Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Páginas
▼
quinta-feira, setembro 30, 2010
ADORÁVEIS PROBLEMAS
Robert Crumb tem problemas com as mulheres – mas quem não tem, incluindo elas próprias? A diferença é que, à maneira própria dos gênios, o artista norte-americano, radicado há décadas na França, transforma suas taras, manias e preferências sexuais em grande arte.
É essa faceta da produção do quadrinista, voltada para o belo sexo, que agora chega às livrarias, no volume justamente intitulado Meus problemas com as mulheres (Conrad).
O álbum, em excelente edição de capa dura, surge na esteira da recente avalanche de lançamentos (e relançamentos) do artista que as editoras despejaram no mercado, a fim de aproveitar sua passagem pelo Brasil na última Feira Literária de Paraty, em agosto.
A despeito do pretexto, uma oportunidade comercial, qualquer material de Robert Crumb vem sempre em boa hora. Que dirá um inédito, no qual ele se desnuda (e às suas musas) das formas mais desinibidas e sacanas possíveis.
Efeito “bagageiro”
O negócio de Crumb é um só: mulher grande. Não importa se é loira, morena, negra, judia ou católica (como ele mesmo). Tem que ser voluptuosa.
Ou, como ele mesmo descreve no cartum intitulado O corpo feminino perfeito: “Nádegas excepcionalmente grandes, bem carnosas e firmes, com efeito bagageiro”.
Chauvinismo à parte, Crumb poderia muito bem ser brasileiro.
Mas a graça maior do livro, além de sua arte espetacular, claro, é a forma hilariante e aberta com a qual ele descreve seus altos e baixos no relacionamento com o sexo oposto.
Chega a ser até mesmo meio parecido com, Woody Allen, especialmente o do filme Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar), de 1972.
Tímido, magrela, reprimido, Crumb começou a fazer sucesso com as mulheres quando iniciou a publicação dos seus quadrinhos (criados à base de muito ácido lisérgico) nas revistas underground dos anos 1960.
“Jovens hippies maravilhosas começaram a dar mole pra mim. (...)Fiquei bestificado! Como aquelas garotas podiam gostar de um paspalho como eu?”, escreve, na HQ-título do livro. O resto, como se diz, são várias histórias. Em quadrinhos.
Meus problemas com as mulheres / Robert Crumb / Editora Conrad / 100 p. / R$ 49,90 / http://www.lojaconrad.com.br/
segunda-feira, setembro 27, 2010
QUEM JÁ FOI CHEFÃO NUNCA PERDE A AUTORIDADE
Desde que surgiu no cenário roqueiro, em meados dos anos 1970, Bruce Springsteen foi alvo de elogios superlativos – fosse dos fãs, jornalistas ou críticos de música. Ao assistir seu recém lançado DVD London Calling: Live in Hyde Park (Sony Music), fica fácil entender por que.
Já em 1974, ficou célebre a frase de Jon Landau no jornalzinho alternativo de Boston, The Real Paper: “Eu vi o futuro do rock e seu nome é Bruce Springsteen“.
Quatro anos depois, foi a vez do inglês Tony Parsons rebater Landau, com uma ressalva: “Ele não é, infelizmente, o futuro do rock ‘n‘ roll, mas é tão bom, tão vital, tão honesto, que mostra que boa parte do resto não passa de um bando de cretinos esquálidos“, escreveu, no lindo artigo que pode ser lido no seu livro Disparos do front da cultura pop (Barracuda, 2006).
Tudo isso é para acrescentar que não só todas essas palavras ditas há mais de trinta anos ainda estão valendo, como parecem cada vez mais acertadas.
Em London Calling, Bruce, que daqui a dois dias completa 61 anos, demonstra estar no topo da forma, com fôlego de menino no palco. Para se ter uma ideia, o DVD teve de ser duplo para poder comportar a íntegra do show, com 27 canções em quase três horas.
Gravado em 28 de junho de 2009, no Hyde Park de Londres, o show traz Bruce acompanhado pela sua clássica banda de acompanhamento, a E Street Band – e suas figuraças: o guitarrista Stevie Van Zandt (também conhecido como o Silvio Dante, do seriado Família Soprano) e o saxofonista Clarence Clemmons, entre outros.
O show começa com Bruce jogando para a galera londrina (nem precisava) homenageando a cidade e uma das maiores bandas locais: The Clash, com a faixa-titulo, o petardo London Calling, em versão fiel.
O cover é o abre-alas de uma sequência matadora, com Badlands, Night e She‘s The One. O nível de energia despendida por Bruce & Cia é tão alto que daria para iluminar uma cidade.
Bem humorado, o cantor, que sua em bicas e troca de camisa diversas vezes, brinca bastante com Van Zandt, seu braço direito.
Lá pelo fim do show, com os hits Glory Days e Dancing in the Dark, fica evidente por que seu apelido Boss (Chefão) nunca foi por acaso.
London Calling: Live in Hyde Park / Bruce Springsteen & The E Street Band / Sony Music / R$ 64,90
Já em 1974, ficou célebre a frase de Jon Landau no jornalzinho alternativo de Boston, The Real Paper: “Eu vi o futuro do rock e seu nome é Bruce Springsteen“.
Quatro anos depois, foi a vez do inglês Tony Parsons rebater Landau, com uma ressalva: “Ele não é, infelizmente, o futuro do rock ‘n‘ roll, mas é tão bom, tão vital, tão honesto, que mostra que boa parte do resto não passa de um bando de cretinos esquálidos“, escreveu, no lindo artigo que pode ser lido no seu livro Disparos do front da cultura pop (Barracuda, 2006).
Tudo isso é para acrescentar que não só todas essas palavras ditas há mais de trinta anos ainda estão valendo, como parecem cada vez mais acertadas.
Em London Calling, Bruce, que daqui a dois dias completa 61 anos, demonstra estar no topo da forma, com fôlego de menino no palco. Para se ter uma ideia, o DVD teve de ser duplo para poder comportar a íntegra do show, com 27 canções em quase três horas.
Gravado em 28 de junho de 2009, no Hyde Park de Londres, o show traz Bruce acompanhado pela sua clássica banda de acompanhamento, a E Street Band – e suas figuraças: o guitarrista Stevie Van Zandt (também conhecido como o Silvio Dante, do seriado Família Soprano) e o saxofonista Clarence Clemmons, entre outros.
O show começa com Bruce jogando para a galera londrina (nem precisava) homenageando a cidade e uma das maiores bandas locais: The Clash, com a faixa-titulo, o petardo London Calling, em versão fiel.
O cover é o abre-alas de uma sequência matadora, com Badlands, Night e She‘s The One. O nível de energia despendida por Bruce & Cia é tão alto que daria para iluminar uma cidade.
Bem humorado, o cantor, que sua em bicas e troca de camisa diversas vezes, brinca bastante com Van Zandt, seu braço direito.
Lá pelo fim do show, com os hits Glory Days e Dancing in the Dark, fica evidente por que seu apelido Boss (Chefão) nunca foi por acaso.
London Calling: Live in Hyde Park / Bruce Springsteen & The E Street Band / Sony Music / R$ 64,90
quinta-feira, setembro 23, 2010
COQUETEL MOLOTOV CHEGA À SALVADOR, (ESPERA-SE) PARA FICAR
De vez em quando (bem de vez em quando, na verdade), uma graça divina concede um alívio para os sofridos roqueiros baianos e lhes oferece um show de rock internacional realmente interessante – para compensar as falácias anuais de verão.
Depois do Placebo em 2005 e do Mudhoney em 2008, chegou a hora de a Bahia conferir, ao vivo, as melodias e o peso que celebrizaram os norte-americanos do Dinosaur Jr. como uma das bandas mais representativas do rock alternativo na década de 1990.
O grupo, liderado pelo super guitarrista J. Mascis, se apresenta na Concha Acústica do Teatro Castro Alves neste próximo domingo, último dia do festival recifense No Ar Coquetel Molotov, que acontece todos os anos na capital pernambucana desde 2004 – e chega a Bahia para ficar, segundo a sua idealizadora, Ana Garcia.
Festa de três dias
Mas ainda há mais. No mesmo dia, a programação do festival ainda prevê apresentações da festejada Cidadão Instigado e da pernambucana A Banda de Joseph Tourton, que volta à cidade um mês depois de estrear em Salvador, no Pelourinho.
