Eu quero uma festa (skate) punk
A trilha sonora do documentário Vida Sobre Rodas, acerca da cultura skate no Brasil, aposta em clássicos do punk e do pós-punk, como California Übber Alles (Dead Kennedys), Pânico em SP (Inocentes), Anarquia Oi! (Garotos Podres), Disorder (Joy Division), Ceremony (New Order) e, claro, a mais do que surrada Anarchy in The UK (Sex Pistols). Mas ainda há espaço para a matemática metálica do Helmet (Unsung, maravilhosa), Beastie Boys instrumental (The Kangaroo Rat), um hit manjado do The Cure (In Between Days) e até Titãs (Cabeça Dinossauro). Festinha agitada. Vida Sobre Rodas / EMI Music / R$ 28,80
Trovão na montanha negra
Enquanto o mundo observa abestalhado as piruetas do marketing vazio de Lady Gaga, Justin Bieber e outros robôs, o rock que importa continua rolando bonito, aqui, ali e acolá. Basta ter ouvidos atentos (e não programados). De Vancouver, Canadá, vem a sensacional banda Black Mountain. Seu terceiro álbum, Wilderness Heart, que frequentou diversas listas de melhores lançamentos de 2010, é um primor de classic rock linha 1969, com riffs poderosos como os de Jimmy Page, teclados vintage como os de Jon Lord e melodias envolventes. Sim, ainda há esperança. Black Mountain / Wilderness Heart / Jagjaguwar / Importado / R$ 64
36 horas em cinco minutos
Em apenas duas faixas totalizando pouco mais de cinco minutos, a banda The Honkers faz mais bonito do que em toda a produção de muito “artista” estabelecido no mainstream. Trata-se do single Thirty-Six Hours, lançado no fim de 2010 em versão gratuita para download e CD. São duas canções: 12 Hours e 24 Hours From Your Heart, ambas com uma primorosa pegada power pop / beatlesca, para dançar batendo palminha. Se vier nessa levada, o próximo disco da banda liderada pelo poeta e maluquete Rodrigo Sputter Chagas promete – e muito. The Honkers / Thirty-Six_Hours / R$ 5 / Ou Baixe em www.fotolog.com.br/thehonkers
Rock para ouvir bem alto
Entre tantos filhotes de Los Hermanos e bandas medianas sendo vendidas como o último biscoito do pacote, dá até satisfação ouvir o primeiro álbum da banda baiana Acord. Rock ‘n’ roll old school na veia, eles não deixam de lado as influências brasileiras. Só que aqui elas não vem dos deprimidos barbudos cariocas, e sim, do peso de um Made in Brazil, da abordagem irreverente dos Mutantes e do suingue do Casa das Máquinas. Hard rock divertido e para se acabar de dançar, ao som de petardos como Sirius Rock e Cartas Na Mesa. Ouça alto! Acord / Não Há mais tempo para ficar parado / independente / http://www.bandaacord.com.br/
Mens@gem pra você
Bakunin (1814-1876) foi o grande teórico (e prático) do anarquismo como política. Inicialmente identificado com o comunismo, rompeu com Marx quando fundou, em 1872, a Internacional Antiautoritária. Nestas cartas selecionadas por Plínio Augusto Coêlho, uma mostra do seu pensamento. Revolução e liberdade / Mikhail Alexandrovitch Bakunin / Hedra / 182 p. / R$ 20 / http://www.hedra.com.br/
De fora, todo mundo é valente
Stephen Crane (1871-1900) viveu pouco, mas legou ao mundo este livro. Ao lado de Nada de novo no front (1929), de Erich Maria Remarque, pode-se dizer que ele definiu o que é um “libelo anti-belicista”. Estão aqui todo o horror, vergonha e estupidez da guerra. O emblema vermelho da coragem / Stephen Crane / Penguin - Cia. das Letras / 216 p. / R$ 25 / http://www.penguincompanhia.com.br/
O detetive e seu cachimbo
Com 75 romances e uma infinidade de contos, o Inspetor Jules Maigret, criação do belga Georges Simenon (1903- 1989), é um dos mais cultuados detetives da literatura policial. Em Liberty Bar, Jules e seu inseparável cachimbo se veem às voltas com o assassinato de um milionário australiano na Riviera Francesa. Liberty bar / Georges Simenon / L&PM / 160 p. / R$ 15 / http://www.lpm.com.br/
O maior crooner do Brasil
Em dois CDs duplos, fãs e néofitos na obra de Nelson Gonçalves ganham um belo resumo de sua carreira. No primeiro, estão reunidos diversos de seus duetos (faltou A Deusa do Amor, com Lobão) e as canções que construíram sua persona de rei da boêmia, como Fica Comigo Esta Noite, A Noite do Meu Bem e A Volta do Boêmio. No volume dois, sua produção mais significativa de tangos e boleros, com Perfídia e O Dia Que Me Queiras, além de sua versão para grandes sucessos pop, como No Rancho Fundo, Como Vai Você, As Rosas Não Falam e até Me Chama. Nelson Gonçalves / A volta do boêmio Volumes 1 e 2 / Som Livre / R$ 24,90 (cada CD duplo)
O ano da ficção
Sexto anuário (desde 2004) dedicado às literaturas de ficção científica, fantasia e horror, escrito e organizado pela dupla Cesar Silva e Marcelo Simão Branco. Cobre todos os lançamentos, efemérides, homenagens aos mortos ilustres, personalidade do ano (Bráulio Tavares) e artigos. Anuário brasileiro de literatura fantástica 2009 / C. Silva e M. Branco / Devir / 168 p. / R$ 28 / http://www.devir.com.br/
Crepúsculo em São Luís
Jan Kmam, um vampiro de 400 anos, morde Kara Ramos, jovem arquiteta maranhense, com a qual inicia tórrido romance. Terceira parte da saga Alma & Sangue, espécie de Crepúsculo à brasileira, Kara e Kmam traz o casal de imortais às voltas com seus conflitos e caninos afiados. Há até uma série de websódios produzidos para a internet, que podem ser assistidos em http://www.almaesangue.com.br/. Kara e Kmam - Segredos de alma e sangue / Nazarethe Fonseca / Aleph / 168 p. / R$ 33 / http://www.editoraaleph.com.br/
Medo do bigodudo
