Gato hermano é hiperativo
Aos 38 anos, Nik já é um nome mais do que estabelecido no humor e nas artes gráficas da América Hispânica. Atuante desde os dezessete anos, o cartunista portenho começa a ficar conhecido no Brasil com os livros da sua principal criação, o Gaturro.
Desde o ano passado já foram publicados três livros com o personagem no País: Gaturro Volumes 1 e 2 e Gaturro Grandão.
Os dois primeiros, em formato horizontal, são coletâneas das tiras diárias e o último, mais recente, reúne as chamadas pranchas dominicais (historietas que costumam ter o tamanho de uma página de tablóide), tudo publicado pelo jornal bonaerense La Nación.
Com suas bochechas enormes, sorriso largo e observações sagazes, Gaturro é um enorme sucesso no país natal, tendo mais de trinta livros publicados por lá. A primeira vista, um Garfield sul-americano, esta impressão, como Nik explica na entrevista cai por terra quando se lê suas tiras.
Enquanto o brother ianque se caracteriza pela forma cínica com que zomba do seu dono apalermado (Jon) e do cachorro mais palerma ainda (Odie) entre uma lasanha e outra, o gato hermano está mais para um adolescente hiperativo, apaixonado pela gata da vizinha (a indiferente Ágata) e com um pendor para as artes cênicas.
Um anti-Garfield, portanto. Isso, porém, não livra Nik de demonstrar aqui e ali no seu humor influências claras de Jim Davis, criador do devorador de lasanhas.
Há pouco menos de um mês, Nik esteve em São Paulo, onde participou, ao lado do espanhol Javier de Isusi e do brasileiro Gualberto Costa, da mesa-redonda O Quadrinho Iberoamericano: Homenagem a Ziraldo, a quem ele considera um ídolo.
O evento foi no Instituto Cervantes, cuja filial baiana acenou com a vinda de Nik a Salvador no mês de setembro, para ministrar uma oficina.
Enquanto ele não vem ensinar sua técnica, vale saborear o humor inteligente do rapaz.
11 PERGUNTAS PARA NIK
1. O Gaturro foi uma inspiração completamente sua ou você partiu do seu próprio gato de estimação para cria-lo? E quanto a outros gatos dos quadrinhos? Você apontaria similiaridades dele com outros personagens?
NIK: Acredito que a inspiração para criar Gaturro veio um pouco dos animais de estimação que tive quando criança (duas gatas) e também muito de minha própria personalidade. Me sinto identificado em muitos aspectos com ele, sobretudo em sua insegurança, o fato de sentir-se um anti-herói, ser muito carinhoso, muito apegado e inquieto. Quando criança lia muito os quadrinhos de Snoopy, Asterix, Patoruzito, Tintin e Inodoro Pereyra. E na televisão, era apaixonado pela estética da Pantera Cor-de-Rosa, a gag pura e simples. De todos eles tenho influências. Para mim, esses personagens tinham vida própria, saíam do papel. Os outros gatos das historinhas de Gaturro têm um aspecto físico parecido com o dele, mas, de acordo com a personalidade de cada um, acrescento detalhes que os diferenciam. É o caso de Kathy Kit, a gata modelo, que tem os cabelos grandes e sempre está acompanhada de seu cachorrinho ou Gaturrinho, o sobrinho de Gaturro, que sempre está com sua chupeta na boca e tem um grande cacho na cabeça.
2. Por que ele tem bochechas tão grandes?
NIK: Na verdade, quando comecei a publicar, não tinha as bochechas tão grandes assim. Mas, com o passar dos anos, descobri que as formas bem redondas de suas bochechas davam a Gaturro muito mais expressividade e simpatia. Hoje, é uma marca registrada de Gaturro. Desenho o contorno das bochechas e já se sabe quem é.
3. Gaturro é um sucesso na América hispânica, Europa e agora também no Brasil. O que falta para que seja publicado pelos syndicates norte-americanos? Será que há uma conspiração secreta de felinos gringos (Garfield, Get Fuzzy) para impedir seu desembarque nos EUA?
