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terça-feira, junho 26, 2007

NOVAS ORELHADAS NOVAS + NOTINHA DE HQ

Cambitos que ofendem

Como sempre chegando atrasado às ondas do momento, não vou cair na besteira aqui neste blog de, como 11 entre dez jornalistas / resenhistas, render glórias ao soul, ao swing, à voz, ao dente quebrado, às bebedeiras e à sensualidade contida de Amy Winehouse - ou mesmo à exatidão de timbres, arranjos e execução da produção de Back to Black, a essa altura um mega-sucesso mundial. Não, caro leitor, nada disso. Vim, sim, fazer duas coisas: primeiro, colar o mundialmente famoso e cobiçado selinho de "aprovado pelo Rock Loco" no tal disco - só para que não haja dúvidas. Realmente, Back to Black é uma linda e bem resolvida homenagem à sonoridade clássica da Motown, nota dez, do caralho e coisa e tal. Isto feito, passo alegremente à minha segunda tarefa neste texto, que é chamar a atenção para um detalhe que nenhum outro jornalista - daqui ou do mundo inteiro - parece ter atentado. O fato é este: não é aceitável que uma cantora de soul - ainda mais com uma voz tão quente - tenha pernas tão finas. Os cambitos da senhorita Winehouse são uma afronta à tradição dos pernis luxuriantes de grandes divas do estilo, como Tina Turner, Aretha Franklin, Etta James, as Supremes e todas as backing vocals de James Brown (isso para não entrar no terreno de suas contemporâneas cantoras de r'n'b, indignas de comparação na seara musical, mas que batem um bolão, se é que vocês me entendem, como Beyoncée, Maryah Carey ou mesmo Joss Stone). É de se imaginar que algum diretor de marketing da gravadora já deva, a essa altura, ter abordado esse assunto com a artista - entre um porre e outro -, sugerindo medidas como malhação, enxertos de silicone ou algo do tipo para sanar este problema. Vamos lá, senhorita Winehouse, está na hora dar seus pulinhos e encher esses cambitos aí - em tempo para o lançamento do próximo disco, de preferência. Mas enfim, o que importa é isso: o disco é nota dez - mas para os cambitos eu dou zero.


Back to Black
Amy Winehouse
Universal



Campeões da segunda divisão


Com justiça, superei uma clara má-vontade inicial com este disco. Depois de me decepcionar um pouco com o primeiro CD dos Kaiser Chiefs, Employment (2004) - o nome do meu problema, aliás- , que pouco ou quase nada trazia além dos ótimos hits I Predict a Riot e Everyday I Love You Less and Less, minha curiosidade para Yours Truly… era próxima do zero. Depois de deixa-lo descansar algum tempo, minha antipatia deu uma recuada e consegui ouvi-lo de forma mais atenta e menos preconceituosa. Yours Truly... está longe de ser assim, uma Brastemp, mas tem lá suas qualidades, com uma sonoridade bem próxima do rock britânico clássico e com certeza, não é o lixo que a maioria das resenhas por aí apregoa. Menos hypada e mais isolada dos grupos de sua geração, que rezam pela cartilha pós-punk, as referências britpop e british invasion (nessa ordem) da banda aparecem com mais clareza. Kinks, Animals, Ocean Colour Scene, Blur, Oasis, Cast e outros nomes do rock britânico dos anos 60 e 90 afloram naturalmente ao longo do CD, causando uma bem-vinda sensação de familiaridade no ouvinte. Não é que seja um puta disco do caralho, do tipo que se ouve sem pular faixas. Pula-se, sim. Só que as faixas que eu pulo são em número bem menor do que as que não pulo. Descubra as suas - vale a pena pelas outras.


