Salve, fiéis rockloquistas do meu Brasil. É impressão minha ou essa música do Pato Fu que anda rolando na MTV, Uh uh uh ah ah ah yeah yeah (acho que é esse o título), é bem legalzinha e diferente do que eles andaram fazendo nos últimos anos? Alguém aí sabe se é do disco novo, que ia sair independente, ou se é velha? Se for música nova, é bem legal a coincidência de ser a primeira música de trabalho de um disco independente. Bem suingada, com um instrumentalzinho bala. A letra é uma bobagem, e tem também aquele chavãozinho véio do trecho rappeado ali pelo meio, mas o som em si - e o clipe, seguindo uma certa linha infantil alucinógena - valem a pena conferir.
Mas não é sobre nada disso que eu queria falar aqui. (Até por que o pessoal vai estranhar: Pato Fu, Franchico? Well....)
Direto ao ponto: tava conversando com minha irmã mais velha dia desses e, em dado momento, eu contei pra ela que tinha - tal e qual um abestalhado - conseguido um autógrafo de Pitty - em fato comentado aqui meses atrás - para dar pro filho dela de 10 anos, meu sobrinho, garoto gente fina de quem gosto muito. Ao que ela animadamente me respondeu: "pô, que legal! Semana passada aquele Rapazola até foi na escola dele".
Oh. Meio atordoado, prossegui a conversa. "Ah, foi? O Rapazola... foi na escola dele. E ele gostou?", perguntei. "Ah, ele adorou!".
Direto ao ponto mais uma vez. Não quero nem entrar no mérito da questão do moleque ter curtido tamanha merda, por que afinal de contas, ele só tem 10 anos - e também não convive muito com o tio. O que realmente me incomoda é o fato de uma escola particular, que cobra mensalidades altíssimas, ter alegremente aberto suas portas para vender aos seus próprios alunos algo absolutamente abjeto e sem qualquer valor artístico para crianças, que, nessa idade, estão completamente indefesas para discernir exatamente o quanto estão sendo enganadas.
Escolas não são aqueles lugares aonde - supostamente - os alunos vão para aprender conceitos e idéias que devem ser carregados pela vida toda? Que conceito, que idéia eles querem passar apresentando o Rapazola na hora do recreio? Que pintar os cabelos de acaju selvagem e agir como uma saltitante gazela deslumbrada por aí é o bicho? (Porra, tô moralista pra caralho também, deixa eu relaxar um pouco.)
E se fosse uma banda de rock, que quisesse se apresentar para os alunos daquela porra de colégio pra burguês remediado, será que a direção ia deixar? Fica o alerta: o establishment está indo às escolas cooptar as crianças, está indo às escolas introjetar passividade, mau gosto extremo e estupidez em crianças, caralho! Estão programando os robôzinhos que, daqui a alguns anos, vão continuar comprando abadás e consumindo sem pensar qualquer merda que colocarem na frente deles.
E o rock, vai fazer o quê? Vai esperar que eles se tornem adolescentes zumbis dos infernos teleguiados por antenas de tv e celular, ou vai tomar uma atitude? (Argh! Eu falei isso!) Tem que partir pra luta, puta que pariu! Tem que começar a se organizar e dar um jeito de chegar nas escolas também para FORMAR PÚBLICO, senão, mais cedo ou mais tarde, O ROCK VAI MORRER!
Tem que criar um projeto - ou projetos - para penetrar no terreno virgem das escolas - particulares e públicas também, claro - para fazer eventos, apresentações na hora do recreio, seguidas de debates, bate-papos com os alunos e coisa e tal. Corpo a corpo, mesmo.
Tipo o projeto Máquina do Som, de Roger (que não é o Big), que já agitou muita escola por aí. Só que o que eu estou sugerindo é um trabalho de divulgação, mesmo. De pegar as principais bandas da cidade, as de maior visibilidade em jornais, com discos lançados e tudo, estruturar um evento bacana com elas - adequado ao público e ao horário (ou não, mas aí não vai durar) - e leva-las para um corpo a corpo por diversas escolas em um trabalho desenvolvido ao longo de todo o ano letivo.
Retrofoguetes no Marista. Los Canos no ISBA. Sangria no São Paulo. Roney Jorge no Vieira. Theatro de Seraphin no Oficina. Brinde no Anchieta. E assim por diante. Se o Rapazola pode, por que não os Honkers (desde que Rodrigo se mantivesse vestido e com o microfone apenas na boca)?
Fica o alerta e a sugestão aí para os agitadores e produtores da cena local - que porventura acessem este modesto blog, claro.
Agora falando na real mesmo, deixando o delírio revolucionário de lado um pouco, eu acho que, mesmo que alguém se dê ao trabalho de enfrentar as trocentas dificuldades que surgem em um projeto desses e tentar agitar um lance assim, vai dar com os cornos direto na muralha de ignorância que cerca essa cidade. Eu sou meio pessimista e até tento lutar contra isso, mas só o fato de saber que essa muralha é - hoje em dia - construída a partir das nossas próprias escolas - com a honrosa exceção de uma ou outra, mas isso não é assunto para este blog - me deixa muito descrente.
Mas deixar de lutar é pior ainda. É o mesmo que se deitar no caixão. E eu sou meio claustrofóbico, meio agoniado, num sabe? Luvas de boxe, alguém?
Ah! Alguém aí quer um autógrafo de Pitty? Acho que meu sobrinho não vai precisar mais dele.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
2 comentários:
Miguel Cordeiro
Idéia muito boa, Franchico. Como viabilizar e convencer os diretores dos colégios da importancia da diversidade cultural? Às vezes acho que precisamos de divulgadores inteligentes, informados e que saibam dialogar para ir aos colégios com sua pastinha na mão e apresentar os projetos.
Osvaldo, voce é a pessoa mais indicada para escrever sobre aquelas SENSACIONAIS bandas do final dos 70 inicio dos 80 (Undertones, Gang of Four, The Damned etc) para informar às novas gerações que acham que o rock nasceu com o Nirvana. Já a nossa geração (certamente) tinha mais interesse na coisa antropológica do rock. Hoje, como diz Claudio Thin Lizzy, a moçada fica só surfando as marolinhas da superfície e é obrigatório saber dropar as grandes ondas.
Chico, comecei a fazer um comment mas ficou muito longo, então vou postar sobre uns aspectos do seu post, e Miguel, já vi que tô intimado, vou fazer um post sobre o Undertones e outros do pós-punk, mas um toquwe, deixa os meninos gostar de Nirvana( era uma banda bacana), afinal Miguel, "the kids are allright".
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