A Scambo é, definitivamente, um caso à parte no rock baiano. Diabos, na música baiana como um todo.
Formada em 2000, não demorou em formar público – mas público de verdade, mesmo, que lotava todos os shows –, apoiada na figura carismática do vocalista Pedro Pondé e no estilo brasileiríssimo do rock por eles praticado.
Em 2006, contudo, a banda acabou, após um rumoroso quebra-pau público nas redes sociais da vida.
Já dizia o poeta que o tempo cura tudo. Ninguém se espantou, portanto, quando a Scambo anunciou sua volta no final de 2010.
Agora, finalmente, eles soltam seu primeiro CD dessa “fase 2”: Flare.
O título tem múltiplos significados, mas no caso da Scambo é um reflexo que ocorre em lentes fotográficas e astronômicas.
O disco foi gravado ao vivo no estúdio, de forma acústica, com Pedro, Graco (violões de cordas de nylon), Xandão (baixo) e o convidado Thiago Trad (bateria, tocada com escovinhas).
“A gente tinha umas músicas que desde o principio tinha mais cara de violão do que de guitarra”, conta Pedro.
“Pensamos em gravar desse jeito. ‘Vamos tocar violão e fazer um registro delas, só para que não se percam’. Aí fomos para uma casa em Busca-Vida e conversamos muito sobre arranjo, sobre letra. Foi a primeira vez que fizemos isso, foi legal demais”, relata.
Animados, resolveram reproduzir o clima praieiro de Busca-Vida no estúdio.
“Chamamos (o produtor) Tiago Ribeiro, que tem um estúdio profissional em casa e transpomos o trabalho para lá. Chamamos Thiago Trad, que é amigo de Graco de longa data, justamente para não perder o clima de galera”, conta.
“Aí, para conseguir imprimir na gravação esse clima, íamos ter que gravar ao vivo, o que significa segurar a onda do perfeccionismo. Por que a verdade é que somos três perfeccionistas”, admite Pedro.
Diferenças e afinidades
O resultado está em Flare, um belo testemunho de despretensão e musicalidade apurada do grupo.
”A gente nem botou muita fé, só pensamos no registro mesmo. Nunca pensamos em fazer um puta trabalho. Quase não saiu”, jura o rapaz.
Mesmo assim, em meros quatro dias no ar, “já tinha uns sete mil downloads”, contabiliza.
O show de lançamento, no dia 16 de agosto, foi para um Teatro Vila Velha completamente lotado.
“Teve gente que teve que ir pra casa, por que esgotou. E foi dois dias depois que botamos o CD no ar, mas já tinha gente cantando as músicas. Foi uma surpresa pra gente”, conta.
O CD também estava a venda, mas o freguês podia pagar o quanto quiser. Podia até pendurar: “Ninguém vai deixar de ouvir nosso CD. Pode pegar até fiado, paga quando puder”.
As lições do passado foram aprendidas e agora, a banda vive um dia de cada vez: “O que considerávamos defeito um dos outros, não era defeito. Por que se eu monto uma banda só minha ou só de Graco ou de Xandão, não ia dar certo. O que faz a Scambo são essas diferenças e afinidades. Tudo isso continua existindo, mas hoje nos respeitamos e nos conhecemos muito mais. Tudo isso é fundamental para o trabalho. E o trabalho está acima de nós três”, conclui.
MICRO RESENHA: Scambo / Flare
O CD de retorno da Scambo é uma boa pista do caminho que eles devem seguir de agora em diante: despojamento, coração aberto, vocais delicados e bem arranjados. Tudo gravado em “take 1”, sem retoques e com toda a honestidade. Um belo disco, sim senhor.
BAIXE O ÁLBUM FLARE.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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quarta-feira, setembro 26, 2012
quinta-feira, setembro 20, 2012
O BRENGUELÉ DO ROGÊ
Um dos nomes mais destacados da nova geração de compositores da Cidade Maravilhosa, ele chega ao seu quarto álbum, Brenguelé, muito bem servido de parcerias.
