A discografia de Neil Young selecionada e comentada para neófitos e velhos fãs. Mais um serviço Rock Loco aos seus ouvintes e amigos.
Antes de mais nada, quero deixar claro que considero uma ousadia de minha parte ficar escrevendo sobre a sagrada obra do Deus Neil Young aqui neste conceituado espaço. Não me considero competente para tanto. Humildemente, porém, atendo à sugestão do chapa Barry, da loja / blog Championship Vinyl, no sentido de, repito, humildemente, ajudar a divulgar a obra do mestre. Separei logo abaixo, em ordem cronológica, os LPs mais significativos (segundo minha concepção) de sua extensa e prolífica obra, adicionando um breve comentário com minha impressão pessoal sobre a mesma. A discografia completa está aqui, pescada no site Allmusic. Todos os lançamentos aqui relacionados estão linkados à sua página no mesmo site, onde vc pode ver a capa, dar uma ouvida nas faixas, etc. Ah, aproveite e também faça uma visitinha à casa do homem. Ou melhor, à sua garagem oficial. Vamos nessa?
Everybody Knows This Is Nowhere (1969) - Este aqui é segundo lp solo de Neil Young e saiu paralelamente à sua carreira com o Crosby, Stills, Nash and Young, superbanda na qual entrou meio que de última hora, em busca de fama e fortuna. Com eles, lançou o magnífico Deja vu, básico. Mas aqui, livre para fazer as coisas à sua própria maneira, como é de seu feitio, Young criou pérolas eternas como Cinnamon girl, Cowgirl in the sand e a maravilhosa faixa título. (Suspiro.) Emoção, melodias que parecem arrancadas à faca do coração despedaçado de um solitário incorrigível. Eu quero esse disco pra mim. Alguém aí pode me arranjar uma cópia?
Harvest (1972) - Esse eu tenho em vinil e é um dos meus preferidos. A faixa de abertura, Out on the weekend, é uma punhalada. ?Think I?ll pack it in and buy a pick-up, take it down to LA?. Tristeza em estado bruto. Tem ainda The needle and the damage done, um belíssimo grito de alerta contra os perigos da brown sugar; Alabama, um bem aplicado esporro no estado redneck por natureza (respondido depois pelo Lynyrd Skynyrd em Sweet home Alabama) e também Old man, pungente homenagem ao seu pai (curiosamente, colunista esportivo no Canadá) que faz qualquer homem pensar em suas semelhanças com o próprio genitor (Old man, look at my life / I?m a lot like you / I need someone to love me / the whole day through). Ah, não esqueçamos também o machismo descarado de Every man needs a maid. Clássico.
On the Beach (1974) - Aqui temos um Neil Young mais rocker (menos folk) e mais irônico. Pelo menos, esse é o sentimento que perpassa Revolution blues, uma das melhores faixas desse LP. Destaque ainda para a faixa de abertura, o rock Walk on, Vampire blues, e a balada tristonha See the sky about to rain, faixa que depois ganhou uma belíssima versão dos Byrds. Muito bom.
Tonight's the Night (1975) - Esse eu confesso que não ouvi, mas incluí aqui por que sei de sua importância. O álbum inteiro é uma homenagem à Danny Whitten, guitarrista do Crazy Horse (sua principal e mais fiel banda de acompanhamento) morto em uma overdose de heroína. Cópia, alguém?
Zuma (1975) - Esse é o meu preferido. Para mim, Zuma é o disco mais representativo do seu som sujo, folk e rock ao mesmo tempo, triste, irônico, melodioso. Guitarras em chamas, uma banda em estado de graça, um som que conquista o ouvinte logo à primeira audição. Não tem nada do Neil Young? Compre primeiro esse aqui. Inspirado na lenda do deus asteca Montezuma, Young destila uma série de canções faiscantes, cheias da agressividade contida que parece ser um dos traços mais marcantes de sua personalidade. Destaque para Don?t cry no tears, Barstool blues, Stupid girl, Lookin for a love (cuja letra Frejat descaradamente chupou para a sua Procuro um amor) e o épico Cortez the killer. Ó: o disco todo é bom. Sem esse aqui não tinha Seattle, grunge, Pearl Jam, meleca nenhuma. Necessário.