Depois de morto, o filósofo alemão Friederich Nietzsche (1844-1900) teve suas ideias distorcidas pela própria irmã, de modo que estas se adequassem aos propósitos nazifascistas. Neste livro, Jean Granier dá uma geral bem objetiva na vida e na obra do bigodudo, cujo ideário ainda assusta muita gente. Boa introdução. Nietzsche / Jean Granier / L&PM / 128 p. / R$ 12 / http://www.lpm.com.br/
Las Vegas freak show
Sexagenário, Alice Cooper reaparece em boa forma neste DVD ao vivo, gravado em 2009. Entre decapitações, assassinatos simulados e enfermeiras zumbis, o precursor do rock horror show, apoiado em ótima banda, desfia seu rosário de hits, com School’s Out, Billion Dollar Babies, No More Mr. Nice Guy e Under My Wheels, além das (belas) baladas Only Women Bleed e I Never Cry. Theatre of Death / Alice Cooper / Universal / R$ 44,90 (DVD + CD)
Bloody Santa
Na noite de Natal, um velho patriarca convoca todos os filhos e parentes, a fim de se divertir com a ganância alheia, característica das grandes famílias. Claro, há um assassinato. E o brilhante detetive belga gordinho, Hercule Poirot, é chamado para resolver o enigma. O Natal já passou, mas a Dama do Crime é para sempre. O Natal de Poirot / Agatha Christie / L&PM / 256 p. / R$ 12 / http://www.lpm.com.br/
Contos de mulherzinha
Em uma série de micro-contos (com bem mais que 140 caracteres), a escritora carioca Simone Magno cria narrativas tão intensas quanto sensíveis de amores não tão bem sucedidos (que podem ou não ser sobre o mesmo homem). Abordagem pop e urbana para o mais antigo dos temas. A Lua depois do Gravador: Histórias de Você e ele / Simone Magno / Grua / 80 p. / R$ 26,50 / http://www.grualivros.com.br/
Festinha rock ‘n’ roll
Um dos melhores filmes pop de 2010 (e que não deverá passar nos cinemas locais), Scott Pilgrim Contra o Mundo ganhou uma trilha sonora de altíssima responsabilidade, produzida por Beck, que assumiu a frente da banda fictícia apresentada no filme, a Sex Bob-Omb, com canções punk bubble-gum de primeira, como We Hate You Please Die e Summertime. Mas ainda há pérolas como Scott Pilgrim (da banda Plumtree), I Heard Ramona Sing (Frank Black), Teenage Dream (T-Rex) e até Rolling Stones (com o clássico Under My Thumb). Uma festinha e tanto. Vários artistas / Scott Pilgrim Vs. The World / Universal Music / R$ 24,90
Sam Spade on acid
Um dos autores mais celebrados (e também enigmáticos) da literatura contemporânea, Thomas Pynchon cria, em seu livro mais recente, uma espécie de romance noir-psicodélico, no qual um detetive doidão, Doc Sportello, é envolvido em uma conspiração que leva a outra e mais outra e assim por diante. Vício Inerente / Thomas Pynchon / Companhia das Letras / 460 p. / R$ 57,50 / http://www.companhiadasletras.com.br/
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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terça-feira, fevereiro 22, 2011
terça-feira, fevereiro 15, 2011
ROOTSY HIP
Isabel Machado e Daniel Wilberger, casal de baianos residente em Mobile, Alabama, documenta hip hop underground local e se tornam celebridades locais
Todo mundo já viu uma história mais ou menos parecida com esta em um filme: estrangeiros chegam em cidade pequena e são, em um primeiro momento, recebidos com certa indiferença. Os estrangeiros fazem amizade com os losers do lugar. Estrangeiros e losers se unem para fazer alguma coisa bacana juntos que chama a atenção da comunidade – e acabam por se tornar heróis locais.
A diferença é que, desta vez, não se trata de filme, e sim, de uma história real, vivida por um casal de soteropolitanos: a historiadora e cineasta Isabel Machado e o designer e professor Daniel Wildberger. Ela é irmã do cineasta Sérgio Machado (Quincas Berro D’Água). E ele, membro da família de imigrantes suíços radicados na Bahia.
Casados há cerca de dez anos, se conheceram no underground roqueiro de Salvador, quando ele tocava guitarra na banda Dinky-Dau e ela frequentava os shows.
Desde 2004, vivem nos Estados Unidos. Inicialmente moraram na gélida Iowa City. “Passamos 4 anos lá para Bel concluir mestrado em cinema. Passei um ano procurando trabalho”, conta Daniel.
Foi lá que ele vivenciou o emprego mais estressante de sua vida, dirigindo um ônibus escolar cheio de crianças, em pleno inverno. “O bicho deslizava no gelo o tempo todo”, ri.
Depois que Isabel concluiu seus estudos, Daniel, que acabou fazendo ele mesmo seu próprio mestrado em design, acabou arrumando trabalho de professor assistente na University of South Alabama, localizada na aprazível cidade de Mobile.
“A gente se identificou logo com o lugar. Tem praia, uma cultura negra forte na música e na culinária, um clima melhor e fica perto de Memphis e Nova Orleans”, diz.
Nerd core
Devidamente instalados, Isabel se viu na situação inversa viveu no Iowa. Ele tinha o que fazer, mas ela, não. Depois de constatar que não arrumaria emprego na TV local sem um curso técnico, tratou de se matricular logo em um.
Uma das tarefas era preparar uma reportagem sobre algum assunto local. “Não conhecia ninguém. Começamos a procurar no Google o que a cidade tinha”, lembra Isabel.
Logo ela se deparou com o MySpace de uma inusitada dupla de rappers locais. “O lance deles é nerd core, ou seja, os caras falam de Star Wars, séries de TV e histórias em quadrinhos. Fomos em um show, tinha três pessoas na plateia, mais e eu e Daniel. Pensamos: ‘pô, os caras são brancos, fazendo rap no Alabama. Estranho’. Aí resolvi entrevista-los. Entrei em contato, com um deles, o Justin MC”, relata Isabel.
E foi Justin quem deu a ideia: em vez de falar só do trabalho deles, por que não mostrar a cena do hip hop underground de Mobile?