Yours Truly, Angry Mob
Kaiser Chiefs
Universal


Jayne Mastodonte premiada


É com alegria que o Rock Loco registra que a revista Jayne Mastodonte nº 2, do cartunista e quadrinista baiano Flávio Luiz, ganhou o prêmio de Melhor Revista Independente no Troféu Alfaiataria de Fanzines, promovido pelo site Pop Balões. Minha brodagem com o artista à parte, a premiação é mais do que merecida, pois o cara batalhou muito para botar essa revista na rua (além das suas óbvias qualidades humorísticas e artísticas). Quem quiser saber como foi a saga da publicação de Jayne Mastodonte, pode ler a entrevista que fiz com o cara lá mesmo no site, que a publicou há um ou dois anos atrás. Flávio ainda concorre no Troféu HQ Mix como melhor desenhista pelo álbum O Messias (roteirizado por Gonçalo Júnior) e de novo como Melhor Publicação Independente com Jayne M. O resultado sai em julho. Fica aqui a torcida do Rock Loco para que essa boa fase se confirme com mais esses prêmios para Flavinho.

quarta-feira, junho 20, 2007

ORELHADA VÉIA É QUE FAZ RESENHA BOA

Sintonia fina com o Radiohead

Direto do túnel do tempo (PQP, acabei de escrever "direto do túnel do tempo", alguém me estrangule!), mais uma banda bacana dos anos 90 que só agora vim a conhecer. O primeiro disco da banda inglesa Six By Seven é um belo cartão postal daqueles anos que parecem ainda não ter acabado - pelo menos para mim. Com um som de difícil classificação, nas dez faixas do CD pode-se ouvir ecos de Pink Floyd a Jesus and Mary Chain, passando pelo som da mítica Madchester (na descabelada faixa Candlelight, uma das melhores do disco). Pelo climão austero e semi-experimental da maior parte do álbum, parece que eles estavam mais ou menos na mesma sintonia do Radiohead naquela época. O disco saiu um ano depois de OK Computer, em 1998, e compartilha com este último uma certa estranheza de mundo, um ensimesmamento (ops!) que se encontra bem expresso na letra de Spy Song, um inusitado looping de guitarra e sax que chega a deixar tonto o ouvinte: "Everything's a cheap laugh, no fun drinkless, drugless, happy emptiness". É o bom e velho mal-estar da modernidade produzindo ruídos que tocam o ouvinte em lugares que ele nem imaginou que existissem (hum, hum...). Outros destaques de The Things We Make são a indie até o osso For You, de refrão contagiante, e a pinkfloydiana 88-92-96, em que a voz de Chris Olley emula Roger Waters de forma impressionante. Um disco embriagante, capaz de te deixar chapado no sofá - mesmo de cara.

The Things We Make
Six By Seven
Mantra Recordings / Roadrunner Records

Direto das ondas do rádio
A capa é feia pra caralho, lembra aqueles piratas italianos que inundaram as lojas de discos (no tempo em que isso ainda existia) uns dez anos atrás, quando o dólar equiparado ao Real trouxe uma cacetada de CD importado ao Brasil. Mas o som é honesto e fiel como um bom cachorro de estimação (o hard rock é o cachorro fonográfico?). São doze faixas com a fodástica Earl Slick Band, gravadas ao vivo no estúdio de uma rádio de Rochester, Nova Iorque. O que ouvimos no CD é exatamente o que os ouvintes da rádia ouviram no radinho de pilha ou do carro naquele distante ano de 1976. Não espere nada de novo aqui: é só o bom e velho rock 'n' roll na veia, via hard rock setentista e executado com extrema precisão - à beira do virtuosismo. O velho Slick, que tocou com David Bowie na fase Diamond Dogs, era um daqueles prodígios como não se fazem mais, capazes de cantar como um rouxinol (sua voz lembra a de Peter Frampton, aliás), ao mesmo tempo que esmerilha riffs faiscantes de sua guitarra. Com uma banda entrosadíssima segurando a onda por trás (lá dele), o CD é um lindo registro de como se faz rock 'n roll a la old school: sem afetação, sem conceitos cabeça, sem tiração de onda, mas com muita garra e o coração subindo pela boca. A crueza da gravação, que o encarte garante ser livre de quaisquer remixagens ou overdubs, só a torna ainda mais preciosa. Ponto para a nacional Sum Records, que lançou esse inusitado CD por aqui. Destaques: Dead Man's Ransom, Boom Boom (versão matadora do velho Hooker) e PJ Proby (bela homenagem ao cantor pop inglês dos anos 60).