Basicamente, Rogê se cercou daquilo que se convencionou chamar de “nata da black Rio”: Seu Jorge, Wilson das Neves, Arlindo Cruz, Pretinho da Serrinha, Gabriel Moura e Luis Carlinhos, entre outros.
O resultado é um álbum que vai do samba ao sambalanço sem escalas em uma sequência de faixas com o astral lá em cima.
“É um disco de balanço mesmo, de festa”, admite o músico, por telefone. “Meus discos são sempre assim, mesmo. Inclusive no processo de composição. Eu só gosto de compor quando tô felizão. Quando tô cheio de problema é mais difícil de as ideias fluírem. Tem gente que é o contrário”, conta.
Do sambalanço
Carioca até o osso (e isso é um elogio) o maior acerto de Brenguelé é tratar o sambalanço como um gênero, assumindo sem vergonha, e sim, com orgulho, o glorioso legado de Jorge Ben (como se chamava então) e Tim Maia. “A ideia é mesmo privilegiar o sambalanço, mas do nosso próprio jeito”, pontua.
“Foi meu primeiro disco pensado como um conceito só. Os outros eram mais voltados para a MPB, tinham partido alto, ponto de macumba, jongo etc”, acrescenta Rogê.
Criado ainda em meados dos anos 1960 pela prodigiosa mão direita de Jorge Ben, o estilo do sambalanço aliava a batida do samba com doses variáveis de bossa, soul e rock, tendo chegado ao auge criativo no genial LP Tábua de Esmeraldas (1973), do próprio Jorge.
“O sambalanço, que tem Jorge Ben como seu ícone, nem é tido com um gênero. Que o diga Bebeto, coitado, que sempre foi apontado com um Jorge Ben genérico”, observa Rogê.
Com o sucesso de Seu Jorge e uma maior popularização do estilo junto à uma nova geração, Rogê acredita que “está mais desenvolvido”.
“É bom lembrar que o sambalanço não é só Jorge Ben. Tem Bebeto, Copa Sete, Banda Black Rio e outros. Mas a midia simplesmente não encarou isso. Daí não caber aquela coisa de dizer que o Bebeto copiava Joge Ben. É que nem dizer que quem faz reggae imita Bob Marley ou quem faz bossa imita Tom Jobim”, reflete.
No disco, Rogê e o produtor Kassin tomaram todas as medidas para recriar o som e o clima do sambalanço, inclusive recorrer à gravação analógica em fita de rolo e trazer para o estúdio o mitológico produtor carioca Lincoln Olivetti, responsável pelos teclados.
“Eu sabia que só Kassin poderia fazer o disco que eu queria, com essa sonoridade específica”, conta.
“E foi proposta dele trazer o Lincoln, o (baterista) Paulo Braga, que tocou com Tom Jobim e Elis Regina. E o Lincoln, pelo amor de Deus, é aquilo tudo: um gênio dentro do estúdio, é até emocionante trabalhar com ele”, derrete-se Rogê.
Para sambar “na estica”
Coerente com a proposta, o álbum foi gravado ao vivo. “Voz, violão, baixo, bateria e percussão ao vivo. Só os metais e alguma percussão vieram depois”, enumera. O resultado é um álbum de sonoridade leve e para cima, mas ao mesmo tempo, rica e surpreendente.
“(No disco) Eu sinto muito João Donato, Black Rio, Copa Sete, África Brasil (LP de Jorge Ben). Bebeto está evidente em Minha Glória (faixa 2 de Brenguelé). Eu enxergo tudo isso nesse disco. É bem aquelas coisas de baile que as pessoas iam na estica, pra badalar. Mas é pra sambar mesmo, pode sambar, dançar juntinho ou separado”, convida Rogê.