Um dia antes, no sábado, a Concha Acústica recebe a banda local Dubstereo Sound e duas (doces) cantoras: a brasileira Céu e a francesa Soko.
Mas essa festa toda começa mesmo é na sexta-feira, com uma festa de abertura animada pela banda Radiola e pelo trompetista Guizado, na Zauber.
Via Conexão
A sabedoria popular aconselha a sempre desconfiar quando a esmola parece muita. Daí a surpresa, nos bastidores da comunidade roqueira local, quando a notícia da vinda do festival No Ar Coquetel Molotov para Salvador – trazendo a adorada banda Dinosaur Jr. como atração principal – começou a se espalhar.
Mas a incredulidade foi, aos poucos, dando lugar à satisfação advinda da confirmação: o negócio era “quente“, mesmo. Surgido em 2004 em Recife, o No Ar Coquetel Molotov é um festival anual realizado pelo coletivo indie Coquetel Molotov, e que, em um esforço de expansão, crava sua primeira filial permanente em terras baianas.
“Salvador tem uma carência muito parecida com a de Recife, aonde tem muita coisa acontecendo, mas mesmo assim, não consegue entrar no rota dos eventos internacionais. Até por isso, não me sinto insegura de levar o festival aí“, observa a produtora Ana Garcia.
A ideia de trazer o evento para a cidade começou a se desenhar na cabeça de Ana quando ela esteve aqui conferindo a edição baiana do festival Conexão Vivo (parceiro do Coquetel), na Praça Wilson Lins, na orla da Pituba. “Estive aí no Conexão Vivo e me apaixonei pela cidade“, conta.
Ano que vem tem mais
Dias depois, durante um encontro de produtores em Belo Horizonte, ela encontrou duas figuras essenciais para a vinda do Coquetel: Dalmo Peres (da empresa baiana Caderno 2 Produções) e Maurílio Kuru Lima, coordenador do Conexão Vivo.
Este último foi, como Ana define, sua “inspiração“: “Eu vejo os eventos que ele consegue fazer em outras cidades fora de Belo Horizonte e o considero um exemplo a seguir“, define.
Já Dalmo foi o contato local que viabilizou o processo, através do Fazcultura: “Durante uma conversa com Dalmo, a gente viu que seria muito legal (levar o Coquetel para Salvador). Na hora, ele se prontificou a inscrever o projeto (no Fazcultura)“, conta Ana.
A ideia é que o NACM também seja anual em Salvador, e cada vez mais parecido com a matriz: ”Vamos fazer uma segunda edição aí sim, e espero que seja ainda mais parecido com o que fazemos aqui em Recife, com mostra de cinema, debates e oficinas, que são uma parte muito importante do conceito do festival”, detalha.
A seleção das atrações é feita pela própria Ana e seus parceiros, através de diversas fontes: ”A gente viaja muito e assiste ao máximo de shows, recebe muito material e utiliza todas as ferramentas da internet. É uma mistura disso tudo”, conta.
”Ano que vem é possível que role inscrição para bandas. Mas, por enquanto, a curadoria é feita por nós mesmos, pescando o que há de novo”, conclui.
SERVIÇO:
Festival No Ar Coquetel Molotov / Sexta-feira: Abertura com Guizado (SP) e Radiola / Zauber Multicultura / 22 horas / R$ 10 / Sábado: Dubstereo, Soko (França) e Céu (SP) / domingo: A Banda de Joseph Tourton (PE), Cidadão Instigado (CE) e Dinosaur Jr. (EUA) / 18 horas / Concha Acústica TCA / R$ 20 e R$ 10
CONCORRÊNCIA É ESTÍMULO PARA PRODUTORES LOCAIS
A realização do Coquetel Molotov em Salvador mexeu, de certa forma, com os brios dos produtores roqueiros locais.
Há décadas batalhando no ingrato cenário soteropolitano, alguns deles tiveram dificuldade em aceitar que uma produtora de fora da cidade de repente chegasse e conseguisse, aparentemente sem grandes dificuldades, realizar um festival na Concha Acústica, com uma banda internacional de respeito.
Para Rogério Big Brother Brito, idealizador do festival Big Bands, a dúvida é simples: “Se fosse alguém daqui, procurando o Fazcultura para botar bandas estrangeiras desconhecidas na Concha Acústica, será que seria aprovado?“, pergunta.
”Na verdade, nunca tentei pelo Fazcultura por que tudo isso ainda é uma coisa nova pra gente. Esse tipo de possibilidade só surgiu nos últimos anos. É só recentemente conseguimos o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), exigência para poder dar entrada de um projeto no Fazcultura”, contemporiza.
”Mas tudo bem, ano que vem, também vou inscrever o Big Bands no Fazcultura”, diz.
”Confesso que de início fiquei meio pirado, mas agora caiu a ficha. Vamos lá curtir o Dinosaur Jr., claro. Mas ano que vem, vamos fazer um festival do caralho”, promete, motivado.
Já Sandra de Cássia, idealizadora do Palco do Rock, que rola há 16 anos no Carnaval, diz não ter ”nada contra”. ”Mas acho que esses apoios também devem estar acessíveis aos produtores locais. Isso gera uma frustração, parece que não somos capazes. Mas espero que dê tudo certo, claro”, conclui.
ENTREVISTA: J. Mascis
"Nunca pensamos em vender toneladas de discos"
Joseph Donald Mascis (pronuncia-se mass-kiss), cantor e guitarrista norte-americano de 45 anos, nascido no estado de Massachusetts, é um homem de poucas palavras. É fato: entrevistas não são o seu forte. Sua linguagem de preferência, como seus muitos fãs ao redor do mundo bem sabem, é a dos marcantes riffs de guitarra que notabilizaram sua banda, a Dinosaur Jr., como uma das mais representativas do rock alternativo norte-americano – um movimento que surgiu na esteira do pós-punk, se firmou no underground nos anos 1980 e arrebentou no mainstream na década seguinte, depois que o Nirvana meteu o pé na porta. Nesta entrevista exclusiva, J. Mascis fala pouco – mas diz tudo.
Pergunta: Como vai ser o repertório dos shows no Brasil? Vai ter alguma música de sua banda paralela, The Fog?
J. Mascis: Muitos hits, de quase todos os álbuns, mas nenhuma canção do The Fog.
P: Você é considerado um dos mais importantes músicos do rock alternativo norte-americano. Mas alternativo ao quê? As influências de rock clássico em seu som são bem claras – como Neil Young, por exemplo. Como você vê esse lance de "rock alternativo"?
JM: Suponho que é porque, quando começamos, éramos definitivamente alternativos, não tínhamos fãs. Só tínhamos uma ideia de que música queríamos ouvir. Nos espelhávamos nas bandas do (clássico selo independente) SST e queríamos excursionar no circuito que o Black Flag (banda punk pioneira dos EUA, liderada por Henry Rollins) estabeleceu. Não pensávamos em estar numa gravadora major ou vender toneladas de discos.
P: Após vários anos desativada, a banda voltou com a formação original. Está tudo bem entre os membros agora? Podemos esperar uma reunião definitiva, de longo prazo?
JM: Nós vivemos um dia por vez. E nossa relação está OK nesse momento.
P: Quem são suas influências como guitarrista? Por que seu som é tão barulhento?
JM: Greg Sage (da banda punk Wipers), Ron Asheton (The Stooges), Keith Richards, Mick Taylor (ambos dos Rolling Stones) são minhas influências. Sempre adorei barulho.
P: Farm (2009), seu último álbum, é um dos melhores da carreira do Dinosaur Jr. O que podemos esperar do seu próximo disco?
JM: Sem planos por enquanto. Mas vou lançar um novo disco solo em fevereiro.
P: É a primeira vez que a banda vem ao Brasil, não? Por que demorou tanto? Você conhece algo de música brasileira?
JM: Não sei muito de música brasileira. Não sei por que nunca tocamos no Brasil antes, sempre quisemos ir aí.
P: Se pudesse escolher um produtor, vivo ou morto, quem seria?
JM: John Leckie (produtor britânico, famoso por produzir, entre outros, álbuns como Stone Roses, da banda homônima e The Bends, do Radiohead).
