O espectador incauto, que, como diria o grande André Setaro, vai ao cinema apenas como um apêndice às compras e ao lanche do shopping center, viu o cartaz fofinho, típico da comediotas românticas mais babacas (Jason Biggs carregando um coração enorme, com a Christina Ricci dentro), comprou o ingresso e quando começou o filme, o choque: um ancião Woody Allen abre o filme contando piadas, quase da mesma forma como, quase trinta anos atrás, iniciou Noivo Neurótico, noiva nervosa (Annie Hall, talvez sua obra prima). É claro q Igual a tudo na vida, o Woody Allen novo q estreou sexta em Salvador, está longe de seus tempos áureos ao lado das musas Diane Keaton e Mia Farrow, mas pelo menos está bem melhor que seus últimos filmes, como Dirigindo no escuro (no qual acabei dormindo, de tão sem graça) e O escorpião de jade, por exemplo (Trapaceiros é legalzinho). O interessante foi notar q a estratégia (provavelmente da distribuidora) de tirar a triste figura de Woody do cartaz e do material de divulgação do filme, substituindo-a pelo galã juvenil Jason Biggs (da série American pie) e a bela esquisitinha Ricci parece q deu certo. Ontem a fila para entrar no filme tava grandona. Será q o velho Woody, q nunca consegue ultrapassar a primeira semana de exibição em Salvador, vai quebrar o velho tabu? Bom, em todo caso, os fãs do novaiorquino neurótico não perdem nada conferindo o filme. Pelo contrário. Tá tudo lá. A paixão por Noviorque (como diria o baianofóbico Paulo Francis), jazz (com direito a aparição da cantora Diane Krall ao piano, em um clube esfumaçado) e belas mulheres (neuróticas como ele mesmo), sua condição de judeu ateu e o holocausto nazista, a psicanálise como balela e as tiradas espirituosas de sempre. Destaque ainda para a cena de onde um Woody Allen furioso empunha um pé-de-cabra e detona o carro de uns valentões nojentos. Taí: valeu cada centavo do ingresso.
Rock Loco tb curte cinema, tá pensando o quê?
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