BRENGUELÉ / Rogê /COQUEIRO VERDE / R$ 19,90 / www.coqueiroverderecords.com / www.rogebrasil.com.br
terça-feira, setembro 18, 2012
HUMOR, A ARMA DOS INTELIGENTES CONTRA A BURRICE DAS RELIGIÕES
Na cabeça de muitas pessoas – especialmente na dos lamentáveis neofundamentalistas de diversas correntes – religião e humor são duas coisas que não se misturam de jeito nenhum.
Sorte que nem tudo está perdido e ainda há cabeças arejadas e inteligentes o suficiente como a do cartunista niteroiense Carlos Ruas, autor da série de tiras Um Sábado Qualquer..., uma divina brincadeira com deuses das mais variadas religiões.
Surgida na internet, a série de Ruas logo migrou para um álbum autointitulado, publicado em 2011 pela Devir. Agora ele lança um segundo volume, Boteco dos Deuses.
A ideia é que, depois de criar todas as coisas, Deus (o “nosso” Deus, Cristão, pai de Jesus etc), aproveitou o sétimo dia (“um sábado qualquer”) para relaxar no boteco, aonde encontra e joga conversa fora com seus colegas, as outras divindades, algumas delas esquecidas e transformadas em mitologia (que é o maior medo de todos eles).
“Meus pais eram ateus, minha avó, médium. E eu estudei em escola católica”, conta Ruas, em entrevista por email. “Sempre gostei de estudar religião e mitologia, era um hobby que eu tinha, assim como os quadrinhos”, acrescenta.
Prepotência e absurdos
Com mais de dez mil religiões diferentes no mundo, quase todas elas proclamando-se a “verdade absoluta”, Ruas viu aí um gancho perfeito para fazer humor.
“Não tenho nada contra quem acredita nelas, mas acho muito prepotência a pessoa se achar a certa nesse oceano religioso e ver o outros como almas perdidas na vida, precisando ser resgatadas. Existem mais estrelas no universo que grãos de areia no planeta, então quem somos nós para termos todas as respostas?”, filosofa.
“Meu livro mexe com isso, mesmo o Deus cristão que atualmente é a ‘verdade do momento’. Coloque ele em um bar, dividindo a mesa com outros deuses que já foram grandes verdades um dia. Dessa situação podemos tirar bons diálogos, imagina o quanto eles têm para falar”, diverte-se.
Junte à prepotência humana aos absurdos típicos da mitologia e as possibilidades humorísticas são praticamente infinitas.
“Existem deuses com cara de elefante, deuses que nasceram de ejaculações... Cada mitologia tem sua versão para o nascimento do ser humano, uma mais engraçada que a outra”, garante Ruas.
“O Deus dos Maias tentou criar o ser humano do barro, mas ele derreteu na chuva. Aí tentou de madeira, mas ficaram muito duros. Finalmente, conseguiu criar o homem do milho, que era o "arroz e feijão" dos Maias. Só não entendo como não viramos pipoca ao ir a praia. Então você vê que com esses contrastes de criação dá para se criar muito humor”, observa.
Brincando, brincando, Ruas acaba por criar uma crítica poderosa contra a ilusão de salvação oferecida pelas religiões (por todas, sem exceção).
“Não quero ofender ninguém, mas se formos ver de um ângulo geral, a religião prejudicou a união de povos mais do que ajudou. (...) Nações travam guerras eternas, cada um com sua verdade absoluta. Enquanto o ser humano não aprender a conviver com a diversidade cultural, com os diferentes costumes de seu vizinho, dificilmente conseguiremos um bom convívio”, vê.
Apesar de todas as críticas, Ruas ainda não teve problemas com líderes religiosos exigindo sua cabeça, como já aconteceu na Europa, com cartunistas sendo ameaçados de morte por fundamentalistas muçulmanos.
“Recebo e-mails de ateus e cristãos elogiando meu trabalho. Acho que pelo traço fofinho e com um humor não ofensivo, consigo conquistar até os religiosos. Minha intenção é popularizar o debate e a filosofia desse assunto, e não escolher lados, dizendo quem está certo ou errado”, garante.