P: Indicaria alguma banda surgida nos últimos dez anos de que gostou?
JM: Magik Markers (banda noise de Hartford, Connecticut. www.myspace.com/theemagikmarkers).
P: Qual seu álbum preferido do Dinosaur Jr? Por que?
JM: You‘re Living All Over Me (1987). Foi quando nos firmamos como banda e fizemos nossa música, nosso som. Nós meio que desmoronamos depois disso.
Depois do Placebo em 2005 e do Mudhoney em 2008, chegou a hora de a Bahia conferir, ao vivo, as melodias e o peso que celebrizaram os norte-americanos do Dinosaur Jr. como uma das bandas mais representativas do rock alternativo na década de 1990.
O grupo, liderado pelo super guitarrista J. Mascis, se apresenta na Concha Acústica do Teatro Castro Alves neste próximo domingo, último dia do festival recifense No Ar Coquetel Molotov, que acontece todos os anos na capital pernambucana desde 2004 – e chega a Bahia para ficar, segundo a sua idealizadora, Ana Garcia.
Festa de três dias
Mas ainda há mais. No mesmo dia, a programação do festival ainda prevê apresentações da festejada Cidadão Instigado e da pernambucana A Banda de Joseph Tourton, que volta à cidade um mês depois de estrear em Salvador, no Pelourinho.
Um dia antes, no sábado, a Concha Acústica recebe a banda local Dubstereo Sound e duas (doces) cantoras: a brasileira Céu e a francesa Soko.
Mas essa festa toda começa mesmo é na sexta-feira, com uma festa de abertura animada pela banda Radiola e pelo trompetista Guizado, na Zauber.
Via Conexão
A sabedoria popular aconselha a sempre desconfiar quando a esmola parece muita. Daí a surpresa, nos bastidores da comunidade roqueira local, quando a notícia da vinda do festival No Ar Coquetel Molotov para Salvador – trazendo a adorada banda Dinosaur Jr. como atração principal – começou a se espalhar.
Mas a incredulidade foi, aos poucos, dando lugar à satisfação advinda da confirmação: o negócio era “quente“, mesmo. Surgido em 2004 em Recife, o No Ar Coquetel Molotov é um festival anual realizado pelo coletivo indie Coquetel Molotov, e que, em um esforço de expansão, crava sua primeira filial permanente em terras baianas.
“Salvador tem uma carência muito parecida com a de Recife, aonde tem muita coisa acontecendo, mas mesmo assim, não consegue entrar no rota dos eventos internacionais. Até por isso, não me sinto insegura de levar o festival aí“, observa a produtora Ana Garcia.
A ideia de trazer o evento para a cidade começou a se desenhar na cabeça de Ana quando ela esteve aqui conferindo a edição baiana do festival Conexão Vivo (parceiro do Coquetel), na Praça Wilson Lins, na orla da Pituba. “Estive aí no Conexão Vivo e me apaixonei pela cidade“, conta.
Ano que vem tem mais
Dias depois, durante um encontro de produtores em Belo Horizonte, ela encontrou duas figuras essenciais para a vinda do Coquetel: Dalmo Peres (da empresa baiana Caderno 2 Produções) e Maurílio Kuru Lima, coordenador do Conexão Vivo.
Este último foi, como Ana define, sua “inspiração“: “Eu vejo os eventos que ele consegue fazer em outras cidades fora de Belo Horizonte e o considero um exemplo a seguir“, define.
Já Dalmo foi o contato local que viabilizou o processo, através do Fazcultura: “Durante uma conversa com Dalmo, a gente viu que seria muito legal (levar o Coquetel para Salvador). Na hora, ele se prontificou a inscrever o projeto (no Fazcultura)“, conta Ana.
A ideia é que o NACM também seja anual em Salvador, e cada vez mais parecido com a matriz: ”Vamos fazer uma segunda edição aí sim, e espero que seja ainda mais parecido com o que fazemos aqui em Recife, com mostra de cinema, debates e oficinas, que são uma parte muito importante do conceito do festival”, detalha.
A seleção das atrações é feita pela própria Ana e seus parceiros, através de diversas fontes: ”A gente viaja muito e assiste ao máximo de shows, recebe muito material e utiliza todas as ferramentas da internet. É uma mistura disso tudo”, conta.
”Ano que vem é possível que role inscrição para bandas. Mas, por enquanto, a curadoria é feita por nós mesmos, pescando o que há de novo”, conclui.
SERVIÇO:
Festival No Ar Coquetel Molotov / Sexta-feira: Abertura com Guizado (SP) e Radiola / Zauber Multicultura / 22 horas / R$ 10 / Sábado: Dubstereo, Soko (França) e Céu (SP) / domingo: A Banda de Joseph Tourton (PE), Cidadão Instigado (CE) e Dinosaur Jr. (EUA) / 18 horas / Concha Acústica TCA / R$ 20 e R$ 10
CONCORRÊNCIA É ESTÍMULO PARA PRODUTORES LOCAIS
A realização do Coquetel Molotov em Salvador mexeu, de certa forma, com os brios dos produtores roqueiros locais.
Há décadas batalhando no ingrato cenário soteropolitano, alguns deles tiveram dificuldade em aceitar que uma produtora de fora da cidade de repente chegasse e conseguisse, aparentemente sem grandes dificuldades, realizar um festival na Concha Acústica, com uma banda internacional de respeito.
Para Rogério Big Brother Brito, idealizador do festival Big Bands, a dúvida é simples: “Se fosse alguém daqui, procurando o Fazcultura para botar bandas estrangeiras desconhecidas na Concha Acústica, será que seria aprovado?“, pergunta.
”Na verdade, nunca tentei pelo Fazcultura por que tudo isso ainda é uma coisa nova pra gente. Esse tipo de possibilidade só surgiu nos últimos anos. É só recentemente conseguimos o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), exigência para poder dar entrada de um projeto no Fazcultura”, contemporiza.
”Mas tudo bem, ano que vem, também vou inscrever o Big Bands no Fazcultura”, diz.
”Confesso que de início fiquei meio pirado, mas agora caiu a ficha. Vamos lá curtir o Dinosaur Jr., claro. Mas ano que vem, vamos fazer um festival do caralho”, promete, motivado.
Já Sandra de Cássia, idealizadora do Palco do Rock, que rola há 16 anos no Carnaval, diz não ter ”nada contra”. ”Mas acho que esses apoios também devem estar acessíveis aos produtores locais. Isso gera uma frustração, parece que não somos capazes. Mas espero que dê tudo certo, claro”, conclui.
ENTREVISTA: J. Mascis
"Nunca pensamos em vender toneladas de discos"
Joseph Donald Mascis (pronuncia-se mass-kiss), cantor e guitarrista norte-americano de 45 anos, nascido no estado de Massachusetts, é um homem de poucas palavras. É fato: entrevistas não são o seu forte. Sua linguagem de preferência, como seus muitos fãs ao redor do mundo bem sabem, é a dos marcantes riffs de guitarra que notabilizaram sua banda, a Dinosaur Jr., como uma das mais representativas do rock alternativo norte-americano – um movimento que surgiu na esteira do pós-punk, se firmou no underground nos anos 1980 e arrebentou no mainstream na década seguinte, depois que o Nirvana meteu o pé na porta. Nesta entrevista exclusiva, J. Mascis fala pouco – mas diz tudo.
Pergunta: Como vai ser o repertório dos shows no Brasil? Vai ter alguma música de sua banda paralela, The Fog?
J. Mascis: Muitos hits, de quase todos os álbuns, mas nenhuma canção do The Fog.
P: Você é considerado um dos mais importantes músicos do rock alternativo norte-americano. Mas alternativo ao quê? As influências de rock clássico em seu som são bem claras – como Neil Young, por exemplo. Como você vê esse lance de "rock alternativo"?
JM: Suponho que é porque, quando começamos, éramos definitivamente alternativos, não tínhamos fãs. Só tínhamos uma ideia de que música queríamos ouvir. Nos espelhávamos nas bandas do (clássico selo independente) SST e queríamos excursionar no circuito que o Black Flag (banda punk pioneira dos EUA, liderada por Henry Rollins) estabeleceu. Não pensávamos em estar numa gravadora major ou vender toneladas de discos.