De início, Isabel não levou muita fé: “Eu disse, ‘não me levem a mal, mas isso aqui é o movimento hip hop de Mobile e vocês são brancos?’ Eles ficaram super desconfortáveis. Por que existe a galera do hip hop negro de Mobile. Só que eles são completamente mainstream, só falam de bunda, carrões etc. E eles ainda sofrem com o estigma dos rappers brancos, de ser aquela coisa meio caricata, né?”, ri.
De qualquer jeito, Isabel, com a ajuda do maridão, responsável pela edição, concluiu o vídeo para o curso e presenteou seus entrevistados com uma versão ampliada e melhorada.
Poderia ter acabado aí. Só que no meio do caminho, havia um festival de cinema. “Naquela mesma semana, anunciaram as inscrições para o South Alabama Film Festival, que estava selecionando filmes com temática local. O problema é que o deadline era apertadíssimo e não deu para aproveitar quase nada do filme escolar”.
Logo, o casal começou a preparar uma versão para o festival. “Eu ficava ligando para os organizadores, pedindo mais prazo. Cheguei a mandar só os quarenta minutos iniciais”, lembra.
Qual não foi sua surpresa quando um belo dia o telefone toca e era o pessoal do festival, dizendo que não só haviam adorado a versão preliminar do documentário, como ele já estava selecionado e mais: seria o filme de abertura do evento, ocorrido em novembro de 2009.
“Logo depois me liga um dos rappers do filme, o Afterschock, dizendo que estava sendo despejado. Lá vamos nós, pegar mais essa cena para incluir no documentário”, conta Bel.
Resumo dos fatos: Rootsy Hip, o documentário dirigido por Isabel e editado por Daniel, não ficou pronto a tempo. “Pensei: vai passar assim e depois eu reedito. No dia da estreia, a gente lá com várias mordomias de estrela do festival, tapete vermelho e tudo. E eu: ‘como assim?’”, ri.
O filme foi um sucesso local, com o público se levantando e cantando as músicas dentro da sala. “O dono do cinema deixou o filme em cartaz durante meses e ainda queria que a gente fizesse uma versão sing-a-long, com aquela bolinha pulando sobre as letras. Teve até sessões com os caras tocando antes do filme. Eu brinco com Daniel dizendo que viramos minicelebridades locais. Agora somos a galera do Rootsy Hip. Até dois dias antes de viajarmos para o Brasil, eu ainda dava entrevista”, jura.
No momento, Isabel se dedica a um novo documentário com temática local, desta vez sobre o gumbo, prato típico da culinária sulista afroamericana, em parceria com o cineasta Gideon Carson Kennedy.
Já Daniel prepara uma graphic novel de western, ambientada na Guerra da Secessão. Taí um casal que ainda vai dar muito o que falar, seja na América do Norte ou do Sul.
Todas as fotos / all photos by Michael Dumas / South Alabama Film Festival
Saiba mais:
www.danielwildberger.com
http://modmobilian.com/2010/10/11/rootsy-hip-creators-isabel-machado-and-daniel-wildberger-on-tmms/
Todo mundo já viu uma história mais ou menos parecida com esta em um filme: estrangeiros chegam em cidade pequena e são, em um primeiro momento, recebidos com certa indiferença. Os estrangeiros fazem amizade com os losers do lugar. Estrangeiros e losers se unem para fazer alguma coisa bacana juntos que chama a atenção da comunidade – e acabam por se tornar heróis locais.
A diferença é que, desta vez, não se trata de filme, e sim, de uma história real, vivida por um casal de soteropolitanos: a historiadora e cineasta Isabel Machado e o designer e professor Daniel Wildberger. Ela é irmã do cineasta Sérgio Machado (Quincas Berro D’Água). E ele, membro da família de imigrantes suíços radicados na Bahia.
Casados há cerca de dez anos, se conheceram no underground roqueiro de Salvador, quando ele tocava guitarra na banda Dinky-Dau e ela frequentava os shows.
Desde 2004, vivem nos Estados Unidos. Inicialmente moraram na gélida Iowa City. “Passamos 4 anos lá para Bel concluir mestrado em cinema. Passei um ano procurando trabalho”, conta Daniel.
Foi lá que ele vivenciou o emprego mais estressante de sua vida, dirigindo um ônibus escolar cheio de crianças, em pleno inverno. “O bicho deslizava no gelo o tempo todo”, ri.
Depois que Isabel concluiu seus estudos, Daniel, que acabou fazendo ele mesmo seu próprio mestrado em design, acabou arrumando trabalho de professor assistente na University of South Alabama, localizada na aprazível cidade de Mobile.
“A gente se identificou logo com o lugar. Tem praia, uma cultura negra forte na música e na culinária, um clima melhor e fica perto de Memphis e Nova Orleans”, diz.
Nerd core
Devidamente instalados, Isabel se viu na situação inversa viveu no Iowa. Ele tinha o que fazer, mas ela, não. Depois de constatar que não arrumaria emprego na TV local sem um curso técnico, tratou de se matricular logo em um.
Uma das tarefas era preparar uma reportagem sobre algum assunto local. “Não conhecia ninguém. Começamos a procurar no Google o que a cidade tinha”, lembra Isabel.
Logo ela se deparou com o MySpace de uma inusitada dupla de rappers locais. “O lance deles é nerd core, ou seja, os caras falam de Star Wars, séries de TV e histórias em quadrinhos. Fomos em um show, tinha três pessoas na plateia, mais e eu e Daniel. Pensamos: ‘pô, os caras são brancos, fazendo rap no Alabama. Estranho’. Aí resolvi entrevista-los. Entrei em contato, com um deles, o Justin MC”, relata Isabel.
E foi Justin quem deu a ideia: em vez de falar só do trabalho deles, por que não mostrar a cena do hip hop underground de Mobile?
De início, Isabel não levou muita fé: “Eu disse, ‘não me levem a mal, mas isso aqui é o movimento hip hop de Mobile e vocês são brancos?’ Eles ficaram super desconfortáveis. Por que existe a galera do hip hop negro de Mobile. Só que eles são completamente mainstream, só falam de bunda, carrões etc. E eles ainda sofrem com o estigma dos rappers brancos, de ser aquela coisa meio caricata, né?”, ri.
De qualquer jeito, Isabel, com a ajuda do maridão, responsável pela edição, concluiu o vídeo para o curso e presenteou seus entrevistados com uma versão ampliada e melhorada.
