Feliz da vida por finalmente ter conseguido colocar meu toca-discos para funcionar após uns três anos longe dos vinis, voltei minha atenção nas últimas semanas para minhas velhas bolachonas e re-ouvi e re-avaliei vários disquinhos antigos de bandas que, se chegaram a desfrutar de alguma fama (ou no mínimo, críticas favoráveis na saudosa Bizz) 15 atrás, hoje quase ninguém se lembra. Pensando nisso, resolvi enumerar aqui algumas dessas bandas. Se alguém aí conhece alguma(s) dela(s), ou vier a conhece-la(s) via Soulseek e similares, please, compartilhe suas impressões com o Rock Loco lá embaixo nos comments.
THE WATERBOYS: essa banda fazia Pepe Escobar, o mais pernóstico e chupador dos críticos da Bizz, subir nas tamancas e delirar com seu som mezzo rock, mezzo música folclórica de pescadores irlandeses. Começou em 1983 com o escocês Mike Scott e chegou a fazer sucesso até mesmo no Brasil em 86 com o hit The whole of the moon, lindíssima canção cheia de belas imagens em sua poética letra. Diziam fazer um negócio chamado big music, que creio eu, era um lance intenso, quase sempre em tons altos, empolgante. Mike Scott esbanjava emoção com sua voz esganiçada e quase sempre desafinada, mas mesmo assim, era uma ótima banda. Tinha um saxofonista também, coisa que muita gente acha brega pra caralho, por associar o instrumento àquelas músicas de motel, na linha da famigerada Why worry, dos dispensáveis Dire Straits. Tolice. Um saxofone bem encaixado e tocado sem afetação pode arrepiar a nuca até do mais empedernido indie rocker. Recomendados: This is the sea (1985, contém o hit acima citado), Fisherman?s blues (1988, mais próximo da música folclórica celta e melhor disco da banda na minha opinião) e Greatest Hits (1991), este último disponível na Escalpo para alugar e copiar. Vale bastante a pena.
http://www.mikescott.com/
http://www.netsonic.fi/~steiner/Waterboys/
http://www.waterboysfans.com/
JOE STRUMMER AND THE LATINO ROCKABILLY WAR: Tio Joe Strummer dispensa apresentações: líder do Clash, banda seminal do punk inglês, blah, blah, blah, como diria Iggy Pop. Após o fim da banda, Mick Jones, o outro frontman clashiano, fundou o bacana B.A.D., Big Audio Dynamite, lançou alguns discos legais (em 85 e 86) e até esteve no Brasil em 87 ou 88 para shows que quem viu, diz que foi descaralhante. Tio Joe, por sua vez, levou algum tempo para se aviar na vida, mas quando o fez, mandou bem pra cacete. Em 1989, ele lançou com a Latino Rockabilly War (que nome genial) a trilha sonora de um hoje esquecido filme, intitulado Permanent record, (no Brasil, Para sempre na memória). No filme, um jovem e desconhecido Keanu Reeves fazia pouco mais que lamentar a perda do melhor amigo e companheiro de banda, que se suicidara de forma brusca e brutal. Na trilha, Joe Strummer mandava ver com uns rocks maravilhosos que, sim, lembravam o Clash e transbordavam de energia, só que pareciam contar com o Peninha (do Barão Vermelho), na percussa. Bom demais. Coisa que faria aqueles fedelhos do Libertines darem um braço para chegar perto, sabe? Pena que as músicas dele só ocupavam o lado A do disco. No B, só duas músicas se salvavam: uma faixa do Lou Reed, que até aparece rapidamente no filme em uma cena ótima (Something happened, legal) e outra do Stranglers (All day and all of the night, cover clássico dos Kinks). O resto era baba, mesmo. Mas o lado A resplandecia. No ano seguinte, ele lançou um vinil cheio, Earthquakes alguma coisa, num lembro direito. Saiu no Brasil, mas não cheguei a ouvir. Deve ser no mesmo nível, imagino. Mais tarde, Joe dissolveria o L.R.W. e lançaria discos com os Mescaleros. Depois ele morreu. Triste.