Live ‘76
The Earl Slick Band
Metal Blade Records / Sum Records

terça-feira, junho 12, 2007

O ANSIADO RETORNO DAS ORELHADAS

O céu que nos protege

O disco novo da cultuada banda Wilco pinta uma paisagem desértica em tons suaves, confortáveis. De uma sonoridade que beira o entorpecente, porém, Sky Blue Sky (como deve ser o céu do deserto, aliás) pode não impressionar o ouvinte à primeira vista. Não há aquela faixa que salta aos ouvidos, candidata a hit single. Seu forte é a sutileza e a guitarra de Nels Cline, que costura círculos folk psicodélicos (mandalas?) ao longo de todo o álbum. Jeff Tweedy parece ter deixado para trás as pretensões de ser o Radiohead do alt.country (subgênero que ele mesmo foi um dos artífices) demonstradas no soberbo Yankee Hotel Foxtrot (2001) e criou com sua banda um álbum de sonoridade mais ortodoxa, mais desprovida de artifícios espetaculosos e mais orgânica. Não há samples, sintetizadores e ruídos estranhos em Sky Blue Sky. Não é, contudo, um álbum que grude nos ouvidos. O fã deverá se esforçar um pouco para curti-lo e "entende-lo" melhor. (O nosso honorável Reverendo Dom Cebola até disse por aqui, nos comments desse blog, que se trata de um disco que cresce com as seguidas audições - ou algo assim). Paradoxalmente, o band leader declarou à Rolling Stone deste mês (Darth Vader na capa) que "é mais fácil nos escutar agora. Há menos estática”. Será?

Sky Blue Sky
Wilco
Nonesuch / Warner

O Trinity Sessions dos anos 90

O Buffalo Tom foi uma daquelas bandas que se beneficiaram do caminho aberto para as gravadoras após a explosão do rock alternativo americano pós-Nirvana, mas nunca - pelo menos aqui no Brasil - desfrutaram de grande popularidade. Uma notinha na Bizz aqui, outra menção na Dynamite ali e pronto. A única coisa que consegui ouvir desta banda naqueles tempos de transição entre a chegada e a posterior dominação mundial da internet foi uma faixa na fantástica coletânea No Alternative - que era legal e só, não me causou uma grande impressão. Mais recentemente, adquiri de segunda mão em plena Feira Hype (recomendo!), na mão de Zezão, o Sleepy Eyed, álbum de 1996 que foi lançado no Brasil naquela mesma época pela extinta Paradoxx Music / Sum Records. Agradabilíssima surpresa, o tal do disco quase não saiu do meu CD player (é, eu ouço CD no CD player, dá para ser mais careta do que isso?) desde então. Visceral até o osso, o disco é grunge que dói. Mas não o grunge deprê de Seattle, e sim, o rock alternativo sujo do leste americano, de quem cresceu ouvindo muito Hüsker Dü e Led Zeppelin ao mesmo tempo. Nas fotos do encarte, a banda aparece gravando no que parece ser um estúdio improvisado dentro de uma capela (as janelas em arco e com vitrais não deixam dúvidas) e em condições diversas, captando ao máximo a ambientação do local (mais ou menos como o clássico Trinity Sessions [1986] dos Cowboys Junkies). O resultado da feitiçaria de estúdio é um álbum vigoroso, cantado e tocado no limite da emoção, recheado de músicas que não perderam em nada o seu frescor, mesmo passados 10 anos de lançado. Confira (tente baixar por aí) faixas como Tangerine, Summer, Rules e When you discover. O vocal pungente de Tom Maginnis é um show à parte. Um disco tão puro e sincero é um bálsamo em tempos tão cínicos.

Sleepy Eyed
Buffalo Tom
Beggars Banquet / Paradoxx Music