Recentemente, causou polêmica o projeto de lei da deputada estadual Luiza Maia (PT), que proíbe instâncias governamentais de contratarem para seus eventos bandas cujas letras de teor sexual desrespeitem e denigram a mulher.
Diante de um ambiente cultural tão degradado e violento quanto o da música popularesca baiana (e aqui vão meus agradecimentos aos senhores governantes que, nas últimas décadas, tão apaixonadamente se dedicaram a esmagar nosso sistema educacional, gerando esse cenário apocalíptico), uma banda como a Copular, cujas letras falam basicamente de... sexo, são brincadeira de criança – no bom sentido.
A Copular é uma daquelas bandas que um ex-titular dessa coluna, Ricardo Cury, definiria como mais uma “peculiaridade do rock baiano”.
Liderada pelo vocalista André Borges, ela surgiu a partir das letras que ele, inicialmente, criava para sua banda de hardcore, a BR64, com algum trânsito no cenário.
“Só que elas não se cabiam. Aí, pensei em fazer essa outra banda”, diz.
Entre a sutileza e o explícito
A Copular ainda não fez shows, encontrando-se em pleno processo de gravação de um álbum, cujas gravações demo foram recentemente postadas no MySpace, dando uma ideia do que vem por aí.
Entre os assuntos abordados nas faixas disponibilizadas, estão ninfomania (Brincar), sexo grupal (Swing), pedofilia entre religiosos (Mal-criada) e sexo anal (Objetivo), com variações de nível na abordagem.
“A gente fala de sexo e pornografia com ironia. Na nossa opinião, o sexo está em tudo. É só observar como ele permeia as relações sociais, financeiras, na literatura... O sexo está em todos os contextos”, acredita.
Se em Objetivo e Brincar, o refrãos não tem meias palavras, em Swing e Mal-criada, as letras são um pouco mais sutis.
“Não nos interessa retratara a mulher como objeto”, delimita André. “Quero falar de sexo como um tema universal, sem ofender ninguém, de uma forma que tanto homens quanto mulheres possam ouvir e se identificar”, acrescenta.
Formada por André, Adamis Ribeiro (bateria), Elivan e Ivan Orhdep se revezando entre a guitarra e o baixo, a Copular deve disponibilizar seu inventário sexual para download gratuito já em outubro.
Ouça: www.myspace.com/copularmpb
Foto: Tatiana Miranda / Divulgação
NUETAS
Show de diva do blues do Canadá
De passagem por Salvador, a cantora canadense de blues Dawn Tyler Watson (em foto de Mario Groleau) faz apresentação única neste sábado, no Dubliner’s Irish Pub (Praia da Paciência, 257), acompanhada pelos músicos locais da banda Água Suja. Residente em Montreal, Watson é vencedora seis vezes consecutivas do Quebec Lys Blues Award e de outras premiações do blues internacional, como o Screaming Jay Hawkins Award (pela performance ao vivo). O show está marcado para as 22 horas. Ingressos a R$ 20.
Niver do Sertanília
A Sertanília faz festa de um ano de som no Teatro Vila Velha. Elogiado pela sua sofisticada abordagem da música popular, o grupo recebe no palco Pietro Leal (Pirigulino Babilake) e o cantador Xangai. Quinta-feira, 20 horas, R$ 10 e R$ 20.
Trônica Ali do Lado
As bandas Trônica e Os Normandos fazem show no Ali do Lado Boteco Musical nesta sexta-feira, às 21 horas. R$ 10 (rapazes com nome na lista) e R$ 5 (moças).
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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quarta-feira, agosto 31, 2011
segunda-feira, agosto 29, 2011
TREMENDÃO AINDA DÁ NO COURO!
“Avisa à mulherada que eu tô chegando, viu? Avise às baianas”, pede com ênfase Erasmo Carlos, voz firme e decidida do outro lado da linha.
Ei, não se é conhecido como Tremendão por cinco décadas à toa, certo?
Como se para lembrar – como se precisasse – que ainda dá no couro (e gosta), Erasmo, aos 70 anos recém-completos em julho último, está à toda, com quatro shows na Bahia nos próximos dias e um disco novo na praça: Sexo (Coqueiro Verde).
O primeiro show foi sábado, em Lençóis, no Festival de Inverno que agitou a Chapada Diamantina.
E entre os dias 9 e 11 de setembro, ele aporta em Salvador, para três datas no Cine-Teatro Casa do Comércio.
Com Sexo, Erasmo completa a segunda e última parte de uma trilogia que estava planejada para acabar por aqui mesmo.
Explica-se: em 2009, ele lançou o elogiado álbum Rock ‘n’ Roll, que marcou seu retorno ao gênero que lhe deu fama, ainda na Jovem Guarda.
“Quando eu gravei Rock 'n' Roll, todo mundo começou a me perguntar se na sequência, viria Sexo & Drogas”, ri o roqueiro-mór.
“Mas isso é a mentalidade de pessoas que ficaram escravizadas nos anos 1970. Drogas não fazem mais parte da minha vida, e certamente não será este o título do meu próximo disco”, avisa, de antemão.
“Mas aí pensei, por que não fazer Sexo? Aí, fiz”.
Como se sabe, desde o lançamento de Rock 'n' Roll, Erasmo promoveu este retorno às suas raízes roqueiras.
"Passei a dar mais foco a isso. Eu comecei no rock, mas depois me aventurei por outros caminhos da MPB. Ela tem um leque muito grande, sabe, a MPB permite isso por que oferece muitas influências e eu quis usar todas elas. Mas, mais recentemente resolvi focar mesmo no rock 'n' roll, que foi onde comecei saca"?
Como se sabe, para fazer um bom Sexo, parceiros bem colocados são essenciais. Além do produtor Liminha, Erasmo contou neste disco com parcerias bem azeitadas, como Arnaldo Antunes (nas faixas Kamasutra e Roupa Suja), Adriana Calcanhoto (Seu Homem Mulher), Nelson Motta (Vênus e Marte e E Nem Me Disse Adeus) e Chico Amaral (Sexo e Humor).
“Quando liguei para eles e pedi as letras, eu só disse que o nome do disco seria Sexo, e cada um que fizesse o que quisesse dentro do tema”, conta.
“Se fizesse todas as letras, eu acabaria me repetindo. Fiz umas cinco ou seis, só. Foi bom assim, por que vi o que os outros pensam sobre sexo também”, crê.
Ao contrário do que a capa pouco sutil pode sugerir, a forma com que Erasmo e seus aliados abordam o tema é elegante – sem ser pudica. “Eu faço o que eu sinto”, delimita.
“Eu tenho que impor meu lugar, colocar esse tipo de música aonde pode não ser aceito. Alguém tem que fazer isto, senão estaria fazendo músicas de adolescente. Comercialmente, seria ótimo, eu estaria mais nas paradas, nas TVs”, reflete.
“Mas esse não é meu negocio. Eu quero mostrar para os adolescentes que os pais deles também amam – e pegam até mais pesado do que eles no sexo”, garante.
Cheio de gás, Erasmo incorporou aos seus músicos de acompanhamento o jovem power trio de estilo sessentista Filhos da Judith, que lançou há pouco também seu primeiro álbum pela mesma Coqueiro Verde.
"Esses meninos fazem um trabalho vocal muito bom, é uma coisa que sou apaixonado. Junto com mminha voz fica demais. Eu amo vocal, sou um dos poucos artistas que prestigiam o trabalho vocal. Veja bem, não estou falando de coro. Isso todo mundo faz, é vocal mesmo. Inclusive, meu primeiro conjunto foi vocal, Os Snakes", recorda.
“A música evolui, conforme a gente amadurece. Eu faço o que sinto agora. Eu fazia rock adolescente quando era jovem. Depois fui ficando maduro, conhecendo a vida. Sempre fui muito sincero, honesto e digno ao reproduzir essas coisas, me sinto a vontade de cantar as músicas adolescentes da Jovem Guarda por que eu as fiz assim. Não as faria hoje. São muito inocentes para mim”, conclui, sábio.
Erasmo Carlos / Show Sexo & Rock 'n' Roll / Teatro SESC Casa do Comércio / 09, 10 e 11 de setembro, 21 horas / No dia 11, às 20 horas / R$ 100 e R$ 50
quinta-feira, agosto 25, 2011
CHIP TRIO: ROCK SEM MISTURA
A Chip Trio (em foto de Solange Valladão), banda formada há menos dois anos e batalhando espaço no cenário, é uma coisa cada vez mais rara em Salvador: é um grupo que não tem vergonha de se assumir como “de rock” – assim, puro, sem gelo.
Sim, por que, parece que de uns tempos para cá, a rapaziada anda meio “cheia de dedos” para bater no peito e se dizer “banda de rock”.
Sabe como é, hoje pega bem dizer que tem influência de Chico (não eu) e Caê, entre outros medalhões.
Agradeçam àquela banda dos cariocas barbudos, cujo legado, além de um punhado de canções apenas razoáveis, foi espalhar entre jovens impressionáveis a ilusão de que estamos diante de uma nova era de chicos buarques de garagem.
“Pois é, engraçado isso, virou mesmo tendência”, concorda o baixista Ricardo Cadinho, que ao lado de Angelo Medrado (bateria) e Carlos Barros (voz e guitarra), forma a Chip Trio.
“Sou um cara que desde criança ouve várias coisas. Sou avesso a ouvir uma coisa só. Mas hoje tem essa coisa politicamente correta, não se pode falar mal de nada”, nota Ricardo.
Sem frescura, como o som de sua banda, Ricardo avisa logo que a Chip Trio não tem mistério: “Não é nada inovador, tá ligado? Eu só quero fazer um negócio que me deixe feliz e satisfeito”, delimita.
