A década de 1980 foi uma das mais marcantes para os quadrinhos – tanto no aspecto do desenvolvimento de sua linguagem, quanto na sua configuração dentro da indústria cultural. Foi naquele período que surgiram autores que mudaram – para sempre – a percepção das HQs como um veículo essencialmente infantil. Autores como Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman, o brazuca Angeli e... Howard Chaykin.
Quem? Pois é, a maioria das pessoas que hoje leem Sandman ou Watchmen, maravilhadas, não conhece (ou não lembra) de Chaykin, autor da ultracontroversa HQ Black Kiss, que, vinte anos após sua publicação no Brasil pela extinta editora Toviassu (dos integrantes do Casseta & Planeta, sigla para “Todo Viado é Surdo”), volta às prateleiras em edições de luxo e brochura, via Devir.
Black Kiss foi o ápice do trabalho que este norte-americano já vinha desenvolvendo desde os anos 1970, em títulos como Dominic Fortune, O Sombra, Falcão Negro, Times² e principalmente, a sensacional American Flagg!.
Atmosfera noir perturbadora
Com uma história maluca, à primeira vista sem pé nem cabeça, erotismo explícito no limite da pornografia e muita violência, Black Kiss causou furor entre religiosos e conservadores nos Estados Unidos quando foi lançada em 1988, pela extinta editora Vortex Comics.
Mesmo sendo vendida em um invólucro plástico preto, para que não fosse folheada por crianças, e todos os avisos de “material impróprio”, houve quem comprasse a revista só para queima-la – o que foi ótimo para Chaykin, já que isso elevou não só os gráficos de venda, mas também a aura cult e transgressora da HQ.
Em entrevista ao site especializado Comic Book Resources, Chaykin contou que a gênese de Black Kiss se deu quando, em 1985, ele se mudou de Nova York, aonde morava, para Los Angeles.
Fã da literatura noir de Raymond Chandler, patrimônio cultural da Cidade dos Anjos, ele percebeu que o clima da marginalidade local não havia mudado tanto assim entre os anos 1940 e 80. “Havia algo mesmo perturbador nessa cidade que permanece até hoje”, notou.
Essa atmosfera noir, que na realidade, é uma característica presente em todos os trabalhos autorais de Chaykin, é um dos traços mais marcantes de Black Kiss – só que, aqui, turbinada por uma intenção expressa do autor em subir o tom da violência, do sexo e do inesperado.
O resultado foi polêmico e serviu para atingir um outro patamar de censura. “Acho que contribuí nesse sentido. Hoje, as pessoas não se incomodam tanto com esse tipo de material”, disse.
Clichê noir, conto de homem comum envolvido em intriga é só o início da HQ
O jazzista Cass Pollack mal saiu da clínica de reabilitação (onde se internou para tratar do vício em heroína) e já se meteu em encrenca de novo.
Tudo começou quando ele deu carona para uma loira estonteante – que na realidade, era um travesti, que por sua vez, é obcecado por uma atriz decadente de Hollywood, Beverly Grove, que está sendo chantageada por mafiosos, os quais detém um filme com esta última, em atos inomináveis. Com um alto membro do Vaticano.
No meio disso tudo, ainda surgem os vampiros. Pronto, está armado o caótico cenário que vai sugar o inadvertido boa-pinta Pollack em um turbilhão muito maior do que ele, no bom e velho estilo noir.
Conjugando sexo e violência, Chaykin cria uma narrativa gráfico-literária espetacular e pertubadora, à altura dos mestres do estilo. Um clássico.
Black Kiss / Howard Chaykin / Devir Livraria / 152 páginas / R$ 49,90 (capa dura) ou R$ 36 (brochura) / www.devir.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
16 comentários:
Ótimo e providencial esse texto Chicaço, como sempre, nos enchendo de boas novas...
Acho que li todos os que você citou aí, considero Chaykin o meu desenhista preferido daquela época, talvez ainda o seja... Tomara que lancem maaaaaaaais obras dele, tipo, TODAS!!!
Voltando aos coments do post anterior, acho idéia genial essa do sarau aí, seja da forma que for... Tô com Mirdad e Brama. Gostei muito da Praia dos Livros, se fosse na casa de alguém, depois quem iria limpar a bagunça? rsrsrs...
De qualquer modo, ainda digo mais: poderia ser ao som dos LPs da gente, hein?!? Aí sim, seria um bom "comeback" aos bons tempos & sons...
Tb sou fanzão do Chaykin, Márcio, desde aquelas priscas eras... O cara sempre dava um jeio de deixar tudo com cara de anos 40 nas HQs dele - e sempre com mulheres gostosas e sacanas para apimentar as coisas... O Sombra dele foi sensacional, assim como aquelas duas graphics Times Square. Até das poucas historinhas do Dominic Fortune que ele fez para a Marvel. O que ele botava a mão, ficava com a cara dele. Mestre.
