha e toda a sua turma poderá mata-la com o álbum Luluzinha vai às compras. Aos 71 anos, a garotinha do vestido vermelho e cabelos cacheados continua um clássico dos comics americanos e deve deixar muitos senhores e senhoras de meia idade que se arriscarem a folhear este álbum com uma lágrima furtiva nos olhos. Para dar um gostinho, leia aqui uma historinha deste álbum em formato PDF. Já Monstro do Pântano: Semente ruim apresenta pela primeira vez aos fãs brasileiros a filha de Alec Holland (o Monstro) e Abby Cable, Tefé Holland. Semente ruim é escrita por Andy Diggle (pouco conhecido por aqui, autor de Lady Constantine e The Losers) e desenhada pelo argentino Enrique Breccia (Lovecraft, também recentemente lançada pela Devir). Não deve ser o último biscoito bono do pacote, mas deve valer pela curiosidade de nos apresentar a filha do Monstro, até então inédita no Brasil. Para mais informações sobre os lançamentos da Devir Editora, ligue (11) 3347 5700 ou acesse http://www.devir.com.br/.
A PAIXÃO DOS BALCONISTAS - Uhú! O mega nerd Kevin Smith finalmente largou mão dessa roubada de fazer comédia romântica com Ben Affleck (alguém se arriscou a assistir Menina dos olhos?) e volta às origens com Clerks 2: Passion of the Clerks, a continuação de seu primeiro filme, a comédia cult em p&b O Balconista (1995). Desta vez, Dante e Randall, os balconistas vagabundos protagonistas do filme original estão mais maduros e deverão ter de encarar as responsabilidades da vida em vez de ficar discutindo aspectos obscuros da trilogia Clássica de Star Wars ou quantas vezes a namorada do Dante fez sexo oral antes de se envolver com ele (37! 37!). O filme estréia 21 de junho nos EUA e sabe lá deus quando no Brasil. Esse aí do lado é um dos posteres promocionais. Tinha um com os personagens principais, mais os clássicos Jay e Silent Bob (que aparecem em 6 dos sete filmes do diretor), mas esse com a morenaça Rosario Dawson (Sin City) é bem mais interessante, convenhamos...
FESTINHA ZEN VERGONHA - Com o perdão do péssimo trocadilho, mais velho que minha tia-avó, chegou às minhas mãos o release do Projeto T-Zen, série de festas estilo chill-in que rolarão no novo Dubliners Irish Pub da Praça da Sé, com bandas (a ótima Berlinda e The Budas no primeiro mês), DJs de psy-trance (seja lá o que for isso), consultas de tarô, comida vegan, iluminação fluorescente e todas aquelas frescuras que o povo mais moderno se amarra. Vai ter até um prêmio para o "ser mais iluminado da noite", acreditem. Se eu for nessa festa e nego inventar de me dar um prêmio desses, eu sento a mão no folgado! Eu sou espada, porra! Ai, ai... Bom, falando sério, a iniciativa é legal e o primeiro dia dessa festa vai ser agora, 17 de junho. A gerência de eventos da casa já está recebendo propostas de bandas para se integrar ao projeto. Basta enviar um e-mail para: tzenpub@gmail.com.
ONE MORE TIME, RONEI JORGE & OLDB - Se você dormiu babando no travesseiro e não viu o Banda Antes com Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta ontem à noite, ainda pode faze-lo hoje (terça-feira) às 16h e também na meia-noite de quinta. Ou seja: não tem desculpa, assista!
Retrofoguetes e Vandex - tocam na próxima quinta no Teatro do Sesi (Rio Vermelho). Toda a renda do show será doada em benefício do nosso amigo Big Brother. Vamos dar uma força pro Gordo, rapaziada! TEATRO DO SESI - RIO VERMELHO, QUINTA, 15 DE JUNHO, 21H, R$10,00.