"Só queremos tocar rock 'n' roll. Mas não queremos ser tipo wanna be, entendeu? Não nos esforçamos para parecer uma banda de Nova York ou de São Paulo. Procuramos uma coisa mais próxima, de ser baiano e rocker. Mas sem mistureba. Nada contra quem faz, mas não queremos forçar a barra", detalha.
Tesão e provocação
“Se você tá fazendo música com alegria e com verdade, acaba contagiando até quem não gosta! Tem gente que foi no nosso show e disse ‘Pô, vocês tem um astral bom no palco’. É por que a gente sobe com sangue no olho, com tesão para tocar, entende”? Com certeza, Ricardo.
Fundado em fevereiro de 2010, este power trio se formou no recital de formatura de Angelo na Escola de Música da Ufba.
“Ele tinha que fazer algumas peças eruditas e encerrar com uma popular. Aí ele disse: ‘quero tocar com vocês’. Fizemos Little Wing, Purple Haze (ambas de Jimi Hendrix) e Highway Star (Deep Purple). Foi uma provocação”, conta.
A partir daí, passaram a ensaiar e tocar ao vivo, pelo menos, uma vez por mês nos inferninhos da cidade. E começaram a compor. Uma das canções próprias, Abaixo a Gravidade, é inspirada no clássico média-metragem baiano O Superoutro (1989), de Edgar Navarro.
“Essa é do Carlos (guitarrista). O cara viu e pirou. Assim como esse filme, nossas músicas são inspiradas na cidade”, diz.
Chip Trio / Show com a banda ElesEu / Sexta-feira, 21 horas / Dubliner’s Irish Pub (R. da Paciência, 257, Rio Vermelho) / R$ 10 (meia entrada para psicólogos e estudantes de psicologia)
NUETAS
Eric Assmar Trio rocks
O guitarrista Eric Assmar dispensa apresentações. Acompanhado por Rafael Zumaeta (baixo) e Thiago Gomes (bateria), o rapaz vai soltar faísca pra todo lado sexta-feira, no Balthazar (Shopping Cidade, Itaigara). Leve proteção para os olhos. 22 horas, livre na varanda, R$ 10 (salão) R$ 15 (mezanino).
Mizeras originais
Comemorando breve passagem do baterista original, Jederknight (hoje residindo em Maceió) por Salvador, Os Mizeravão levam seu refestelo alucinado ao Portela Café (Rua Itabuna, 304, Rio Vermelho). Sexta-feira, 22 horas, R$ 25.
Dão de graça
De volta de Luanda (capital de Angola), aonde fez alguns shows e gravou um clipe, Dão & A Caravanablack fazem show gratuito no Parque da Cidade, domingo, 4 de setembro, às 11 horas.
Sim, por que, parece que de uns tempos para cá, a rapaziada anda meio “cheia de dedos” para bater no peito e se dizer “banda de rock”.
Sabe como é, hoje pega bem dizer que tem influência de Chico (não eu) e Caê, entre outros medalhões.
Agradeçam àquela banda dos cariocas barbudos, cujo legado, além de um punhado de canções apenas razoáveis, foi espalhar entre jovens impressionáveis a ilusão de que estamos diante de uma nova era de chicos buarques de garagem.
“Pois é, engraçado isso, virou mesmo tendência”, concorda o baixista Ricardo Cadinho, que ao lado de Angelo Medrado (bateria) e Carlos Barros (voz e guitarra), forma a Chip Trio.
“Sou um cara que desde criança ouve várias coisas. Sou avesso a ouvir uma coisa só. Mas hoje tem essa coisa politicamente correta, não se pode falar mal de nada”, nota Ricardo.
Sem frescura, como o som de sua banda, Ricardo avisa logo que a Chip Trio não tem mistério: “Não é nada inovador, tá ligado? Eu só quero fazer um negócio que me deixe feliz e satisfeito”, delimita.
"Só queremos tocar rock 'n' roll. Mas não queremos ser tipo wanna be, entendeu? Não nos esforçamos para parecer uma banda de Nova York ou de São Paulo. Procuramos uma coisa mais próxima, de ser baiano e rocker. Mas sem mistureba. Nada contra quem faz, mas não queremos forçar a barra", detalha.
Tesão e provocação
“Se você tá fazendo música com alegria e com verdade, acaba contagiando até quem não gosta! Tem gente que foi no nosso show e disse ‘Pô, vocês tem um astral bom no palco’. É por que a gente sobe com sangue no olho, com tesão para tocar, entende”? Com certeza, Ricardo.
Fundado em fevereiro de 2010, este power trio se formou no recital de formatura de Angelo na Escola de Música da Ufba.
“Ele tinha que fazer algumas peças eruditas e encerrar com uma popular. Aí ele disse: ‘quero tocar com vocês’. Fizemos Little Wing, Purple Haze (ambas de Jimi Hendrix) e Highway Star (Deep Purple). Foi uma provocação”, conta.
A partir daí, passaram a ensaiar e tocar ao vivo, pelo menos, uma vez por mês nos inferninhos da cidade. E começaram a compor. Uma das canções próprias, Abaixo a Gravidade, é inspirada no clássico média-metragem baiano O Superoutro (1989), de Edgar Navarro.
“Essa é do Carlos (guitarrista). O cara viu e pirou. Assim como esse filme, nossas músicas são inspiradas na cidade”, diz.
Chip Trio / Show com a banda ElesEu / Sexta-feira, 21 horas / Dubliner’s Irish Pub (R. da Paciência, 257, Rio Vermelho) / R$ 10 (meia entrada para psicólogos e estudantes de psicologia)
NUETAS
Eric Assmar Trio rocks
O guitarrista Eric Assmar dispensa apresentações. Acompanhado por Rafael Zumaeta (baixo) e Thiago Gomes (bateria), o rapaz vai soltar faísca pra todo lado sexta-feira, no Balthazar (Shopping Cidade, Itaigara). Leve proteção para os olhos. 22 horas, livre na varanda, R$ 10 (salão) R$ 15 (mezanino).
Mizeras originais
Comemorando breve passagem do baterista original, Jederknight (hoje residindo em Maceió) por Salvador, Os Mizeravão levam seu refestelo alucinado ao Portela Café (Rua Itabuna, 304, Rio Vermelho). Sexta-feira, 22 horas, R$ 25.
Dão de graça
De volta de Luanda (capital de Angola), aonde fez alguns shows e gravou um clipe, Dão & A Caravanablack fazem show gratuito no Parque da Cidade, domingo, 4 de setembro, às 11 horas.
terça-feira, agosto 23, 2011
VIVENDO O SONHO
A incrível trajetória do roqueiro baiano Lucas Ferraz, do underground local para o Zenith, a casa de shows mais chique de Paris, abrindo para Slash
Cinco de julho de 2010, camarim do Rockhal, a casa de shows mais importante de Luxemburgo, o minúsculo ducado europeu encravado entre a França, a Bélgica e a Alemanha.
O músico baiano Lucas Ferraz, vocalista e guitarrista da banda Porn Queen, relaxa o nervosismo após a passagem de som para o show de logo mais à noite – o mais importante de sua vida.
De repente, um sujeito magro e sorridente, cabeludo, descalço e sem camisa irrompe no recinto, sem aviso.
Cumprimenta Lucas e seus colegas de banda, elogia o som e a versão deles para Paperback Writer (clássico dos Beatles). Amistoso, joga conversa fora por mais algum tempo, depois se despede e se retira.
Ei, foi o Slash mesmo?
Os rapazes – Lucas, o também baiano Fred Barreto (guitarra) e os nativos Yves DeVille (bateria) e Dan Fastro (baixo) – se entreolham, ainda meio sem acreditar.
Slash, um dos músicos mais emblemáticos do hard rock, o mítico ex-guitarrista do Guns ‘n’ Roses e cujo show em Luxemburgo eles estavam prestes a fazer o número de abertura, acabara de elogia-los.
Nada mal para quem, poucos anos antes, amargava a indiferença e a falta de oportunidades reservada aos talentos baianos que não rezam pela cartilha da música popularesca de baixo nível em Salvador.
Fundador de comunidade de fãs, Lucas realizou sonho ao fazer contato via internet com rock star
Neto de portugueses que imigraram para a Bahia, Lucas Ferraz começou no rock local integrando a banda Carpe Beer – a mesma na qual se iniciou um dos maiores talentos da música baiana hoje, o produtor e multi-instrumentista Tadeu Mascarenhas (líder da Radiola).
“Estreamos a banda no Creole Cajun (casa no Pelourinho, ativa em meados dos anos 1990), abrindo para a então Dr. Cascadura”, lembra Lucas.
O nome da banda, um trocadilho infame porém simpático com a expressão em latim carpe diem (aproveite o dia), foi decidido vinte minutos antes do show.
“Criamos ali na hora, para Fábio (Cascadura) poder chamar a gente pro palco”, ri. A Carpe Beer durou até o início de 2001 – “Ou 2002? Desculpe, sou horrível de datas”, avisa Lucas.
Inquieto, poucos meses depois, ele já estava integrando a Stancia, uma banda que já existia no cenário, mas era pouco conhecida. “Os caras meio que só tocavam no interior, naquele lance de matar cachê. Aí quando eu entrei, propus que párassemos um pouco para gravar, já que eu tinha uma porrada de música composta”, relata.
Com o chapa Tadeu na produção, a Stancia lançou um álbum em 2005, que apesar de ter agradado ao povo do rock local, teve pouca repercussão.
Pouco tempo depois, a banda acabou, por “problemas internos”. “O que acontece é que eu encaro a música de forma profissional, mas parte do pessoal ainda estava naquela de ‘vida louca’, bebendo muito”, conta.