Poderia ter acabado aí. Só que no meio do caminho, havia um festival de cinema. “Naquela mesma semana, anunciaram as inscrições para o South Alabama Film Festival, que estava selecionando filmes com temática local. O problema é que o deadline era apertadíssimo e não deu para aproveitar quase nada do filme escolar”.
Logo, o casal começou a preparar uma versão para o festival. “Eu ficava ligando para os organizadores, pedindo mais prazo. Cheguei a mandar só os quarenta minutos iniciais”, lembra.
Qual não foi sua surpresa quando um belo dia o telefone toca e era o pessoal do festival, dizendo que não só haviam adorado a versão preliminar do documentário, como ele já estava selecionado e mais: seria o filme de abertura do evento, ocorrido em novembro de 2009.
“Logo depois me liga um dos rappers do filme, o Afterschock, dizendo que estava sendo despejado. Lá vamos nós, pegar mais essa cena para incluir no documentário”, conta Bel.
Resumo dos fatos: Rootsy Hip, o documentário dirigido por Isabel e editado por Daniel, não ficou pronto a tempo. “Pensei: vai passar assim e depois eu reedito. No dia da estreia, a gente lá com várias mordomias de estrela do festival, tapete vermelho e tudo. E eu: ‘como assim?’”, ri.
O filme foi um sucesso local, com o público se levantando e cantando as músicas dentro da sala. “O dono do cinema deixou o filme em cartaz durante meses e ainda queria que a gente fizesse uma versão sing-a-long, com aquela bolinha pulando sobre as letras. Teve até sessões com os caras tocando antes do filme. Eu brinco com Daniel dizendo que viramos minicelebridades locais. Agora somos a galera do Rootsy Hip. Até dois dias antes de viajarmos para o Brasil, eu ainda dava entrevista”, jura.
No momento, Isabel se dedica a um novo documentário com temática local, desta vez sobre o gumbo, prato típico da culinária sulista afroamericana, em parceria com o cineasta Gideon Carson Kennedy.
Já Daniel prepara uma graphic novel de western, ambientada na Guerra da Secessão. Taí um casal que ainda vai dar muito o que falar, seja na América do Norte ou do Sul.
Todas as fotos / all photos by Michael Dumas / South Alabama Film Festival
Saiba mais:
www.danielwildberger.com
http://modmobilian.com/2010/10/11/rootsy-hip-creators-isabel-machado-and-daniel-wildberger-on-tmms/
terça-feira, fevereiro 08, 2011
FAWCETT E MONDO URBANO: DA INDEPENDÊNCIA PARA UMA GRANDE EDITORA
Ufanismos tolos à parte, o Brasil apresenta ao mundo, geração após geração, artistas de HQ de qualidade e importância inquestionáveis.
Dois lançamentos do fim de 2010 reforçam a tese ao apresentar trabalhos extraordinários de quadrinistas de gerações bem diferentes, ambas brilhantes: Fawcett, do mestre do quadrinho brasileiro Flavio Colin (com roteiro de André Diniz Fernandes) e Mondo Urbano, do trio (ou Powertrio, como eles se definem) formado por Mateus Santolouco, Eduardo Medeiros e Rafael Albuquerque.
Além de serem obras muito bem acabadas, Fawcett e Mondo Urbano compartilham outro ponto em comum bem importante: ambas foram publicadas, previamente, de forma independente, quase artesanal.
Mas chamaram tanta atenção que acabaram sendo republicadas por uma editora grande: a Devir, de São Paulo.
Na selva e na metrópole
Fawcett, publicada originalmente pela Editora Nona Arte em 2000, foi um dos últimos trabalhos de Flavio Colin (1930-2002).
Trata-se de uma especulação fictícia acerca de um dos maiores mistérios da selva amazônica: o que teria acontecido com o explorador inglês Percy Harrison Fawcett (1867-1925) que desapareceu para sempre na imensidão da floresta com seu filho, Jack, durante uma expedição em busca de uma suposta civilização perdida?
Já Mondo Urbano foi publicada em quatro revistas indepentes entre 2008 e 2009: Powertrio, Overdose, Cabaret e Encore.
Reunidas neste encadernado da Devir, elas mostram por que o trio de quadrinistas tem sido saudado pela crítica norte-americano como uma espécie de next big thing a vir do Brasil, depois dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá.
Ambas as HQs, cada uma ao seu modo e dentro do seu estilo narrativo – Fawcett é mais tradicional, Mondo é mais modernosa – demonstram a força da arte sequencial brazuca.
Colin deixou marca indelével nas HQ nacionais com seu estilo inconfundível
Em seu sucinto (porém apaixonado) relato biográfico Vida traçada: Um perfil de Flavio Colin (Marca de Fantasia, 2009), o jornalista baiano Gonçalo Júnior não economizou elogios ao artista carioca, dono de estilo próprio, inconfundível e muito peculiar.
“O gigantismo de sua produção e a grandiosidade de sua obra ainda estão por ser mapeados e devidamente estudados, compreendidos e consagrados em obras mais extensas como um acontecimento das artes de um dos autores de quadrinhos mais importantes em todo mundo e em todos os tempos”, derramou-se, com razão.
Morto em 2002, aos 72 anos, Colin teve pouco reconhecimento em vida. “Nos últimos anos, Flavio praticamente implorava por trabalho”, relata Gonçalo.
“Deixou de lado o orgulho e, com lágrimas nos olhos, dizia para os mais próximos que não merecia a humilhação de pedir para que publicassem seus quadrinhos. (...) Com os dois filhos já criados, subsistia ao lado da esposa dona Norma com uma aposentadoria de 1,5 salário do INSS”, revelou o jornalista.
Só comparável aos mestres
Um destino, de fato, profundamente injusto para um verdadeiro estilista dos quadrinhos, como definiu o historiador gaúcho Hiron Cardoso Goidanich.
Defensor apaixonado da cultura e folclore brasileiros, ele deixou marca indelével nos quadrinhos nacionais com sua abordagem brilhante do terror, praticamente reinventando o mito do lobisomem, por exemplo.
Suas páginas exuberantes, só comparáveis as de mestres universais como Jack Kirby, Will Eisner e Joe Kubert, abrilhantou gibis – publicados por editoras já extintas, como Bloch, Vecchi e Grafipar – que embalaram gerações de leitores.