American Stars 'N Bars (1977) - A capa hilária e sujona já dá uma idéia do que espera o ouvinte aqui. Guitarras altas, muito altas, influências do country (Saddle up the palomino, maravilhosa), mais ironias (a porrada Like a hurrycane é uma 'homenagem' à sua ex-mulher, uma atriz esquecida de Hollywood), farpas ao governo americano etc. Bem legal, valer a pena buscar esse aqui.
Comes a Time (1978) - Gosto muito desse aqui também. Contém clássicos como a faixa título, Look out for my love e Lotta love, que já ouvi de passagem na Globo FM em versão bem radiofônica, com uma mulher, que não sei quem é, cantando. Disco regular e gostoso de ouvir, do tipo que se ouve do início ao fim sem pular nenhuma faixa.
Rust Never Sleeps (1979) - Se Zuma é o meu preferido, esse aqui vem logo em segundo lugar. O lado A é totalmente acústico e o B, elétrico pracaralho, se é que você me entende. Rust never sleeps era um mega projeto de show que virou filme (o DVD já saiu por aqui) com uma super produção, gigantescos objetos de cena, anões figurantes no palco e o escambau. Só mesmo ele para fazer um negócio desse, nessa época e a bagaça ainda dar certo. A faixa título é uma homenagem à Sid Vicious e sua letra foi citada por Kurt Cobain na carta que ele escreveu pouco antes de estourar os miolos: 'É melhor queimar de vez do que desaparecer lentamente', dizia. E como. Compre, copie, roube (ontem).
Everybody's Rockin' (1983) - Esse é mais um que, infelizmente, não ouvi. Esse é o segundo ou terceiro disco de sua fase temática. Ou seja, é mais um exercício de gênero, do que um álbum de carreira. Se um pouco antes, em Trans (82), Young escolheu a música eletrônica para brincar um pouco, com resultados pífios, aqui, eu soube que ele se saiu melhor ao escolher o rockabilly. Se alguém por aí tiver e puder me arranjar uma cópia, agradeço.
Old Ways (1985) - Mais um exercício de estilo, desta vez com a country music, gênero que sempre esteve presente em sua obra, de um jeito ou de outro. É bem agradável de ouvir, mas você tem, necessariamente, que gostar de country para gostar desse aqui. Participação da lenda Willie Nelson cantando em dueto com Young em Are there any real cowboys? Na época desse disco, o selo Geffen Records processou o homem por gravar álbuns descaracterizados, ou melhor: por não soar como ele mesmo! Que porre.
This Note's for You (1988) - Mais um na linha exercício de gênero. Aqui, Young chamou a banda The Blue Notes para gravar um suingado disco de soul cheio de metais faiscantes. É aquela coisa: gosto pra caralho, mas eu sou suspeito. Destaques para a faixa título e Ten men working, ótimas para animar aquela festinha esperta.
Freedom (1989) - Esse disco meio que marcou o fim da fase temática e um renascimento criativo de Young ao implementar um retorno ao rock mais básico e apresentar a faixa Keep on rockin in the free world, hino instantâneo no mundo inteiro. Gosto muito da faixa, ainda que a ache meio superestimada em relação à outros clássicos tão poderosos quanto, porém menos conhecidos.
Ragged Glory (1990) - Pedrada gravada no estúdio do rancho de Young com um Crazy Horse inspirado, descendo a madeira no melhor estilo onetwothreefour, sem muito tempo pra respirar entre uma música e outra. Destaques: Farmer John, Mansion on the Hill, Fuckin up. Ótimo para quem prefere a faceta elétrica do homem.
Harvest Moon (1992) - Aqui é o outro lado da coisa. Disco essencialmente acústico, meio que uma continuação (retomada talvez seja o termo mais apropriado) do clássico Harvest, comentado mais acima. Lindo, registra Young ainda bastante inspirado cometendo clássicos instantâneos como a faixa título, Unknown legend (minha preferida) e From Hank to Hendrix. Esse é um dos que tem que ter.