http://www.strummersite.com/
http://www.joestrummer.us/Latino.html
HOTHOUSE FLOWERS: Outra banda que fazia um cruzamento de música folclórica celta / irlandesa com rock, só que aqui, eles puxavam mais para um acento soul music, que devo dizer, me agradava bastante ali pelos idos de 89, 90. Originária de Dublin, os Flores de Estufa chegaram a ter o aval de Bono Vox quando começaram e lançaram dois belos discos no fim dos anos 80: People (1988, o melhor deles) e Home (1990). Depois disso, sumiram. Pena, pois não faziam feio, não. O vocalista era super carismático e esbanjava emoção tentando emular os grandes cantores de soul music (coisa que, hoje, a gracinha Joss Stone parece fazer com um pé nas costas). Nunca vi cd deles em lugar nenhum. Engraçado como lembram o The Comitments, banda do maravilhoso filme de mesmo nome do Alan Parker. Dublinenses fazendo soul. Exótico, bacana: boa música bem tocada e bem gravada.
http://www.hothouseflowers.com/
http://www.vh1.com/artists/az/hothouse_flowers/bio.jhtml
THE HOUSE OF LOVE: Ainda me lembro da frase que abria a crítica do disco de estréia deles na Bizz, em 1988: ?Guy Chadwick (o band leader) é o grande bardo alemão do rock inglês?. Passei anos achando que o cara era alemón, mas na verdade, o tal crítico, que não lembro quem era, se referia ao estilo deprezão e ligeiramente perverso das letras do rapaz. Nessa, os indies vão se amarrar. Ou já se amarram. Pelo menos, os mais espertos entre eles. Oriunda do cast do selo Creation, de Alan McGee, o grande artífice da geração shoegazer, o House of Love carregava nas guitarras embebidas em fuzz, nos vocais abafados e tristonhos e climas, digamos, chuvosos. Pode-se dizer que o HOL é uma espécie de elo perdido do britpop, pois fez a ponte entre os anos Smiths e o início da cena propriamente dita, com Oasis e companhia. Só conheço o primeiro disco (The House of Love, 1988), lançado aqui em vinil pela Stiletto, que na época, tava bombando, lançando no Brasil Bauhaus, Joy Division, Cocteau Twins, The Fall e outras preciosidades pós-punk em vinil. Sublime, recomendadíssimo, ouçam e chorem, indie boys and girls, chorem. Os discos seguintes eu não cheguei a ouvir, vi apenas um clipe de uma música no Lado B da MTV uma vez e me decepcionei. A fórmula original estava diluída e já havia perdido seu efeito.
Unoficial House of Love: http://hem.passagen.se/nyholm/holindex.html
Oficial Guy Chadwick: http://website.lineone.net/~shineon.productions/
http://www.trouserpress.com/entry.php?a=house_of_love
KILLING JOKE: Legítima representante geração pós-punk inglesa, o Killing Joke tá aí há mais de 20 anos e até hoje zoa os ouvidos do seu fiel séqüito de fãs, lançando discos cada vez mais pesados, obscuros e barulhentos. Apresentando batidas tribais, guitarras desconjuntadas, letras apocalípticas, depressivas e revoltadas com a estupidez humana, o Killing Joke definitivamente não é aquela banda que você vai querer ouvir para relaxar depois de um dia de trabalho. A não ser que você tenha um chefe tirânico e odiento, aí pode ser uma boa opção para desopilar o fígado e soltar os bichos sozinho, no escuro do quarto (o que é ótimo às vezes). Não à toa, Kurt Cobain era tão fã da banda, que chupou os riffs iniciais de Eighties, faixa do ótimo disco Nightime (1985), para a introdução do hit Come as you are, do clássico Nevermind, de 91 (e que mano Caetano fez o favor de cagar em cima, só por que queria e pronto. Ah, bastardo!). E a ligação como o clã Nirvana não parou por aí: recentemente, Dave Grohl participou (ou ficou de participar? Help, Bramz!) de um disco da banda. Moral é isso aí, neguinho. Outro disco recomendado, esse relativamente fácil de achar em cd, é o sombrio Pandemonium (1994), um verdadeiro compêndio de como fazer música caótica e apocalíptica. Produzido por Youth (que também já trabalhou com o U2 e o Depeche Mode), o som é um verdadeiro abismo sonoro que mistura timbres eletrônicos, guitarras pesadíssimas, bateria seca, violinos e exóticos instrumentos egípcios com o conceito de matemática fractal ou do caos (por sinal, título de uma das músicas). Para completar, ainda teve faixas gravadas na tumba de um faraó, dentro de uma pirâmide egípcia! Sensacional, climão. Na época do lançamento, saiu uma notícia na Bizz que dizia que, em algumas casas noturnas de Londres, algumas pessoas tinham ânsias de vômito e passavam mal quando rolava a macabra faixa Exorcism na pista de dança. Sinistro. E muito bacana também.