Um resgate do melhor de sua produção entre os anos 1960 e 1980, em um único álbum de luxo que fosse, já seria um belo passo para começar a pagar a dívida que o Brasil tem com este grande artista.
Fawcett / André Diniz Fernandes e Flavio Colin / Devir Livraria / 56 p. / R$ 13,50 / www.devir.com.br
Powertrio: Santolouco, Medeiros e Albuquerque em ascenção
Eles estão começando a surfar a crista da onda. O trio de quadrinistas formado por Mateus Santolouco, Rafael Albuquerque e Eduardo Medeiros tem ganhado cada vez mais visibilidade – lá fora do Brasil, até mais do que aqui dentro.
Albuquerque é o desenhista titular da revista mensal American Vampire, publicada pelo selo Vertigo – por si só, um reconhecimento de qualidade, pelo seu caráter cult e bom nível da maioria dos seus títulos.
Escrita por Scott Snyder, um apadrinhado de Stephen King – que roteirizou algumas histórias curtas para a série, igualmente desenhadas por Albuquerque – Vampiro Americano é publicada no Brasil na revista mensal Vertigo (Panini Comics).
Já Santolouco está prestes a ver um dos gibis que ele desenha para o mercado americano, 2 Guns (Boom! Studios), ser adaptado para o cinema pela Universal Pictures, com a dupla de atores Vince Vaughn e Owen Wilson (vista na comédia Penetras Bons de Bico) no elenco.
Juntos, os três ainda preparam Mondo Urbano Vol. 2: Edu em apuros, que espera-se, seja lançado ainda em 2011. Publicada nos EUA pela Oni Press, o volume 1 colecionou elogios.
Mondo Urbano / M. Santolouco, E. Medeiros e R. Albuquerque / Devir / 128 p. / R$ 25 / www.mondourbano.com.br
Dois lançamentos do fim de 2010 reforçam a tese ao apresentar trabalhos extraordinários de quadrinistas de gerações bem diferentes, ambas brilhantes: Fawcett, do mestre do quadrinho brasileiro Flavio Colin (com roteiro de André Diniz Fernandes) e Mondo Urbano, do trio (ou Powertrio, como eles se definem) formado por Mateus Santolouco, Eduardo Medeiros e Rafael Albuquerque.
Além de serem obras muito bem acabadas, Fawcett e Mondo Urbano compartilham outro ponto em comum bem importante: ambas foram publicadas, previamente, de forma independente, quase artesanal.
Mas chamaram tanta atenção que acabaram sendo republicadas por uma editora grande: a Devir, de São Paulo.
Na selva e na metrópole
Fawcett, publicada originalmente pela Editora Nona Arte em 2000, foi um dos últimos trabalhos de Flavio Colin (1930-2002).
Trata-se de uma especulação fictícia acerca de um dos maiores mistérios da selva amazônica: o que teria acontecido com o explorador inglês Percy Harrison Fawcett (1867-1925) que desapareceu para sempre na imensidão da floresta com seu filho, Jack, durante uma expedição em busca de uma suposta civilização perdida?
Já Mondo Urbano foi publicada em quatro revistas indepentes entre 2008 e 2009: Powertrio, Overdose, Cabaret e Encore.
Reunidas neste encadernado da Devir, elas mostram por que o trio de quadrinistas tem sido saudado pela crítica norte-americano como uma espécie de next big thing a vir do Brasil, depois dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá.
Ambas as HQs, cada uma ao seu modo e dentro do seu estilo narrativo – Fawcett é mais tradicional, Mondo é mais modernosa – demonstram a força da arte sequencial brazuca.
Colin deixou marca indelével nas HQ nacionais com seu estilo inconfundível
Em seu sucinto (porém apaixonado) relato biográfico Vida traçada: Um perfil de Flavio Colin (Marca de Fantasia, 2009), o jornalista baiano Gonçalo Júnior não economizou elogios ao artista carioca, dono de estilo próprio, inconfundível e muito peculiar.
“O gigantismo de sua produção e a grandiosidade de sua obra ainda estão por ser mapeados e devidamente estudados, compreendidos e consagrados em obras mais extensas como um acontecimento das artes de um dos autores de quadrinhos mais importantes em todo mundo e em todos os tempos”, derramou-se, com razão.
Morto em 2002, aos 72 anos, Colin teve pouco reconhecimento em vida. “Nos últimos anos, Flavio praticamente implorava por trabalho”, relata Gonçalo.
“Deixou de lado o orgulho e, com lágrimas nos olhos, dizia para os mais próximos que não merecia a humilhação de pedir para que publicassem seus quadrinhos. (...) Com os dois filhos já criados, subsistia ao lado da esposa dona Norma com uma aposentadoria de 1,5 salário do INSS”, revelou o jornalista.
Só comparável aos mestres
Um destino, de fato, profundamente injusto para um verdadeiro estilista dos quadrinhos, como definiu o historiador gaúcho Hiron Cardoso Goidanich.
Defensor apaixonado da cultura e folclore brasileiros, ele deixou marca indelével nos quadrinhos nacionais com sua abordagem brilhante do terror, praticamente reinventando o mito do lobisomem, por exemplo.
Suas páginas exuberantes, só comparáveis as de mestres universais como Jack Kirby, Will Eisner e Joe Kubert, abrilhantou gibis – publicados por editoras já extintas, como Bloch, Vecchi e Grafipar – que embalaram gerações de leitores.
Um resgate do melhor de sua produção entre os anos 1960 e 1980, em um único álbum de luxo que fosse, já seria um belo passo para começar a pagar a dívida que o Brasil tem com este grande artista.
Fawcett / André Diniz Fernandes e Flavio Colin / Devir Livraria / 56 p. / R$ 13,50 / www.devir.com.br
Powertrio: Santolouco, Medeiros e Albuquerque em ascenção
Eles estão começando a surfar a crista da onda. O trio de quadrinistas formado por Mateus Santolouco, Rafael Albuquerque e Eduardo Medeiros tem ganhado cada vez mais visibilidade – lá fora do Brasil, até mais do que aqui dentro.
Albuquerque é o desenhista titular da revista mensal American Vampire, publicada pelo selo Vertigo – por si só, um reconhecimento de qualidade, pelo seu caráter cult e bom nível da maioria dos seus títulos.
Escrita por Scott Snyder, um apadrinhado de Stephen King – que roteirizou algumas histórias curtas para a série, igualmente desenhadas por Albuquerque – Vampiro Americano é publicada no Brasil na revista mensal Vertigo (Panini Comics).