Unplugged (1993) - Um dos melhores Unplugged MTV desde sempre, esse disco serve como uma ótima introdução (ops) à obra de Young para neófitos. Pelo menos, serviu para mim, quando ganhei esse vinilzão do brother Márcio BA (irmão de Cebola), naquele mesmo ano. Grande banda, produção nos trinques, repertório extenso, com umas 13 faixas escolhidas a dedo. Destaques para Transformer man (originalmente eletrônica, reabilitada aqui) e faixas do Buffalo Springfield, sua primeira banda de sucesso nos anos 60.
Sleeps With Angels (1994) - Disco homenagem à Kurt Cobain. Não tão inspirado quanto os lançamentos anteriores, mas dá um caldo. Eu tinha uma fita com esse disco gravado, mas não lembro direito das faixas. Cópia, alguém?
Mirror Ball (1995) - Neil Young tira é onda. Aqui ele se deu ao luxo de utilizar o Pearl Jam como banda de apoio. Não ouvi, mas me disseram que é bacana. Eddie Vedder canta umas duas faixas em dueto com o homem. Cópia, alguém?
Dead Man (1996) - Trilha sonora para o filme Dead Man, western psicodélico em p&b dirigido pelo chapa / fã Jim Jarmusch. Já vi o filme, do qual gosto muito (disponível em VHS em algumas grandes locadoras de Salvador) e a trilha de Young tem grande papel nisso, creiam. O CD nunca saiu por aqui. É mais instrumental, mesmo. Para completistas.
Greendale (2003) - Seu lançamento mais recente é um disco conceitual, contando a história de uma cidadezinha americana e seus estranhos habitantes. Faixas longas, muito longas, vocais mais falados do que cantados. Bom disco, ainda que ligeiramente burocrático. Disponível em versão dupla, com um DVD apresentando um show voz e violão na Irlanda com o mesmo repertório do CD. É bom, mas não é essencial.
E aí, valeu?
franchico
ResponderExcluireu tenho o dejavu e o sleeps with angels eh so copiar,eu tinha muito pra falar mas eh melhor nem comentar;cake tem o piratão do rock in rio,vale a pena.
Mário, és tu? tô ligado no pirata do Rock In Rio, fui eu q vi numa loja da galeria do rock em SP, coisa de um ano atrás, e dei o toque pra Cake, q mandou trazer via correio. e esses aí tão na minha lista de cópias, tenha certeza.
ResponderExcluirBarry - www.champvinyl.blogger.com.br
ResponderExcluirÉ isso aí, Chico. Dá-lhe Neil Young! Espero que os seus ouvintes sigam as suas recomendações. Concordo com você, acho 'Zuma' imprescindível. E claro, 'American Stars 'N Bars' tem o maior hino de todos os tempos, 'Like A Hurricane'. Só gostaria de fazer uma correção: que me consta, 'Hey Hey My My' é uma homenagem a Johnny Rotten (e não ao Sid Vicious). Ademnais, tentei gostar de 'Harvest Moon' de todas as maneiras, mas não consegui entrar no "clima" do disco (prefiro muito mais o 'Harvest' e ninguém entende isso). 'Mirrorball' e 'Ragged Glory' são dois discos do cacete; arrebentam com qualquer bandinha de adolescentes mimados que acham que basta um pouco de barulho para fazer um som verdadeiramente PESADO. O Pearl Jam teve aula com o cara. Outro álbum que eu acho sensacional e que você não citou é o 'Broken Arrow', trabalho que segue o contrário de 'Rust Never Sleeps': começa distorcido e sujo e vai ficando leve, à medida que chega ao final. Agora, eu discordo quanto ao que você disse sobre 'Greendale'. Ele é para ser apreciado como uma história que o Vovô Young está lendo para os seus fãs. E ela é repleta de simbolismo, tornando um mero conto sobre uma família nos confins rurais em uma reflexão acerca da juventude, solidão, rebeldia, significados de pequenos gestos, manipulação da mídia, arrependimentos, conflitos de gerações, perda da individualidade, opressão governamental e outros percalços inerentes à qualidade (e tragédia) de ser humano. Requer um pouco de esforço para apreciá-lo, mas é genial. De qualquer maneira, parabéns pelo texto informativo. Qualquer um que quiser se auto-presentear no Natal poderá correr atrás das suas sugestões.
valeu, Barry. o Broken Arrow eu nunca ouvi, mas vou correr atrás. já qto ao Greendale, eu confesso: comprei, mas tive preguiça de decupar, de fruir o disco em toda a sua complexidade. imperdoável, eu sei, mas depois dessa sua defesa apaixonada, vou faze-lo, com certeza.