http://www.killingjoke.com/
http://www.killing-joke.com/
DIESEL PARK WEST: Agora o bicho pegou. Sei quase nada dessa banda. Tenho em vinil o único disco deles que saiu no Brasil, Shakespeare Alabama (1988). Eram britânicos, mas na época, a Bizz os classificou como ?a mais americana das bandas inglesas?, de forma elogiosa. Ouvi bastante na época e curti muito sua sonoridade algo country rock, mas com aquelas melodias doces que só os britânicos são capazes de engendrar de forma que faz parecer tão fácil. O vocalista é bem bacana. Pesquisando no site oficial, descobri que a banda existe até hoje, lançando discos e sobrevivendo no underground, possivelmente graças à uma fiel legião de fãs. No primeiro mundo tem dessas coisas. Em si, a banda não tem nada demais, mas também, nada de menos. Enfim: corra atrás por sua própria conta e risco. Pode valer a pena. Ou não...
http://www.dieselparkwest.com/
http://members.tripod.com/~gski/tripodindex.html
THE HOOTERS: Deixei a mais fraquinha dessa leva para o final. Naturais da Filadélfia, os Hooters foram vendidos nos anos 80 como a banda que acompanhou a Cindy Lauper no início de sua carreira. Hummm... O som era um pop new wave que se em alguns momentos chegava a empolgar, deixando o ouvinte com vontade de bater os pés ou até mesmo dançar, em outros, resvalava com vontade no pop radiofônico mais chinfrim. Se for arriscar, recomendo os discos de 1987, One way home, e o seguinte, Zig zag (1989). Cada um tem duas ou três babinhas de rádio chatas, mas de resto, é um som bem americano legal da época, bem trilha sonora dos filmes adolescentes de Hollywood, tipo Te pego lá fora ou Namorada de aluguel. Na época chamavam de MOR (middle of the road) rock, música para se ouvir dirigindo. Inofensivo, animado na maior parte do tempo e descontraído. Ótimo também para ouvir varrendo a casa, dançando com a vassoura.
http://www.thehooters.net/
http://www.ipass.net/chasb/hooters.htm
http://www.thehooters.de/
Por hoje é só, pessoal. Tio Chico cansou.
Trabalho de folego.Parabens!A parada do David Grohl com o Killing Joke acho que já rolou,vou dar uma pesquisada.No filme Para Sempre na Memoria, tinha uma cena na qual o cara que se suicida tá no quarto dele ouvindo "Cause i said so" dos Godfathers,mas não sei se a musica tá na trilha.Hothouse Flowers, House of Love, todas bandas interessantissimas.Do Killing Joke, alem dos discos citados, acresentaria o pesadissimo "What's this for" de 1980.Alias o Jaz Coleman,puto com o critico do NME, mandou uma caixa cheia de vermes vivos pro cara na redação, alem de pedaços de figado sangrando.Acresentaria tambem do Waterboys "A Pagan Place", que tem a tal da big music, a faixa inclusive.
ResponderExcluirTrabalho de folego.Parabens!A parada do David Grohl com o Killing Joke acho que já rolou,vou dar uma pesquisada.No filme Para Sempre na Memoria, tinha uma cena na qual o cara que se suicida tá no quarto dele ouvindo "Cause i said so" dos Godfathers,mas não sei se a musica tá na trilha.Hothouse Flowers, House of Love, todas bandas interessantissimas.Do Killing Joke, alem dos discos citados, acresentaria o pesadissimo "What's this for" de 1980.Alias o Jaz Coleman,puto com o critico do NME, mandou uma caixa cheia de vermes vivos pro cara na redação, alem de pedaços de figado sangrando.Acresentaria tambem do Waterboys "A Pagan Place", que tem a tal da big music, a faixa inclusive.
ResponderExcluirHouse of Love é MUITO bom. Luciano Matos que me apresentou, lá em Curitiba, quando comprou um disco do House of Love que ele procurava há um tempão por uns 12 reais e me disse: rapaz, você que ama o Jesus and Mary Chain, tem que ouvir isso. Eu adorei.
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