P: Após vários anos desativada, a banda voltou com a formação original. Está tudo bem entre os membros agora? Podemos esperar uma reunião definitiva, de longo prazo?
JM: Nós vivemos um dia por vez. E nossa relação está OK nesse momento.
P: Quem são suas influências como guitarrista? Por que seu som é tão barulhento?
JM: Greg Sage (da banda punk Wipers), Ron Asheton (The Stooges), Keith Richards, Mick Taylor (ambos dos Rolling Stones) são minhas influências. Sempre adorei barulho.
P: Farm (2009), seu último álbum, é um dos melhores da carreira do Dinosaur Jr. O que podemos esperar do seu próximo disco?
JM: Sem planos por enquanto. Mas vou lançar um novo disco solo em fevereiro.
P: É a primeira vez que a banda vem ao Brasil, não? Por que demorou tanto? Você conhece algo de música brasileira?
JM: Não sei muito de música brasileira. Não sei por que nunca tocamos no Brasil antes, sempre quisemos ir aí.
P: Se pudesse escolher um produtor, vivo ou morto, quem seria?
JM: John Leckie (produtor britânico, famoso por produzir, entre outros, álbuns como Stone Roses, da banda homônima e The Bends, do Radiohead).
P: Indicaria alguma banda surgida nos últimos dez anos de que gostou?
JM: Magik Markers (banda noise de Hartford, Connecticut. www.myspace.com/theemagikmarkers).
P: Qual seu álbum preferido do Dinosaur Jr? Por que?
JM: You‘re Living All Over Me (1987). Foi quando nos firmamos como banda e fizemos nossa música, nosso som. Nós meio que desmoronamos depois disso.
terça-feira, setembro 21, 2010
MARTIN & EDUARDO: MÚSICOS DE PITTY ALÇAM VOO PARALELO
Martin & Eduardo. Dito assim, poucos saberiam de quem se trata. Mas basta dizer que eles são, respectivamente, guitarrista e baterista de Pitty, para suas figuras (aqui, em foto de Otávio Sousa) – já familiares da TV e de diversos palcos – virem imediatamente à memória.
Com o lançamento de Dezenove Vezes Amor (Cornucópia Discos), trabalho que vão tocar em paralelo ao trampo com a cantora, eles devem mudar isso algum dia. Mas, na verdade, a pretensão nem é essa, e sim, dar vazão à produção de Martin Mendonça, um compositor febril – que se descobriu cantor.
“Sempre escrevi muito – para uma demanda muito menor que a produção. Então, eu estava com muito material excedente, dezenas de músicas completas“, conta Martin, por telefone, de São Paulo.
“Um dia, tinha voltado de uma tour, puto da vida, super cansado, aí saiu (a canção) Dezenove Vezes Amor. Quando pintou essa, eu gostei e meio que comecei a fazer mais. Quando juntou umas cinco ou seis, coincidiu de Duda (baterista) estar com seu estúdio pronto. Começamos a gravar demos, no ‘vamos ver o que dá‘“, relata.
Mesmo produzido sem pressão, não foi um processo fácil para Martin. Inseguro confesso, a gravação do CD foi, como ele mesmo define, “um exercício de desapego“. “Eu nunca tinha experimentado cantar. Então, quando eu gravei isso, levei um tempão para conseguir escutar e ver como estava“, conta.
Quem o incentivou a soltar a voz sem medo foi a própria Pitty: “Quando eu mostrei pra Pitty, ela falou: ‘você está cantando de um jeito que é seu, sem forçar trejeitos de cantor. Mantenha isso‘. Foi um exercício de desapego mesmo. Na minha cabeça passa um milhão de maneiras que eu poderia ter feito melhor, diferente. Mas o legal foi isso, de ser eu mesmo, de ser confessional“, conta Martin.
Com o CD na rua, lançado pelo recém-criado selo Cornucópia Discos, a dupla pretende divulga-lo na mídia e em shows pelo Brasil. Inclusive na sua terra natal, Salvador.
“Pegamos emprestado o guitarrista e o baixista da (banda gaúcha) Pública. E o Pedro Pelotas (tecladista da Cachorro Grande), sempre que pode, também aparece nos shows. Salvador vai rolar sim, espero que já primeira quinzena de outubro“, avisa.
Pelo que se ouve no CD, a espera vai valer a pena.
Martin & Eduardo / Dezenove Vezes Amor / Cornucópia Discos / R$ 19 / www.dezenovevezesamor.com.br
Micro-resenha: Dando a cara a tapa
Compositor prolífico, o músico Martin Mendonça, guitarrista de Pitty, resolveu dar a cara pra bater – como artista solo e cantor. Chamou o baterista e companheiro Eduardo (Duda) Machado, formou a dupla Martin & Eduardo e lançou este primeiro CD, com nove faixas. Os resultados soam desiguais, mas há faixas bem interessantes, como a que dá título ao álbum, a paulada Lírio, a “cascaduresca“ Passa Em Volta e o power pop Só. Estreia promissora. Dezenove Vezes Amor / Cornucópia Discos / R$ 19
terça-feira, setembro 14, 2010
ANTES DO 2º ÁLBUM, ENIO LANÇA O MALOCARD. NÃO VÁ PRA CASA SEM ELE
Guitarrista habilidoso e de estilo versátil, Enio, à frente da banda A Maloca desde 2005, resolveu inovar para o lançamento do 2º álbum do seu grupo.
No último sábado, a rapaziada tocou no evento Facom Som e, aproveitando a ocasião, distribuiu um cartão promocional do grupo.
Neste “Malocard“ (o apelido é do blogueiro, mesmo) está um código de acesso que libera o download do single Uma Parte do Todo, primeira faixa de trabalho do CD.
“Fizemos também uma parceria com a loja Adidas (Salvador Shopping), então, com esse cartão você também tem direito à um desconto nas suas compras lá“, avisa o esperto Enio.
Mas – por exemplo – e este colunista, que não foi no Facom Som? Como faço para adquirir meu Malocard, seu Enio?
“O cartão estará disponível no balcão da Saraiva Megastore e da própria Adidas, além de ser distribuído novamente em alguns eventos. É só chegar e pegar o seu“, acalma o músico. Ufa!
Verdade no que faz
Produzido por andré t. (já ouvi esse nome em algum lugar), Uma Parte do Todo, o álbum, seguiu para a fábrica por esses dias e deve chegar às mãos de Enio em novembro.
“Assim que eu receber a tiragem, marcamos a data de lanmento oficial“, garante Enio. Quem não estiver a fim de esperar, pode ter um gostinho do que vem por aí baixando o single e indo ao próximo show, no dia 24 (veja serviço).
“Esse disco vai mostrar um outro lado do meu trabalho. Até por que este eu gravei com a banda já fechada. O primeiro (Unidade Móvel, 2006), eu fiz sozinho. E só depois eu formei a banda. O Uma Parte do Todo foi todo construído no estúdio de ensaio, com a banda. É um outro processo“, reflete o músico.
Bem acompanhado, o rapaz está. Na bateria, ele conta com Vitor Brasil, enquanto Gabriel Pettenatti e Milton Pelegrini respondem respectivamente, por guitarras e baixo.
A praia da banda é, como gosta de definir Enio, “uma mistura de rock Brasil com black music e MPB“.
“Independentemente de as pessoas gostarem ou não, eu só sei fazer música sendo verdadeiro comigo mesmo. E esse CD é um registro dessa postura“, demarca. Grande Enio.
Enio & A Maloca e Maglore / 24 de setembro (sexta-feira) / Groove Bar / R$ 25, R$ 20 (lista amiga no Orkut) / Ouça: www.enioeamaloca.com.br
NUETAS, NUETAS
Baia e os Capitães
Maurício Baia e a banda Capitão Parafina & Os Haoles se apresentam no Pelô, dentro do Festival de Humor e Performance. O Capitão Parafina faz dobradinha com o Capitão Cometo nesta quinta-feira, às 20 horas. E Baia faz show na sexta (dia 18), às 22h30. Na Pça. Pedro Archanjo, por apenas R$ 5 e R$ 2,50.
Abismo em Brotas
Abismo Solar e Quanta tocam seu hard prog no Prospect Club 81(ex-Red Devils Mc, Brotas), neste sábado. 18 horas, R$ 10.
