Dia desses tava no bar - aquele bar - conversando com uma conhecida sobre quadrinhos e ela - como muitas garotas e garotos supostamente espertos, antenados - derramava-se em declarações de amor à Sandman, sua irmã Morte e toda aquela mitologia sombria, que eu também amo, claro - até por que não sou marinheiro de primeira viagem que conheceu Sandman com as caríssimas e luxuosíssimas edições da Conrad - comprei o número um no jornaleiro, em novembro de 1988 e acompanhei tudo até a Editora Globo interromper a distribuição em bancas, no início dos anos 90. Mas enfim, o papo ia nessa lenga lenga deslumbrada quando perguntei à ela: "E Maus, de Art Spiegelman, você já leu?" Claro que não: sua antena parou ali, em Sandman. Entrei no assunto por que uma semana antes tinha acabado de reler (praticamente de uma sentada) a nova edição recém-lançada pela Companhia das Letras. Se Sandman revolucionou os quadrinhos de fantasia e horror ali pelo fim dos 80, início dos 90, Maus revolucionou os quadrinhos como um todo, como linguagem, mesmo - ainda no início dos anos 80. Única obra da chamada Nona Arte a ser laureada com o Prêmio Pulitzer, premiação maior da literatura americana, Maus conta a história do pai do autor, judeu polonês sobrevivente do holocausto nazista da Segunda Guerra. Mais do que isso, aliás. O velho Vladek Spiegelman sobreviveu à Auschwitz, simplesmente o mais temido e genocida campo de concentração nazista, laboratório das experiências bizarras do Dr. Mengele. Em Maus, vemos seu filho, Art, já um respeitado artista residente em Nova Iorque, anotando e gravando as memórias do pai sobre aqueles dias negros para transformá-las numa história em quadrinhos. O engraçado, aliás, o genial em Maus são duas coisas, no mínimo: uma, em vez de retratar seres humanos, Spiegelman optou por usar animais antropomorfizados (é a mãe!) como os personagens da biografia de seu pai. Então os judeus são ratos (Maus é rato em alemão), os nazistas, gatos, os americanos são cachorros, os poloneses, porcos e os franceses, que pouco aparecem, são sapos. A segunda coisa genial a respeito de Maus é que, ao longo da narrativa, acompanhamos não só a saga de Vladek e sua família desde os anos pré-guerra até sua libertação de Auschwitz ao fim do conflito na Europa, mas também a luta de Art para transformar a história do seu pai em arte (ops, foi mal o trocadalho involuntário), e como se não fosse o bastante, também testemunhamos o difícil relacionamento entre pai e filho de forma tão sensível, que é praticamente impossível para qualquer um não se identificar, mesmo que seu pai não seja sobrevivente de um campo de concentração. Vladek, na verdade, é quase o estereótipo do judeu sobrevivente da segunda guerra: nervoso, pão duro, morrinha como quê. Não é um relacionamento fácil mesmo. Traumatizado pelos anos de guerra, Vladek não desperdiça nada: armazena caixas de cereal e cata barbantes no chão da rua, caso precise amarrar alguma coisa. Art, por outro lado, é o típico artista novaiorquino cosmopolita. Até namora uma garota francesa, não judia, para desgosto velado do renitente reclamão Vladek. O modo como Art retrata esse relacionamento nos interlúdios entre as memórias do pai é um dos pontos altos de Maus, uma obra prima não apenas dos quadrinhos, mas da literatura em si. Enfim: Maus, de Art Spiegelman, em edição única (originalmente, na década de 80, eram em dois volumes pela Editora Brasiliense) tá nas livrarias da cidade, por R$39. Não é exatamente barato, eu sei, mas vale cada centavo e você só vai gastar essa grana uma única vez, diferente dessas edições de Sandman em dez volumes pela Conrad, que custam R$60 X 10 = R$600,00! Isso, se o preço não aumentar. Haja grana!
- Ricardo Cury já é velho conhecido dos rockers soteropolitanos. Baterista de diversas bandas, sendo a antiga e bacana Dinky Dau e a lendária e recém-extinta brincando de deus (em que pé ficou, afinal?) as mais significativas, Cury, que também chegou a ser conhecido com O Cara Mais Gente Fina do Rock, apresenta seu insuspeitado talento para manter um blog no ar, em Eu tava aqui pensando. No blog, Cury fala de rock (claro), mercado de trabalho, suas aventuras por aí, da vida e etc. Muito divertido, inteligente e bem escrito (e não tô dizendo iso por que ele é brother, não: digo porque é verdade). Recomendo.
- E aí, você curte sexo animal? Problema seu.
a gente vai fazer isso, man. pode ficar tranquilo.
ResponderExcluirrapaz, eu o faria com o maior prazer se recebesse um exemplar. na loja, o livrão, uma edição primorosa, realmente, custa a bagatela de R$98. dose pra elefante, né? sou milionário, não. mas a sugestão é boa de qualquer jeito. vamos ver.