“É claro que sempre existe uma minoria radical que gosta de chamar atenção, fingindo serem muitos, mas são pequenos e barulhentos, nada mais que isso. Nunca me senti atingido”. Graças aos Deuses. Ou não?
Boteco dos Deuses / Carlos Ruas / Verus Editora/ 127 páginas/ R$ 29/ www.umsabadoqualquer.com
Sorte que nem tudo está perdido e ainda há cabeças arejadas e inteligentes o suficiente como a do cartunista niteroiense Carlos Ruas, autor da série de tiras Um Sábado Qualquer..., uma divina brincadeira com deuses das mais variadas religiões.
Surgida na internet, a série de Ruas logo migrou para um álbum autointitulado, publicado em 2011 pela Devir. Agora ele lança um segundo volume, Boteco dos Deuses.
A ideia é que, depois de criar todas as coisas, Deus (o “nosso” Deus, Cristão, pai de Jesus etc), aproveitou o sétimo dia (“um sábado qualquer”) para relaxar no boteco, aonde encontra e joga conversa fora com seus colegas, as outras divindades, algumas delas esquecidas e transformadas em mitologia (que é o maior medo de todos eles).
“Meus pais eram ateus, minha avó, médium. E eu estudei em escola católica”, conta Ruas, em entrevista por email. “Sempre gostei de estudar religião e mitologia, era um hobby que eu tinha, assim como os quadrinhos”, acrescenta.
Prepotência e absurdos
Com mais de dez mil religiões diferentes no mundo, quase todas elas proclamando-se a “verdade absoluta”, Ruas viu aí um gancho perfeito para fazer humor.
“Não tenho nada contra quem acredita nelas, mas acho muito prepotência a pessoa se achar a certa nesse oceano religioso e ver o outros como almas perdidas na vida, precisando ser resgatadas. Existem mais estrelas no universo que grãos de areia no planeta, então quem somos nós para termos todas as respostas?”, filosofa.
“Meu livro mexe com isso, mesmo o Deus cristão que atualmente é a ‘verdade do momento’. Coloque ele em um bar, dividindo a mesa com outros deuses que já foram grandes verdades um dia. Dessa situação podemos tirar bons diálogos, imagina o quanto eles têm para falar”, diverte-se.
Junte à prepotência humana aos absurdos típicos da mitologia e as possibilidades humorísticas são praticamente infinitas.
“Existem deuses com cara de elefante, deuses que nasceram de ejaculações... Cada mitologia tem sua versão para o nascimento do ser humano, uma mais engraçada que a outra”, garante Ruas.
“O Deus dos Maias tentou criar o ser humano do barro, mas ele derreteu na chuva. Aí tentou de madeira, mas ficaram muito duros. Finalmente, conseguiu criar o homem do milho, que era o "arroz e feijão" dos Maias. Só não entendo como não viramos pipoca ao ir a praia. Então você vê que com esses contrastes de criação dá para se criar muito humor”, observa.
Brincando, brincando, Ruas acaba por criar uma crítica poderosa contra a ilusão de salvação oferecida pelas religiões (por todas, sem exceção).
“Não quero ofender ninguém, mas se formos ver de um ângulo geral, a religião prejudicou a união de povos mais do que ajudou. (...) Nações travam guerras eternas, cada um com sua verdade absoluta. Enquanto o ser humano não aprender a conviver com a diversidade cultural, com os diferentes costumes de seu vizinho, dificilmente conseguiremos um bom convívio”, vê.
Apesar de todas as críticas, Ruas ainda não teve problemas com líderes religiosos exigindo sua cabeça, como já aconteceu na Europa, com cartunistas sendo ameaçados de morte por fundamentalistas muçulmanos.