A gota d’água foi um malfadado show em um festival na cidade de Araraquara (SP). “Tivemos que segurar a onda de alguns integrantes que estavam, como direi, fora de controle. Aí, em janeiro de 2007, saí da Stancia”, continua.
Dois baianos na Europa
Depois de algum tempo trabalhando no estúdio de Álvaro Tattoo Medrado – com o qual fundou a banda Mortícia – e em um escritório de análise de crédito, resolveu seguir os pais e ir embora para Luxemburgo.
“Fui demitido do escritório com mais umas 15 pessoas. Casado e com um filho pequeno, a coisa ficou feia pra mim. Como meus pais já moravam lá há mais de dez anos, fui”, conta.
“A princípio, não tinha intenção de trabalhar com música”, jura. Na Europa, Lucas cumpriu o itinerário comum a qualquer imigrante, lavando pratos e janelas.
Pela internet, logo começou a se comunicar com uma banda alemã – e chegou mesmo a integrar o grupo por um breve período, mas não deu certo. “Saí por que não me deixavam compor. Sem espaço, não dá”, diz.
A experiência alemã, porém, serviu para aproximá-lo de outro baiano em solo europeu, o guitarrista Fred Barreto.
“Eu já o conhecia de Salvador, mas ele já estava lá na Europa há algum tempo, tocando com sua banda de blues, a Fred Barreto Group, na Alemanha”, conta. Logo, Lucas e Fred começaram a frequentar a casa um do outro, fazendo som, trocando ideias.
O lance do Slash
“Aí aconteceu o lance do Slash”. Fã de longa data do Guns ‘n’ Roses e de seu emblemático guitarrista, Lucas havia criado na internet uma comunidade de fãs: Slash Army.
“Um dia, fiz umas perguntas para ele, via Twitter. Não é que ele respondeu?”, admira-se.
De mansinho e de forma desinteressada, Lucas foi mantendo contato com o rock star. “Eu postava a foto de meu equipamento e ele dava opiniões, tipo, ‘ah, esse amplificador é bom’”, relata.
Até que um dia, foi agendado um show dele em Luxemburgo. “Aí, como dizia minha avó, o diabo atentou”, ri.
Segundo Lucas, a iniciativa para se encontrarem pessoalmente partiu do próprio Slash. “Ele me avisou que ia rolar o show lá e disse: ‘vamos nos conhecer’”, conta.
Mais rápido do que Slash é capaz de tocar uma escala de blues, Lucas entrou em contato com a casa aonde ia rolar a apresentação do guitarrista.
“Disse que tinha uma banda, uma comunidade de fãs de Slash e solicitei uma oportunidade para abrir o show dele. Vinte minutos depois, o cara me responde, dizendo que tudo bem”, continua.
Passou um mês. Poucos dias antes do show, Slash manda uma mensagem para Lucas: “É você que está tentando abrir meu show em Luxemburgo?”
Lucas sentiu o sangue abandonar seu rosto. E se o homem ficou chateado? O temor, felizmente, não se justificou.
“Que nada! O cara perguntou por que eu não falei diretamente com ele! Aí eu respondi que não queria tirar vantagem de nossa amizade. Ele respondeu: me manda o link de sua banda”, conta Lucas.
Pouco depois, Slash manda outra mensagem para Lucas: “Vai ser um prazer ter a Porn Queen abrindo nosso show em Luxemburgo”.
No dia do show, Slash foi totalmente amistoso com Lucas e seus companheiros. “Tive que esconder meu lado fã e mostrar o amigo”, ri Lucas.
Bem-sucedida, a apresentação da Porn Queen selou a amizade entre os membros das duas bandas. Ainda hoje, eles mantém contato entre si.
Cerca de um ano se passou. A Porn Queen se apresentou em festivais como o Rock Um Knvedler, o mais importante de Luxembrurgo. “Fomos a última banda local antes das atrações principais”, afirma, sem esconder o orgulho.
Logo foram convidados para abrir o show de outros ex-Guns ‘n’ Roses, o baixista Duff McKagan: “Foi em Lille (França). Logo que nos encontrou, Duff foi dizendo: ‘Só ouço falar de vocês agora! Sinal que estão fazendo tudo certo’”, lembra.
Em 12 de julho último, foram solicitados para abrir o show de Slash novamente – desta vez, em Paris, no lendário Le Zenith, uma das casas de show mais tradicionais da Europa.
“Show para sete mil pessoas, lotação esgotada. Devo confessar que a ficha ainda não caiu”, sorri, certo que outras fichas ainda virão.
FOTOS: TOM DI MAGGIO / Divulgação
Conheça: PORN QUEEN
Cinco de julho de 2010, camarim do Rockhal, a casa de shows mais importante de Luxemburgo, o minúsculo ducado europeu encravado entre a França, a Bélgica e a Alemanha.
O músico baiano Lucas Ferraz, vocalista e guitarrista da banda Porn Queen, relaxa o nervosismo após a passagem de som para o show de logo mais à noite – o mais importante de sua vida.
De repente, um sujeito magro e sorridente, cabeludo, descalço e sem camisa irrompe no recinto, sem aviso.
Cumprimenta Lucas e seus colegas de banda, elogia o som e a versão deles para Paperback Writer (clássico dos Beatles). Amistoso, joga conversa fora por mais algum tempo, depois se despede e se retira.
Ei, foi o Slash mesmo?
Os rapazes – Lucas, o também baiano Fred Barreto (guitarra) e os nativos Yves DeVille (bateria) e Dan Fastro (baixo) – se entreolham, ainda meio sem acreditar.
Slash, um dos músicos mais emblemáticos do hard rock, o mítico ex-guitarrista do Guns ‘n’ Roses e cujo show em Luxemburgo eles estavam prestes a fazer o número de abertura, acabara de elogia-los.
Nada mal para quem, poucos anos antes, amargava a indiferença e a falta de oportunidades reservada aos talentos baianos que não rezam pela cartilha da música popularesca de baixo nível em Salvador.
Fundador de comunidade de fãs, Lucas realizou sonho ao fazer contato via internet com rock star
Neto de portugueses que imigraram para a Bahia, Lucas Ferraz começou no rock local integrando a banda Carpe Beer – a mesma na qual se iniciou um dos maiores talentos da música baiana hoje, o produtor e multi-instrumentista Tadeu Mascarenhas (líder da Radiola).
“Estreamos a banda no Creole Cajun (casa no Pelourinho, ativa em meados dos anos 1990), abrindo para a então Dr. Cascadura”, lembra Lucas.
O nome da banda, um trocadilho infame porém simpático com a expressão em latim carpe diem (aproveite o dia), foi decidido vinte minutos antes do show.
“Criamos ali na hora, para Fábio (Cascadura) poder chamar a gente pro palco”, ri. A Carpe Beer durou até o início de 2001 – “Ou 2002? Desculpe, sou horrível de datas”, avisa Lucas.
Inquieto, poucos meses depois, ele já estava integrando a Stancia, uma banda que já existia no cenário, mas era pouco conhecida. “Os caras meio que só tocavam no interior, naquele lance de matar cachê. Aí quando eu entrei, propus que párassemos um pouco para gravar, já que eu tinha uma porrada de música composta”, relata.
Com o chapa Tadeu na produção, a Stancia lançou um álbum em 2005, que apesar de ter agradado ao povo do rock local, teve pouca repercussão.
Pouco tempo depois, a banda acabou, por “problemas internos”. “O que acontece é que eu encaro a música de forma profissional, mas parte do pessoal ainda estava naquela de ‘vida louca’, bebendo muito”, conta.
A gota d’água foi um malfadado show em um festival na cidade de Araraquara (SP). “Tivemos que segurar a onda de alguns integrantes que estavam, como direi, fora de controle. Aí, em janeiro de 2007, saí da Stancia”, continua.
Dois baianos na Europa
Depois de algum tempo trabalhando no estúdio de Álvaro Tattoo Medrado – com o qual fundou a banda Mortícia – e em um escritório de análise de crédito, resolveu seguir os pais e ir embora para Luxemburgo.
“Fui demitido do escritório com mais umas 15 pessoas. Casado e com um filho pequeno, a coisa ficou feia pra mim. Como meus pais já moravam lá há mais de dez anos, fui”, conta.
“A princípio, não tinha intenção de trabalhar com música”, jura. Na Europa, Lucas cumpriu o itinerário comum a qualquer imigrante, lavando pratos e janelas.
Pela internet, logo começou a se comunicar com uma banda alemã – e chegou mesmo a integrar o grupo por um breve período, mas não deu certo. “Saí por que não me deixavam compor. Sem espaço, não dá”, diz.
A experiência alemã, porém, serviu para aproximá-lo de outro baiano em solo europeu, o guitarrista Fred Barreto.
“Eu já o conhecia de Salvador, mas ele já estava lá na Europa há algum tempo, tocando com sua banda de blues, a Fred Barreto Group, na Alemanha”, conta. Logo, Lucas e Fred começaram a frequentar a casa um do outro, fazendo som, trocando ideias.
O lance do Slash
“Aí aconteceu o lance do Slash”. Fã de longa data do Guns ‘n’ Roses e de seu emblemático guitarrista, Lucas havia criado na internet uma comunidade de fãs: Slash Army.
“Um dia, fiz umas perguntas para ele, via Twitter. Não é que ele respondeu?”, admira-se.
De mansinho e de forma desinteressada, Lucas foi mantendo contato com o rock star. “Eu postava a foto de meu equipamento e ele dava opiniões, tipo, ‘ah, esse amplificador é bom’”, relata.
Até que um dia, foi agendado um show dele em Luxemburgo. “Aí, como dizia minha avó, o diabo atentou”, ri.
Segundo Lucas, a iniciativa para se encontrarem pessoalmente partiu do próprio Slash. “Ele me avisou que ia rolar o show lá e disse: ‘vamos nos conhecer’”, conta.