Já Santolouco está prestes a ver um dos gibis que ele desenha para o mercado americano, 2 Guns (Boom! Studios), ser adaptado para o cinema pela Universal Pictures, com a dupla de atores Vince Vaughn e Owen Wilson (vista na comédia Penetras Bons de Bico) no elenco.
Juntos, os três ainda preparam Mondo Urbano Vol. 2: Edu em apuros, que espera-se, seja lançado ainda em 2011. Publicada nos EUA pela Oni Press, o volume 1 colecionou elogios.
Mondo Urbano / M. Santolouco, E. Medeiros e R. Albuquerque / Devir / 128 p. / R$ 25 / www.mondourbano.com.br
terça-feira, fevereiro 01, 2011
MICRO-RESENHAS INAUGURAIS DE 2011, MAS AINDA RUMINANDO 2010
Carta aberta ao Gerard
Oi, Gerard, tudo bem? Acabei de ouvir o último álbum da sua banda, My Chemical Romance. Devo confessar que achei tão ruim quanto o anterior, The Black Parade (2006). Para começar, você continua cantando mal. Sua voz é irritante. As músicas que você faz com sua banda são um amontoado de clichês de rock de arena, sintonizado em uma certa contemporaneidade para lá de vagabunda. Meu conselho? Sai dessa vida, rapaz! Vá escrever mais quadrinhos como a sua série Umbrella Academy, que até que não é nada mal. Aquele abraço! My Chemical Romance / Danger Days - The True Lives Of The Fabulous Killjoys / Warner Music / R$ 29,90
Belle, Norah e Carey
Após um período meio em baixa, os escoceses da banda de indie folk Belle And Sebastian voltam com um álbum que quase lembra seus tempos áureos, na segunda metade dos anos 1990. Impossível ouvir canções como a faixa-título, I’m Not Living in The Real World e Little Lou, Ugly Jack, Prophet John sem abrir um sorriso de reconhecimento. Na primeira, ouve-se a voz da graciosa atriz Carey Mulligan (Educação). E na última, a musa alt.country Norah Jones dá o ar da graça em um delicioso dueto com o band leader Stuart Murdoch. Antigos fãs podem cair dentro sem medo. Belle and Sebastian / Write about love / Lab 344 - Rough Trade / R$ 27,90
Ferry ainda navega bem
Mais conhecido no Brasil pelo hit de motel Slave To Love, Bryan Ferry traz de volta às paradas o pop classudo e sofisticado que fez sua fama desde os tempos de sua antiga banda, Roxy Music. Depois do último CD, só com canções de Bob Dylan (Dylanesque, 2008), em Olympia, o bom e velho crooner retorna com tudo o que tem direito, incluindo a capa com jeito de anúncio de joalheria, típica do Roxy. Em boa forma e com a voz sempre sedutora intacta, crava ótimas composições, como Alphaville (boa para a pista), Shameless, You Can Dance e Heartache By Numbers. Bryan Ferry / Olympia / EMI / R$ 28
Parece, mas não é mesmo
A banda Stone Sour é o projeto paralelo de Corey Taylor e Jim Root – respectivamente, cantor e guitarrista dos mascarados do Slipknot. Ambos os grupos, aliás, já foram anunciados como atrações do próximo Rock in Rio. Neste terceiro álbum, o quinteto oferece mais daquele mesmo hard rock farofa contemporâneo que os caracteriza. Parece pesado, parece sombrio, parece muito rock ‘n’ roll – mas só para quem nasceu ontem. Ou nunca ouviu Sepultura, Faith No More e White Zombie. Prefira as originais. Stone Sour / Audio Secrecy / Roadrunner-Warner Music / R$ 29,90
Emulando o Joy Division
Quinto álbum da badalada banda norte-americana The National, High Violet foi saudado com elogios superlativos pela crítica especializada e figura entre os primeiros lugares das listas de melhores de 2010. Com canções – à primeira audição – acabrunhadas e tristonhas, a banda faz muito bem o que muitos passaram esta última década inteira tentando: atualizar / reeditar o som do Joy Division. Obviamente, a voz grave de Matt Berninger ajuda um tantão, mas os arranjos meio grandiloquentes também impressionam. Porém, quem procura algo original de fato deve passar ao largo. The National / High Violet / Lab 344 / R$ 24,90
Fantasmas da China
Organizado por Márcia Schmaltz e Sérgio Capparelli, esta linda edição – ricamente ilustrada e em papel cuchê – traz 25 dos mais fantásticos contos chineses. A seleção abrange desde o ano 475 a.C até o século XVIII. Contos sobrenaturais chineses / 128 p. / R$ 38 / L&PM
Revistinhas de sacanagem
Organizada por Gonçalo Júnior, esta 2ª caixa de catecismos eróticos traz as Tijuana Bibles, revistinhas pornográficas americanas produzidas entre as décadas de 1930 a 50. Erotismo vintage para os apreciadores. Quadrinhos Sujos: Caixa 2 - O Catecismo Americano (1930- 1950) / R$ 69 / Peixe Grande Editoractiva
Pesadelos clássicos
O que estes três clássicos do horror tem em comum? Além de estarem reunidos neste único volume, os três tiveram origem em um pesadelo de seus respectivos autores em alguma noite de sono especialmente inquieto. Leitura obrigatória – e não só para fãs do gênero terror. Drácula, Frankenstein e O médico e o monstro / Bram Stoker, Mary Shelley e Robert L. Stevenson / 688 p. / R$ 95 / L&PM
Nos canos
Clássico libertário sul-americano, este livro do uruguaio Eduardo Galeano volta às livrarias em nova tradução (de Sérgio Faraco) e edições pocket e convencional. O autor faz o triste inventário da exploração e submissão que tem vitimado a América Latina, do século XVI até hoje. As veias abertas da América Latina / Eduardo Galeano
/ L&PM / 392 p. / R$ 44 e R$ 22 (pocket) /lpm.com.br
Areias escaldantes
Duna, um clássico monumental da FC, volta às livrarias com novas edição e tradução (Maria do Carmo Zanini). Em um mundo desértico, meio medieval, meio futurista, um jovem príncipe, Paul Atreides, tenta sobreviver em meio a intrincadas conspirações políticas. Saga só comparável a’O Senhor dos Aneis. Duna / Frank Herbert / Aleph / 544 p. / R$ 56 / www.editoraaleph.com.br