Um belo dia a gente não vai mais conseguir andar pela passarela que liga a Tankred Snows Avenue ao Salvador Shopping, tamanha a quantidade de lixo acumulado. A coisa já tá começando até a feder, é deprimente, parece que a gente tá nos confins do 3º mundo. (Ops, desculpem, a gente está mesmo! Esqueci). Mas é engraçado ver esse shopping e seus prédios empresariais do entorno tão metidos a chique, cercados por lixo, camelôs, lixo, vendedores de marmita (e seus fregueses comendo na rua), lixo, carrinhos de cachorro-quente (bloqueando a calçada e nos forçando a andar pela rua), lixo, pedintes, pirateiros com o som do pagode no máximo, lixo e mais lixo e muita lama. O que será que essa gente vê quando olha pelas janelas de seus escritórios impecáveis? "Paris é linda nessa época do ano?" Em quase 40 anos de vida, não me lembro de ver essa cidade tão degradada e o abismo social tão acentuado. É isso que acontece quando o nível cultural de um povo nunca "sai do chão". É isso o que acontece quando toda uma sociedade é erguida sobre as bases de uma herança escravagista nefasta, autoritária e exploratória. Me tirem daqui, pelamordedeus!!!!!!!!!!
..Chição;,
1- Chaykin é massa real!!
2- Se ao menos a cidade tivesse prefeito, pra varrer a sujeira das ruas....Oh Lord, ainda faltam 19 meses!!!
É como dizia o Bandido da Luz Vermelha, sampleado pelo Ira!: "O Terceiro Mundo vai explodir! Quem tiver de sapato num sobra"!
E a contagem regressiva está quase no zero...
Três visões espetaculares do Homem-Aranha hj em dia: no balé, na arte de rua e na sexshop.
http://www.bleedingcool.com/2011/04/25/three-spider-man-visuals-for-our-time/
Cantora punk britânica Poly Styrene morre aos 53 anos
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/907358-cantora-punk-britanica-poly-styrene-morre-aos-53-anos.shtml
Quem tinha idade na explosão do punk se lembra do x-ray spex, liderado por Poly
... Também não precisa ser um sarau, não, ou sim, ou tanto faz... o legal seria a gente botar os vinis pra fora, seja do Led, seja de quem quer que seja...
Tributo ao Allman Brothers Band com a banda DEF Brothers:
Sábado, 30 de abril às 22:00 - 01 de maio às 02:00
Couver: R$ 5,00
Contato: 3334-2908
Localização:
Ali Do Lado - Boteco
Rua da Paciência, n. 233, Rio Vermelho
Salvador, Brazil
Para quem não conhece, o Allman Brothers Band (http://www.allmanbrothersband.com/) é o representante maior do estilo denominado "Southern Rock", típico do sul dos EUA, com muita influência de Blues, Jazz e Country.
A Def Brothers é composta por Ricardo Alves (guitarra, voz), Ricardo Ribeiro (guitarra, voz), Katucha Bastos (baixo), Cristiano Machi (teclados) e Iaçanã Lima (bateria).
Guerra Mundial Z a caminho do cinema...
http://www.omelete.com.br/cinema/world-war-z-mireille-enos-sera-mulher-de-brad-pitt-na-guerra-mundial-zumbi/
Camaradas, chamar de "Sarau" é pura onda. O convite é pra ler trechos da biografia do Led escrita por Mick Wall e ouvir as canções/álbuns do Led.
Depois de ouvir o texto e as músicas, iríamos comentar as impressões sobre as mesmas + o texto, enfim, um bate-papo sobre Led q poderia ser o início do TMS baiano, enfim, ou apenas uma reunião de camaradas que curtem rock pra falar um monte de besteira e dar risada. Simples assim.
Oswald, não rola um lugar público justamente pelo processo ser mais intimista. Aberto a todos, rolariam ruídos e desatenção, atrapalhando a audição e/ou comentários. Entende?
E aí? Penso em algo restrito, pra umas 10/12 pessoas, no máximo.
Sugiram!
Abs
Neusinha Brizola morre aos 56 anos
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/04/morre-no-rio-aos-56-anos-filha-do-ex-governador-brizola.html
Fala Chico!
Ótimo texto, cara! Chaykin rula demais!
E a HQ já está chegando via Correios. (rsrs)
Abraço!
Wendell
Valeu, Wendell! Abraço, volte sempre!
Tenho uma entrevista de Grant Morrison malhando Black Kiss e Howard Chaikin:
"Porque ele não assume logo que tudo o que ele faz é superficial e vazio? Que essa estória de travesti vampiro é apenas uma mera fantasia masturbatória para adolescentes."
Grant não perdoa: mata.
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