Bailinho de volta
O Bailinho de 5ª volta com suas marchinhas, pinçadas entre os anos de 1920 a 1960. Neste sábado, 22 horas, R$ 18 e R$ 15 (lista amiga), no Tom do Sabor.
No último sábado, a rapaziada tocou no evento Facom Som e, aproveitando a ocasião, distribuiu um cartão promocional do grupo.
Neste “Malocard“ (o apelido é do blogueiro, mesmo) está um código de acesso que libera o download do single Uma Parte do Todo, primeira faixa de trabalho do CD.
“Fizemos também uma parceria com a loja Adidas (Salvador Shopping), então, com esse cartão você também tem direito à um desconto nas suas compras lá“, avisa o esperto Enio.
Mas – por exemplo – e este colunista, que não foi no Facom Som? Como faço para adquirir meu Malocard, seu Enio?
“O cartão estará disponível no balcão da Saraiva Megastore e da própria Adidas, além de ser distribuído novamente em alguns eventos. É só chegar e pegar o seu“, acalma o músico. Ufa!
Verdade no que faz
Produzido por andré t. (já ouvi esse nome em algum lugar), Uma Parte do Todo, o álbum, seguiu para a fábrica por esses dias e deve chegar às mãos de Enio em novembro.
“Assim que eu receber a tiragem, marcamos a data de lanmento oficial“, garante Enio. Quem não estiver a fim de esperar, pode ter um gostinho do que vem por aí baixando o single e indo ao próximo show, no dia 24 (veja serviço).
“Esse disco vai mostrar um outro lado do meu trabalho. Até por que este eu gravei com a banda já fechada. O primeiro (Unidade Móvel, 2006), eu fiz sozinho. E só depois eu formei a banda. O Uma Parte do Todo foi todo construído no estúdio de ensaio, com a banda. É um outro processo“, reflete o músico.
Bem acompanhado, o rapaz está. Na bateria, ele conta com Vitor Brasil, enquanto Gabriel Pettenatti e Milton Pelegrini respondem respectivamente, por guitarras e baixo.
A praia da banda é, como gosta de definir Enio, “uma mistura de rock Brasil com black music e MPB“.
“Independentemente de as pessoas gostarem ou não, eu só sei fazer música sendo verdadeiro comigo mesmo. E esse CD é um registro dessa postura“, demarca. Grande Enio.
Enio & A Maloca e Maglore / 24 de setembro (sexta-feira) / Groove Bar / R$ 25, R$ 20 (lista amiga no Orkut) / Ouça: www.enioeamaloca.com.br
NUETAS, NUETAS
Baia e os Capitães
Maurício Baia e a banda Capitão Parafina & Os Haoles se apresentam no Pelô, dentro do Festival de Humor e Performance. O Capitão Parafina faz dobradinha com o Capitão Cometo nesta quinta-feira, às 20 horas. E Baia faz show na sexta (dia 18), às 22h30. Na Pça. Pedro Archanjo, por apenas R$ 5 e R$ 2,50.
Abismo em Brotas
Abismo Solar e Quanta tocam seu hard prog no Prospect Club 81(ex-Red Devils Mc, Brotas), neste sábado. 18 horas, R$ 10.
Bailinho de volta
O Bailinho de 5ª volta com suas marchinhas, pinçadas entre os anos de 1920 a 1960. Neste sábado, 22 horas, R$ 18 e R$ 15 (lista amiga), no Tom do Sabor.
quinta-feira, setembro 09, 2010
RELATOS DO APOCALIPSE ZUMBI
Livro Guerra Mundial Z, de Max Brooks, se inspira em conjunto de relatos da 2ª Guerra. E nasce um clássico do terror moderno
O mundo como o conhecemos não existe mais. Uma misteriosa pandemia global, iniciada na China, erradicou boa parte da população mundial, depois que os infectados se tornaram zumbis canibais, gerando a chamada Guerra Mundial Z. Dez anos depois, um funcionário da Comissão Pós-Guerra da ONU compila depoimentos de sobreviventes do conflito.
É esse relatório que agora chega às livrarias, em Guerra Mundial Z (Rocco), de Max Brooks. Aclamado pela crítica como uma reinvenção do subgênero de zumbis – dentro de um gênero maior, o de horror – o livro de Brooks é uma fascinante compilação de relatos orais que primam pela verossimilhança, de acordo com a atividade e a nacionalidade de cada entrevistado pelo agente da ONU.
Há médicos chineses, cientistas alemães, militares indianos, políticos sul-africanos, soldados norte-americanos, traficantes de órgãos taiwaneses e até um cirurgião brasileiro.
Pós-Katrina
Parte da crítica norte-americana saudou o livro como um típico romance pós-furacão Katrina e pós-11 de setembro: “As advertências iniciais são ignoradas, relatórios cruciais passam despercebidos, empresários lucram bilhões vendendo placebos, o exército se equipa de forma inadequada e a população desconhece a extensão da ameaça – até que a encara face-a-face. Eis aqui, portanto, um típico conto de zumbis pós-Katrina“, escreveu o crítico Alder Utter, do jornal The Eagle, de Washington.
Já o interesse por zumbis, que parece ter aumentado bastante nos últimos anos, graças a uma enxurrada de filmes, games, livros, HQs e até séries de TV, tem pelo menos duas explicações, na visão de Klaus‘berg Bragança, mestre em comunicação pela Facom (Ufba): “A representação do morto-vivo fascina porque a imagem que temos de um morto é que ele deveria continuar morto. Ele rompe uma barreira natural que é totalmente absurda, mas que, na ficção, é muito original“, reflete.
“E mais: a metáfora daquele que volta do túmulo resgata narrativas orais que remontam à tradição bíblica, com Lázaro e o próprio Jesus“, lembra.
O Grande Pânico
A Guerra Mundial Z, que durou dez anos, quase erradicou os seres humanos e, quando acabou, virou de cabeça para baixo a configuração geopolítica planetária. A China virou uma democracia. A capital dos EUA foi transferida para o Havaí. A Rússia se transformou numa teocracia ortodoxa expansionista. E a maior economia do mundo é Cuba. No leito dos oceanos, milhões de zumbis ainda perambulam, vindo dar em praias ou surgindo nas redes de pesca.
Tudo começou na China, de acordo do com o primeiro entrevistado, o médico Kwang Jingshu, que tratou do chamado “paciente zero“, um menino de 12 anos de um vilarejo rural.
Através da fuga em massa de refugiados chineses e do tráfico de órgãos a partir de Taiwan, o vírus começa a se espalhar e chega à África do Sul, aonde acontece o primeira epidemia.
A imprensa global logo chama a doença de “raiva africana“. Na sequência, Israel anuncia um período do quarentena total e se fecha para o mundo. O Japão é evacuado.
Nos Estados Unidos, o governo ignora os alertas que varrem o mundo e permite que um grupo farmacêutico lucre bilhões comercializando uma falsa vacina, a Phalanx.
Até que um massacre sem precedentes ocorre na cidade de Yonkers (estado de Nova York). A partir daí, o mundo entra em um período de caos e salve-se-quem-puder global: é O Grande Pânico.
As táticas de “choque e pavor“ ianques não causam qualquer efeito contra as hordas de milhões de zumbis, e para completar, todo o treinamento de tiro dos soldados é direcionado para mirar no peito – o chamado “centro de massa“ – dos oponentes. Mas este inimigo só cai ao ser atingido na cabeça.
Romero e a boa guerra
A opção narrativa de Max Brooks parte de duas influências bem claras – e assumidas: os filmes de George Romero, considerado o “pai“ do gênero zumbi, e o livro The Good War (1985), do radialista norte-americano Studs Terkel.
Pode-se dizer que, do primeiro – Romero –, Brooks aproveitou a temática do comentário social a partir da metáfora dos zumbis perambulantes.
Já de Studs Terkel, ele pegou a forma. Nunca publicado no Brasil, The Good War (A boa guerra) é uma compilação de relatos orais de sobreviventes da 2ª Guerra Mundial.