Mais rápido do que Slash é capaz de tocar uma escala de blues, Lucas entrou em contato com a casa aonde ia rolar a apresentação do guitarrista.
“Disse que tinha uma banda, uma comunidade de fãs de Slash e solicitei uma oportunidade para abrir o show dele. Vinte minutos depois, o cara me responde, dizendo que tudo bem”, continua.
Passou um mês. Poucos dias antes do show, Slash manda uma mensagem para Lucas: “É você que está tentando abrir meu show em Luxemburgo?”
Lucas sentiu o sangue abandonar seu rosto. E se o homem ficou chateado? O temor, felizmente, não se justificou.
“Que nada! O cara perguntou por que eu não falei diretamente com ele! Aí eu respondi que não queria tirar vantagem de nossa amizade. Ele respondeu: me manda o link de sua banda”, conta Lucas.
Pouco depois, Slash manda outra mensagem para Lucas: “Vai ser um prazer ter a Porn Queen abrindo nosso show em Luxemburgo”.
No dia do show, Slash foi totalmente amistoso com Lucas e seus companheiros. “Tive que esconder meu lado fã e mostrar o amigo”, ri Lucas.
Bem-sucedida, a apresentação da Porn Queen selou a amizade entre os membros das duas bandas. Ainda hoje, eles mantém contato entre si.
Cerca de um ano se passou. A Porn Queen se apresentou em festivais como o Rock Um Knvedler, o mais importante de Luxembrurgo. “Fomos a última banda local antes das atrações principais”, afirma, sem esconder o orgulho.
Logo foram convidados para abrir o show de outros ex-Guns ‘n’ Roses, o baixista Duff McKagan: “Foi em Lille (França). Logo que nos encontrou, Duff foi dizendo: ‘Só ouço falar de vocês agora! Sinal que estão fazendo tudo certo’”, lembra.
Em 12 de julho último, foram solicitados para abrir o show de Slash novamente – desta vez, em Paris, no lendário Le Zenith, uma das casas de show mais tradicionais da Europa.
“Show para sete mil pessoas, lotação esgotada. Devo confessar que a ficha ainda não caiu”, sorri, certo que outras fichas ainda virão.
FOTOS: TOM DI MAGGIO / Divulgação
Conheça: PORN QUEEN
sábado, agosto 20, 2011
O SOM DA METAMORFOSE
Trinta anos atrás, uma banda traumatizada pela amputação de seu membro mais importante se reinventou de forma extraordinária, como nenhuma outra antes ousou fazê-lo.
Foi em 1981 que os três rapazes remanescentes da banda inglesa Joy Division resolveram que já tinham curtido suas depressões o bastante após o suicídio do vocalista Ian Curtis e decidiram seguir em frente com uma nova banda: New Order.
Esta história, já contada em zilhões de artigos, matérias, documentários e um filme (o ótimo Control, de 2007) é recontada novamente, agora a partir da música produzida pelas duas bandas, na recém-lançada coletânea Total - From Joy Division to New Order (Warner).
Com dezoito faixas, o álbum traça a metamorfose empreendida por Bernard Sumner (vocais e guitarra), Peter Hook (baixo), Stephen Morris (bateria) e a namorada deste último, Gillian Gilbert (teclados e programações): da emblemática música pós-punk do Joy Division (sombria, deprimida e tristonha, ainda que genial e pungente na essência) para o “fervido” som eletrônico para clubes noturnos do New Order.
Não foi uma operação simples ou espontânea. Houve um tempo de maturação, uma busca do caminho a seguir.
Uma esquisita disco music
O fato é que, depois de pagarem tributo a Ian, gravando sua última canção, Ceremony, e lançarem um primeiro álbum macambúzio, Movement (1981), os membros do New Order estavam de saco cheio da sombra do mártir suicida e seus fãs, posers de sobretudo preto.
“Ian só usou sobretudo uma vez!”, declarou Stephen Morris, em entrevista para a revista inglesa Mojo, de julho último. “Aí pensamos: ‘vamos fazer algo que esses bastardos vão odiar, vamos nos distanciar o máximo possível e fazer disco music esquisita (weird disco)’”, relatou.
O resultado, após adquirirem toneladas de aparelhos up to date – sequenciadores, moduladores de tempo e isoladores de frequência –, foi uma nova arquitetura sonora, não só para eles próprios, mas para a música pop como um todo.
O divisor de águas foi o single Blue Monday, um dos mais vendidos de todos os tempos.
Daí para obras-primas como Perfect Kiss, Bizarre Love Triangle e outras foi um pulo. Ou um beat.
Total / Joy Division & New Order / Warner Music / R$ 29,90
Foi em 1981 que os três rapazes remanescentes da banda inglesa Joy Division resolveram que já tinham curtido suas depressões o bastante após o suicídio do vocalista Ian Curtis e decidiram seguir em frente com uma nova banda: New Order.
Esta história, já contada em zilhões de artigos, matérias, documentários e um filme (o ótimo Control, de 2007) é recontada novamente, agora a partir da música produzida pelas duas bandas, na recém-lançada coletânea Total - From Joy Division to New Order (Warner).
Com dezoito faixas, o álbum traça a metamorfose empreendida por Bernard Sumner (vocais e guitarra), Peter Hook (baixo), Stephen Morris (bateria) e a namorada deste último, Gillian Gilbert (teclados e programações): da emblemática música pós-punk do Joy Division (sombria, deprimida e tristonha, ainda que genial e pungente na essência) para o “fervido” som eletrônico para clubes noturnos do New Order.
Não foi uma operação simples ou espontânea. Houve um tempo de maturação, uma busca do caminho a seguir.
Uma esquisita disco music
O fato é que, depois de pagarem tributo a Ian, gravando sua última canção, Ceremony, e lançarem um primeiro álbum macambúzio, Movement (1981), os membros do New Order estavam de saco cheio da sombra do mártir suicida e seus fãs, posers de sobretudo preto.
“Ian só usou sobretudo uma vez!”, declarou Stephen Morris, em entrevista para a revista inglesa Mojo, de julho último. “Aí pensamos: ‘vamos fazer algo que esses bastardos vão odiar, vamos nos distanciar o máximo possível e fazer disco music esquisita (weird disco)’”, relatou.
O resultado, após adquirirem toneladas de aparelhos up to date – sequenciadores, moduladores de tempo e isoladores de frequência –, foi uma nova arquitetura sonora, não só para eles próprios, mas para a música pop como um todo.
O divisor de águas foi o single Blue Monday, um dos mais vendidos de todos os tempos.
Daí para obras-primas como Perfect Kiss, Bizarre Love Triangle e outras foi um pulo. Ou um beat.
Total / Joy Division & New Order / Warner Music / R$ 29,90
quarta-feira, agosto 17, 2011
EXPOSIÇÃO DE ARTES VISUAIS E SHOW DOS PANTERAS CELEBRAM MEMÓRIA DE RAUL – E O FUTURO
Raulseixistas de primeira hora, fãs e apreciadores da arte perdida de incomodar tem não apenas um, mas dois encontros marcados para esta semana. O primeiro é a abertura da exposição 11 + 22 + 44 em homenagem a Raulzito & Os Panteras, na quarta-feira. E o segundo é o show Quarenta e Quatro, dos próprios Panteras, no Teatro Vila Velha, quinta.
A profusão de números nos títulos da mostra e do show se explica: 44 anos do primeiro LP de Raul Seixas (com Os Panteras), 22 anos da morte do cantor e 11 artistas plásticos na homenagem.
“A ideia (da exposição) é despertar nas pessoas a ideia de que o que Raul dizia era algo além, algo que nunca se perdeu”, explica o organizador Leonel Mattos (na foto de divulgação, ao lado dos artistas Miguel Cordeiro e Almandrade).
“Raul dizia que tinha nascido há dez mil anos, mas, na verdade, ele era o cara do futuro, aquele que ainda vai nascer”, arrisca Leonel, cujo ateliê no Rio Vermelho abriga a mostra.
A exposição, bastante diversa, traz os artistas Celso Cunha, Gustavo Moreno, Miguel Cordeiro, Jayme Figura, Vauluizo Bezerra, Ricardo Franco, Bel Borba, Almandrade, Ramiro Bernabó, Leonel Mattos e Carlínio, cada qual com sua visão do homem (ou da obra de Raul).
Entre os destaques, pode-se apontar a perfeita Mosca na Sopa de Celso Cunha, o painel street art de Miguel Cordeiro, o Raul quase naïf de Jayme Figura e o terno figurativismo de Ricardo Franco – mas a mostra como um todo merece aplausos.
"Meu trabalho são quatro quadros, que juntos, formam um painel", descreve Miguel Cordeiro. "Nele estão retratados Raul, Os Panteras e a coisa da filosofia, o questionamento da evolução humana que ele fazia: 'por que não tem macaco virando homem hoje em dia?'", acrescenta.
Miguel reitera que "a memória de Raul tem de ser celebrada constantemente. Nossa memória cultural é muito curta, é deletada a cada minuto. Acho que, apesar de Raul ser baiano, a celebração em torno de sua obra é muito esparsa", crê.
Jayme Figura descreve sua obra em homenagem à Raul como "o mago Raul, o Merlin e sua bola de cristal, a visão dos seus olhos para todos os lados e para o futuro, com tridentes (em cima e embaixo) representando o rock 'n' roll que foi banido de Salvador. E sobre sua cabeça, temos corações, representando as paixões".
11 + 22 + 44 / Exposição em homenagem A Raulzito & Os Panteras / Desta quarta-feira (19h) até 31 de Agosto / Ateliê de Leonel Mattos (Rua Guedes Cabral, 155, Rio Vermelho - ao lado do bar Casa da Mãe)
XLIV: O show d’Os Panteras
Na vernissage, Os Panteras (em foto de Yvan Freitas Cunha) fazem pocket show – e aproveitam para esquentar os motores para o show completo que fazem no dia seguinte, no Teatro Vila Velha.