ResponderExcluirEu cresci em São Salvador ouvindo Neil Young.Zuma para mim é mais que imprecindivel, é um disco que me ajudou a atravesar a adolecencia e citaria pelo menos mais dois classicos do cara, o After The Goldrush e o sensibilissimo Silver and Gold, feito em homenagem ao pai morto na epoca.Citaria tambem a coletanea Decade, que cobre desde a epoca do Buffalo Springfield,banda seminal(esta é mesmo!) que Shakey(apelido do cara) co-liderava com Stephen Stills, até American Stars and Bars.Citaria tambem Eldorado, um ep japones de 89 que tem uma versão bacana de Cocaine Eyes, o Live Rust(tour de Rust Never Sleeps), alem de Weld(tour de Ragged Glory) e os piratas Crime in the City de 91 e Neil Young with Booker T & the MGs de 93.Defensor ardoroso do vinil e inimigo fernho dos cd´s Neil so permitiu agora a reedição de American Stars and Bars e Hawks and Doves em SACD, tecnologia que segundo lee é capaz de repetir os timbres ouvidos no vinil.Tambem bastante legal um tributo feito para ele em 89 chamado The Bridge com a nata do gringe,na epoca chamavam Young de Godfather of Grunge.Tem os filmes, Live Rust, Weld das tours, o bizaro Human Highway, com Dean Stockwell e o Devo(?), ficção sobre um acidente com energia nuclear , alem do Year of The Horse(tour do Broken Arrow) com direção do Jim Jarmush.Isto tudo e nem dfalamos da participação do cara com o Crosby,Stills,Nash & Young(Ohio,Helpless, e Almost Cut My Hair), alem de participações com The Band(LAST Waltz) nos 30 anos(de carreira) de Zimmerman, que ele batizou genialmente de Bobfest.Se voce vacilar vira lista de discussão de Neil Young(alô Tinho e Tarciso!), mas esse realmente é foda e só perde em importancia pro já citado Bobby Zimmerman(que Neil reconhece como mestre), mas eu pessoalmente gosto bem mais de Young.
ResponderExcluirChico,descolo pra voce copia do Everybody Knows e advinha só quem é a capa e reportagem principal da Uncut de Dezembro?Na mesma edição tem as melhores do ano segundo a Uncut,posto a lista amanhã.
ResponderExcluirporra brams,
ResponderExcluire esses filmes, acho onde? Queria muito ver o de Dean Stockwell e devo (Youngn faz o que no filme?) e pelo show filmado por jarmusch.
é foda, a carreira do cara é muito extensa, então a minha listinha é bem pessoal, mesmo. o dvd Year of the Horse já esteve nas bancas e hj é possível de ser encontrado por míseros 10 contos nos balaios das Lojas Americanas da cidade. os outros, tirante o Rust, que Cake comprou, eu nunca vi. acho q só encomendando por uma Amazon da vida. esses piratas, então, pfui! o Hawks and Doves eu tenho em vinil, e junto com o Reactor, são os únicos vinis dele que eu evito ouvir, pois são muito fracos. qto ao Bob Dylan, faço minhas suas palavras: o cara é gênio, essencial etc. mas eu prefiro o velho Neil. acho q é uma questão de identificação, mesmo.
ResponderExcluirO Human Highway eu tenho em LD, se alguem tiver a manha dá pra transformar em DVD(não é pirataria, é pra uso pessoal)e live Rust e Year of the Horse sairam no Brasil em DVD.
ResponderExcluirgostaria de acrescentar que em Freedom, de 1989, você ainda dispõe de outra faixa absolutamente essencial do velho Young: Too far gone. linda de morrer é eufemismo.
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