Guerra Mundial Z / Max Brooks / Tradução: Rita Vinagre / 368 páginas / R$ 49,50 / Editora Rocco
ENTREVISTA: MAX BROOKS
Nascido em Nova York, em 1972, Maximillian Michael Brooks veio ao mundo como um privilegiado: filho do genial comediante Mel Brooks e da atriz Anne Bancroft (a inesquecível Mrs. Robinson, sex-symbol nos anos 1960), ele conta em seus créditos, como escritor e roteirista, participações no programa Saturday Night Live e três livros: Guerra Mundial Z, Guia de sobrevivência a zumbis e Recorded attacks. Como ator (e dublador de desenho animado), participou de séries como Roseanne, Pacific Blue, Batman do Futuro e Liga da Justiça. É casado desde 2003 com a roteirista Michelle Kholos, com quem tem um filho, Henry.
Pergunta: É espantoso como seu livro cobre os mais diversos campos de conhecimento nos relatos. Há Psicologia, Política, Geografia, Medicina, História, Estratégias e Armamentos Militares, Relações Internacionais, Arquitetura e outros. Quanto tempo levou para você efetivamente colocar tudo em ordem? Ou você escreveu e pesquisou ao mesmo tempo?
Max Brooks: Redigir os relatos foi a parte fácil. A pesquisa... isso sim, foi difícil. Levou anos. Tive de organizar minha própria biblioteca, com milhares de livros e mapas. Também passei horas e horas conversando com pessoas que trabalham nos campos sobre os quais estava escrevendo. Chega a ser irônico o fato de que um livro de entrevistas fictícias não seria possível sem as entrevistas reais.
P: Há uma enorme variedade de diferentes vozes no livro, e cada uma delas utilizando uma linguagem especializada específica, de acordo com sua atividade. Como você fez para alcançar esse nível de verossimilhança?
MB: A linguagem (dos personagens do livro) foi um ponto muito importante para mim. Eu queria traçar as enormes diferenças que existem entre um soldado de classe média-baixa como Todd e um aristocrata dos tempos modernos, como Arthur Sinclair. A parte difícil foi a pesquisa sobre as gírias locais ao redor do mundo, tentando extrair aquelas pequenas nuances de forma a faze-las funcionar. Estou certo que falhei tanto quanto fui bem sucedido.
P: Ao invés de simplesmente narrar os fatos de forma linear, você compôs um mosaico de relatos orais. Como você chegou nesse formato? Já leu outros livros similares? Qual foi a inspiração?
MB: Minha inspiração foi The good war, de Studs Terkel (A boa guerra, 1985, conjunto de relatos sobre a 2ª Guerra Mundial, não publicado no Brasil). Seu uso da narrativa oral ficou comigo para sempre. Considerei que era a única forma de contar uma história gigantesca como a Guerra Mundial Z.
P: Nos últimos anos, os zumbis sofreram uma enorme popularização. Mas por que? Será que é por que, em última análise, eles somos nós – pessoas comuns que infelizmente morreram (e retornaram) – e não só mais um psicopata com uma máscara e um machado, e por isso, é muito mais fácil para o espectador se identificar com a situação?
MB: Eu acho que zumbis são uma forma de explorar nossos medos em relação ao apocalipse. Existem diversos problemas bem reais no mundo hoje: aquecimento global, recessão econômica, fome, doenças, ameaça de guerra nuclear. São quase reais demais para se pensar. Apavorantes demais. Numa história de zumbis, você está livre para falar sobre o fim do mundo. É algo seguro, por que zumbis não são reais.
P: Com a explosão dos filmes, o subgênero se misturou a diversos outros. De fato, essa característica jaz na sua própria gênese, com George Romero, que usava os zumbis para tecer comentários sociais sobre racismo e a Guerra do Vietnã. Que direção você acha que o gênero deve tomar nos próximos anos?
MB: Honestamente, não sei o que o futuro reserva para o gênero. Só espero que continue fiel ao (espírito de) comentário social preconizado por George Romero e não fiquem focados apenas nas cabeças decapitadas voando.
P: Em certos trechos, Guerra Mundial Z parece um estudo psicológico sobre as reações humanas às grandes catástrofes. Você teve algum tipo de consultoria?
MB: Quem dera eu tivesse tido psicólogos consultores. Teria tornado o meu trabalho bem mais fácil. O fato é que sempre fui fascinado pelas reações humanas aos grandes desastres. Eu moro em Los Angeles, aonde temos incêndios (na temporada de seca, durante o verão), enchentes, terremotos e tumultos sociais... fora os problemas regulares de crime, drogas e AIDS. Como as pessoas reagem às ameaças, é, para mim, mais interessante do que as ameaças em si.
P: E quanto ao filme baseado no livro? Brad Pitt está no elenco? Marc Forster está confirmado na direção? Quando estreia?
MB: O que eu posso te dizer é que Brad Pitt concordou em estrelar o filme, e que está previsto para estrear em 2012. É tudo o que sei até agora. Mantenho meus dedos cruzados.
P: Seu livro anterior, O guia de sobrevivência a zumbis (2006, Rocco), é mais uma peça no mosaico de Guerra Mundial Z?
MB: O Guia de sobrevivência a zumbis é, literalmente, um livro sobre como enfrentar zumbis. Ele te diz o que fazer no caso de uma epidemia; aonde ir, o que levar na mochila, que armas deve-se usar. É tudo o que você precisa saber. Espero que seja de alguma serventia, caso os zumbis ataquem algum dia.
P: O Internet Movie Database lista todos os seus três livros como "em desenvolvimento". Todos eles serão adaptados?
MB: Boa pergunta. Acho que a Paramount Pictures está focada em Guerra Mundial Z. Se / quando esse filme ficar pronto, eles devem começar a olhar para os outros livros.
P: O que você acha de The Walking Dead (Os Mortos-Vivos, publicada pela HQManiacs Editora), de Robert Kirkman? Já pensou em trabalhar, quem sabe, roteirizando a série de TV que está sendo lançada pelo canal AMC?
MB: Eu amo The Walking Dead e acho que será um enorme sucesso no AMC. É uma excelente série em quadrinhos e com Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade, 1994) na direção, como pode dar errado? O cara é um gênio!
P: Vi no seu site pessoal que você escreveu uma minissérie em quadrinhos dos personagens GI Joe (os antigos Comandos em Ação, no Brasil), para a editora IDW, com desenhos do grande Howard Chaykin (Black Kiss, O Sombra). Como foi trabalhar com ele?
MB: Nunca o encontrei. Todo o nosso trabalho em conjunto foi através de um editor. Mas eu AMO o seu trabalho. Ele e Antonio Fuso são as verdadeiras estrelas de GI Joe: Hearts and Minds. É como eu me sinto quanto a escrever quadrinhos. É uma forma visual de arte. Meu último livro de zumbis foi Recorded Attacks (Registros de ataques), uma adaptação visual do Guia de sobrevivência a zumbis. Foi desenhado por Ibraim Robertson, o qual, eu acho, é a verdadeira estrela deste projeto, e não eu.
P: Qual o seu filme de zumbi do George Romero favorito? Por que? E sem ser dele?
MB: Meu filme de zumbi do George Romero favorito é Amanhecer dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978). É um filme incrível, e diz tanto sobre os Estados Unidos nos anos 1970. Já meu filme de zumbi não-Romero favorito é Wild Zero (2000, inédito no Brasil), uma película japonesa com aliens, rock 'n' roll, travestis e, é claro, zumbis! Todos os fãs de zumbis deveriam correr para alugar Wild Zero agora mesmo!
GUERRA MUNDIAL Z: TRECHOS
“Aquelas bichas instruídas demais. Sabe quem as ouvia? Ninguém! Quem se importava com a minoria de mídia alternativa sem contato com a corrente dominante? Quanto mais os intelectuais gritavam ‘os mortos estão andando‘, mais os americanos da vida real davam as costas a eles“.
Grover Carlson, personagem do livro A Guerra Mundial Z, de Max Brooks
“Havia milhões de almas infelizes espalhadas pelo planeta, todas gritando em seus transmissores de rádio, enquanto os mortos-vivos passavam por suas defesas. (...) Mesmo que você não entendesse a língua, não havia como confundir o tom de angústia humana“.
Barati Palshigar, personagem do livro Guerra Mundial Z, de Max Brooks.