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ResponderExcluirDE FUDER O MAUS, CONHEÇO...AGORA, CHICO GRANA PRA GASTAR NO MISS MODULAR SE TEM, NÉ...SÓ VIVE LÁ...VC E CEBOLA, PRISCILA, THALES...CERVEJA r$4,00 A MINI...NA BOA...
ResponderExcluircLÁUDIO
fora os aditivos
ResponderExcluirCláudio
rock!
ResponderExcluirClaudão, meu amigo, que bom que o senhor não ficou de birra comigo...
ResponderExcluirContudo, devo corrigi-lo: faz tempo que não vou à referida casa de Lorena. Para ser mais preciso, desde a festa Nave/Boogie Nights, que ocorreu na noite do dia 9 de junho. Lembro bem por que fomos para lá após a missa de um ano de passamento do nosso amigo Borelzinho. Realmente, é bem caro, mas em certas ocasiões vale a pena, concorda? Na verdade, pouco tenho saído de casa. Mas essa quinta-feira estaremos lá, claro. E grana, meu caro, foi feita para gastar mesmo. Como dizia um sábio que agora me escapa o nome,
"caixão não tem gaveta", de modos que meu dinheiro (duramente ganho com o suor do meu trabalho, devo acrescentar, como aliás, o senhor bem o sabe) eu gasto bem gastado nas coisas que me dão prazer, graças à Baco.
e ele não conhece a tática...encha a cara antes e, no miss, só manutenção básica.
ResponderExcluirexatamente, velhinho.
ResponderExcluirjá vi os dois primeiros volumes por aí, Greice, e me pareceu, inclusive na estética, bem similar ao Maus (acho que vc até já tinha escrito algo sobre Persépolis no site Claque, não foi?). a conferir, claro. ah! e me diverti pacas com o cdzinho, viu? valeu! e Sin City vem aí, sexta (espero). o último a correr pro cinema é a concubina do vigário.
ResponderExcluire a propósito, aos que ainda não viram, desencanem de A vida aquática com Steve Zissou, aquele fime com Bill Murray e Seu Jorge. esperem chegar em dvd. o filme é besta que dói. tem partes que lembram Os Trapalhões, juro. não é nota zero, até por que tem Bill Murray no elenco e David Bowie na trilha sonora, mas é bem fraquinho, tirante um ou outro momento iluminado do senhor Murray. a impressão que deu é que o roteiro foi escrito ao longo das filmagens. ficou uma coisa meio mambembe, parece cinema baiano. (com atores melhores, claro.)
ResponderExcluirESSE CARA CHAMADO SËO JORGE EH CHATO PRA CARALHO. T¨PRA VER QUEM EH MAIS CHATO. ELE OU ED MOTA. PARADA DURA
ResponderExcluirmais chato q Jorge Vercilo e Ana Carolina, impossível. se bem q a mídia nunca pára de nos surpreender com seus novos "talentos". taí o Fama da Globo q não me deixa mentir.
ResponderExcluiruma merda mesmo...agora no underground tem muita coisa que não se encontrou esteticamente ainda, como uma tal de banda vitrola
ResponderExcluirCláudio
é um problema. nego acha que é só misturar rock com funk, com black music, com mpb, com rap, com bossa, com d&b, com soul que todo mundo vai achar lindo e eles vão vender milhões de cópias como o Xota Quest. agora, talento mesmo que é bom...
ResponderExcluirSORA! joga mais uma daquelas suas fotos supimpas pra dar uma embelezada nessa bagaça, que eu até hj não sei como faz pra colocar ilustras aqui... please?
ResponderExcluirou então deixa passar a festa de quinta pra vc colocar alguma foto da ocasião, o que cê acha? por sinal, temos que tirar uma foto da trupe rock loco toda junta, para posteridade, registro histórico mesmo. tem que ser nessa noite. depois, sabe lá...
Eu tive o prazer e a oportunidade de assistir uma palestra de Art Spiegelman quando ele veio aqui ? na University of Iowa ? lançar o "In The Shadow Of No Towers". Além de fumante non-stop ele também é um cara ácido e divertido. Suas críticas à Mr. Bush faziam a platéia se acabar de rir. O bacana é que o conhecimento que ele têm da arte sequencial é super vasto e ele demonstrou uma grande paixão por cartoons da primeira metade do século vinte. Biscoito fino.
ResponderExcluirBy yhe way, parabéns pelo blog e aquele abraço à todos os manos.
Daniels
Chicão, assino em baixo. Maus é espetacular. Acho que é uma das melhores obras pop (não só dos quadrinhos) que já vi. Maravilha.
ResponderExcluirRonei.
valeu, Daniels. valeu, Ronei. tamos aí.
ResponderExcluirChicon
ResponderExcluirpassa lá em casa de tarde, que a gente coloca as imagens e vc aproveita e pega a manha. Máquina pronta, foto antes e depois.
abçs,
sora
só se for sábado de tarde, Sora. durante a semana fica complicado para mim.
ResponderExcluirtb pode ser.
ResponderExcluirs