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terça-feira, fevereiro 08, 2005

A PELEJA DOS RETROFOGUETES CONTRA A HIPOCRISIA DO ESQUEMÃO NA TERRA DA ALEGRIA SEM RAZÃO

FRANCIEL CRUZ RIDES AGAIN! Sim amiguinhos e inimiguinhos, a notícia é meio velha e já corria a boca pequena por aí, mas deu o que falar, tanto no palco quanto nos bastidores, a histórica apresentação dos Retrofoguetes no XIII Festival de Música Instrumental na Bahia. Como nenhum registro oficial ou oficioso deu conta do acontecido, incumbi nosso repórter especial Franciel Cruz, que esteve por lá, de contar em detalhes o vergonhoso (para o evento, não para a banda, claro) episódio. Sem mais, fiquem com revelador texto do nosso valoroso colaborador freelance...

Parece praga de algum faraó. Antes das enfadonhas e inconseqüentes águas de março tomarem as providências cabíveis, Salvador sempre é palco no verão de uma meia dúzia de polêmicas fúteis. Apesar de rigorosa pesquisa, feliz ou infelizmente, ainda não cheguei a uma conclusão sobre o porquê de tal fenômeno. Duas hipóteses: talvez a culpa seja do sol inclemente, que azucrina e aperreia o juízo dos nativos, ou pode ser também por causa daquele nunseioquê mágico que a Bahiatursa propaga para otários, turistas e afins. No meio de tantas dúvidas, porém, um dado é incostestável: nesta Bahia besta e bela, comprova-se, a cada ano, também no campo das polêmicas, a seguinte tese do profeta Paulo Mendes Campos: "Antigamente, as coisas eram piores, mas depois foram piorando, piorando...".

Calma, crianças, calma, não vou listar todas as polêmicas desta temporada, que, confirmando a profecia acima, são muito mais desanimadoras do que as dos anos anteriores. O que vou fazer é... muito pior. Tratarei de uma "polêmica" que não deu no rádio nem está nas bancas de jornais: a peleja de Zeca Freitas contra os Retrofoguetes, na já histórica apresentação dos enfants terribles da Cidade Baixa no XIII Festival Instrumental de Música da Bahia, no glorioso Teatro Castro Alves.

Agora, chega de entretantos e vamos aos finalmentes. Tá na Constituição Federal: todos têm o direito de ter ojeriza ao Rock. Conheço uma porção de gente boa que o abomina. Portanto, Zeca Freitas pode muito bem detestar a música de três acordes. Porém, ai, porém, o que ele fez foi coisa bem diferente. E asquerosa. Aos fatos. (E vale destacar que tais fatos ocorreram instantes antes dos Retrofoguetes começarem a tocar). Para se justificar com as madames que infestavam o local, e que também acham que o rock é música barata, democrática, sem nenhum valor, Zeca Freitas disse que a escolha do Retrofoguetes para tocar no festival foi "meio dolorosa, pois deixava de fora quem estudava e se dedicava à música com mais afinco".

Ora, ora. Então, por que diabos convidou o trio? "...Porque não temos nada contra o Rock. Prova disso é que na década de 80 abrimos espaço para este tipo de manifestação. Eu mesmo emprestei minha variante velha para Nicolau Rios, que entrou no palco com ela. Foi uma loucura!". Foi uma loucura, santa? Ah, então tá! (Por formação religiosa, sou contra espacamento, mas quando a palavra loucura é empregada assim, sem a menor cerimônia, juro que minhas convicções ficam abaladas). Devolvendo as aspas para a Raposa Velha, que não parava de pedir desculpas à vetusta platéia. "Pois bem, senhoras e senhores, não temos nada contra o Rock. Mas, como disse anteriormente, fiquei temeroso de trazer os Retrofoquetes porque eles não têm sofisticação harmônica. Mas, é bacana. Desde o ano passado, Fernando Marinho (o outro organizador) já havia me mostrado o CD deles e eu achei...bacana".

Algo bem bacana o que Zeca Freitas fez, né não? Bem típico do comportamento escroto e dissimulado que impera há muito nesta terra.Logo após esta "amável apresentação", as cortinas se abriram. O nervosismo era claro e evidente. A imensidão do Castro Alves não é graça. Rex, de pé, tentou ainda ironizar, pedindo desculpas a ele por qualquer coisa e falou algo do tipo: "É verdade, nossa música não tem harmonia, tem agonia". O estado do trio, de encantamento (e talvez repulsa), lembrou-me, não sei bem ao certo porquê, a apresentação do Buena Vista Social Clube no Carnegie Hall. No entanto, ao lembrar da lambança de Zeca Freitas, pensei imediatamente que a saída talvez fosse a força bruta. Porém, os meninos dos Retrofoquetes são muito mais perversos. Decidiram responder com os tais três acordes. Tocaram com uma intensidade alucinante e monstruosa. Não teve lugar nem mesmo para a tradicional imperfeição. ("Pela primeira vez, não errei uma só nota", confessou Morotó pouco depois do show). Em pouco menos de uma hora, eles mostraram à parte descrente da platéia que o bom gostismo não é o essencial à música. É vero que alguns imbecis nas poltronas ainda urruram algumas bobagens. Mas, aí já era tarde. Não dava mais nem vontade de mandar eles tomarem no ás de loscopita. A batalha já tava vencida.

Desta vez, a hipocrisia saiu perdendo feio. Se eu fosse Zeca Freitas, teria colocado a viola no saco e pedido desculpas.