Mais um produto para Gaimaníacos brazucas
O escritor inglês Neil Gaiman (Sandman) já é coisa nossa, uma paixão brasileira. Neste livro, o jornalista carioca Heitor Pitombo dá uma geral em toda a sua vasta obra, catalogando tudo o que saiu (e não saiu) no Brasil. De quebra, uma boa entrevista com o homem. Obra de referência para fãs brazucas. Entes Perpétuos: O universo onírico de Neil Gaiman / Heitor Pitombo / Kalaco / 192 p. / R$ 39/ www.kalaco.com.br
Legítimo manifesto punk
Grande representação local do punk rock, a Pastel de Miolos revisa a carreira de 15 anos. O resultado é este manifesto (a capa cita a carteira de trabalho) contra o sistema que condena o cidadão a trabalhar por uma miséria até morrer. É panfletário? Pode até ser, mas é também muito legítimo – tanto quanto os robôs alienados que cantam “hits de verão” em onomatopeias infantis. Ou como eles dizem, “Não se engane / Você não é livre / Condicionado a falta de opinião / Suscetível a qualquer sugestão”. A perfeita tradução da Bahia atual. Pastel de Miolos / Da Escravidão Ao Salário Minimo / Brechó-Big Bross-Tamborete-Pisces Records / R$ 10
Poesia, piano e amigos
Poeta veterano do rock, Tony Lopes assume a persona Reverendo T neste belo álbum com sonoridade baseada em piano, baixo e bateria. São 20 faixas. Da faixa 1 até 10, ele mesmo canta. Da faixa 11 até 20, heróis do underground local interpretam as mesmas faixas. Ronei Jorge detona em Maluca. Artur Ribeiro emociona em Casca do Ovo. Há ainda Paulinho Oliveira, Nancyta, Dois em Um, Moisés Santana, Dão e outros, fazendo o melhor registro da obra do Reverendo desde sempre. Reverendo T & Os Discípulos Descrentes / Pequenos milagres de um santo barroco de barro / Brechó-Big Bross-Torto Fonogramas-São Rock / R$ 10
Os esquizo-nerds voltaram
Vinte anos se passaram entre o último álbum do Devo (os pioneiros da new wave), e este, Something For Everybody. Considerando-se que Smooth Noodle Maps (1990) era uma boa porcaria, este, que não é tão ruim, já sai com uma vantagem. O disco diversas vezes soa com uma auto-paródia – uma armadilha bem difícil de se evitar – mas aqui e ali salvam-se algumas canções que chegam a lembrar os bons tempos dos hits Whip It e Peek-a-Boo. São elas: Mind Games, Sumthin’, Please Baby Please e Cameo. Os esquizo-nerds do mal ainda mandam bem. Devo / Something for Everybody / Warner Music / R$ 24,90
As pessoas e os lugares
No 2º volume (de 4) da série Close-Up, em que revê sua carreira, Suzanne Vega destaca as pessoas e lugares de suas canções. Estão aqui, portanto, seus dois maiores sucessos: Luka e Tom’s Diner. De acordo com a estética minimalista adotada no 1º disco, ambas surgem quase desnudas, apenas com violão, um baixo acústico aqui, uma percussão ali, um cello acolá. As músicas envelheceram bem, mantendo sua força e comunicabilidade pop. NY is a Woman, porém, surge como a canção mais brilhante do CD. Mais um belo disco da musa do Greenwich Village. Suzanne Vega / Close-up Vol. 2: People and Places / Lab 344 / R$ 29,90
Oi, Gerard, tudo bem? Acabei de ouvir o último álbum da sua banda, My Chemical Romance. Devo confessar que achei tão ruim quanto o anterior, The Black Parade (2006). Para começar, você continua cantando mal. Sua voz é irritante. As músicas que você faz com sua banda são um amontoado de clichês de rock de arena, sintonizado em uma certa contemporaneidade para lá de vagabunda. Meu conselho? Sai dessa vida, rapaz! Vá escrever mais quadrinhos como a sua série Umbrella Academy, que até que não é nada mal. Aquele abraço! My Chemical Romance / Danger Days - The True Lives Of The Fabulous Killjoys / Warner Music / R$ 29,90
Belle, Norah e Carey
Após um período meio em baixa, os escoceses da banda de indie folk Belle And Sebastian voltam com um álbum que quase lembra seus tempos áureos, na segunda metade dos anos 1990. Impossível ouvir canções como a faixa-título, I’m Not Living in The Real World e Little Lou, Ugly Jack, Prophet John sem abrir um sorriso de reconhecimento. Na primeira, ouve-se a voz da graciosa atriz Carey Mulligan (Educação). E na última, a musa alt.country Norah Jones dá o ar da graça em um delicioso dueto com o band leader Stuart Murdoch. Antigos fãs podem cair dentro sem medo. Belle and Sebastian / Write about love / Lab 344 - Rough Trade / R$ 27,90
Ferry ainda navega bem
Mais conhecido no Brasil pelo hit de motel Slave To Love, Bryan Ferry traz de volta às paradas o pop classudo e sofisticado que fez sua fama desde os tempos de sua antiga banda, Roxy Music. Depois do último CD, só com canções de Bob Dylan (Dylanesque, 2008), em Olympia, o bom e velho crooner retorna com tudo o que tem direito, incluindo a capa com jeito de anúncio de joalheria, típica do Roxy. Em boa forma e com a voz sempre sedutora intacta, crava ótimas composições, como Alphaville (boa para a pista), Shameless, You Can Dance e Heartache By Numbers. Bryan Ferry / Olympia / EMI / R$ 28
Parece, mas não é mesmo
A banda Stone Sour é o projeto paralelo de Corey Taylor e Jim Root – respectivamente, cantor e guitarrista dos mascarados do Slipknot. Ambos os grupos, aliás, já foram anunciados como atrações do próximo Rock in Rio. Neste terceiro álbum, o quinteto oferece mais daquele mesmo hard rock farofa contemporâneo que os caracteriza. Parece pesado, parece sombrio, parece muito rock ‘n’ roll – mas só para quem nasceu ontem. Ou nunca ouviu Sepultura, Faith No More e White Zombie. Prefira as originais. Stone Sour / Audio Secrecy / Roadrunner-Warner Music / R$ 29,90