“Vamos tocar as músicas do LP (Raulzito & Os Panteras), e mais algumas canções novas”, conta o baterista Carleba. “E também músicas dos Beatles, Little Richard, Elvis, algumas coisas da época”, diz.
Carleba, Eládio (voz e guitarra) e Mariano (baixo), tocam acompanhados por duas feras da cena atual: Eric Assmar (guitarra) e Tadeu Mascarenhas (teclados).
O último também pilota a produção do novo álbum do trio. “As bases já estão gravadas, só faltam os vocais e alguns solos", adianta Eládio.
Entre as músicas novas, está uma composição de Eládio, XLIV, ou seja, 44 em números romanos: "É por que conta uma história muito antiga, do tempo em que se ensinava isso (números romanos) na escola", ri. "Somos pré-históricos!", acrescenta Mariano, às gargalhadas.
Fora de brincadeira, Os Panteras estão de volta à ativa já há algum tempo, mas quase sempre fora de Salvador.
"Nossos eventos quase não rolam por aqui. Tocamos em São Paulo, Belo Horizonte, Rio. Aí quando rolou esse convite do Teatro Vila Velha, aceitamos na hora", conta Eládio.
"Até por que tinha aquela velha história do Cine Roma, que era do rock, versus o TVV, que era território do pessoal da bossa nova", lembra Carleba.
"Rolava aquele preconceito do pessoal contra a guitarra, mas aí, quando Caetano e Gil vieram com a Tropicália e inseriram a guitarra na MPB, acabou-se tudo. Isso mostrou que a música não pode ter barreira", reflete Eládio.
O disco novo, por enquanto, está sendo bancado pelos próprios Panteras, com produção de Tadeu. "Esperamos que qualquer coisa possa acontecer. Inclusive nada”, conclui Eládio, o mais falante do trio.
Os Panteras - Show Quarenta e Quatro / Quinta-feira, 18/08, às 20 horas / Teatro Vila Velha – Av. Sete de Setembro, s/n, Passeio Público / Informações: 71 3083-4600 /R$ 20,00
CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO 11 + 22 + 44 VIA ISSUU:
A profusão de números nos títulos da mostra e do show se explica: 44 anos do primeiro LP de Raul Seixas (com Os Panteras), 22 anos da morte do cantor e 11 artistas plásticos na homenagem.
“A ideia (da exposição) é despertar nas pessoas a ideia de que o que Raul dizia era algo além, algo que nunca se perdeu”, explica o organizador Leonel Mattos (na foto de divulgação, ao lado dos artistas Miguel Cordeiro e Almandrade).
“Raul dizia que tinha nascido há dez mil anos, mas, na verdade, ele era o cara do futuro, aquele que ainda vai nascer”, arrisca Leonel, cujo ateliê no Rio Vermelho abriga a mostra.
A exposição, bastante diversa, traz os artistas Celso Cunha, Gustavo Moreno, Miguel Cordeiro, Jayme Figura, Vauluizo Bezerra, Ricardo Franco, Bel Borba, Almandrade, Ramiro Bernabó, Leonel Mattos e Carlínio, cada qual com sua visão do homem (ou da obra de Raul).
Entre os destaques, pode-se apontar a perfeita Mosca na Sopa de Celso Cunha, o painel street art de Miguel Cordeiro, o Raul quase naïf de Jayme Figura e o terno figurativismo de Ricardo Franco – mas a mostra como um todo merece aplausos.
"Meu trabalho são quatro quadros, que juntos, formam um painel", descreve Miguel Cordeiro. "Nele estão retratados Raul, Os Panteras e a coisa da filosofia, o questionamento da evolução humana que ele fazia: 'por que não tem macaco virando homem hoje em dia?'", acrescenta.
Miguel reitera que "a memória de Raul tem de ser celebrada constantemente. Nossa memória cultural é muito curta, é deletada a cada minuto. Acho que, apesar de Raul ser baiano, a celebração em torno de sua obra é muito esparsa", crê.
Jayme Figura descreve sua obra em homenagem à Raul como "o mago Raul, o Merlin e sua bola de cristal, a visão dos seus olhos para todos os lados e para o futuro, com tridentes (em cima e embaixo) representando o rock 'n' roll que foi banido de Salvador. E sobre sua cabeça, temos corações, representando as paixões".
11 + 22 + 44 / Exposição em homenagem A Raulzito & Os Panteras / Desta quarta-feira (19h) até 31 de Agosto / Ateliê de Leonel Mattos (Rua Guedes Cabral, 155, Rio Vermelho - ao lado do bar Casa da Mãe)
XLIV: O show d’Os Panteras
Na vernissage, Os Panteras (em foto de Yvan Freitas Cunha) fazem pocket show – e aproveitam para esquentar os motores para o show completo que fazem no dia seguinte, no Teatro Vila Velha.
“Vamos tocar as músicas do LP (Raulzito & Os Panteras), e mais algumas canções novas”, conta o baterista Carleba. “E também músicas dos Beatles, Little Richard, Elvis, algumas coisas da época”, diz.
Carleba, Eládio (voz e guitarra) e Mariano (baixo), tocam acompanhados por duas feras da cena atual: Eric Assmar (guitarra) e Tadeu Mascarenhas (teclados).
O último também pilota a produção do novo álbum do trio. “As bases já estão gravadas, só faltam os vocais e alguns solos", adianta Eládio.
Entre as músicas novas, está uma composição de Eládio, XLIV, ou seja, 44 em números romanos: "É por que conta uma história muito antiga, do tempo em que se ensinava isso (números romanos) na escola", ri. "Somos pré-históricos!", acrescenta Mariano, às gargalhadas.
Fora de brincadeira, Os Panteras estão de volta à ativa já há algum tempo, mas quase sempre fora de Salvador.
"Nossos eventos quase não rolam por aqui. Tocamos em São Paulo, Belo Horizonte, Rio. Aí quando rolou esse convite do Teatro Vila Velha, aceitamos na hora", conta Eládio.
"Até por que tinha aquela velha história do Cine Roma, que era do rock, versus o TVV, que era território do pessoal da bossa nova", lembra Carleba.
"Rolava aquele preconceito do pessoal contra a guitarra, mas aí, quando Caetano e Gil vieram com a Tropicália e inseriram a guitarra na MPB, acabou-se tudo. Isso mostrou que a música não pode ter barreira", reflete Eládio.
O disco novo, por enquanto, está sendo bancado pelos próprios Panteras, com produção de Tadeu. "Esperamos que qualquer coisa possa acontecer. Inclusive nada”, conclui Eládio, o mais falante do trio.
Os Panteras - Show Quarenta e Quatro / Quinta-feira, 18/08, às 20 horas / Teatro Vila Velha – Av. Sete de Setembro, s/n, Passeio Público / Informações: 71 3083-4600 /R$ 20,00
CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO 11 + 22 + 44 VIA ISSUU:
terça-feira, agosto 16, 2011
EM BUSCA DE NOVOS ARES, GLAUBER SE MUDA PARA SP – MAS O TECLAS PRETAS CONTINUA
A exemplo de tantos outros, mais um dos grandes talentos do rock baiano bateu asas e voou para morar em São Paulo. Desde julho, o cantor Glauber Guimarães (ex-Dead Billies), está residindo em uma casa no bairro de Moema.
Antes de ir embora, porém, compilou todas as gravações do seu projeto Teclas Pretas, que toca com o guitarrista e produtor Jorge Solovera, intitulou 2005-2011 e lançou na internet para download gratuito – tanto para fechar um ciclo, como para servir de cartão de visitas em São Paulo.
“Procurei compilar as músicas que fiz com Solovera e mais uma da primeira formação, O Ataque das Pessoas Marionetes, por que gosto muito dela e queria incluir algo dessa fase, que tinha Heitor Dantas, Tadeu Mascarenhas e Ricardo The Flash Alves”, detalha.
“Mas é basicamente uma compilação da minha parceria com Solovera, de 2009 para cá, mais alguma coisa inédita, como Ópera Sabonete”, diz.
Elogiado publicamente por Caetano Veloso em sua coluna no jornal O Globo (republicada por A TARDE aos domingos), Glauber diz que a Teclas Pretas continua: “Vamos continuar produzindo. Ele grava as partes dele aí em Salvador e eu aqui”, garante.
“Temos repertório para mais um disco inteiro, coisas bem legais que vamos fazendo no mesmo esquema, aos poucos, agora através da net”.
Glauber não diz exatamente o que motivou sua partida da cidade natal, mas justifica: “Foi uma decisão de vida, mesmo. Chega em um ponto que a gente tem que vir pra cá. Uma hora ia acontecer. Pra mim foi bem natural, até pela minha relação com a cidade, não digo nem com a cena rock. Mas é uma pena que a gente tenha que sair daí”, lamenta o músico.
No que botou o pé no chão em SP, Glauber já saiu correndo, fazendo contatos e firmando uma parceria com outro músico baiano, Murilo Goodgroves.
“Temos as mesmas referências e fizemos duas músicas falando de São Paulo e de ser forasteiro por aqui. Devemos lançar até o fim do ano”, promete.
Um outro projeto que deve rolar em breve é “um show de covers dos anos 1960, com violão, acordeom, violino, uma coisa meio beatnik, de café mesmo”, planeja. Enquanto isso, vale baixar o álbum 2005-2011 e se comunicar com o cara. “Meu QG é o Facebook. Podem procurar Glauber Guimarães”, convida.
www.teclaspretas.blogspot.com
NUETAS
André iça suas velas
O ex-Maria Bacana André Mendes lança seu primeiro álbum solo, o singelo (e elogiado) Bem-Vindo a Navegação, com show aberto sexta-feira, na Galeria do Livro (Espaço Unibanco Glauber Rocha, Praça Castro Alves). 19 horas, grátis.