7 comentários:

  1. porra, são essas pequenas vitorias que ainda me dão algum animo no rock baiano.não fui pra este festival, nem pra nenhum( eu disse nenhum) outro, dia nenhum, e não achei que tava perdendo nada, pelo contrario.mas com esse relato pela primeira vez sinto que perdi algo de verdadeiramente interessante neste enfadonho e mediocre e repetitivo verão baiano.não fui e não vi e desde já foi o melhor show deste verão(foda-se a imparcialidade).Ah, Chicão, o texto de Franciel é covardia(aí eu to sendo totalmente imparcial), desde já é um classico instantaneo da cronica musical baiana.

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  2. ah, Osvaldão, menino Franciel mandou ver legal nesse texto, devo concordar. deu nome aos bois e desmascarou a gentalha hipócrita sem medo de nada. coisa de macho. Rock Loco é isso aqui. palmas!...

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  3. Triste(quase tragico) notar que as referencias( sempre elas...) das pessoas que comandam de alguma forma a cena cú-tural da Bahia é quase sempre eivada(eita!) de equivocos.No caso do sr. Freitas , a referencia dele em termos de rock baiano é o indefinivel e inacreditavel Nicolau Rios. Nicolau, figura que eu particularmente gosto, não pode ser boa referencia de forma nenhuma do rock baiano.Apesar do seu envolvimento e empenho durante anos com a cena rocker local, sua atuação é mais lembrada pelas monumentais cagadas realizadas em produções de shows e outros causos já folcloricos da cena rocker local.Não que o velho Nicolau tenha culpa alguma no caso, pelo contrario. Não sei se a referencia do sr. Freitas a Nicolau foi feita de forma maldosa, mas de qualquer forma revela total ignorancia as tais das referencias(olha elas aí de novo) que seriam de se esperar , e neste caso exigida devido a arrogancia demonstrada, de um diretor de um evento de porte no TCA. Não sei quais as referencias musicais do sr. Freitas, pelo que sei são impecaveis , afinal trata-se de um musico respeitado detentor de grande prestigio entre seus colegas musicos( não vou cair no desaforo barato), mas suas referencias como curador(é este o termo?) só podem ter sido o supra-sumo do preconceito e do atraso.

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  4. Galera, posso estar equivocado, não estive lá, mas Nei, que foi, havia me dito que esse cara, quando falou de pobreza harmônica, gente que estuda música, etc... estava se referindo ao fato de no ano anterior ele ter recusado os retro por causa disso, e que se arrependera por ter sido preconceituoso e tentave se redimir este ano. Segundo Nei, foi mais um pedido de desculpas à galera rocker que às peruas e pinguins de plantão. Bom, foi o peixe que me venderam...

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  5. Comprou bem comprado caro Cebolitos, é fresquinho por que vende mais e bem!!
    Vamos ao que interessa; acredito que houve um pouco de rigidez excessiva ao analisar o fato ocorrido.
    Vou ao festival desde 1985; é legalzinho, mais sempre foi uma grande panela de amigos, as vezes um baterista tocava em 5 ou 6 grupos numa mesma edição, mais isso não vem ao caso.
    O "mea culpa " de Zeca freitas, foi claramente de quem viu a merda que fez um ano antes, ao não colocar os Retrofoguetes no festival, justamente por julgar música de um jeito completamente deturpado, pois música não pode ser julgada pela sua complexidade harmônica e melódica.
    Os caras mostraram sim, o poder de uma banda da cidade, que quando dadas as condições dignas, não deixam a desejar a nenhuma banda, dentro ou fora do Brasil(até porque bandas com a proposta dos retrofoguetes são uma raridade dentro do mundo do rock).
    Se passou despercebido, ao fim do show, enquanto realmente alguns radicais da musicalidade rica protestavam, o curador do festival, o ator Fernado Marinho, entrou no palco e quase pediu bis, deixando no ar que só não ocorreu por questões de horário.
    Os Retrofoguetes não precisam da sala principal do TCA para se "legitimar",(nem nenhuma banda da cidade), mais claro que seria legal que de vez em quando ela recebesse visitas desse tipo, pra se encher de música rica para espiritos pobres.

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  6. Legal o nivel do debate, são os tais pequenos momentos que gratificam. Pode até não ser do feitio do Zeca Freitas esse comportamento, e pode até não ser ele um "inimigo" do rock(não o conheço e desconfio que ele não está nem aí). Mas num momento de, digamos, desatenção, ele pisou legal na bola, menosprezando os Retro. E para seu azar,o intrepido Franciel e sua pena vingadora capturaram o momento com rara felicidade, dando ao imbroglio "uma visão além do alcance"(He-Man).

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  7. Eu também achei estranho isso. Eu vi ele se desculpando. E outra coisa, moral. Respeito muito todos vocês,mas acho que a gente tem que ver esse lance de perseguição ao rock. Claroque não se abrem alguns espaços, como deveria, evidente. Mas vejam bem, da mesma forma que quando postaram aqui algo falando de um bloco com percussão quenão tinhaligação com axé e blocos e taçl, cairam em cima, as pessoas, tem preconceito com rock. O qu eeu vi no TCA foi gente reclamando da produção por ter feito eles, que se acham ouvidos superiores, ter que ouvir "aquilo". Euia escrever um texto sobre isso lá no blog, mas acho melhor porstar aqui, porque acho q pode render uma boa disucssão.

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