“Recebo e-mails de ateus e cristãos elogiando meu trabalho. Acho que pelo traço fofinho e com um humor não ofensivo, consigo conquistar até os religiosos. Minha intenção é popularizar o debate e a filosofia desse assunto, e não escolher lados, dizendo quem está certo ou errado”, garante.
“É claro que sempre existe uma minoria radical que gosta de chamar atenção, fingindo serem muitos, mas são pequenos e barulhentos, nada mais que isso. Nunca me senti atingido”. Graças aos Deuses. Ou não?
Boteco dos Deuses / Carlos Ruas / Verus Editora/ 127 páginas/ R$ 29/ www.umsabadoqualquer.com
TRANSITO LIVRE PARA ENIO NOGUEIRA
Hoje, muito provavelmente, não há em Salvador músico mais versátil e dinâmico do que o guitarrista, cantor e compositor Enio Nogueira.
Nascido em São Paulo, mas residente em Salvador desde os oito anos – hoje está com 33 – ele transita livremente, sem barreiras nem preconceitos, do semba de Magary ao rock pesado da Vendo 147, do axé de Alexandre Peixe ao som black do seu trabalho solo, Enio & A Maloca.
Recentemente contemplado em um Edital Setorial de Música da Fundação Cultural do Estado, Enio agora dá os últimos retoques no seu segundo disco. O primeiro, Unidade Móvel, produzido por andré t., é de 2006.
“O novo já está gravado e também foi produzido por andré, mas, na loucura das parcerias, resolvi incluir mais algumas coisas que produzi com JR. Tostói (músico carioca, atuou com Caetano Veloso, Lobão e muitos outros)”, conta Enio.
“E ainda tem uma música especial, que vou lançar para download gratuito antes do CD, chamada Axé. Por que eu sou roqueiro”, sorri, quase irônico. "“Uma vez me perguntaram se sou roqueiro bonzinho. Se ser do rock é seguir aquele velho clichê de ficar se drogando e fazendo besteira por aí, prefiro não ser”", arremata.
Com participação da Sanbone Pagode Orquestra, a faixa de arranjo soul é a visão particular – ainda que não exatamente incomum – do artista para a vida: “Minha proteção é estar de pé / Se eu planto o bem /Eu colho felicidade / Sigo em sintonia de fé / Te mando um axé / Para ver se a gente fica do mesmo lado”, diz a letra.
Intencionalmente ou não, ela traduz à perfeição a postura livre e a filosofia de vida de Enio.
Dinheiro do céu
Filho de cearense com paulista, Enio chegou com a família em Salvador ainda na década de 1980, quando o pai foi transferido da capital paulista para trabalhar no Pólo Petroquímico de Camaçari.
Aos 12, encantou-se com a guitarra marca Tonante do seu vizinho.
Por obra e graça da imponderabilidade, um dia, perambulando pelas cercanias do condomínio da Avenida Paralela aonde mora ainda hoje, achou dinheiro no chão. “Eram 150 dólares. Sério”, jura.
Atitude reprovável ou não, agora não importa mais: fissurado em guitarra, o garoto não hesitou um segundo e pulou dentro de um táxi.
“Fui para o Orixás Center e comprei uma guitarra Tonante, um baixo Jennifer e uma bateria Taico. Botei tudo dentro do meu quarto”, relata, citando as marcas de instrumentos mais baratas que havia à época.
Aos 13, o fã de Metallica e Slayer formou sua primeira banda, de metal pesado. “Mas ao mesmo tempo, eu gostava muito de Luis Caldas”, pontua o músico.
“Uma das primeiras coisas que vi na minha vida foi Luis Caldas, no trio Camaleão. Era uma coisa meio Michael Jackson, do cara que era meio preto, mas fazia sucesso. Isso me inspirou. Acho que foi daí que veio essa coisa de gostar de misturar tudo”, acredita.
Depois de algum tempo, Enio vendeu a guitarra, o baixo e a bateria e comprou sua primeira guitarra profissional.