O mundo como o conhecemos não existe mais. Uma misteriosa pandemia global, iniciada na China, erradicou boa parte da população mundial, depois que os infectados se tornaram zumbis canibais, gerando a chamada Guerra Mundial Z. Dez anos depois, um funcionário da Comissão Pós-Guerra da ONU compila depoimentos de sobreviventes do conflito.
É esse relatório que agora chega às livrarias, em Guerra Mundial Z (Rocco), de Max Brooks. Aclamado pela crítica como uma reinvenção do subgênero de zumbis – dentro de um gênero maior, o de horror – o livro de Brooks é uma fascinante compilação de relatos orais que primam pela verossimilhança, de acordo com a atividade e a nacionalidade de cada entrevistado pelo agente da ONU.
Há médicos chineses, cientistas alemães, militares indianos, políticos sul-africanos, soldados norte-americanos, traficantes de órgãos taiwaneses e até um cirurgião brasileiro.
Pós-Katrina
Parte da crítica norte-americana saudou o livro como um típico romance pós-furacão Katrina e pós-11 de setembro: “As advertências iniciais são ignoradas, relatórios cruciais passam despercebidos, empresários lucram bilhões vendendo placebos, o exército se equipa de forma inadequada e a população desconhece a extensão da ameaça – até que a encara face-a-face. Eis aqui, portanto, um típico conto de zumbis pós-Katrina“, escreveu o crítico Alder Utter, do jornal The Eagle, de Washington.
Já o interesse por zumbis, que parece ter aumentado bastante nos últimos anos, graças a uma enxurrada de filmes, games, livros, HQs e até séries de TV, tem pelo menos duas explicações, na visão de Klaus‘berg Bragança, mestre em comunicação pela Facom (Ufba): “A representação do morto-vivo fascina porque a imagem que temos de um morto é que ele deveria continuar morto. Ele rompe uma barreira natural que é totalmente absurda, mas que, na ficção, é muito original“, reflete.
“E mais: a metáfora daquele que volta do túmulo resgata narrativas orais que remontam à tradição bíblica, com Lázaro e o próprio Jesus“, lembra.
O Grande Pânico
A Guerra Mundial Z, que durou dez anos, quase erradicou os seres humanos e, quando acabou, virou de cabeça para baixo a configuração geopolítica planetária. A China virou uma democracia. A capital dos EUA foi transferida para o Havaí. A Rússia se transformou numa teocracia ortodoxa expansionista. E a maior economia do mundo é Cuba. No leito dos oceanos, milhões de zumbis ainda perambulam, vindo dar em praias ou surgindo nas redes de pesca.
Tudo começou na China, de acordo do com o primeiro entrevistado, o médico Kwang Jingshu, que tratou do chamado “paciente zero“, um menino de 12 anos de um vilarejo rural.
Através da fuga em massa de refugiados chineses e do tráfico de órgãos a partir de Taiwan, o vírus começa a se espalhar e chega à África do Sul, aonde acontece o primeira epidemia.
A imprensa global logo chama a doença de “raiva africana“. Na sequência, Israel anuncia um período do quarentena total e se fecha para o mundo. O Japão é evacuado.
Nos Estados Unidos, o governo ignora os alertas que varrem o mundo e permite que um grupo farmacêutico lucre bilhões comercializando uma falsa vacina, a Phalanx.
Até que um massacre sem precedentes ocorre na cidade de Yonkers (estado de Nova York). A partir daí, o mundo entra em um período de caos e salve-se-quem-puder global: é O Grande Pânico.
As táticas de “choque e pavor“ ianques não causam qualquer efeito contra as hordas de milhões de zumbis, e para completar, todo o treinamento de tiro dos soldados é direcionado para mirar no peito – o chamado “centro de massa“ – dos oponentes. Mas este inimigo só cai ao ser atingido na cabeça.
Romero e a boa guerra
A opção narrativa de Max Brooks parte de duas influências bem claras – e assumidas: os filmes de George Romero, considerado o “pai“ do gênero zumbi, e o livro The Good War (1985), do radialista norte-americano Studs Terkel.
Pode-se dizer que, do primeiro – Romero –, Brooks aproveitou a temática do comentário social a partir da metáfora dos zumbis perambulantes.
Já de Studs Terkel, ele pegou a forma. Nunca publicado no Brasil, The Good War (A boa guerra) é uma compilação de relatos orais de sobreviventes da 2ª Guerra Mundial.
Guerra Mundial Z / Max Brooks / Tradução: Rita Vinagre / 368 páginas / R$ 49,50 / Editora Rocco
ENTREVISTA: MAX BROOKS
Nascido em Nova York, em 1972, Maximillian Michael Brooks veio ao mundo como um privilegiado: filho do genial comediante Mel Brooks e da atriz Anne Bancroft (a inesquecível Mrs. Robinson, sex-symbol nos anos 1960), ele conta em seus créditos, como escritor e roteirista, participações no programa Saturday Night Live e três livros: Guerra Mundial Z, Guia de sobrevivência a zumbis e Recorded attacks. Como ator (e dublador de desenho animado), participou de séries como Roseanne, Pacific Blue, Batman do Futuro e Liga da Justiça. É casado desde 2003 com a roteirista Michelle Kholos, com quem tem um filho, Henry.
Pergunta: É espantoso como seu livro cobre os mais diversos campos de conhecimento nos relatos. Há Psicologia, Política, Geografia, Medicina, História, Estratégias e Armamentos Militares, Relações Internacionais, Arquitetura e outros. Quanto tempo levou para você efetivamente colocar tudo em ordem? Ou você escreveu e pesquisou ao mesmo tempo?
Max Brooks: Redigir os relatos foi a parte fácil. A pesquisa... isso sim, foi difícil. Levou anos. Tive de organizar minha própria biblioteca, com milhares de livros e mapas. Também passei horas e horas conversando com pessoas que trabalham nos campos sobre os quais estava escrevendo. Chega a ser irônico o fato de que um livro de entrevistas fictícias não seria possível sem as entrevistas reais.
P: Há uma enorme variedade de diferentes vozes no livro, e cada uma delas utilizando uma linguagem especializada específica, de acordo com sua atividade. Como você fez para alcançar esse nível de verossimilhança?
MB: A linguagem (dos personagens do livro) foi um ponto muito importante para mim. Eu queria traçar as enormes diferenças que existem entre um soldado de classe média-baixa como Todd e um aristocrata dos tempos modernos, como Arthur Sinclair. A parte difícil foi a pesquisa sobre as gírias locais ao redor do mundo, tentando extrair aquelas pequenas nuances de forma a faze-las funcionar. Estou certo que falhei tanto quanto fui bem sucedido.
P: Ao invés de simplesmente narrar os fatos de forma linear, você compôs um mosaico de relatos orais. Como você chegou nesse formato? Já leu outros livros similares? Qual foi a inspiração?
MB: Minha inspiração foi The good war, de Studs Terkel (A boa guerra, 1985, conjunto de relatos sobre a 2ª Guerra Mundial, não publicado no Brasil). Seu uso da narrativa oral ficou comigo para sempre. Considerei que era a única forma de contar uma história gigantesca como a Guerra Mundial Z.
P: Nos últimos anos, os zumbis sofreram uma enorme popularização. Mas por que? Será que é por que, em última análise, eles somos nós – pessoas comuns que infelizmente morreram (e retornaram) – e não só mais um psicopata com uma máscara e um machado, e por isso, é muito mais fácil para o espectador se identificar com a situação?
MB: Eu acho que zumbis são uma forma de explorar nossos medos em relação ao apocalipse. Existem diversos problemas bem reais no mundo hoje: aquecimento global, recessão econômica, fome, doenças, ameaça de guerra nuclear. São quase reais demais para se pensar. Apavorantes demais. Numa história de zumbis, você está livre para falar sobre o fim do mundo. É algo seguro, por que zumbis não são reais.
P: Com a explosão dos filmes, o subgênero se misturou a diversos outros. De fato, essa característica jaz na sua própria gênese, com George Romero, que usava os zumbis para tecer comentários sociais sobre racismo e a Guerra do Vietnã. Que direção você acha que o gênero deve tomar nos próximos anos?
MB: Honestamente, não sei o que o futuro reserva para o gênero. Só espero que continue fiel ao (espírito de) comentário social preconizado por George Romero e não fiquem focados apenas nas cabeças decapitadas voando.