Emulando o Joy Division
Quinto álbum da badalada banda norte-americana The National, High Violet foi saudado com elogios superlativos pela crítica especializada e figura entre os primeiros lugares das listas de melhores de 2010. Com canções – à primeira audição – acabrunhadas e tristonhas, a banda faz muito bem o que muitos passaram esta última década inteira tentando: atualizar / reeditar o som do Joy Division. Obviamente, a voz grave de Matt Berninger ajuda um tantão, mas os arranjos meio grandiloquentes também impressionam. Porém, quem procura algo original de fato deve passar ao largo. The National / High Violet / Lab 344 / R$ 24,90
Fantasmas da China
Organizado por Márcia Schmaltz e Sérgio Capparelli, esta linda edição – ricamente ilustrada e em papel cuchê – traz 25 dos mais fantásticos contos chineses. A seleção abrange desde o ano 475 a.C até o século XVIII. Contos sobrenaturais chineses / 128 p. / R$ 38 / L&PM
Revistinhas de sacanagem
Organizada por Gonçalo Júnior, esta 2ª caixa de catecismos eróticos traz as Tijuana Bibles, revistinhas pornográficas americanas produzidas entre as décadas de 1930 a 50. Erotismo vintage para os apreciadores. Quadrinhos Sujos: Caixa 2 - O Catecismo Americano (1930- 1950) / R$ 69 / Peixe Grande Editoractiva
Pesadelos clássicos
O que estes três clássicos do horror tem em comum? Além de estarem reunidos neste único volume, os três tiveram origem em um pesadelo de seus respectivos autores em alguma noite de sono especialmente inquieto. Leitura obrigatória – e não só para fãs do gênero terror. Drácula, Frankenstein e O médico e o monstro / Bram Stoker, Mary Shelley e Robert L. Stevenson / 688 p. / R$ 95 / L&PM
Nos canos
Clássico libertário sul-americano, este livro do uruguaio Eduardo Galeano volta às livrarias em nova tradução (de Sérgio Faraco) e edições pocket e convencional. O autor faz o triste inventário da exploração e submissão que tem vitimado a América Latina, do século XVI até hoje. As veias abertas da América Latina / Eduardo Galeano
/ L&PM / 392 p. / R$ 44 e R$ 22 (pocket) /lpm.com.br
Areias escaldantes
Duna, um clássico monumental da FC, volta às livrarias com novas edição e tradução (Maria do Carmo Zanini). Em um mundo desértico, meio medieval, meio futurista, um jovem príncipe, Paul Atreides, tenta sobreviver em meio a intrincadas conspirações políticas. Saga só comparável a’O Senhor dos Aneis. Duna / Frank Herbert / Aleph / 544 p. / R$ 56 / www.editoraaleph.com.br
Mais um produto para Gaimaníacos brazucas
O escritor inglês Neil Gaiman (Sandman) já é coisa nossa, uma paixão brasileira. Neste livro, o jornalista carioca Heitor Pitombo dá uma geral em toda a sua vasta obra, catalogando tudo o que saiu (e não saiu) no Brasil. De quebra, uma boa entrevista com o homem. Obra de referência para fãs brazucas. Entes Perpétuos: O universo onírico de Neil Gaiman / Heitor Pitombo / Kalaco / 192 p. / R$ 39/ www.kalaco.com.br
Legítimo manifesto punk
Grande representação local do punk rock, a Pastel de Miolos revisa a carreira de 15 anos. O resultado é este manifesto (a capa cita a carteira de trabalho) contra o sistema que condena o cidadão a trabalhar por uma miséria até morrer. É panfletário? Pode até ser, mas é também muito legítimo – tanto quanto os robôs alienados que cantam “hits de verão” em onomatopeias infantis. Ou como eles dizem, “Não se engane / Você não é livre / Condicionado a falta de opinião / Suscetível a qualquer sugestão”. A perfeita tradução da Bahia atual. Pastel de Miolos / Da Escravidão Ao Salário Minimo / Brechó-Big Bross-Tamborete-Pisces Records / R$ 10
Poesia, piano e amigos
Poeta veterano do rock, Tony Lopes assume a persona Reverendo T neste belo álbum com sonoridade baseada em piano, baixo e bateria. São 20 faixas. Da faixa 1 até 10, ele mesmo canta. Da faixa 11 até 20, heróis do underground local interpretam as mesmas faixas. Ronei Jorge detona em Maluca. Artur Ribeiro emociona em Casca do Ovo. Há ainda Paulinho Oliveira, Nancyta, Dois em Um, Moisés Santana, Dão e outros, fazendo o melhor registro da obra do Reverendo desde sempre. Reverendo T & Os Discípulos Descrentes / Pequenos milagres de um santo barroco de barro / Brechó-Big Bross-Torto Fonogramas-São Rock / R$ 10
Os esquizo-nerds voltaram
Vinte anos se passaram entre o último álbum do Devo (os pioneiros da new wave), e este, Something For Everybody. Considerando-se que Smooth Noodle Maps (1990) era uma boa porcaria, este, que não é tão ruim, já sai com uma vantagem. O disco diversas vezes soa com uma auto-paródia – uma armadilha bem difícil de se evitar – mas aqui e ali salvam-se algumas canções que chegam a lembrar os bons tempos dos hits Whip It e Peek-a-Boo. São elas: Mind Games, Sumthin’, Please Baby Please e Cameo. Os esquizo-nerds do mal ainda mandam bem. Devo / Something for Everybody / Warner Music / R$ 24,90
As pessoas e os lugares
No 2º volume (de 4) da série Close-Up, em que revê sua carreira, Suzanne Vega destaca as pessoas e lugares de suas canções. Estão aqui, portanto, seus dois maiores sucessos: Luka e Tom’s Diner. De acordo com a estética minimalista adotada no 1º disco, ambas surgem quase desnudas, apenas com violão, um baixo acústico aqui, uma percussão ali, um cello acolá. As músicas envelheceram bem, mantendo sua força e comunicabilidade pop. NY is a Woman, porém, surge como a canção mais brilhante do CD. Mais um belo disco da musa do Greenwich Village. Suzanne Vega / Close-up Vol. 2: People and Places / Lab 344 / R$ 29,90