Rosi sings the blues
A blueswoman baiana Rosi Marback faz show de standards de blues e soul music no recém- inaugurado (e bem-vindo) Dubliner’s Irish Pub Rio Vermelho, neste sábado, às 22 horas.
Soul Riders na quinta
A miniorquestra The Soul Riders continua sua temporada todas as quintas-feiras no Balthazar Grill & Bar (Shopping Cidade, Av. ACM, Itaigara). Às 22 horas, couvert livre na varanda, R$ 15 (salão) R$ 20 (mezanino).
Antes de ir embora, porém, compilou todas as gravações do seu projeto Teclas Pretas, que toca com o guitarrista e produtor Jorge Solovera, intitulou 2005-2011 e lançou na internet para download gratuito – tanto para fechar um ciclo, como para servir de cartão de visitas em São Paulo.
“Procurei compilar as músicas que fiz com Solovera e mais uma da primeira formação, O Ataque das Pessoas Marionetes, por que gosto muito dela e queria incluir algo dessa fase, que tinha Heitor Dantas, Tadeu Mascarenhas e Ricardo The Flash Alves”, detalha.
“Mas é basicamente uma compilação da minha parceria com Solovera, de 2009 para cá, mais alguma coisa inédita, como Ópera Sabonete”, diz.
Elogiado publicamente por Caetano Veloso em sua coluna no jornal O Globo (republicada por A TARDE aos domingos), Glauber diz que a Teclas Pretas continua: “Vamos continuar produzindo. Ele grava as partes dele aí em Salvador e eu aqui”, garante.
“Temos repertório para mais um disco inteiro, coisas bem legais que vamos fazendo no mesmo esquema, aos poucos, agora através da net”.
Glauber não diz exatamente o que motivou sua partida da cidade natal, mas justifica: “Foi uma decisão de vida, mesmo. Chega em um ponto que a gente tem que vir pra cá. Uma hora ia acontecer. Pra mim foi bem natural, até pela minha relação com a cidade, não digo nem com a cena rock. Mas é uma pena que a gente tenha que sair daí”, lamenta o músico.
No que botou o pé no chão em SP, Glauber já saiu correndo, fazendo contatos e firmando uma parceria com outro músico baiano, Murilo Goodgroves.
“Temos as mesmas referências e fizemos duas músicas falando de São Paulo e de ser forasteiro por aqui. Devemos lançar até o fim do ano”, promete.
Um outro projeto que deve rolar em breve é “um show de covers dos anos 1960, com violão, acordeom, violino, uma coisa meio beatnik, de café mesmo”, planeja. Enquanto isso, vale baixar o álbum 2005-2011 e se comunicar com o cara. “Meu QG é o Facebook. Podem procurar Glauber Guimarães”, convida.
www.teclaspretas.blogspot.com
NUETAS
André iça suas velas
O ex-Maria Bacana André Mendes lança seu primeiro álbum solo, o singelo (e elogiado) Bem-Vindo a Navegação, com show aberto sexta-feira, na Galeria do Livro (Espaço Unibanco Glauber Rocha, Praça Castro Alves). 19 horas, grátis.
Rosi sings the blues
A blueswoman baiana Rosi Marback faz show de standards de blues e soul music no recém- inaugurado (e bem-vindo) Dubliner’s Irish Pub Rio Vermelho, neste sábado, às 22 horas.
Soul Riders na quinta
A miniorquestra The Soul Riders continua sua temporada todas as quintas-feiras no Balthazar Grill & Bar (Shopping Cidade, Av. ACM, Itaigara). Às 22 horas, couvert livre na varanda, R$ 15 (salão) R$ 20 (mezanino).
quarta-feira, agosto 10, 2011
55 ATRAÇÕES: CONEXÃO VIVO COMEÇA AMANHÃ NA PITUBA
O movimento de renovação da música popular brasileira, que não passa pelas rádios comerciais e se materializa nos caminhos alternativos do ativismo independente (internet, festivais), pode ser parcialmente vislumbrado em Salvador a partir desta quinta-feira, na segunda edição baiana do Conexão Vivo, festival gratuito que vai até domingo, na Praça Wilson Lins.
O negócio é grande: no total, serão 55 atrações de oito estados (de quatro regiões, só o Sul ficou de fora) em quatro dias de som na caixa.
A denominação “festival”, contudo, pode soar inexata para o evento. Maurílio Kuru Lima, coordenador nacional do Conexão Vivo, esclarece que o projeto não é festival, e sim, uma “plataforma de incentivo”.
“(O CV) é uma turma gigante se lançando. É uma rede de trabalho, e não um evento. Este evento serve para mostrar a força dessa rede”, afirma.
“Não existe nenhum outro programa de incentivo à produção e à circulação de música articulado dessa forma, com essa dimensão. O Conexão Vivo é o (programa) de maior envergadura, sem dúvida”, acrescenta Kuru, sem medo de errar.
Existe público crítico em SSa
Totalmente dentro do espírito da época, o Conexão Vivo funciona à base de editais e do trabalho colaborativo, a partir de uma comunidade virtual (www.conexaovivo.com.br), no qual os artistas se cadastram e postam seus trabalhos e novidades.
Os projetos contemplados abrangem shows, festivais independentes, gravação de CDs e DVDs, produção de videoclipes, programas de rádio, oficinas e seminários.
Em 2010, o CV, no mesmo local, reuniu 40 mil pessoas nos quatro dias do evento – número bastante significativo de interessados para uma cidade, que, a se julgar pelo baixo nível do que é veiculado na grande mídia, só tem ouvidos para o popularesco caricato, de gosto duvidoso.
“Ficamos muito surpresos com a acolhida dos baianos para um show aberto de artistas que, ou estão em início de carreira, ou não foram devidamente reconhecidos”, admira-se Kuru.
"Conseguimos fazer uma programação inteira sem qualquer tipo de atração mais apelativa, ou popularesca, eu diria", reitera Kuru.
"E o publico respondeu tão bem a essa proposta! O que prova que é possivel, sim, fazer atividade cultural com inteligência, sem precisar apelar. O baiano é inteligente e essas açõs são a prova, de você ter um festival inteiro com atrações que não estão massificadas no rádio, mas mesmo assim, o público responde muito bem", reflete.
“Desta forma, a programação abrange desde artistas com um ou dois anos de atividades até grandes estrelas com até 50 anos de carreira. Nomes importantes como Elza Soares e Marku Ribas, por exemplo”, cita.
Curadoria horizontalizada
A principal característica dos shows do Conexão Vivo é a mesma que norteia a plataforma de incentivo do projeto: o trabalho coletivo, em colaboração. Assim, dos 27 shows na programação, apenas três bandas / artistas farão shows “solo”, sem contar com convidados.
São eles: Gaby Amarantos (a “Beyoncèe do Pará”, como é conhecida) e Lenine, fechando a sexta-feira, e A Cor do Som, encerrando o sábado. Todos os outros serão no esquema “Fulano convida Sicrano”.
“O Conexão no nome do projeto não é de brincadeira”, reitera Kuru. “Colocamos duas coisas diferentes, mas que conseguem dialogar, em cima do palco. Coisas que você só vai ver ali. Aí misturamos Geronimo com alguém do Norte do País (a cantora paraense Iva Rothe) e é aquilo ali”, exemplifica.
“É verdade, vou dar uma canja no show dessa moça”, confirma Geronimo, que confessa que ainda não conhecia Iva Rothe. “Mas recebi uma música dela e achei muito interessante. E ela disse que canta uma música minha”, conta.
Kuru observa que os festivais de música costumam ser organizados por segmentação, mas o Conexão Vivo vai na contramão disso. “Misturamos tudo no caldo da música brasileira, que é plural e diversa por que bebe do regional e dialoga com o internacional. Por isso é uma das músicas mais fortes do mundo”, acredita o organizador.
Outro dado interessante é que o festival não tem um curador oficial. “A grade foi montada de forma colaborativa, a proposta é horizontalizar o processo. Em vez de ter um curador, criamos uma lista de discussão e tudo é debatido de forma compartilhada. Aí vai juntando (os artistas). Pegamos os que já são patrocinados pela Vivo e os aproximamos de outros com interesses comuns”, explica.
Colaborações inusitadas
Os espectadores na Praça Wilson Lins poderão testemunhar encontros interessantísimos, como o que juntará, no domingo, a baiana Manuela Rodrigues (leia mais dela na página 8) com o paulista Romulo Fróes. “Fiquei feliz (com o convite), por que é tão difícil tocar fora de São Paulo”, celebra Romulo.
“Ainda que não seja com minha banda, mas é uma oportunidade grandiosa. Vou tocar a música-título do disco da Manuela (Uma Outra Qualquer Por Aí) e mais uma ou duas do meu repertório, que vou ensaiar com a banda dela”, adianta.
Veteranos do CV (conectados desde 2006), a banda mineira Porcas Borboletas também deve protagonizar um belo encontro, com o Titã Paulo Miklos, na quinta-feira. “Curto muito esse lance de colaboração”, afirma Enzo Banzo, vocalista do PB.
“Somos de Uberlândia, e em 2005, quando a gente estava começando, nos inscrevemos, fomos classificados, e em 2006, entramos para a rede de artistas patrocinados”, relata. “Nós crescemos com o projeto. Já fizemos esse formato de show com Arnaldo Antunes, Otto, Arrigo e Paulo Barnabé”, enumera.