NIK: Não, por favor, Garfield é o primo predileto de Gaturro… muito pelo contrário, estão tentando tirar o “green card” de Gaturro para que ele possa trabalhar lá, mas o departamento de imigrações tem dúvidas sobre dar um visto a um gato, e ainda por cima um gato latino-americano. Agora falando sério: Gaturro já está em um syndicate nos Estados Unidos, justamente no mesmo de Garfield (Universal Press Syndicate). O que acontece é que publicamos somente em diários para a comunidade latina dentro dos Estados Unidos, pois a tira ainda não foi traduzida para o inglês. Estamos trabalhando nisso e espero, em um futuro próximo, ter a possibilidade de publicar em jornais americanos.
4. Volta e meia, o Gaturro e a Ágata aparecem em versões de obras-primas de Dali, Boticelli ou mesmo disfarçado de personalidades como Einstein, Elvis, Lennon, Chaplin etc. É uma forma de educação visual para os jovens leitores - além de uma grande diversão para o desenhista e para os fãs?
NIK: Acho que é uma forma divertida de recorrer à história e aos grandes ícones da humanidade. A cultura geral está intimamente ligada à cultura visual, e sempre gostei de tomar parte desse processo de aprendizagem. Gaturro é lido por muitos adultos, mas fundamentalmente por crianças, e eu adoro que os pequenos tenham essa experiência visual similar à que tive quando garoto, lendo enciclopédias ou livros de pintura.
5. Boa parte da graça do humor feito com personagens animais é colocá-los diante de situações em que eles reagem como humanos. É o efeito cômico do absurdo. Como você lida com isso? É uma técnica que você sempre se preocupa em aplicar no momento da criação ou já uma coisa que você nem pensa mais, acontecendo de forma instintiva?
NIK: Em mim isso é instintivo. Estive rodeado de bichos de estimação desde pequeno e sempre os vi com expressões e trejeitos humanos. Ou pelo menos essa era minha visão deles. Os bichos de estimação eram um integrante a mais da casa, só faltavam falar.
6. Existem planos para um desenho animado do Gaturro?
NIK: Sim, já está sendo produzido o filme 3D do Gaturro, com lançamento previsto para 2010. E também há um projeto para transformá-lo em desenho animado na televisão.
7. Já chamaram o Gaturro de "Garfield Argentino"? Você fica chateado quando (e se) isso acontece?
NIK: A verdade é que Garfield e Gaturro são tão, mas tão diferentes que ninguém faz essa comparação. Basta ler duas ou três tiras de Gaturro para ver que a unica coisa que os une é o fato de ambos serem gatos. Gaturro é mais paquerador, propenso a se apaixonar, mas não tem sorte com as mulheres. É muito inseguro, uma espécie de anti-herói no estilo Maxwell Smart, o Agente 86.
8. A propósito, você conhece a tira Garfield Minus Garfield? Algum gaiato já te propôs fazer um "Gaturro Sin Gaturro"?
NIK: Para falar a verdade, não conheço essa versão.
9. A Argentina é um dos maiores celeiros de quadrinistas talentosos em todo o mundo. Quem foi seu mestre? Que nomes argentinos você aponta como suas principais influências?
NIK: Minhas maiores influências são obviamente Quino, Fontanarrosa, Sabat, Garaycochea e Ferro. Todos argentinos. Sempre gostei muito de Schultz, o criador de Snoopy, Waterson, criador do Calvin & Haroldo, Gary Larson. Da Europa, me fascina Sempé, Ronald Searle, Uderzo e o inesquecível Tintin, de Hergé, um clássico.
10. Você conhece os quadrinhos e os artistas brasileiros? Se sim, de quais você gosta?
NIK: A referência obrigatória é Ziraldo. Se não me engano, Ziraldo, Quino, Sempé e Mordillo nasceram todos no mesmo ano, quase no mesmo mês. Deve ter acontecido algum feito astrológico cheio de humor nesse ano. Também gosto e tenho visto quadrinhos de Maurício de Sousa, Fernando Gonsales, Chico Caruso, Millor, Edgar Vasques, Laerte... E viajo disposto a conhecer muito mais. Acho que Brasil, Argentina e Cuba são os líderes na produção de humoristas e ilustradores na América Latina.
11. É verdade que você virá a Salvador, Bahia, em setembro? Já conhece a cidade ou será a primeira vez?
