Dizem que os grandes diretores de cinema costumam fazer sempre o mesmo filme. Se isso é verdade, Tim Burton – ainda que críticos mais rigorosos ou puristas do cinema não concordem – deve ser mais um a figurar na galeria desse “grandes”. Isso fica mais ou menos claro na leitura de O Estranho Mundo de Tim Burton, almanaque compilado por Paul A. Woods.
Se Woody Allen tem, como principais temas permeando sua carreira, neuroses urbanas e relacionamentos amorosos, Burton tem o sentimento de inadequação e a constante presença da morte em todos os seus filmes. Seus personagens estão sempre fora de lugar, em alguma jornada muito insana.
Se John Ford tinha John Wayne como ator-fetiche e Hitchcock tinha James Stewart, como espelhos de si próprios refletidos na tela, Burton tem Johnny Depp, uma parceria que já atravessa duas décadas e rendeu mais de dez filmes.
Se Hitchcock tinha Bernard Herrmann como compositor da trilha sonora de praticamente todos os seus filmes (há até quem diga que, na verdade, o Mestre do Suspense é que criava filmes para as partituras de Herrmann), Burton tem em Danny Elfman o autor da música de todos os seus filmes.
Há ainda outras ocorrências de fidelidade canina do diretor, como a figurinista Colleen Atwood e os roteiristas John August e Caroline Thompson.
Mas o fato é que, com ou sem todas essas parcerias, Burton é mesmo um sujeito muito peculiar – e foi graças essa peculiaridade que ele construiu um imaginário cinematográfico próprio, carregado de originalidade (ainda que suas referências sejam claras, quase óbvias) e largamente admirado mundo afora.
O eterno moleque pálido
Quem estiver procurando uma biografia de Tim Burton, este ainda não é o livro. Organizado cronologicamente pela ordem de produção dos filmes (começando pelo curta-metragem de animação Vincent, de 1982, até Alice no País das Maravilhas, 2010), O Estranho Mundo de Tim Burton reúne diversos textos jornalísticos norte-americanos escritos na época de lançamento de cada filme.
A edição original só cobre a carreira de Burton até A Noiva-Cadáver (2005), seu espetacular retorno ao cinema de animação desde O Estranho Mundo de Jack (1992).
A partir de Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007), os textos são assinados pelo tradutor do livro, o jornalista Cassius Medauar, em uma atualização exclusiva para a edição brasileira.
Para admiradores de Tim Burton (ou mesmo de Johnny Depp), o livro é uma ótima pedida, sendo possível traçar a evolução artística do descabelado diretor através de suas reações às críticas e declarações, captadas in loco pelos jornalistas – seja nos sets de filmagem, seja nas estreias dos filmes.
Mas a lição que fica mesmo é que, não importa o quanto envelheça (ele agora está com 53 anos), Burton será sempre o moleque pálido que, mesmo morando na ensolarada Califórnia aonde nasceu, não sai da sala escura do cinema por nada deste mundo – ou mesmo de outros mundos, que ele já demonstrou conhecer tão bem.
O Estranho Mundo de Tim Burton / Paul A. Woods / LeYa / 352 p. / R$ 44,90 / www.leya.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
11 comentários:
Oh my god! É o Tintim das Trevas, em busca de vingança pelo cruel assasinato do seu maior amigo, o cachorrinho Milú!
http://www.bleedingcool.com/2011/11/02/afterwards-they-will-explode-tintin-the-gritty-reboot/
olha so estas declarações:
1-) Vejo os grandes debates do mundo e percebo a ausencia disso na Bahia, estamos muito centrados em nos mesmos.
2-) A Bahia criou uma Africa que so existe aqui.Nem todos na Africa se vestem com roupa de "baiana", a maioria veste roupa ocidental.
3-) A Bahia perdeu sua capacidade criativa nas areas de literatura, teatro, musica, artes visuais, lazer e entretenimento.A Bahia estagnou, alias voltou pra tras.
Quem as fez? Marcelo Nova? Lobão? alguem resentido do rock baiano?
Nope. Ninguem menos que João Jorge do Olodum na revista Muito de ontem. Opa, roubaram o discurso da gente. Até alguns dos caras que fizeram parte da construção do mito da "baianidade" contemporanea ja se tocaram. Tem gente que acha que não é nada disso e que no maximo admite "pequenos " problemas, mas que de uma maneira geral a coisa melhorou. esta porra vem degringolando ha no minimo uns 20 anos.
Quem falou que a Bahia criou uma Africa que so existe aqui foi Emanuel Araujo, João Jorge completa dizendo que a Africa se modernizou e quebrou uma serie de esteriotipos
Pois é, Bramis! A verdade é que, fora a gangue formada por um punhado de políticos (todo mundo sabe quais), radialistas, apresentadores de TV, empresários inescrupulosos e seus pseudoartistas (leia-se cantores de pagode, arrocha e axé) o sucateamento da outrora pujante cultura baiana é ruim pra todo mundo. Principalmente para as gerações de pobres coitados ignorantes e imbecilizados que cresceram e ainda crescem achando que essa merda toda é que é música. A turba de bermuda berrante, boné de aba reta e chinelos... A bahia é deprimente.
Li essa entrevista/opinião na Muito também...
Providencialíssima, tendo em vista tudo o que já foi dito e discutido por aqui... e ainda será, espero! Vive la resistence!
É uma tsunami de merda cultural que vem ocorrendo bem há uns 20 anos mesmo, como disse Braminha, e só não vê e ouve quem não quer...
ARRE!!!
Que peeeeeeernas!
Alguem tinha que dizer.
Linda capa do C2 do periódico da Tancred Snows Av. desta terça, com texto desse Chico aí...
Grande sacada, Chico! Eu sempre comento por aí o quanto gosto e acho importante a arte de capa que acompanha um LP, só pra citar essa mídia...
É uma arte em sí, em mí, em lá, em dó, em que você quiser, um deleite visual, mas também tátil, pra acompanhar-nos na audição do que vem encartado. Eu ficava, e ainda fico, sempre procurando por detalhes em capas de disco, brincando, como se pudesse tocá-los, movê-los, e as de LP são insuperáveis, insubstituíveis...
Joni Mitchell em entrevista a Neil Strauss: “Produtor? Eu não uso produtor”, diz Mitchell. “Mozart nunca usou um produtor!”
http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/arch2011-11-13_2011-11-19.html#2011_11-15_09_59_21-147808734-0
Valheu, Marcionílio!
Logo mais posto essa matéria por aqui.
Comprarei o livro... dar-me-ei-lo de presente de aniversário...
Outra coisa: AMO Joni Mitchell!
Outra coisa II: o link não abriu, Chicvs...
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