P: Em certos trechos, Guerra Mundial Z parece um estudo psicológico sobre as reações humanas às grandes catástrofes. Você teve algum tipo de consultoria?
MB: Quem dera eu tivesse tido psicólogos consultores. Teria tornado o meu trabalho bem mais fácil. O fato é que sempre fui fascinado pelas reações humanas aos grandes desastres. Eu moro em Los Angeles, aonde temos incêndios (na temporada de seca, durante o verão), enchentes, terremotos e tumultos sociais... fora os problemas regulares de crime, drogas e AIDS. Como as pessoas reagem às ameaças, é, para mim, mais interessante do que as ameaças em si.
P: E quanto ao filme baseado no livro? Brad Pitt está no elenco? Marc Forster está confirmado na direção? Quando estreia?
MB: O que eu posso te dizer é que Brad Pitt concordou em estrelar o filme, e que está previsto para estrear em 2012. É tudo o que sei até agora. Mantenho meus dedos cruzados.
P: Seu livro anterior, O guia de sobrevivência a zumbis (2006, Rocco), é mais uma peça no mosaico de Guerra Mundial Z?
MB: O Guia de sobrevivência a zumbis é, literalmente, um livro sobre como enfrentar zumbis. Ele te diz o que fazer no caso de uma epidemia; aonde ir, o que levar na mochila, que armas deve-se usar. É tudo o que você precisa saber. Espero que seja de alguma serventia, caso os zumbis ataquem algum dia.
P: O Internet Movie Database lista todos os seus três livros como "em desenvolvimento". Todos eles serão adaptados?
MB: Boa pergunta. Acho que a Paramount Pictures está focada em Guerra Mundial Z. Se / quando esse filme ficar pronto, eles devem começar a olhar para os outros livros.
P: O que você acha de The Walking Dead (Os Mortos-Vivos, publicada pela HQManiacs Editora), de Robert Kirkman? Já pensou em trabalhar, quem sabe, roteirizando a série de TV que está sendo lançada pelo canal AMC?
MB: Eu amo The Walking Dead e acho que será um enorme sucesso no AMC. É uma excelente série em quadrinhos e com Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade, 1994) na direção, como pode dar errado? O cara é um gênio!
P: Vi no seu site pessoal que você escreveu uma minissérie em quadrinhos dos personagens GI Joe (os antigos Comandos em Ação, no Brasil), para a editora IDW, com desenhos do grande Howard Chaykin (Black Kiss, O Sombra). Como foi trabalhar com ele?
MB: Nunca o encontrei. Todo o nosso trabalho em conjunto foi através de um editor. Mas eu AMO o seu trabalho. Ele e Antonio Fuso são as verdadeiras estrelas de GI Joe: Hearts and Minds. É como eu me sinto quanto a escrever quadrinhos. É uma forma visual de arte. Meu último livro de zumbis foi Recorded Attacks (Registros de ataques), uma adaptação visual do Guia de sobrevivência a zumbis. Foi desenhado por Ibraim Robertson, o qual, eu acho, é a verdadeira estrela deste projeto, e não eu.
P: Qual o seu filme de zumbi do George Romero favorito? Por que? E sem ser dele?
MB: Meu filme de zumbi do George Romero favorito é Amanhecer dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978). É um filme incrível, e diz tanto sobre os Estados Unidos nos anos 1970. Já meu filme de zumbi não-Romero favorito é Wild Zero (2000, inédito no Brasil), uma película japonesa com aliens, rock 'n' roll, travestis e, é claro, zumbis! Todos os fãs de zumbis deveriam correr para alugar Wild Zero agora mesmo!
GUERRA MUNDIAL Z: TRECHOS
“Aquelas bichas instruídas demais. Sabe quem as ouvia? Ninguém! Quem se importava com a minoria de mídia alternativa sem contato com a corrente dominante? Quanto mais os intelectuais gritavam ‘os mortos estão andando‘, mais os americanos da vida real davam as costas a eles“.
Grover Carlson, personagem do livro A Guerra Mundial Z, de Max Brooks
“Havia milhões de almas infelizes espalhadas pelo planeta, todas gritando em seus transmissores de rádio, enquanto os mortos-vivos passavam por suas defesas. (...) Mesmo que você não entendesse a língua, não havia como confundir o tom de angústia humana“.
Barati Palshigar, personagem do livro Guerra Mundial Z, de Max Brooks.
quarta-feira, setembro 08, 2010
REVERENDO T. REÚNE ALTO CLERO DA MÚSICA INDEPENDENTE BAIANA PARA ENTOAR SEUS CÂNTICOS SAGRADOS
Ele é o santo padroeiro do underground local. Senhoras e senhores, Tony Lopes, o São Rock em pessoa, está de volta ao circuito – e ele traz boas novas.
Dentro de cerca de dois meses, esse veterano da música independente baiana lança, em CD físico, seu novo trabalho: Reverendo T & Os Descrentes.
Trata-se de um álbum no qual ele reúne composições criadas ao longo dos últimos 25 anos. Mas o projeto em si, tem, pelo menos, duas particularidades.
A primeira é a sonoridade da produção, calcada em piano, baixo e bateria. A segunda é que é um CD com lado A e lado B.
O lado A, ou seja, as dez primeiras faixas, contam com o próprio Tony interpretando suas canções. Já o lado B – as dez faixas seguintes – consiste nas mesmas composições, só que interpretadas por uma abençoada legião de vozes angelicais.
Olha só a escalação: Ronei Jorge, Moisés Santana, Dão, Artur Ribeiro (Theatro de Seraphin), Álvaro Lemos, Nancyta, Dois Em Um, Paquito, Miguel Cordeiro e Cássia Cardoso.
Além de todos esses convidados soltando a voz, o CD contou com a participação de músicos do quilate de Paulinho Oliveira (guitarra), Vandex (piano), Ataualba Meirelles (baixo), Marcão (saxofone), Fernando Cardel (teclados) e outros.
Trajetória de ativismo
Por enquanto, já dá para baixar um single na revista virtual Verbo 21, com as faixas A Culpa (dele e de Luisão Pereira) e Os Bêbados.
“Mas são as gravações com minha voz. As versões com os convidados, só quando o CD sair, lá para novembro“, avisa.
Tony, para quem não sabe, tem uma longa história de ativismo no underground baiano. Nos anos 1980, integrou bandas como Dúvida Externa, Guerra Fria e Moisés Ramsés & Os Hebreus.
Em 1991, lançou, em vinil, seu primeiro disco solo: De Quem é a Culpa?, como Tony & Os Sobreviventes.
“Minha intenção era me lançar como compositor. Só que fui mal interpretado. Quem ouviu, só ficou preocupado em achar minha voz ruim – ninguém prestou atenção as composições“, diz.
Depois, abriu duas lojas: a Na Mosca e depois, a São Rock. Hoje, vende CDs independentes via internet e leva adiante seu projeto Reverendo T.
Em paralelo, toca bateria nas bandas Koyotes (de Miguel Cordeiro) e Tilt (do ex-parceiro de Guerra Fria Evandro Lisboa). Amém.
Conheça / baixe o single: http://discipulosdescrentes.blogspot.com
NUETAS, NUETAS
Shows a granel
Nessa época do ano, parece que todo mundo resolve sair da toca ao mesmo tempo. A lista de bons shows esta semana cresce a cada conferida no email. Abaixo, O Rock Loco recomenda:
Tem pra todo mundo
Na quinta-feira (dia 9), tem Vivendo do Ócio no Pelourinho (21 horas, grátis, no Largo Teresa Batista). No mesmo dia, Hélio Rocha e Nino Moura fazem a primeira de duas datas no Tom do Sabor, as 22 horas. Na sexta (dia 10), a brincando de deus faz o segundo show desde a volta em dezembro, no Groove Bar. 22 horas, R$ 25 (na hora). No sábado tem Você Me Excita, Maglore, Enio & A Maloca e Ministereo Público na Faculdade de Comunicação da Ufba, a partir das 17 horas. Grátis! E no domingão, tem Otto, Do Amor e Ministério Público na Concha Acústica. R$ 30 e R$ 15, as 18 horas. ‘Bora?