NIK: Sim, muito provavelmente viaje. Conheço várias cidades brasileiras, mas será minha primeira visita à Bahia.
Gaturro Grandão
Nik
Catapulta Editores
96 p. | R$ 39.90
www.gaturro.com
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
11 comentários:
OK, tudo bem que a primeira historinha que coloquei no alto do post contradiz de cara o título da matéria (e muitos não iam nem notar se eu mesmo não apontasse isso aqui), mas e daí? Se o cara diz que o gato dele é hiperativo, deixa ele, oras!
Ai, ai.
nik, com preguiça de criar um personagem mais original. como se não bastasse aquele cara que pinta umas florzinhas, umas bolinhas e as socialites compram, ganha milhões...como é mesmo o nome dele? enfim, só tem artista, haha. "merde d'Artist". jerry...kill me!
http://files.splinder.com/7fe33bd87c98e0353cbcf7e6117bdefb.jpeg
abraço, chicão!
GLAUBER
Onde eu compro uma latinha dessas, Glauber? Tô achando pouca merda em minha vida, preciso de mais!
Toc, toc, toc.
hahahahahahahahaha...
a feira da musica, festival/seminario que acontece no Ceará em agosto que faz parte do calendario da Abrafin, encerrou suas inscrições com um detalhe incomodo: nenhuma banda baiana do meio alternativo sequer se inscreveu. Apesar do Feira da Musica ter tido um numero recorde de inscrições, e de Ivan Ferraro, responsavel pela Feira e gente finissima, ter estado em Salvador 2 vezes no ano passado, ninguem do meio rocker baiano se sentiu atraido. Quais seriam os motivos? O Ceará nâo é interesante o suficiente? Vale a pena se fazer conhecido fora do eixo RJ/SP? Em todo caso um monte de banda de todo o país e de varios estilos pensa que vale a pena e pedem para marcar presença.
oi o link aê pra quem quiser conferir :
http://www.feiramusica.com.br/oktiva.net/1358/nota/154967
chicão, osvaldo e todos,
to ouvindo bill "smog" callahan feito doido. o novo tá barbaridade! cês gostam?
http://www.myspace.com/smoggertone
GLAUBER
disco novo do callahan ta falado. nunca fui muito de smog, mas ainda nâo ouvi o somestimes i wish..., mas vou seguir sua sugestao.to ouvindo o live in london de leonard cohen, o easy come easy goes da impermeavel marianne faithful, o neil young novo , o jj cale "roll on". das novidades o swan lake (maromeno) o neko case novo ( excellent!) e imelda may (ja ouviu? boa surpresa). fiquem longe do fesnesz, ali pra mim ja é "clima" demais. quero ouvir o novo do sonic youth( de covers ou melhor de releituras), alem do dylan, of course. tem uma critica sensacional do simon reynolds no blog novo dele no guardian sobre o disco.deu vontade de ouvir na hora.quem foi que disse que critico de musica não ajuda a artista?
Em tempo hábil: 18h, daqui a pouco, todo mundo sintonizado na Educadora FM - 107,5, pra ouvir o brother Miguel Cordeiro apresentar o Especial das Seis com Lou Reed.
Pode ser ao vivo tb no www.educadora.ba.gov.br
Aproveitando o embalo, ele fez um post sobre isso no seu www.miguelcordeiroarquivos.blogger.com.br
Confiram!
Ah! No embalo do Smog, vcs conhecem o trabalho do camarada Guilherme Barrella? Confiram, chama-se Blue Afternoon, aqui: www.myspace.com/blueafternoon
Abs!
imelda may canta pacas e a banda dela é das melhores bandas de rockabilly/swingabilly do momento. e é uma gata!
GLAUBER
(comentário referente ao texto da mustang, mas que não quero deixar passar em branco devido aos comentários de certas pessoas)
Sinceramente,
prefiro bandas como a mustang, baranga, madame saatan e carro bomba que levam o rock adiante do que a maioria das bandas do hype alternativo que são "queridinhas" de muita gente aí
cláudio "ac/dc" moreira
tenho uma tirinha :as vezes no silencio da noiteee eu fico imaginando nos doisss outro homem: dessa vez o que eu atiro ou jogo nele no medico o medico pergunta: oque aconteçeu? nik : nao sei mas quando puxo o rabo acende
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