Outro encontro curioso será o que vai reunir a cantora mineira Erika Machado com os baianos do duo Dois Em Um e Rebeca Matta. “Foi um convite massa, ficamos super felizes”, disse Luisão Pereira, do Dois Em Um.
“Temos pontos em comum (com Erika), uma certa estética de simplicidade. E nosso próximo disco (previsto para 2012) sai pelo Conexão“ , revela.
Quem sobe ao palco duas vezes é o grande Armandinho Macedo. A primeira é na quinta-feira, com o violonista Gilvan de Oliveira. E a segunda, sem convidados, com a antológica banda A Cor do Som. “Conheci o Gilvan por que fui convidado dele no CV de Belo Horizonte, dois meses atrás. E tive o prazer de conhecer um grande músico”, conta Armandinho.
Com A Cor do Som, o show será basicamente de hits: “Não tem coisa nova ainda. O show vai ser o trabalho já conhecido do grande público”, adianta.
De volta à estrada desde 2005, A Cor do Som está conquistando uma nova geração de público. “Tem sido muito bom voltar a tocar com a Cor do Som, eu vejo uma galera jovem animada, cantando nossas músicas de 30 anos atrás. Aí a gente vê que nosso som ainda tá vivo, é atual”, comemora.
Conexão Vivo / 55 atrações musicais / De quinta-feira a domingo / Praça Wilson Lins (antigo Clube Português), Pituba / às 18h30 (quinta a sábado) e 17 horas (domingo) / Gratuito
11/08 – quinta-feira – às 18h30
Juliana Sinimbú (PA) convida Felipe Cordeiro (PA)
Black Sonora (MG) convida Di Melo (PE)
Juarez Maciel (MG) e Grupo Muda (MG) convidam Edgard Scandurra (SP)
Marku Ribas (MG) convida Zérró Santos
Gilvan de Oliveira (MG) convida Armandinho (BA)
Porcas Borboletas (MG) convida Paulo Miklos (SP)
Ortinho (PE) convida Pepeu Gomes (BA)
12/08 – sexta-feira – às 18h30
Babilak Bah (PB) convida Chico Correa (PB)
Iva Rothe (PA) convida Gerônimo Santana (BA)
Três na Folia - Cláudia Cunha, Manuela Rodrigues e Sandra Simões (BA)
Márcia Castro (BA) convida Mariella Santiago (BA), Mariana Aydar (SP) e Mayra Andrade (Cabo Verde)
Pedro Morais (MG) convida Maglore
Gaby Amarantos (PA)
Lenine (PE)
13/08 – sábado – às 18h30
Sertanília (BA) convida Nego Henrique (PE) e Emerson Calado (PE)
Família de Rua na Estrada (MG) apresenta Duelo de MC´s (MG )
Alisson Menezes e a Catrupia (BA) convidam Paulo Monarco (MT) e Maviael Melo (BA)
Érika Machado (MG) convida Rebeca Matta (BA) e Dois Em Um
Senta a Pua! (MG) convida Elza Soares (RJ) e Eduardo Neves (RJ)
Samba do Compositor (MG) convida Mariene de Castro (BA)
A Cor do Som (BA)
14/08 – domingo – às 17h
Grupo Percussivo Mundo Novo (BA) convida Wilson das Neves (RJ)
Peu Meurray (BA) convida Magary (BA)
Manuela Rodrigues (BA ) convida Romulo Fróes (SP)
Gustavo Maguá (MG) convida Marco Mattoli (SP)
Celso Moretti (MG) convida Edson Gomes (BA)
Flávio Renegado (MG) convida Lenine (PE)
NUETAS:
Weekend concorrido
Com o Conexão Vivo rolando na faixa, de quinta-feira até domingo, a concorrência ficou pesada para quem vai fazer show este fim de semana no circuito off-Praça Wilson Lins, mas boas opções não faltam. Quer ver?
Prazer, Les Royales
Les Royales, a “outra banda” de Rex e Morotó Slim (Retrofoguetes) faz mais uma edição da festa Rockabilly Sessions. Sexta-feira, no Boteco Ali do Lado, 22 horas, R$ 15. Rock!
Godofredo na área
A Vendo 147 faz o lançamento do álbum Godofredo em Salvador. Imperdível, o show será “multimídia”, com intervenções de vídeo, literatura e cenário em forma de pirâmide. Teatro Vila Velha, quinta-feira, 20 horas, R$ 20 e R$ 10.
Velotroz na Praça
Vencedora do concurso Desafio das Bandas 2011, a Velotroz se apresenta no Largo Tereza Batista (Pelourinho), sábado, de graça pra galera, a partir das 20 horas. E em breve, lançam single produzido por Solovera.
Créditos fotos (de cima para baixo):
Erika Machado, em foto de Cecília Silveira
Marku Ribas, em foto de Carlos França
Porcas Borboletas, em foto de Edinardo Lucas
Romulo Fróes, em foto de Pedro Spagnol
A Cor do Som em foto de Felipe Oliveira
Mayra Andrade, em foto de Youri Lenquette
Manuela Rodrigues, em foto de Márcio Lima
Velotroz, em foto de Mariele Góes
O negócio é grande: no total, serão 55 atrações de oito estados (de quatro regiões, só o Sul ficou de fora) em quatro dias de som na caixa.
A denominação “festival”, contudo, pode soar inexata para o evento. Maurílio Kuru Lima, coordenador nacional do Conexão Vivo, esclarece que o projeto não é festival, e sim, uma “plataforma de incentivo”.
“(O CV) é uma turma gigante se lançando. É uma rede de trabalho, e não um evento. Este evento serve para mostrar a força dessa rede”, afirma.
“Não existe nenhum outro programa de incentivo à produção e à circulação de música articulado dessa forma, com essa dimensão. O Conexão Vivo é o (programa) de maior envergadura, sem dúvida”, acrescenta Kuru, sem medo de errar.
Existe público crítico em SSa
Totalmente dentro do espírito da época, o Conexão Vivo funciona à base de editais e do trabalho colaborativo, a partir de uma comunidade virtual (www.conexaovivo.com.br), no qual os artistas se cadastram e postam seus trabalhos e novidades.
Os projetos contemplados abrangem shows, festivais independentes, gravação de CDs e DVDs, produção de videoclipes, programas de rádio, oficinas e seminários.
Em 2010, o CV, no mesmo local, reuniu 40 mil pessoas nos quatro dias do evento – número bastante significativo de interessados para uma cidade, que, a se julgar pelo baixo nível do que é veiculado na grande mídia, só tem ouvidos para o popularesco caricato, de gosto duvidoso.
“Ficamos muito surpresos com a acolhida dos baianos para um show aberto de artistas que, ou estão em início de carreira, ou não foram devidamente reconhecidos”, admira-se Kuru.
"Conseguimos fazer uma programação inteira sem qualquer tipo de atração mais apelativa, ou popularesca, eu diria", reitera Kuru.
"E o publico respondeu tão bem a essa proposta! O que prova que é possivel, sim, fazer atividade cultural com inteligência, sem precisar apelar. O baiano é inteligente e essas açõs são a prova, de você ter um festival inteiro com atrações que não estão massificadas no rádio, mas mesmo assim, o público responde muito bem", reflete.
“Desta forma, a programação abrange desde artistas com um ou dois anos de atividades até grandes estrelas com até 50 anos de carreira. Nomes importantes como Elza Soares e Marku Ribas, por exemplo”, cita.
Curadoria horizontalizada
A principal característica dos shows do Conexão Vivo é a mesma que norteia a plataforma de incentivo do projeto: o trabalho coletivo, em colaboração. Assim, dos 27 shows na programação, apenas três bandas / artistas farão shows “solo”, sem contar com convidados.
São eles: Gaby Amarantos (a “Beyoncèe do Pará”, como é conhecida) e Lenine, fechando a sexta-feira, e A Cor do Som, encerrando o sábado. Todos os outros serão no esquema “Fulano convida Sicrano”.
“O Conexão no nome do projeto não é de brincadeira”, reitera Kuru. “Colocamos duas coisas diferentes, mas que conseguem dialogar, em cima do palco. Coisas que você só vai ver ali. Aí misturamos Geronimo com alguém do Norte do País (a cantora paraense Iva Rothe) e é aquilo ali”, exemplifica.
“É verdade, vou dar uma canja no show dessa moça”, confirma Geronimo, que confessa que ainda não conhecia Iva Rothe. “Mas recebi uma música dela e achei muito interessante. E ela disse que canta uma música minha”, conta.
Kuru observa que os festivais de música costumam ser organizados por segmentação, mas o Conexão Vivo vai na contramão disso. “Misturamos tudo no caldo da música brasileira, que é plural e diversa por que bebe do regional e dialoga com o internacional. Por isso é uma das músicas mais fortes do mundo”, acredita o organizador.
Outro dado interessante é que o festival não tem um curador oficial. “A grade foi montada de forma colaborativa, a proposta é horizontalizar o processo. Em vez de ter um curador, criamos uma lista de discussão e tudo é debatido de forma compartilhada. Aí vai juntando (os artistas). Pegamos os que já são patrocinados pela Vivo e os aproximamos de outros com interesses comuns”, explica.
Colaborações inusitadas
Os espectadores na Praça Wilson Lins poderão testemunhar encontros interessantísimos, como o que juntará, no domingo, a baiana Manuela Rodrigues (leia mais dela na página 8) com o paulista Romulo Fróes. “Fiquei feliz (com o convite), por que é tão difícil tocar fora de São Paulo”, celebra Romulo.
“Ainda que não seja com minha banda, mas é uma oportunidade grandiosa. Vou tocar a música-título do disco da Manuela (Uma Outra Qualquer Por Aí) e mais uma ou duas do meu repertório, que vou ensaiar com a banda dela”, adianta.