“Aí comecei a tocar com todo mundo que me abria espaço. Toquei no Garage Rock (histórico festival de rock local), com minha banda de metal, a Helltracks. Ao mesmo tempo, era amigo de Jau, que cantava no Olodum na época e me foi apresentado pelo (reggaeman) Dado Brazzawilly”, recorda-se.
Carreira agitada
Desde então, Enio já passou pela banda do próprio Jau, pela Negracor, Netinho, Funk Machine, 2 Sapos & Meio e hoje, toca com Alexandre Peixe de um lado e a Vendo 147 do outro.
Ao mesmo tempo, teve músicas gravadas por Magary Lord, Tomate e Jau. “Tô em um momento muito positivo, tirando o que tem de melhor de todas as possibilidades. Tenho minha banda, toco com Alexandre Peixe, saio do ensaio, faço música com Magary, levo essa experiência para a Vendo 147. Viver tudo isso ao mesmo tempo é legal demais”, felicita-se.
“Apesar de ser visto como sendo do rock, eu costumo dizer que faço música contemporânea brasileira”, define.
Sua banda, A Maloca, surgiu de um comentário de sua mãe que também diz muito de sua personalidade agregadora. “Minha mãe fala que eu só andava com maloqueiro, por que, daqui do condomínio, eu era o único que ia na invasão do Bate-Facho jogar bola. Depois que cresci, com meus amigos todos músicos, ela continuou dizendo que meus amigos eram maloqueiros. Aí não teve jeito. Chame de A Maloca para não ficar Enio & Os Maloqueiros”, ri.
Com A Maloca, Enio tocou em todos os inferninhos roqueiros da cidade, além de se apresentar por três anos no palco “alternativo” do Festival de Verão.
“Ainda tocamos na Concha abrindo para Nação Zumbi, nas faculdades e até na Vaquejada de Serrinha. A ideia é não ter limite para o som”, reivindica.
Pai de um bebê de sete meses, Enio teve o próprio pai morto em um assalto, perto de casa. Mas nunca deixou que esse tipo de coisa o deixasse amargo.
“Sabe, eu não faço questão que as pessoas gostem de minha música. Mas de mim. Faço o melhor para todos que estão à minha volta. Talvez venha daí essa minha facilidade de circular. Acho que isso é o que vai ficar de mim”, crê.
OUÇA: www.enioeamaloca.com.br
Nascido em São Paulo, mas residente em Salvador desde os oito anos – hoje está com 33 – ele transita livremente, sem barreiras nem preconceitos, do semba de Magary ao rock pesado da Vendo 147, do axé de Alexandre Peixe ao som black do seu trabalho solo, Enio & A Maloca.
Recentemente contemplado em um Edital Setorial de Música da Fundação Cultural do Estado, Enio agora dá os últimos retoques no seu segundo disco. O primeiro, Unidade Móvel, produzido por andré t., é de 2006.
“O novo já está gravado e também foi produzido por andré, mas, na loucura das parcerias, resolvi incluir mais algumas coisas que produzi com JR. Tostói (músico carioca, atuou com Caetano Veloso, Lobão e muitos outros)”, conta Enio.
“E ainda tem uma música especial, que vou lançar para download gratuito antes do CD, chamada Axé. Por que eu sou roqueiro”, sorri, quase irônico. "“Uma vez me perguntaram se sou roqueiro bonzinho. Se ser do rock é seguir aquele velho clichê de ficar se drogando e fazendo besteira por aí, prefiro não ser”", arremata.
Com participação da Sanbone Pagode Orquestra, a faixa de arranjo soul é a visão particular – ainda que não exatamente incomum – do artista para a vida: “Minha proteção é estar de pé / Se eu planto o bem /Eu colho felicidade / Sigo em sintonia de fé / Te mando um axé / Para ver se a gente fica do mesmo lado”, diz a letra.
Intencionalmente ou não, ela traduz à perfeição a postura livre e a filosofia de vida de Enio.