Festa Nave - Indie - Pop - Glam - Punk - Garage - Lo-Fi - Rock Brasil - Black - Soul - Electro - 50's - 60's - 70's - 80's - 90's - 00's - DJs: el Cabong/ Janocide/ Helterskelted
Buenas/ Bruno Aziz/ Queen Mary - 16.06.2006 23h R$10 - Seven Inn (Rua da Paciência, 88 - Rio Vermelho) Salvador-BA - Contato: festanave@gmail.com Fotolog: http://www.fotolog.com/nave_/ Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2007490
Eletro_abstinência - Djs: Stereofono, Stoica, Bones (soonomoon), Sábado, 17.06, Ingresso: 5,00 Espaço Insurgente, Ladeira de Santana ao lado do Fórum Ruy Barbosa - Vizinho a Embratel.
Pessoas Invisíveis, Matiz e Theatro de Séraphin - 14 de Junho, Quarta, no Calypso, 21h. R$5.
The Budas e Cox - no programa Artistas de Salvador. Vai ao ar: 18.06.06 (domingo) às 18h - Horários alternativos: quarta-feira (21/06) às 19h e sábado (24/06) às 22h40
TV Salvador - canal 28 UHF / 36 NET
pô, chico, é só um disco diferente...
ResponderExcluiro que pega é isso aqui:
http://www.editorsofficial.com/music.html
Ah, sim. Hj tem Pessoas Invisíveis, Matiz e Theatro de Séraphin, no Calypso, às 22h. R$5.
ResponderExcluirChicão, esse filme rola nos balaios da vida e é MUITO BOM!!
ResponderExcluirE a gravação dessa semana? vai rolar?
faça contato!!!
uiuiui! como tu tá eletrônico!!!
ResponderExcluirsimplesmente fodástica a dica do documentário, crasse a!
Sou à moda antiga. Quem chama música eletrônica de meu som, chama pitomba de minha fruta.
ResponderExcluirCaro Franciel, pra esse povo só uma surra de "Cipó cabôco"!!!
ResponderExcluirdiscordo!at war... é, na minha opiniao infinitamente melhor que o chato yoshimi. so abaixo do transmissions e do clouds..., alias os lips comeste disco assumem de vez o posto de premier freak band, vago desde a morte do genial frank zappa.sacumé alguem tem que carregar a bandeira dos malucos.quanto a este questao de musica iluminada estoy fuera.
ResponderExcluirPra quem se interessar:
ResponderExcluirFaltou o preço da festa, R$ 10,00.
Além da música eletrônica, duas bandas d rock: The Budas e Berlinda, só pra relembrar. Vai haver outras edições desta festa, e a pauta, vale a pena repetir(?), está aberta para outras bandas, o link está lá. E, vale a pena(??) frisar: é mais um espaço para bandas tocarem e pessoas se divertirem. Se o formato é diferente do tradicional, tanto melhor. o clássico não dá em nada mesmo...
Chico,
ResponderExcluirPennebaker dirigiu várias coisas de música e também participou, fazendo câmera, de um doc que é considerado um marco do gênero e um títulos mais importantes do cinema direto: Primary, de 1960. Esse filme foi dirigido por Robert Drew, que fundou em 59 a Drew Associates, uma das produtoras de documentários mais importantes da época. Maravilhado com a introdução dos gravadores portáteis de áudio Nagra, o grupo liderado por Drew (que incluia ainda Albert Maysles e Richard Leacock) realizou uma série de documentários baseados na observação passiva, sem participação ativa aparente dos realizadores. Primary é provavelmente o mais conhecido deles, e mostra a disputa da indicação pelo Partido Democrático do candidato às eleições presidenciais pelo então senador John Kennedy e de Hubert Humphrey. ZZZZZZzzzzzZZZZZZZZ tem alguém acordado ai ainda?
Eu tive coragem de assistir Menina dos Olhos, mas realmente não sei dizer onde estava com a cabeça quando resolvi ver um filme com Bem Afleck e Jennifer Lopez. Acreditei demais em Kevin Smith, provavelmente... Na real, era pq tinha algo de autobiográfico no filme (nem lembro agora o que era), e fiquei curiosa. Mas é uma bosta, e azeda. Como 99,9 por cento das comédias românticas.
já ouviram o podcast de messias??
ResponderExcluirsim, mais um!!
http://messias.podomatic.com
pessoas, cadê o podcast rockloquista??
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