Thurston Moore, numas constatações mais irônicas da história do rock, comentou que 1991 foi o ano que o punk estourou. Como assim ? O comentario de Moore foi feito durante a gravação do video/documentário da turnê europeia do Sonic Youth pelos festivais de verão europeu, e inspirou o diretor Dave Markey a intitular o video/doc. como "1991- The Year Punk Broke".
O Sonic Youth meio que fazia o papel de irmão mais velho da nova safra das então desconhecidas bandas americanas , Dinosaur Jr., Nirvana, Gumball, e Babes in Toyland , que compunham o line-up dos festivais juntamente com o S.Y . As bandas novatas tinham sido "descobertas" pelo polêmico jornalista inglês Everett True, do Melody Maker, que alertado sobre a soturna cena punk da então longinqua Seattle, cruzou o Atlantico e "inventou" o grunge. Eu assinava o Melody Maker na época, e pude acompanhar a descoberta do rapaz, que inicialmente não apostava no Nirvana e sim no Soundgarden.
Ocorre que no meio desta turnê o Nirvana começa a se tornar fenomeno de venda e publico e Smells Like Teen Spirit se torna um mega-hit no mundo, e 15 anos após a explosão do punk inglês, o U.S. of A., finalmente acolhia o punk.Daí a fina ironia Thurstiana.
Por favor não confundam Nova Iorque e Los Angeles com o resto dos Estados Unidos. O Nirvana foi a banda que estorou o punk no mainsteam, e que atingiu nivel de vendas jamais vistos até então pelo genero, e para desespero de Cobain, o Nirvana se tornou um mega produto, idolatrado inclusive por rednecks do Iowa e Wyoming, gente que representava tudo que ele odiava.
Antes disto o underground americano sobrevivia em guethos, em cenas alternativas em cidades como Providence, Minneapolis, Athens, e Houston. Bandas como o Blag Flag, Husker Du, Die Kreuzen, Replacements, Bad Brains, Minutemen, Minor Threat, Thin White Rope, Butthole Surfers, Melvins, Throwing Muses e o Sonic Youth circulavam suas fitas k-7 sem repercussão na grande midia. Na epoca(anos 80) eu viajava bastante para lá e pude ver como a coisa funcionava.
Tudo isso para fazer uma analogia com a premiação da banda Pitty( na minha cabeça é uma banda), e a vitoria na categoria mais importante do VMB. Pela primeira vez uma banda oriunda do underground, ainda mais da Bahia, ganhou o premio maximo, estourando uma genuina banda alternativa no mainstream canarinho. Impossivel não encarar tambem como uma vitoria do rock feito na Bahia. Todas as pessoas que já se envolveram com a cena baiana, cada qual da sua forma , se sentiram de alguma forma representado ou de alguma forma vingado.No meu caso me senti de alguma forma vingado, já que as primeiras vezes que citei Pitty como uma das melhores bandas de rock do país, fui ironizado varias vezes por figurões da MTV e da midia musical paulista. Alias, esta ironia era frequente Brasil afora , quando se falava da cena rocker baiana, circa 1994/95 em diante. Fora conhecedores como Massari, Zé Antonio e Alê, a coisa era encarada como piada. Já falei em post anterior da epifania que bandas como Saci Tric, Dead Billies e brincando de deus causaram no observador cetico que eu era da cena rocker baiana pós Camisa De Venus . Por tudo isso era pra se esperar que isto representasse uma nova era para o rock brazuca e baiano, o nosso 1991, certo? Errado.
Infelizmente a impressão que tive, a partir de conversas com insiders, é que a coisa é um fenomeno isolado, e o foco de toda industria de entretenimento, ie, gravadoras, midia( impressa e televisiva) é em cima de Pitty(vocalista), uma garota integra, que tem talento e "looks" para acompanhar atitude rocker. Claro que é involuntario da parte dela, pelo contrario, ela tem dado uma força monstra para a cena alternativa em toda oportunidade que tem, mas as atenções estão voltadas para ela, e não senti intenção de representantes da tal industria em focar em cima da cena que gerou o fenomeno, em mais um classico caso de miopia, A industria de entretenimento está comfortavel com o formato Revista Caras versão rocker que é o VMB, onde musicos se misturam com "celebrities", e expõem( sem querer?) o circo no qual se transformou o show-bizz brasileiro.
Tudo isso só faz aumentar o brilho da vitoria dos caras, uma estória de quatro pessoas oriundas de quatro bandas diferentes,todas do mais legitimo underground, e após anos de ralação num ambiente extremamente hóstil, coseguiram realizar o sonho de qualquer banda de rock do mundo, que é ganhar o audiencia das diversas MTVS mundo afora.Uma linda estória.Parabens, vocês realmente merecem.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Comentário agudo e certeiro. A história recente da Pitty é sui generis. A sua ascensão na indústria do entretenimento brazuca não deixa de provocar certa comoção por aqui, mas lógicas de mercado são lógicas de mercado. Acendamos cada um nossos próprios refletores para não embarcarmos em esperanças paralisantes.
linda análise, Bramis. infelizmente, não quis dizer lá embaixo no meu post, mas já q vc tocou na ferida, deixa eu juntar minha voz a sua. tirante os selos underground mesmo (Monstro, Big Bross e outros), duvido muito q a vitória de Pitty se reverta em mais atenção da indústria do entretenimento à cena rock baiana. triste, mas a tendência da mídia é essa mesmo, tipo: vamo vampirizar o fenômeno Pitty ao máximo, pelo próximo ano ou dois, até aparecer outra coisa e depois jogar o bagaço da laranja fora. Nós aqui vamos torcer para q a menina tenha jogo de cintura, inquietação e esperteza sufuciente para não se deixar levar, serena, no olho do furacão. e quanto à cena daqui, acho q o recado implicitamente contido no post de Brama é claro: continuem trabalhando e fazendo por onde, por q não dá para contar com ovo em cloaca da galinha nenhuma, não.
Pois é meus caros, rapadura é doce mas quebra o dente.A titulo de correção, os Racionais , outra banda alternativa que já ganhou o VMB, mas são do Hip-Hop, genero que em Sampaland é tambem um fenomeno social.Do rock, rock mesmo, a banda Pitty foi a primeira com as caracteristicas do under/alternativo rocker. Agora, o VMB per si não é o mal, pelo contrario, em tese é o caminho para bandas alternativas, que estão a fim de fazer sucesso e sobreviver do seu oficio, seguirem.O problema é a nossa eterna vocação luso/brasiliana para acomodações e acochambranças.Não estou pregando revoluções ou "atitude", apenas acho que no caso da musica, a nossa industria de entrenimento só tem estrategia de curto prazo, desprezando até seu passado, quando investia no longo prazo nas carreiras de Chico Buarque, Caetano , Gil, e Milton Nascimento que vendiam pouco na epoca, mas sãos artistas de catalogo e ate hoje vendem, sendo bom negocio pra industria.
Ae Bramz!
Que tal a galera criar o RocklocoTV! Ia ser du caralho, E os vjs heim? Imagina só!? Video Rock loco Bahia!
As categorias podiam ser:Artista mais bêbado. Artista mais mala, artista mais triste (adivinha quem ia ganhar)?
olá,
meu nome é wagner carvalho e estou montando um e-zine, estou disponibilizando espaço para q todos aqueles q apoiam o underground nacional possam divulgar o seu trabalho!
divulgue este email e responda esta mensagem. count.wagner@gmail.com
Postar um comentário