Dinheiro do céu
Filho de cearense com paulista, Enio chegou com a família em Salvador ainda na década de 1980, quando o pai foi transferido da capital paulista para trabalhar no Pólo Petroquímico de Camaçari.
Aos 12, encantou-se com a guitarra marca Tonante do seu vizinho.
Por obra e graça da imponderabilidade, um dia, perambulando pelas cercanias do condomínio da Avenida Paralela aonde mora ainda hoje, achou dinheiro no chão. “Eram 150 dólares. Sério”, jura.
Atitude reprovável ou não, agora não importa mais: fissurado em guitarra, o garoto não hesitou um segundo e pulou dentro de um táxi.
“Fui para o Orixás Center e comprei uma guitarra Tonante, um baixo Jennifer e uma bateria Taico. Botei tudo dentro do meu quarto”, relata, citando as marcas de instrumentos mais baratas que havia à época.
Aos 13, o fã de Metallica e Slayer formou sua primeira banda, de metal pesado. “Mas ao mesmo tempo, eu gostava muito de Luis Caldas”, pontua o músico.
“Uma das primeiras coisas que vi na minha vida foi Luis Caldas, no trio Camaleão. Era uma coisa meio Michael Jackson, do cara que era meio preto, mas fazia sucesso. Isso me inspirou. Acho que foi daí que veio essa coisa de gostar de misturar tudo”, acredita.
Depois de algum tempo, Enio vendeu a guitarra, o baixo e a bateria e comprou sua primeira guitarra profissional.
“Aí comecei a tocar com todo mundo que me abria espaço. Toquei no Garage Rock (histórico festival de rock local), com minha banda de metal, a Helltracks. Ao mesmo tempo, era amigo de Jau, que cantava no Olodum na época e me foi apresentado pelo (reggaeman) Dado Brazzawilly”, recorda-se.
Carreira agitada
Desde então, Enio já passou pela banda do próprio Jau, pela Negracor, Netinho, Funk Machine, 2 Sapos & Meio e hoje, toca com Alexandre Peixe de um lado e a Vendo 147 do outro.
Ao mesmo tempo, teve músicas gravadas por Magary Lord, Tomate e Jau. “Tô em um momento muito positivo, tirando o que tem de melhor de todas as possibilidades. Tenho minha banda, toco com Alexandre Peixe, saio do ensaio, faço música com Magary, levo essa experiência para a Vendo 147. Viver tudo isso ao mesmo tempo é legal demais”, felicita-se.
“Apesar de ser visto como sendo do rock, eu costumo dizer que faço música contemporânea brasileira”, define.
Sua banda, A Maloca, surgiu de um comentário de sua mãe que também diz muito de sua personalidade agregadora. “Minha mãe fala que eu só andava com maloqueiro, por que, daqui do condomínio, eu era o único que ia na invasão do Bate-Facho jogar bola. Depois que cresci, com meus amigos todos músicos, ela continuou dizendo que meus amigos eram maloqueiros. Aí não teve jeito. Chame de A Maloca para não ficar Enio & Os Maloqueiros”, ri.
Com A Maloca, Enio tocou em todos os inferninhos roqueiros da cidade, além de se apresentar por três anos no palco “alternativo” do Festival de Verão.
“Ainda tocamos na Concha abrindo para Nação Zumbi, nas faculdades e até na Vaquejada de Serrinha. A ideia é não ter limite para o som”, reivindica.
Pai de um bebê de sete meses, Enio teve o próprio pai morto em um assalto, perto de casa. Mas nunca deixou que esse tipo de coisa o deixasse amargo.
“Sabe, eu não faço questão que as pessoas gostem de minha música. Mas de mim. Faço o melhor para todos que estão à minha volta. Talvez venha daí essa minha facilidade de circular. Acho que isso é o que vai ficar de mim”, crê.
OUÇA: www.enioeamaloca.com.br