Veteranos do CV (conectados desde 2006), a banda mineira Porcas Borboletas também deve protagonizar um belo encontro, com o Titã Paulo Miklos, na quinta-feira. “Curto muito esse lance de colaboração”, afirma Enzo Banzo, vocalista do PB.
“Somos de Uberlândia, e em 2005, quando a gente estava começando, nos inscrevemos, fomos classificados, e em 2006, entramos para a rede de artistas patrocinados”, relata. “Nós crescemos com o projeto. Já fizemos esse formato de show com Arnaldo Antunes, Otto, Arrigo e Paulo Barnabé”, enumera.
Outro encontro curioso será o que vai reunir a cantora mineira Erika Machado com os baianos do duo Dois Em Um e Rebeca Matta. “Foi um convite massa, ficamos super felizes”, disse Luisão Pereira, do Dois Em Um.
“Temos pontos em comum (com Erika), uma certa estética de simplicidade. E nosso próximo disco (previsto para 2012) sai pelo Conexão“ , revela.
Quem sobe ao palco duas vezes é o grande Armandinho Macedo. A primeira é na quinta-feira, com o violonista Gilvan de Oliveira. E a segunda, sem convidados, com a antológica banda A Cor do Som. “Conheci o Gilvan por que fui convidado dele no CV de Belo Horizonte, dois meses atrás. E tive o prazer de conhecer um grande músico”, conta Armandinho.
Com A Cor do Som, o show será basicamente de hits: “Não tem coisa nova ainda. O show vai ser o trabalho já conhecido do grande público”, adianta.
De volta à estrada desde 2005, A Cor do Som está conquistando uma nova geração de público. “Tem sido muito bom voltar a tocar com a Cor do Som, eu vejo uma galera jovem animada, cantando nossas músicas de 30 anos atrás. Aí a gente vê que nosso som ainda tá vivo, é atual”, comemora.
Conexão Vivo / 55 atrações musicais / De quinta-feira a domingo / Praça Wilson Lins (antigo Clube Português), Pituba / às 18h30 (quinta a sábado) e 17 horas (domingo) / Gratuito
11/08 – quinta-feira – às 18h30
Juliana Sinimbú (PA) convida Felipe Cordeiro (PA)
Black Sonora (MG) convida Di Melo (PE)
Juarez Maciel (MG) e Grupo Muda (MG) convidam Edgard Scandurra (SP)
Marku Ribas (MG) convida Zérró Santos
Gilvan de Oliveira (MG) convida Armandinho (BA)
Porcas Borboletas (MG) convida Paulo Miklos (SP)
Ortinho (PE) convida Pepeu Gomes (BA)
12/08 – sexta-feira – às 18h30
Babilak Bah (PB) convida Chico Correa (PB)
Iva Rothe (PA) convida Gerônimo Santana (BA)
Três na Folia - Cláudia Cunha, Manuela Rodrigues e Sandra Simões (BA)
Márcia Castro (BA) convida Mariella Santiago (BA), Mariana Aydar (SP) e Mayra Andrade (Cabo Verde)
Pedro Morais (MG) convida Maglore
Gaby Amarantos (PA)
Lenine (PE)
13/08 – sábado – às 18h30
Sertanília (BA) convida Nego Henrique (PE) e Emerson Calado (PE)
Família de Rua na Estrada (MG) apresenta Duelo de MC´s (MG )
Alisson Menezes e a Catrupia (BA) convidam Paulo Monarco (MT) e Maviael Melo (BA)
Érika Machado (MG) convida Rebeca Matta (BA) e Dois Em Um
Senta a Pua! (MG) convida Elza Soares (RJ) e Eduardo Neves (RJ)
Samba do Compositor (MG) convida Mariene de Castro (BA)
A Cor do Som (BA)
14/08 – domingo – às 17h
Grupo Percussivo Mundo Novo (BA) convida Wilson das Neves (RJ)
Peu Meurray (BA) convida Magary (BA)
Manuela Rodrigues (BA ) convida Romulo Fróes (SP)
Gustavo Maguá (MG) convida Marco Mattoli (SP)
Celso Moretti (MG) convida Edson Gomes (BA)
Flávio Renegado (MG) convida Lenine (PE)
NUETAS:
Weekend concorrido
Com o Conexão Vivo rolando na faixa, de quinta-feira até domingo, a concorrência ficou pesada para quem vai fazer show este fim de semana no circuito off-Praça Wilson Lins, mas boas opções não faltam. Quer ver?
Prazer, Les Royales
Les Royales, a “outra banda” de Rex e Morotó Slim (Retrofoguetes) faz mais uma edição da festa Rockabilly Sessions. Sexta-feira, no Boteco Ali do Lado, 22 horas, R$ 15. Rock!
Godofredo na área
A Vendo 147 faz o lançamento do álbum Godofredo em Salvador. Imperdível, o show será “multimídia”, com intervenções de vídeo, literatura e cenário em forma de pirâmide. Teatro Vila Velha, quinta-feira, 20 horas, R$ 20 e R$ 10.
Velotroz na Praça
Vencedora do concurso Desafio das Bandas 2011, a Velotroz se apresenta no Largo Tereza Batista (Pelourinho), sábado, de graça pra galera, a partir das 20 horas. E em breve, lançam single produzido por Solovera.
Créditos fotos (de cima para baixo):
Erika Machado, em foto de Cecília Silveira
Marku Ribas, em foto de Carlos França
Porcas Borboletas, em foto de Edinardo Lucas
Romulo Fróes, em foto de Pedro Spagnol
A Cor do Som em foto de Felipe Oliveira
Mayra Andrade, em foto de Youri Lenquette
Manuela Rodrigues, em foto de Márcio Lima
Velotroz, em foto de Mariele Góes
sexta-feira, agosto 05, 2011
RAMA: O IMPONDERÁVEL UNIVERSO DE ARTHUR C. CLARKE
Aqueles que, mesmo com o incessável assédio contemporâneo para que os indivíduos não pensem – apenas se consuma, se compre – ainda assim conservam esta prática saudável, de vez em quando devem matutar com seus botões aquelas boas e velhas perguntas: o que estou fazendo aqui? De onde vim? Há vida lá fora, no espaço sideral? Há um deus?
Estas mesmas perguntas, de uma forma ou de outra, foram o mote da obra monumental de Arthur C. Clarke, um dos três “grandes mestres” da literatura de ficção científica (os outros são Isaac Asimov e Robert A. Heinlein).
Em Encontro Com Rama (Aleph), clássico de Clarke que volta às livrarias em nova tradução (de Susana Alexandria), o leitor se depara o tempo todo com as tais perguntas.
Só que as respostas oferecidas pelo autor nunca são exatamente aquelas esperadas pelo leitor. Na verdade, as respostas apenas suscitam novas perguntas. Cujas respostas levam a outros questionamentos.
Por incrível que pareça, esse jogo, longe de criar frustração (como na série Lost), gera mesmo é mais curiosidade. É quase impossível se aborrecer e largar o livro de lado, tamanha era a habilidade de Clarke em conduzir o leitor pelos labirínticos caminhos da FC hard.
Trauma e vigilância
Tudo começa em 2077, quando um enorme meteorito despenca em plena Europa continental, riscando parte da Itália do mapa e causando 600 mil mortes.
Com o trauma, os cientistas criam um sofisticado sistema de monitoramento espacial, para prevenir que novos corpos celestes que ameacem o planeta cheguem sem aviso.
Décadas depois, em 2130, este sistema, o Spaceguard, detectou um objeto de proporções inimagináveis se movendo à velocidade de 100 mil quilômetros por hora, na direção do Sol.
O espanto só aumentou quando imagens de satélites revelaram que não se tratava de um asteróide gigantesco, e sim, de uma nave de forma cilíndrica, de metal liso, com 40 quilômetros de diâmetro – e girando a mil quilômetros por hora.
Logo a humanidade envia na direção de Rama, como ela foi batizada, a nave Endeavour. Clarke leva um tempo descrevendo a complexa abordagem de Rama pela Endeavour, e depois, a chegada dos espaçonautas ao interior do cilindro – que se revela um mundo completo, com cidades, oceanos, lagos, vegetação, oxigênio. Mas com nenhum habitante.
A tripulação da nave começa a explorar o mundo fantasmagórico, mas as respostas encontradas são ainda mais intrigantes do que as perguntas.
Não adianta espernear
Uma das obras mais significativas da carreira brilhante de Clarke (as outras são 2001 e O Fim da Infância), Encontro Com Rama pode ser entendida como uma metáfora espetacular, grandiosa mesmo, para a imponderabilidade do universo.
(Vale lembra que objetos monolíticos e enigmáticos são recorrentes na obra de Clarke. Como esquecer o... indecifrável monolito - duh! - negro de 2001?)
Não adianta espernear: provavelmente jamais saberemos, nesta vida, de onde viemos, para onde vamos, o que somos.
E Rama, livro e mundo cilíndrico, parece ter sido a forma que o autor, morto em 2008 aos 90 anos, encontrou para mostrar que, por mais que se investigue, se pesquise, se busque – e essas buscas nunca devem cessar, claro, senão, o que mais há para fazer? – tudo o que vamos encontrar serão mais perguntas. Nunca respostas definitivas.
A narrativa é eletrizante, apesar de se tornar por demais descritiva em alguns trechos – a geografia distorcida e fora das leis da física de Rama nunca fica totalmente resolvida na cabeça do leitor leigo.
Mas o fascínio e o mistério são constantes, e empurram o leitor a virar as páginas com avidez. E a esperar, da mesma forma, pelos outros três livros da saga: O Enigma de Rama, O Jardim de Rama e A Revelação de Rama.
Encontro Com Rama / Arthur C. Clarke / Aleph / 288 p. / R$ 44 / www.editoraaleph.com.br